[Dispensando as apresentações, vamos a continuação...]
19 de Dezembro, a manhã de uma terça-feira, eu acordei.
No quarto os raios de sol já iluminavam adentrando pela porta, eu estava ótimo, relaxado, feliz.
Havia tido uma noite de sono perfeita e nos pensamentos as lembranças do ocorrido horas atrás, naquela madrugada. Nossa, fiquei excitado na hora!
Olhando para a direção oposta a cama que eu estava, não via o Renan em sua cama. A mesma já estava até arrumada. O chamei em voz alta, não tive resposta, bom, ele não estava no banheiro ou varanda, logo eu estava sozinho ali no quarto.
Decidi me levantar, levantei e organizei algumas coisas que havia trazido para aquela estadia, posteriormente fui realizar o processo de higiene matinal. Tomei banho, escovei os dentes e me preparei para descer ao restaurante da pousada.
Passados alguns minutos, lá estava eu, trajando roupas simples, confortáveis, aquele estilo praia, agradável.
Avistei o Renan sentado na parte externa, ele estava de costas pra mim. Fui até o self service e preparei meu desjejum, finalizando-o fui em direção a mesa em que o Renan estava. Caramba, que tempo agradável, fazia sol e ao mesmo tempo uma brisa fresca, era "cedo", algo por volta de 08h30.
- Opa, bom dia Poseidon! - O cumprimentei enquanto sentava na cadeira, dividindo a mesa com ele.
- Bom dia. - Ele respondeu.
Mas o problema foi a forma como respondeu. Sabe quando você está em um dia bacana, acorda feliz e dá um bom dia a uma pessoa mal-humorada e a resposta da mesma cai como um peso de ferro em sua cabeça? Foi a dele. Foi algo tão "frio" que me incomodou de imediato.
- Caramba... Tá tudo bem com você, Renan? - Questionei.
- Tá sim. - Ele respondeu.
Sinceramente, eu perdi a vontade de continuar ou tentar qualquer assunto na hora! Odeio ser tratado de maneira indiferente, acredito que não havia motivos para aquilo e mesmo assim eu ainda tentava buscar alguma culpa.
- Eu te fiz ou falei alguma coisa, cara? - Questionei novamente.
- Nada cara, você não fez nada, tá tudo tranquilo. - Ele me respondia.
A sensação que eu sentia era que aquelas atitudes tinham algo a ver com o que ocorreu naquela madrugada. Será que estava arrependido, com vergonha ou sei lá, eu pensava em diversas coisas.
Eu o tratei normal, não iria sair comentando o ocorrido ou inflando ego com aquilo, se era esse o motivo dele me tratar com tanta indiferença ele havia conseguido me deixar chateado.
Repentinamente ele levantou, recolheu o prato, pediu licença e se retirou. O acompanhei com o olhar até o momento em que ele entregou o prato na cozinha e rumou o caminho para o quarto.
Caralho, que raiva! Confesso, acho que qualquer um em meu lugar ficaria, a noite foi foda, literalmente, por que estragar tudo no “outro dia”?
Fiquei mais um tempo ali, terminei minha refeição e permaneci por mais alguns minutos admirando a vista local.
Fui até a cozinha, entreguei meu prato e já me direcionava ao quarto.
Eu realmente tinha ficado abalado com o rumo que as coisas tinham tomado e preocupado com o que seria dali pra frente, tudo aconteceu muito rápido.
Voltei ao quarto, o primo estava sentado na cama com o celular em mãos.
- O sol tá bonito, hein? Hoje eu me mergulho com você, vamos? - Perguntei em mais uma tentativa de quebrar aquela barreira.
- Não, hoje não, tô sem empolgação. - Ele me respondia.
Aquilo já estava me tirando do sério, normalmente eu já teria questionado algo com total arrogância, mas mantive o controle.
Ficamos ali por quase duas horas sem falar nada, ele na cama e eu da varanda, apenas usando o celular como entretenimento. Será que eu tinha feito algo de errado? Não parava de me questionar, mas eu tinha meu orgulho, não iria ficar no pé de quem estava me desprezando naquele instante.
- Vou dar uma volta. - Renan dizia.
Foram as palavras que haviam quebrado todo aquele silêncio.
Eu estava debruçado sobre o cercado da varanda, apenas olhei para trás e o vi saindo, sem dizer nada.
Minha mente fervia, fiquei ali naquela próxima hora só conflitando tudo que tinha acontecido nos últimos dois dias, eram quase 13h00, fiquei aquele tempo todo sem procurar algo que pudesse me divertir, só imaginando. Não é uma sensação perturbadora quando você procura o erro de algo, mas não encontra?
Renan não voltava para o quarto e isso me deu uma estranha preocupação, eu não sabia explicar, só senti vontade de ir procurá-lo. Detalhe, ele havia deixado o celular no quarto, notei isso quando pensei em ligar.
