Os meus dedos afundavam a carne. Eu quase poderia imaginar o feito de luz, de sombra, mesmo sem não poder enxergar. Via em mente como uma escultura da renascença. O rosto jogado ao descanso. Há leveza nesta face. E a força na mão direita, para mantê-la aberta. Não só imaginara, mas sentira. Na esquerda, o emaranhado de fios macios, fortes e embaraçados; estes de um cabelo castanho que se alongava aos ombros e se ondulava das raízes às pontas. Na pele eu sinta o pontilhar das muitas cerdas grossas de sua barba recém-aparada, o que deveria ser um desconforto é desejo encarnado nas profundezas, quando a sua língua vem e vai ao controle de minha mão. Como um barco nas ondas calmas, que dançam neste vem e vai, subindo e descendo e arranca suspiros na brisa fresca de uma tarde, por exemplo. Ele me arranca gemidos leves e sórdidos. Quase um pedido por mais... e muito mais. Não há outro lugar que eu gostaria de estar senão lá, sobre os joelhos a me contorcer. Sinto sua língua subir, o arrepio ultrapassa minha coluna espinhal, meu ponto se contrai. Lá onde ele há pouco se demorava. Os pelos curtos seguem a me espetar, pelas costas inteiras, até meu maxilar. Onde agora as mãos fortes e ásperas me seguram com força. Luto, resisto, quero pelo gemido dizer. Não há palavras, o som e o toque funcionam como únicas comunicações. Eu diria que o olhar também, mas agora não há olhar. Uma mão antes no maxilar, agora puxa o rabo, este dos cabelos que formei... longos como os dele. E a outra, abre o rabo arqueado, onde ele há de se adentrar fundo, nas estocadas fortes e abruptas, arrancando aquele tilintar de sons fogosos e desesperados. E assim o fez, possuindo-me de desejo, enquanto com as mãos eu lustrava a ponta de loucura que carrego comigo. Pedido no movimento, e na pressão de seu corpo contra o meu. Veio de dentro, veio do fundo. Fora como se um turbilhão estivesse guardado e tudo tivesse descido de uma vez do centro de meu âmago. Não só descido, eu complemento, mas também subido em rápida loucura, no mais forte som, enquanto despejava sobre o lençol profunda parte de mim. E com as mãos molhadas que logo largaram o mastro, agarrei sua nádega como quem agarra o prêmio de sua vitória. E logo, ele também gritou, e eu senti uma força preenchendo o vazio de meu ser. Preenchendo-me neste puxão que se deu e no empuxo de seu corpo contra o meu. Na cama. Ele sobre mim e eu sob ele. Preenchidos. Vencidos.
PREENCHA-ME
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