Uma manhã fria e uma estrada longa. Árvores verdes ainda regadas pelo orvalho, Sol tímido por trás das nuvens. Vento úmido e frio, sintetizando aquele sentimento de dúvida: será que vai ser bom?
Vai ser bom... vai ser bom pra nós dois - repetia Jhonny a cada quilômetro rodado em seu Celta 2013. Eu sei - respondia Jhon quase sem abrir a boca, distraído pela paisagem que nunca mudava.
Havia uma tensão no olhar de Jhonny e uma paz inversa no semblante de Jhon. Eram tão marcantes que suas expressões não mudavam, mesmo após 4 horas de viagem a 130km/hora de estrada livre.
Ali a placa! Pimenta Doce a 200km - disse Jhon aliviado; não parecia, mas estava cansado da viagem. São 7hs, devemos chegar às 8:20 - Jhon sorriu.
Jhonny tornou-se amigo de Jhon desde que este nasceu. Aos 15 anos de idade, ele ajudava a mãe de Jhon a trocar suas fraldas e acalentava-o em seus braços. Hoje, aos 35 anos, Jhonny não se sentia muito diferente do passado.
- Jhon, acorda. Chegamos!
Jhon abriu seus olhos preguiçosamente e esticou seu braços como se acordasse de um longo sono. Ambos desceram do carro e foram até a lanchonete mais próxima e famosa da cidade: Elen's.
Bem vindos ao Elen's. O que desejam? - atendeu-lhes uma jovem sorridente e surpresa ao ver dois homens, os quais julgou atraentes.
Jhonny e Jhon retribuiram o sorriso e cada um pediu o mesmo: hambúrguer, fritas e milkshake napolitano. Ninguém nunca pediu esse sabor de milkshake - disse a moça encantada com os dois, especialmente por Jhon que era da sua idade.
Comendo seu sanduíche, Jhonny explicava ao companheiro: aqui vai ser tudo diferente, essa cidade é pacata e bem distante. Ele parecia acreditar no que dizia e estava feliz por estar ali.
- Vocês estão aqui a passeio? - perguntou a garçonete, recolhendo os pratos da mesa.
- Nós viemos morar.
- E de onde vocês são?
Antes que Jhon respondesse, Jhonny o repreendeu com o olhar. Assim, Jhon mudou bruscamente de assunto.
- Olha Jhonny, estão fazendo uma fogueira na praça. Será alguma festa local?
Ele olhou. Percebia-se que era uma fogueira e que havia pessoas ao seu redor, mas o clima não era de festa.
- É melhor que não passem por ali.
- Aquele é o nosso caminho - respondeu Jhonny.
- Então esperem até passar - insistiu a garçonete nervosa e constrangida.
- Vai demorar horas até que o fogo apague.
Pegando Jhon pela mão, Jhonny se apressou em direção ao carro.
A garçonete os aconselhou que não andassem de mãos dadas, e Jhonny disse: ele é meu filho. Jhon o olhou surpreso e perguntou porque ele havia mentido.
- E, por acaso, eu menti?
- De certa forma não, mas... É...
Não demorou para que chegassem à multidão e ao espetáculo de fogo no meio da praça. Jhonny e Jhon não esperavam pelo que viam. Dentro do carro, era possível sentir o cheiro de carne queimada, cheiro esse que nunca esqueceriam.
- Jhonny, não podemos ficar aqui!
- Não temos escolha. Gastei todo nosso dinheiro nessa viagem e não podemos voltar, é perigoso.
Eles seguiam ao seu destino: a antiga Igreja Matriz da cidade. Enquanto saiam desesperadamente para chegar em seu novo lar, olhavam pelo retrovisor a carcaça de um homem ardendo nas chamas.