14 de julho de 2001, sábado – Candeias (Fazenda Canaã)
Não queria forçar nada, achava que o tempo se encarregaria de sarar as feridas e mágoas de Fabíola, mas minha loira continuava triste...
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― Deixe disso, prima... – Amanda estava preocupada – Olha..., dá um tempo e..., não...
Suspirou e sentiu que nada adiantaria, Fabíola nunca havia entendido aquela raiva que a mãe destilava e lhe infernizava a vida.
Naquele sábado o dia amanheceu encrespado, havia chovido aos píncaros na madrugada e o céu negro carregado dizia que o aguaceiro haveria de continuar.
― Cadê o pai?
― Saiu cedo..., foi na vila – levantou do tamborete e foi para a varanda, a prima ficou ainda mordiscando o bolo cacete que Jaqueline havia feito – Essa chuva...
Por mais que a garota tentasse espanar aquelas coisas da cabeça, não conseguia. Ainda ardia os tapas que a mãe lhe havia dado e os gritos, e os xingamentos teimavam reverberar. O pai se desdobrava em mimos, brincadeiras e passeios por aquelas paragens que enchia os olhos e lavava a alma.
― E..., e o que a gente vai fazer? – levantou e, também, foi para a varanda.
― Ficar aqui ou..., encarar essa chuvarada... – Amanda sorriu – O que tu quer fazer?
― Morrer...
― Para com isso Fabi... – suspirou e abraçou a prima – E tu acha que isso vai resolver teus problemas? Tu tem é de viver, aproveitar a vida, brincar e..., e aproveitar teu pai...
― Tem vez que penso fazer besteira... – tirou a mecha de cabelos negros que caia no rosto da prima que suspirou e fechou os olhos – Ou..., ou sair de vez da casa de mamãe...
― Ué? E tu não saiu?
― Mas..., vou ter de voltar... – suspirou – Tem jeito não Mandinha, vou ter que voltar...
― Voltar pra que? – olhou no rosto bem feito, cópia escarrada e cuspida do pai – Porque...
― Vou morar onde? E o colégio?
― Morar onde? – Amanda sorriu – Com o tio..., com teu pai...
― E o pai lá tem casa, menina? – sorriu e sentou no peitoril da varanda – Teu cacho vive viajando..., e..., e nem casa tem no Rio... Não vou morar num hotel, né?
― Vem pra São Paulo morar com a gente – abraçou a prima pelas costas – Tua tia vai adorar e..., e a loirinha vai pirar...
― Não é tão simples... – suspirou, as copas das árvores estavam quietas, o vento não assoviava e enchia o mundo de silêncio – A advogada nunca vai deixar... E..., e ia ser ouro motivo prá eles brigarem, só..., só que agora na justiça... A mãe não vai abrir mão de minha guarda assim fácil...
― Brigar porquê?
― Ora porquê! – olhou para o céu sentindo falta do sol – Sou uma menina cara... – sorriu – Ou tu pensas que mamãe me banca?
― E não é ela?
― Não bobinha..., quer dizer..., parte sim, mas..., o grosso é o papai... – virou, olhou nos olhos da prima – Colégio, plano de saúde e..., e uma mesada que mamãe administra...
― Administra como?
― Ela fica me dando pra meu lanche, cinemas e...
― Então porque ela joga em tua cara que ela te dá tudo?
Fabíola respirou profundo e a briga pareceu voltar, sentiu o rosto arder relembrando os tapas que a mãe havia lhe dado...
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12 de julho de 2001, quinta-feira – Rio de Janeiro
Olga sentia os pés presos no assoalho, até a filha estava lhe deixando como todos a deixavam, para ela eram todos ingratos e sem coração que não a entendiam.
― Onde você pensa que vai... – a voz mesmo quase inaudível era uma ameaça.
― Não penso, vou passar minhas férias com meu pai...
