A sensação foi intrigante...
Introduzir o dedo médio no próprio ânus, sentir a textura do interior do corpo, descobrir o segundo esfíncter e experimentar um prazer diferente ao tentar ir além e impedido pela limitação imposta pelo tamanho do instrumento...
Colocar também o indicador e invadir um pouco mais o novo território traz um friozinho gostoso que percorre a extensão da espinha e chega o desejo de meter toda a mão para intensificar as sensações.
Decide então experimentar um objeto mais extenso, que permite ir mais longe, mas não é a mesma coisa, embora também provoque um tremor no corpo em decorrência da excitação que não cessa.
Com os dedos consegue sentir a ocupação do espaço interior, sensação que o objeto não transmite. E é essa percepção que lhe dá prazer.
O conhecimento teórico diz que esse ambiente não é naturalmente lubrificado, mas há a descoberta de que também ali existem secreções que funcionam como lubrificante. Pois ao retirar os dedos constata que os mesmos se encontram umedecidos e não por fezes, mas por uma gosma esbranquiçada e pegajosa.
Possivelmente uma ação do organismo para facilitar a evacuação e que, iludido pela presença de algo naquela região, é produzido então para ajudar no processo que julga ser natural. E, se funciona para a saída, acaba ajudando também a entrada...
Logo, todo o ambiente interno encontra-se repleto dessa secreção, o que permite introduzir mais um dedo, dilatando o orifício antes minúsculo. Usa da outra mão para tentar novas formas de se proporcionar satisfação. Alterna o polegar de uma e o indicador de outra e, no espaço aberto introduz o dedo médio procurando ir além pelo duto descortinado pelo segundo esfíncter.
Sente-se frustrado por não conseguir ir além, mas contente por estar sentindo alguma satisfação, ainda que de modo incompleto.
Envolvido pelo clima da experiência chegam então lembranças que permaneciam ocultas, mas não esquecidas. Não as do parente, pois com ele não tivera tanto progresso, mas do colega que lhe fizera a proposta fundamental.
Ele ali, com o pênis na mão e o olhar da quase vítima hipnotizado ao contemplar aquele monumento moreno a caminho da rigidez.
Porque é justamente disso que sente falta: um pênis de verdade que tome o lugar de seus dedos e de qualquer outro objeto entrando pelo ânus, fazendo-o experimentar a verdadeira sensação de receber a penetração, um corpo pulsante se fazendo um com ele.
A tentação aumenta e logo se instala o desejo de retornar àquela sala, àquela manhã, e mudar de atitude, aceitar a proposta e se deixar consumir pela excitação, deixar-se possuir e experimentar enfim o que lhe parece hoje um prazer inaudito –abrir-se para aquela cobra de carne enrijecida, senti-la invadindo seu corpo como seus dedos agora o fazem, embora aqui haja a frustração por ser um ato solitário.
Busca com a imaginação reproduzir o que teria vivido caso tivesse a coragem que apresenta hoje. Debruçar-se sobre a bancada, abrir-se e permitir a consumação do ato. Sentir a dor da penetração, o seu corpo sendo invadido pelo ânus, o calor sobre suas costas e experimentar agasalhar em suas entranhas aquela serpente rígida indo além do segundo esfíncter, arrebentando suas pregas, uma a uma.
Teria naquela ocasião, caso fosse capaz de ceder ao desejo que agora o consome, chegado a experimentar o prazer que ora sente? Ou a dor teria sido maior e, por isso, não haveria recordação nem a saudade que lhe chega neste momento?
São interrogações para as quais não tem resposta. Nem poderia, porque se acovardou naquele instante crucial, deixando-lhe essa 'pendência' para o restante de sua vida.
Sente que seu pênis enrijece com a introdução de qualquer coisa no ânus, seus dedos ou algum objeto, e deixa vazar líquido seminal em profusão.
Inebriado pelas recordações que se avolumam no pensamento e no afã de gozar nessa nova situação tateia em redor buscando com o que preencher o vazio que sente e que os dedos não conseguem satisfazer plenamente.
Toma então de uma banana-maçã e, sem mesmo descascar envolve-a num invólucro plástico e a dirige para a entrada do orifício que, imagina ele, chega a piscar de desejo.
E vai empurrando para dentro de si mesmo, enquanto viaja em pensamentos para aquela manhã perdida no tempo, tentando sentir-se preenchido por aquele pênis moreno que o hipnotizara e, depois daquele dia, passara a persegui-lo nos momentos em que se deixava conduzir pelas lembranças do passado.
Percebe que o fruto não conseguirá invadi-lo como desejava e, inflamado pelo desejo que o consome, toma de outra banana e, repetindo a operação, coloca-a na abertura e reinicia o processo de penetração, agora com menos resistência.
Antes que toda a banana se instale dentro de si ele flexiona os músculos e sente seu pênis quase golfar líquido, enquanto suas pernas tremem e deixa o corpo arriar sobre o chão frio. Acomoda o rosto sobre as sandálias e, abrindo com uma das mãos as nádegas, com a outra vai introduzindo o que resta do fruto, alojando-o completamente dentro de si.
Nesse momento ele chega ao clímax e, sem nem tocar no pênis sente que este deixa sair agora não mais simplesmente líquido seminal, mas um gozo forte que agita seu corpo por completo, deixando uma poça de esperma à sua frente.
Vai arriando devagar e logo se encontra deitado de bruços sobre o chão frio, experimentando os estertores do gozo. Suas mãos se quedam ao lado do corpo ainda trêmulo, enquanto os músculos começam a trabalhar para expelir o invasor que permanece dentro de si depois de lhe proporcionar esse prazer solitário.
Depois de algum tempo consegue expulsar a banana, que sai esmagada dentro do invólucro de plástico e fica jogada por perto.
Aos poucos sua respiração vai retornando à normalidade. Espera alguns minutos para se colocar de pé e limpar o estrago deixado por aquele instante de insanidade.
As lembranças que vieram visitá-lo retornam para o limbo, até que venha um novo período de extrema loucura como o que experimentara naquela noite.
E, se até lá ele não conseguir satisfazer plenamente sua necessidade, certamente voltarão para contribuir no processo de autossatisfação.