Enfim, saindo do quarto, da pousada, eu estava indo rumo à praia onde fomos no dia anterior, passei por alguns quiosques, bares, sempre observando com atenção. Demorei alguns minutos naquela situação até que ao longe, próximo do local onde estávamos no dia anterior, avistei-o sentado na areia, na beira da praia.
Acelerei os passos pela areia até que cheguei próximo ao mesmo.
Renan! - Chamei. Ele lentamente virou para trás, me encarando. Percebi que ele bebia algo, pois deu um gole em alguma bebida que estava num copo em sua mão, pelo tipo de copo, parecia whisky.
- Cara, eu me preocupei, saiu sem falar nada... - Eu disse, estando dessa vez ao lado dele.
Percebi que ele estava alcoolizado pelo jeito que se levantava, não fazia ideia do quanto ele tinha bebido, mas ele com certeza não tinha ingerido pouca coisa. De pé, repentinamente, com um tapa sobre meu ombro, ele me empurrou para trás.
- Sai daqui, vai embora. - Ele dizia. - Caralho, qual é o seu problema? - Questionei enquanto era pressionado a ir para trás. Ele ficou mudo e eu já estava extremamente irritado com aquela situação, acho que por isso acabei dizendo as palavras a seguir:
- Vai tomar no cu, Renan! Tá arrependido pelo o que fez? Você parecia ter gostado até antes de dormir, porra!
Eu tinha dito isso em um tom de extrema grosseiro, eu sei que foi desnecessário, talvez até muito escroto da minha parte, mas eu estava irritado demais. Minhas palavras tiveram resposta, mas foram inesperadas. Logo quando acabei de falar, Renan jogou o resto do conteúdo que tinha em seu copo no meu rosto, por reflexo eu fechei os olhos e virei o rosto, foi nesse instante que senti o impacto nos lábios, ele me deu um soco, tudo em questão de segundos. Eu não estava preparado para isso! Abrindo os olhos eu reagi da mesma forma: no impulso, ele estava perto, então tomei o copo da mão dele e joguei ao lado. Era areia, ele não quebrou. Devolvi o empurrão com a força que eu podia, com as duas mãos, foi forte ao ponto dele se desequilibrar e cair sentado na areia. Quando ele caiu, fui até ele, me abaixei em sua frente e o prendi com firmeza pelos braços, deixando-o imóvel.
- Porra, calma, caralho! - Esbravejei.
Repentinamente um rapaz aproximava-se questionando se estava tudo bem, respondi que sim, que era só um problema com o nível alcoólico de meu primo, então ele ofereceu ajuda, mas recusei educadamente e ele seguiu seu próprio rumo.
Foi tudo muito rápido, em 25 anos de vida nunca tinha levado um soco no rosto e tenho certeza que não deixaria passar em branco se alguém ousasse fizer, mas... eu não conseguiria revidar algo assim naquele cara, por mais que quase tenha acontecido, impulso é uma merda quando usado de forma errada.
- Que merda cara, qual o seu problema? - Questionei. Eu estava muito bravo, por mais que tentasse manter o controle. Naquele instante ele começou a chorar, foi do nada, minha única reação foi folgar e soltar os braços dele.
- Desculpa, Matheus... Desculpa, sua boca... - Ele dizia entre o choro. Foi aí que vi o resultado do soco, eu estava tão intenso, envolvido com a situação que nem tinha percebido que meu lábio estava partido, levei uma das mãos até a boca e nela eu pude ver meu sangue.
O que fazer? Não descontaria aquilo.
- Onde você estava bebendo? - Perguntei com calma, mostrando não me importar com o meu machucado.
Ele respondia apontando com o dedo, um local único, não tinha como errar. - Não sai daqui, por favor. - O pedi.
Então eu levantei, recolhi o copo do chão e fui até o quiosque/bar. Lá eu devolvi o copo e comprei uma água mineral e pedi alguns guardanapos para limpar o sangue da boca, então retornei até onde o primo estava, sentado no mesmo lugar onde o deixei. O chamei e estendi a mão para ajudá-lo a se levantar, afinal, mesmo com a brisa do mar aquele calor estava me consumindo, não tinha costume de lidar com uma temperatura daquelas.
Ele me deu a mão, então eu o puxei para cima, deixando-o de pé. Entreguei-lhe a água mineral e o pedi que bebesse.
- Vamos sair desse sol, sentar em um lugar com sombra. – Falei.
O abracei de lado e caminhei com ele, foram curtos minutos. Sentamos sob a sombra de duas árvores, numa parte onde a grama ia dando espaço para a areia. Era uma terça-feira, a praia estava vazia, uma bela tranquilidade, boa de se apreciar.