― Quem disse? – se jogou para frente arrancando as roupas da mão da filha – Você não se governa... Só vai para onde eu quiser que você vá! – estava enlouquecida, pegou a mala e jogou de encontro à parede – E não autorizei..., você não vai, enquanto morar nessa casa, comer e vestir às minhas custas sou eu quem dá as ordens!
― Quer saber de uma coisa dona Olga! – não se deu o luxo de calar – Soca essa casa e tudo o que a senhora tem na bunda..., não preciso de nada disso... – o rosto ardeu com o tapa que a mãe lhe deu.
― Me respeita sua nigrinha! – tornou esbofetear o rosto da filha – Ainda sou sua mãe e você não vai faltar com o respeito... – Fabíola encarou a mãe sem dizer nada, o rosto esbofeteado ardia como se pegasse fogo, não respondeu, apenas virou as costas e ia sair – Onde você pensa que vai!
― Me larga mãe, me deixa... – segurou a mão da mãe – Não quero...
― Não quer o que, heim? Não quer o que, fale!
― Me deixa mãe, pelo amor de deus me deixa... – os olhos ardiam, não queria chorar, não naquele momento – Me larga, vou embora..., pode ficar com sua casa, com as roupas que comprou pra mim... Não quero nada!
― Vai embora e não quer nada é! – segurou na gola do vestido e puxou – Esse também fui eu quem comprou... Não que nada é, vai embora? Pois vá, mas vai como entrou em minha vida, nua... – ia puxar a calcinha quando Fabíola revidou.
― Essa calcinha foi meu pai quem me deu... – olhou para a mãe que segurava o rosto, tinha dado um tapa para se proteger – A senhora nunca me quis como filha, eu sempre fui bucha de canhão para suas brigas com papai...
Saiu do quarto e pegou o seu celular, ia sair de casa vestindo apenas a calcinha quando a mãe chamou.
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― Porra Fabí..., ela te bateu?
― Mas não foram os tapas que mais doem... – sem perceber, acariciou o rosto onde a mãe lhe batera – Dói mesmo é..., é ver que não tenho ninguém...
― Como não em ninguém? Hem? – segurou o rosto da prima com as duas mãos – Tu tem teu pai, tem eu, Clarinha, mamãe..., teus avos, teus tios...
― Papai vive no mundo... – suspirou – E..., e ele..., ele gosta..., gosta mais..., mais de uma certa cabrita morena que..., que de mim... – sorriu, pela primeira vez sorriu naquela manhã de sábado molhado – Isso sem falar da tia e..., e da Jack.
― Deixa de besteira, garota! – acariciou o rosto da prima – Teu pai te adora, só..., só que não dei espaço, né?
― Não deu espaço, mas... – sorriu novamente – Deu outra..., outras coisas, né minha prima doidinha!
A conversa deixou de ser pesada e, aos poucos, Fabíola saia daquele desespero e voltava a ser a garota alegre de sempre. Mário demorou voltar, as meninas não estranharam, era típico do advogado construtor se deixar levar pelo novo e, quase, esquecer o que havia combinado.
― Cadê a diabinha da Bruna? – Fabíola lembrou – Não vi ela hoje...
― Foi com a mãe e..., e teu pai... – riu brincando – O tio é de lascar, né?
― Doido por um rabo de saia... Tu sabia que o papai foi o primeiro da tia Jaqueline?
― Se fosse só dela...
― Meu velho é fogo na roupa... Que diga tua mãe...
― E Jaqueline, Janaína... – riu – Tu tem falado com ela?
― E essa indiazinha lá me deixa, pequena? – sorriu – A gente se fala pelo Skype vez em quando... Tu sabe que os pais dela se separaram?
― Sei..., o tio falou...
― Tu sabe o motivo, não sabe?
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30 de outubro de 1998, sexta-feira – Fortaleza (A indiazinha valente)
Queria fazer surpresa e, já que estava em Teresina (PI), resolveu passar o final de semana em Fortaleza. Só que não seria uma surpresa nada agradável...
― Parabéns, a você...
― Mário?! – sentiu o coro arrepiar – Poxa! Queria que tu tivesse aqui...
A indiazinha endiabrada estava deitada no quarto, bem cedo o irmão lhe havia entregue o presente que Mário lhe havia pedido para comprar o que, para a mãe foi como declaração de final do armistício que o pai havia negociado.
― E aí, como estão os preparativos da festa?
― Que festa amorzinho, tá uma guerra aqui em casa... – calou e correu para fechar a porta com medo de que a mãe entrasse – Tá cada vez mais brabo...
― Tua mãe...
― É..., tua sogra tá fazendo minha vida um inferno – riu por falar – No cagar dos pinto quase levo uma surra...
― Porque? Aprontou alguma?
― Né não... Paulo me deu o teu presente, viu? – olhou a caixa rasgada do notebook – A mãe ia quebrar, o Paulo não deixou e..., o pai brigou com ela...
― Puta merda! Se soubesse..., me desculpa...
― Tem nada de desculpar, môzinho..., amei viu? Amei, obrigado... Agora a gente vai poder se vê, né?
Mário Felipe sorriu lembrando como a indiazinha tinha ficado impressionada com Fabíola conversando com a mãe pelo Skype.
― Ué? E o zap-zap?
― Né a mesma coisa né? – coçou a perna morena, vestia uma saia que lhe tangia o joelho e que em nada contribuía para sua beleza – Agora só falta o pai botar internet aqui...
― Paulo não lhe ensinou usar o moldem da TIM?
― Deu tempo não..., a mãe entrou e, quando viu, ficou uma arara... Se não fosse o Paulo..., ah! Deixa pa lá, passou...
Não entendia de onde a garota tirava aquele jeito de ser, nada parecia lhe roubar a vontade de viver e vivia, menina moleca sapeca, como ninguém vivia. Talvez a necessidade lhe tenha aberto a porta dos sonhos e sonhava de viver de verdade. Desde aquela conversa com Paulo, quando soube que quase todas meninas da favela se prostituíam (A Verdade é Dourada, clique para reler)sentiu medo que também ela caísse na vida, mas Janaína não era como todas, tinha cabeça e seus sonhos não eram sonhos de consumo imediato.
― Quero lhe ver... – resolveu falar – O Paulo está por aí?
― Tá..., e tu quer me ver no computador, é?
― Espera..., chama o Paulo – ouviu farfalhar de panos e, logo depois, a voz de Paulo – Olá menino, quais as novas?
Paulo repetiu a confusão e que, tudo indicava, que seria o motivo para a separação definitiva dos pais.
― A mãe está cada dia pior, seu Mário... Ninguém aguenta mais...
Continuou falando e Mário ouvindo sem se manifestar. Escutou por quase dez minutos antes de cortar.
― Paulo! Estou aqui..., no hotel... Olha, queria ver a indiazinha... – ouviu, o rapaz nada falou – Queria ir ai, mas... Pelo visto não vai ter a festinha...
― Vai não, seu Mário... Tem clima pr’isso não, né? – olhou para a irmã – Nem falei nada, depois devolvo o dinheiro...
― Precisa não, capiau! – riu, imaginava que o amigo também sorria – Esse é teu...
― Quero não... Vou botar na poupança dela...
― Ei! Ei! Que negócio é esse de botar na poupança de minha indiazinha? Tá doido siô! – riu – Não mexe no que não é teu, viu?
― Xa de brincadeira, professor... – riu – E eu sou de mexer em minha irmã?
― Tô brincando...
― Sim! Abri uma poupança pr’ela, tá?
― Isso é bom, mas... É você quem está provendo?
― Claro que não, né! – riu – A grana que o senhor transfere...
― Ué? Tu não está dando pra ela? – estranhou – É uma graninha para pequenas despesas... Lanche, cinema e algumas roupas...