Sentamos lado a lado, eu o encarava e sempre passava os guardanapos no lábio para ver se ainda sangrava, já os tinha dobrado tanto...
- Olha pra mim, conversa comigo. O que há com você? - Eu o questionava com um tom mais sério de voz. Era notável que ele estava realmente abalado pelo álcool, mas nada muito grave. Novamente ele começava a chorar. Caramba, eu não sabia lidar com aquela situação, nunca tinha passado por algo parecido. Presenciando aquele choro, mudei de ideia, achei que seria melhor irmos para a pousada, ficarmos em nosso quarto.
- Seguinte, vamos voltar ao quarto, poderemos conversar melhor. - Eu dizia antes mesmo dele falar algo.
Me levantei, o ajudei a se levantar e partimos em direção rumo a pousada.
Em pouco tempo estávamos em nosso quarto, tranquei a porta, tirei a camisa, ficando mais à vontade, peguei mais uma água mineral, dessa vez no frigobar do quarto e dei ao Renan, enquanto o convidava para sentarmos na varanda.
Pronto, ali estava uma sombra ótima, haviam duas poltronas daquelas artesanais que pareciam confeccionadas de algum material natural de árvores ou galhos, não sei ao certo, eram acolchoadas, simples, bonitas e confortáveis.
Aquele era o momento certo para conversar tudo, a sós.
Coloquei a poltrona próxima a dele, quase que de frente um para o outro, sentei-me e o encarei, olhando-o nos olhos. Eu não o conhecia a muito tempo, mas a minha preocupação era real, eu queria entendê-lo.
- Fala... O que há, conte tudo que quiser, sem medo, sem receio, sem achar que vou trair sua confiança, só desabafe, eu sinto que você quer isso e que você precisa disso. – Falei.
Ser desse jeito nunca fez parte do meu estilo, meu modo de ser, mas eu realmente sentia um gosto por aquele cara, ele estranhamente conseguia despertar um lado protetor do qual nunca tive.
Renan respirou fundo, abaixou a cabeça e começou a falar. Vou evitar descrever as falas dele, que em maioria eram bem tristes, mas ele passava por algo que eu acredito que todo homossexual passou, passa ou que um dia passará: aceitação própria. Ele desabafou o medo que sentia da exclusão que sofreria de sua mãe, que pelo o que descrevia era extremamente preconceituosa, do tipo que ficava horrorizada e criticava as cenas de novelas, filmes, séries, qualquer coisa que mostrasse conteúdo gay. Sobre o pai, ele falou que parecia ser mais tranquilo, mas ele não sabia ao certo definir se ele tinha algum tipo de preconceito, pelo menos não transparecia, já que ele não comentou, o foco mesmo era a minha tia.
- Foi um erro o que fizemos... me desculpe. - Ele dizia em seu desabafo.
Aquele foi o instante onde eu tomei a palavra, ouvir aquilo foi horrível, eu levei a mão até o queixo dele, o segurei com uma força moderada e o ergui, nos deixando cara a cara, olhos nos olhos. Ele chorava, no fundo era de partir o coração aquela imagem, é um cara tão completo que o sofrimento nem parecia fazer parte da vida dele, mas já diz o ditado: quem vê cara, não vê coração.
Agora estávamos ali, nos encarando.
- Para de chorar, olha pra mim e não abaixa a cabeça! Isso não vai mudar o passado, nem garantir seu futuro. Não houve erro algum. - Eu o disse.
Dali em diante comecei a contar mais sobre mim, inclusive sobre minha bissexualidade, o que o espantou. Admiti o quanto estava impressionado por ele, sua beleza, seu porte físico e os pensamentos pervertidos que tive desde que o vi pela primeira vez. Então, depois de ter contato tudo isso eu o questionei novamente se foi um erro o que fizemos, se ele não havia gostado. Dessa vez a resposta foi diferente, meio sem jeito ele dizia que tinha gostado sim.
Sobre a outra situação, eu não sabia como aconselhá-lo ao certo, continuei contanto minha história a ele, citando que meus pais não sabiam sobre minha posição sexual, mas que eu não havia contado por medo ou coisa do tipo, nunca contei porque não achei necessário, eu já sou um cara independente, sempre fui um bom filho, nunca tive condutas ruins ou causei transtornos aos meus pais, se no dia que eu precisasse contar, meus pais decidissem virar as costas pra mim, talvez eles não gostassem do filho que possuíam, mas sim da imagem que eu possuo perante a sociedade.
Eu o pedi que tivesse calma, que vivesse sua vida como ele acreditasse que deveria viver, que ele não deveria reprimir sua sexualidade e seus desejos. Eu o elogiava sempre, o quanto era um cara bonito, inteligente, que corria atrás das metas que estipulava e isso não eram palavras vazias, ele realmente era tudo aquilo. Eu só queria que ele entendesse que poderia ser completamente feliz do jeito que quisesse viver.