― Me diga, professor! Quanto o senhor acha que ganho e quanto ganha o papai?
― Sei lá? Porque?
― Pois somado o que ganho com o que ganha o papai não chega a essa graninha e..., para onde levo ela?
Deu uma desculpa que levaria a irmã na casa do tio, mas a indiazinha desconfiou quando o irmão chamou um taxi.
― Pr’onde tu vai me levar, Paulinho?
― Surpresa, mais um presente... – fez carinho no ombro da irmã – Me diz? Qual presente tu quer mais?
― Ah, Paulinho, já ganhei, mas... – sorriu para dentro, o melhor presente para aquele dia estava longe.
― Tu tá pensando nele, né moleca? – farfalhou os cabelos negros e lisos.
― Tô..., tô pensando nele...
Paulo se recostou e olhou para o nada. Até onde poderia ir, não estaria prejudicando a irmã alcovitando aquela relação esdrúxula?
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― Parece que foi um rolo no dia do aniversário dela..., e..., e ela...
― O papa diz que tá... – riu e olhou no rosto da prima – E tu, quando vai me dar um primo irmão?
― Tá doida menina? Sô muito nova pra parir...
― Nova nada..., tu tá um tantin velha pros moldes das parideiras da família...
Amanda não respondeu, queria de viver, engravidar do tio. E era verdade, quando nasceu a mãe nem tinha completado dezessete anos e, pelo que sabia quando Jaqueline engravidou de Bruna sequer tinha quinze anos, sem falar na avó que teve Mário antes dos dezesseis anos.
― E tu... – acariciou a perna da prima – Quando vai dar um neto pra ele?
― Eu?... Sei lá, Mandinha... – riu – Das meninas da família acho que sou a única invicta...
Um barulho ensurdecedor explodiu como fosse uma bomba e o clarão de um raio riscou o céu sem sol. As duas gritaram e se abraçaram buscando proteção onde não havia até outras explosões antecedidas de raios antes de correrem para dentro da casa aos primeiros pingos do aguaceiro. O temporal fustigou a mata virgem como fosse um diluvio celestial.
Quando, por fim, o pai chegou buzinando endoidecido pareceu que o velhinho lá de riba havia ralhado com o senhor dos raios e trovões fazendo parar o barulho, que espantava e dava arrepios nos cabelinhos do corpo e medo na alma, deixando só cair sem piedade a cortina de água que escondia o mundo.
― Teu doido chegou... – Fabíola espiou pelo janelão – O doido tá só de cueca...
Tinha tirado a roupa, não ia querer se molhar, e saiu correndo sentindo o pinicar das gotas lhe fustigar o corpo parecia um menino levado à breca. Amanda olhou, sorriu, tirou a roupa e entrou no manto de água.
― Vumbora Fabi! – correu e se jogou nos braços do tio – Tu tava aonde, rapá?
Fabíola balançou a cabeça enamorado dos dois rodopiando endoidecidos. Eram duas criançonas nos braços dos deuses da chuva e doo vento, o pai segurava a prima rodando, as pernas de Amanda cortava o manto d’água como facão que corta a mata.
― Vem filha! – Mário sorria, Amanda gritava – Vem Fabi, vamos pro rio!
Parecia até não ser a maluquinha tão doidinha como a maluca da prima. Só parecia e olhou espiando para dentro do carro de Jaqueline, ela não tinha ido, nem Bruna. Sorriu, respirou e tirou o camisão de dormir e correu para os dois que corriam, moleques, de mãos dadas dentro de um mundo que não tinha dono.
― Me espera..., me espera... – corria cabrita aos pulinhos e pulou escanchando as pernas em volta do corpo do pai – Cadê a Jack?
― Devem estar chegando em Arvoredo agora... – sentiu a mão carinhosa acarinhar o peito – Bruninha tem consulta segunda-feira..., tua mãe ligou...
Não respondeu, a mágoa ainda machucava mais que a dor que teimava arder o rosto e continuou escanchada abraçando o corpo do pai com as pernas sentindo os cascudos dos pingos de chuva na cabeça.
― Ouviu..., tua mãe ligou – já não corria, andava – Pediu para você ligar...
Fabíola escutava, apenas escutava, não respondeu, não queria responder, queria apenas estar ali abraçada com o pai e sentir a chuva, os pingos batendo no corpo e a vontade de estar ali.
A prima já nadava no rio sentindo a água morna e ouvindo o gotejar nas folhas verdes do lugar.
― Filha... – parou, ela desceu – Ligue pra ela...
― Porque?
― É sua mãe e..., está preocupada... – olhou para sua menina não tão menina – Ligue pra ela...
A filha olhava, apenas olhava para ele e não via ele, não via nada além de seus pensamentos pensados naquele mundo estranho.
― Filha... – segurou seu rosto, ela olhava sem olhar – Sei..., sei que Olga...
― Esquece isso pai... – uma respiração forte balançou o peito – Esquece pai...
Mário olhou bem dentro, no fundo dos olhos azuis esverdeados, não. Não era mais sua garotinha, tinha deixado de ser há muito tempo e só ele não tinha visto com olhar de homem...
― Sabe pai... – segurou a mão, unhas bem cortadas e palmas um tanto mais calejada que deveria ser – Deixa..., deixa a gente viver o agora... – suspirou sentindo o bico dos seios intumescerem e ele viu, viu os seios de mulher bonita – Depois..., depois a gente fala sobre..., sobre isso... Olha... – puxou a mão e colocou no seio esquerdo.
Mário deixou e sentiu a maciez da pele, a tez clara aveludada ponteada de montículos e acariciou, bolinou o biquinho e ela suspirou.
― Minha menina não é mais menina... – falou baixinho assoprando entre os dentes.
― Só tu... – sentiu um pinicão no pé da coluna que se alastrou dançando pelo corpo quando ele bolinou a aréola marrom clara de seu peito – Só tu não... não viu...
Parada no riu Amanda olhava os dois, viu quando ela fechou os olhos, não viu o tio bolinar o biquinho do peito da prima, mas sabia que aquele era o momento sonhado pela loira e mergulhou nadando submersa para longe, aquele era o momento da prima, somente da prima.
― Sabe..., sabe pai eu..., eu...
Não era preciso que falasse, ele também sentia o sentir que a menina sentia, mas não era certo sentir o que sentia e tirou a mão, tirou a mão antes que aqueles desejos insanos lhe tomasse os sentidos. Fabíola abriu os olhos e, com medo, viu o medo faiscar dos olhos dele. Mário suspirou, aquele sentir estranho lhe valsava medo de quer ser mais que pai, tinha de parar, tinha de sair, tinha de fugir.
― Pai... – Fabíola sentiu o medo dele e teve medo de ter medo – Pai... – para ela um sussurro, para ele um grito de alerta – Espera pai...
Ele suspirou e virou, caminhou sem sentir o chão molhado, tinha de sair, tinha de fugir antes que fosse tarde demais. E andou como se pisasse em nuvens, e entrou no rio e mergulhou. Na outra margem Amanda via a prima parara olhando o pai fugir e teve raiva do tio, raiva pela covardia covarde que lhe havia furtado anos, que lhe havia impedido de ter e ser mulher e suspirou lembrando aquela noite na piscina do hotel em Fortaleza (Releia, clique: A Verdade é Dourada).
― Pai..., espera... – correu e se jogou furando a água morna e emergiu – Faz isso não, paizinho... – segurou em seu corpo como fosse a última taboa de salvação e lhe abraçou e ele sentiu os seios rijos espetando seu peito – Não foge de mim pai..., não foge... Tu..., tu não tem esse direito..., tu não pode fingir que eu não existo...