Bom, talvez aqui eu tenha conseguido resumir e usar melhor as palavras, mas cara a cara foi uma conversa um pouco mais duradoura. Ele estava bastante emotivo com aquele assunto, mas já parecia melhor, acho que consegui passar a confiança que ele precisava ter, vindo de alguém. Pelas palavras dele, eu era o primeiro a saber sobre sua sexualidade e também o primeiro a conhecer ela tão intimamente, eu poderia questioná-lo sobre isso ali mesmo, mas não seria interessante apressar tantos assuntos.
- Sua boca... me perdoe por isso... - Ele novamente se desculpava pelo soco. - Está tudo bem, fique tranquilo. - Eu disse. - Não, isso foi horrível, me perdoe... eu não sei porque fiz isso. - Ele dizia enquanto levava sua mão até meu rosto, acariciava minha face e com o polegar passava levemente pelo meu lábio machucado, contornando-o.
Aquela situação acelerou meu coração de maneira frenética, eu estava assustado, incomodado ou surpreso, na hora eu não sabia ao certo. Tirei a mão dele de meu rosto, de forma tranquila, sem demonstrar o que eu pensava naquele instante. - Está tudo bem, confie em mim... - Eu o dizia. – Já está um pouco tarde, nem almoçamos hoje... não está com fome? Posso ir buscar algo para comermos. – Questionei.
Ele sorria, balançava a cabeça negativamente, informando que não estava com fome, eu também não estava, aquela situação que veio ocorrendo desde cedo, me tirou a fome e o ânimo, mas naquele instante parecia estar tudo resolvido.
- Vou deitar um pouco... acordei bem cedo, minha cabeça dói... vou tomar um banho e deitar... – Ele dizia enquanto levantava-se, pegando sua toalha e indo em direção ao banheiro.
Quando ele entrou, fui até a porta da varanda e a fechei para ligar o ar condicionado. Ele saiu do banho, enrolado na toalha, sem camisa. Era difícil não admirá-lo. Ele estava com passos um pouco tortos, ainda sentia o efeito do álcool no corpo, foi até a própria cama e sentou-se. Nesse momento eu quem estava indo ao banho, já não haveria nada para fazer naquela tarde, iria tirar um sono também, deitar um pouco, descansar.
Eu ainda não tinha parado para verificar o “estrago” em minha boca, de frente ao espelho, percebi que ficou um notório machucado, nada grave, até sorri porque eu realmente perguntei a mim mesmo o porquê de não ter revidado, não que eu quisesse, mas por instinto mesmo. Não sou violento, nunca fui, mas também nunca curti ser desaforado, ameaçado, nem muito menos agredido.
Aquele cara parecia estar me mudando, mesmo com poucos dias de convívio, eu já o considerava de uma forma como se sempre tivéssemos próximos por todos esses anos.
Quando saí do banheiro, ele já estava deitado, posicionado de costas a mim. Já composto eu também me deitei, mas em minha cama, claro.
- Renan? – O chamei. – Oi... – Ele respondeu, virando o corpo para o meu lado. – Dorme um pouco, mais tarde quando você acordar iremos sair, curtir um pouco, comer uma pizza, não precisamos ir longe. Podemos pedir aqui para a pousada se não estiver afim ou podemos sair mesmo, vai ser bacana. Sem bebidas alcoólicas hoje. – Fiz o convite de forma sorridente. Eu realmente queria sair novamente com ele, mas para um programa mais tranquilo, ele já havia me dito que não costumava beber muito, mas em menos de 24 horas já havia ficado bêbado duas vezes, não o julguei por isso, procurei entender seus motivos. Iriamos embora na quinta-feira, só tínhamos mais um dia e algumas horas para aproveitar. O mais engraçado de tudo aquilo é que no momento eu não tinha pensamento algum de desejo ou vontade sexual, eu só queria aproveitar, como disse.
Na verdade eu nem dormir de imediato, ele sim. Eu deitei na cama e fiquei assistindo alguns vídeos pelo celular, vendo séries pela Netflix, cochilei, apaguei que nem lembro o momento.
Mas acordei em um tempo por volta de uma hora depois que cochilei, mas isso eu deixarei para contar em meu próximo relato...
[To be continue...]
E aí, caras! Eu realmente demorei dessa vez, mas os últimos dias foram corridos, cheguei de folga e me joguei de cabeça no trabalho, somente hoje mesmo, neste sábado que pude escrever isso. Costumo escrever pra caramba, mas somente para ir sanando a curiosidade de vocês eu vim escrever um pouco.
Na próxima semana eu já estarei um pouco livre, então não demorarei tanto, acredito que será a última parte de meu relato. Desde já, foi um enorme prazer e sensação de desabafo escrever para vocês.