Mário olhava para ela, para sua menina que não era mais menina e ela olhava para ele, para o pai que não queria que fosse pai, não somente pai e sentou em seu colo e ele olhava para ela, para a filha que queria ser mulher.
― Olha... – sussurrou – Tu nunca..., nunca quis ser pai..., pai de verdade e..., e não quero..., não quero ser só..., só tua filha...
Ele respirou agoniado, tinha tido medo do medo de querer a irmã, tinha tido medo de quer a sobrinha e tinha pavor de ter medo de querer sua menina. Com ela sempre foi diferente das outras, era sua desde que descobrira que Olga estava grávida, desde o primeiro instante no útero da mãe sua menina era sua menina e, sem olhar ou ver, uma imagem lhe roubou o pensamento.
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24 de maio de 1986, sábado – Rio de Janeiro (A cor do adeus de querer ficar)
Estava cada dia mais complicado e impossível conviver com Olga, ultimamente a mulher usava a filha contra ele,,,
― Para com isso Olga... – saiu da sala, não tinha lugar no apartamento, não estava aguentando – Nunca olhei para ela com outros olhos...
― Tu és um galinha! – Fabíola nos braços olhava para o pai sem entender – Olha filha, olha... Teu pai é um sem vergonha, vive dando em cima...
― E agora essa, Olga! – se exasperou – Agora é minha filha que tu queres colocar contra mim? Te olha mulher..., te olha... Nem teus irmãos te suportam... Não aguento mais, viu! Não aguento mais...
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― Pai..., pai... – Fabíola não sabia estava o espírito do pai – Pai..., paizinho fala comigo, diz alguma coisa pai...
Ele não falou, não falou e olhava para um nada que ela não via, tinha ele sem ter de verdade e, com estranheza, sentiu que lhe bastava, tinha ele, somente ele.
― Pai... Olha seu Mário, não... – acariciou o rosto de barba sempre escamoteada – Olha pai, eu... – olhava nos olhos sem ver o brilho de seus próprios.
Lá dentro de um espaço sem fim uma batalha fazia ver o que não queria ver, não era mais sua menina menina, era menina mulher e aquele corpo macio, cheio de vida, aquela pele aveludada que, sem querer, acariciava e o arfar da respiração se contrapunha ao zoar silente dos pingos de chuva que tamborilavam em seus corpos lhes fustigando a alma.
― Filha... – suspirou escapulindo daquela letargia que lhe roubara o desejo de querer – Filha...
Fabíola sentiu o corpo estremecer ao toque lhe passeando o corpo e levantou sem desgrudar o olhar do olhar, agora vivo, do pai e ele, como hipnotizado, viu a mancha escura tapada pela calcinha ensopada que não mais escondia. Quiçá não tenha sido por querer que o dedo entrelaçou ao cos e, lentamente, puxou a pequena peça descortinando o palco do desejo libertando, como em um passe mágico, o aroma mulher que lhe empapou os sentidos e ela, menina mulher olhava para baixo assistindo o desejo bailar infante.
― Pai... – acariciou farfalhando os cabelos farfalhados de desejos – Pai...
E ele ouviu aquele som divino sem ouvir, mas sentia o doce aroma emanado da encruzilhada emplumada.
― Pai..., pai...
A mão carinhosa acarinhando os cabelos, os olhos fixos no olhar impregnado de desejos e aquele toque lhe passeando os pelinhos macios que lhe embelezava a vagina melecada de querer e, como se respondendo a uma ordem superior, jogou a pélvis em direção ao rosto que respirava seus odores. O que, para eles, parecia estar durando a eternidade para Amanda, sentada na margem oposta, eram minutos que galopava o saber. Não via, a prima em pé, a vagina melecada, a respiração agoniada do tio, o desejo pinicando a pele da prima. Não via o desejo assaltar o poder de estar lá, sorvendo o doce aroma expelido do desejo menina em ser mulher, mas viu, também sentindo a xoxota melar, a prima arquear o corpo, abrir as pernas e a cabeça do tio colar no corpo, na forquilha das pernas e soube, sabia por experiência própria, do toque macio da língua nos pequenos grandes lábios da vagina infante...
― Meu..., deus... Meu, meu..., deus... – a garota estremeceu sentindo o acariciar morno da língua lhe lamber o sexo – Meu..., meu deus...
Não, não era deus quem lhe arrancava aquela sensação de não querer que o tempo galopasse, queria que o mundo parasse e que as coisas de Deus apenas lhe olhassem e vissem o realizar de seus sonhos sonhados.
― Pai..., deus...., pai...
E a prima viu o bando de anjos esvoaçarem, ouviu o dedilhar nas harpas divinas pelo tamborilar das gotas incessantes atiradas do céu como manto a encobrir aquela filha sentindo estertores de desejos e aquele pai degustando sabores adocicados minados do fundo do ser filha menina que desejava.
― Pai..., paizinho..., hum..., hum... Pai..., pai... Meu..., meu deus, pai...
Aquele gozo gozado pelo querer gozar roubou a força das pernas e ia cair, não havia equilíbrio, não havia forças, somente aquele gozo gozado.
― Meu..., meu pai... – o peito arfante, as pernas bambas, os olhos esbugalhados olhando sem olhar – Me..., me segura..., me segura....
E ele segurou, segurou e guiou o corpo ao seu corpo. Amanda viu a prima sentar, viu sem ver o pau rijo espetar, mas sentiu seu corpo estremecer, seu dedo dedilhar e não viu o sorriso como máscara mortuária substituir o semblante vivaz de uma Fabíola realizada.
― Porra se..., seu sacana... – tentou sorrir sem conseguir – Assim... Hum..., pai..., pai.... Hum, ai..., pai..., paizinho..., ui, pai... Hum! Hum! Meu..., meu deus, ui..., pai...
Para ela uma eternidade, para ele um instante transformado em eternidade e ela sentiu, sentiu aquele algo escorrer para dentro e sorriu, sorriu ainda menina querendo não ser menina e o pau do pai lhe tomou o espaço, entrou entrando escorregando no aluvião de líquidos minados de seus desejos se misturando com as águas mornas do macaco.
― Pai..., papai..., ui... Hum! Hum! Ui, pai..., ai..., hum...
Não era gemer de dor, não sentia dor, não havia espaço para dor dentro daquele mundão de desejos, somente desejos, desejos agora de mulher, menina mulher espetada, empalada, no negócio duro que coroou o querer.
― Doidinha, minha pequena doidinha... – falou por fim.
― Tua..., somente tua..., toda tua... – jogou a cabeça para traz fechando os olhos fustigados pelos pingos da chuva – Tua, toda tua... Viu deus, viu... Sou..., hum..., ui..., sou do..., do papai.... Sou filha..., sou..., mulher... – abriu os olhos, não havia semblante de sofrer no rosto de felicidade e sorriu, sorriu sentindo a xoxota cheia – Viu pai, viu... Ai..., meu deus..., meu pai..., meu..., meu homem...
Os dois queriam, as bocas colaram, as línguas brigaram brincando de brincar e os sabores se misturaram e Amanda, arfando, não via a prima empalada, não via os sexos unidos em um abraço apertado de realizar desejos, sonhos e verdades.
Não era estranho, não era intromissão, era o ganho do que já lhes pertencia e Fabíola rebolou recebendo e agasalhando, em seu sexo infando, o senhor de seu corpo. Mário acariciava suas costas ponteadas de montículos do desejo, desejo de quer ser, e era, mais que um simples e amoroso pai...
A chuva continuou por todo aquele longo dia, o dia que uma menina criança foi conduzida à condição de menina mulher...
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No Próximo Capítulo...
Fabíola conversa com a prima toda sua felicidade, Mário olha as duas, suas duas mulheres e parece voltar no tempo...