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Paramos em São Leopoldo e desfrutamos de um delicioso almoço regado à frutos do mar.
Caminhamos um pouco pela praia, entramos no mar e descansamos no carro antes de seguir viajem até Santo Amaro.
Chegamos era quase noite e quando bozinamos no portão, vi meu pai vindo com a caminhonete.
ㅡ bom que chegaram!
ㅡ o senhor vai aonde?
ㅡ na cidade, mas já volto. Acabou aquele vinho que seu Otaviano gosta, vou buscar mais.
ㅡ pai, trás aquele doce de leite com coco pra mim?
ㅡ claro que trago! Estão todos esperando por vocês.
Os irmãos do Cado já estavam na fazenda com seus respectivos parceiros e filhos.
Vi a Sabrina e o Augusto vindo até nós e nos encheram de abraços e beijos. Tiraram onda com meu cabelo e fiquei super envergonhado.
ㅡ nosso caçulinha está cada dia mais bonito. Deve estar arrasando corações na Capital. ㅡ o Guto disse e vi o Ricardo revirando os olhos.
ㅡ coitado de mim. Nem de casa eu saio.
ㅡ ué maninho, porquê? Vai dizer que o Pedro te contaminou com o vírus dele? Porque esse aí sempre foi caseiro. Viajou o mundo todo à trabalho, porque se dependesse dele pra ir só à passeio, nem sairia de casa.
ㅡ acho que foi isso, mesmo! Espirrei e o Lipo pegou minha doença. O quê estão comemorando, pro pai ter armado esse jantar?
ㅡ estamos esperando vocês. E ele inventou de anunciar não sei o quê. ㅡ disse a Sabrina e estiquei minhas pernas quando me sentei no sofá.
ㅡ você está bem, Lipo? ㅡ Ricardo me perguntou e sorri dizendo que sim.
ㅡ só estou com dor nas pernas. Muito tempo sentado.
ㅡ quer ir até a cidade comprar um relaxante muscular?
ㅡ imagina! Minha mãe tem uma mistura de cânfora com mais não sei o quê lá em casa. Depois eu passo.
ㅡ você é quem sabe. Se achar que precisa, me avisa e buscamos.
ㅡ valeu, Cado! Onde está minha mãe? Pensei que ela estivesse aqui.
ㅡ até parece que o papai ia deixar sua mãe cozinhar hoje, Lipo. Mas ela já veio aqui mandar e desmandar em tudo. Rodou a baiana com a nova cozinheira dizendo que ela ia matar todo mundo com tanto sal na comida. Ela foi tomar banho, já vai subir.
ㅡ kkkk, essa é a minha velha! Vou descer lá em casa e dar um abraço nela.
ㅡ fica aqui, daqui a pouco ela sobe. ㅡ vi que o Ricardo estava impaciente e eu sabia que ele preferia estar à sós comigo. Me senti mal por termos que ficar nos escondendo e era por minha culpa.
ㅡ quero tirar essa roupa e tomar um banho. Aproveito pra levar minhas coisas pra lá e passar a tal cânfora nas minhas pernas.
ㅡ vamos então?! Eu te ajudo.
ㅡ não precisa, man! É só uma mochila e uma mala de mão. Fica tranquilo.
ㅡ tem certeza? Se quiser eu desço contigo! ㅡ vi a Sabrina me olhando de um jeito estranho e fiquei super sem graça.
ㅡ tenho, obrigado! Onde está o patrão? ㅡ sorri de nervoso e ele notou meu constrangimento.
ㅡ tirando um cochilo. Vem, eu vou contigo até sua casa. Tenho que pegar um vestido que sua mãe levou pra costurar. ㅡ a irmã do Cado se agarrou no meu braço e já estávamos perto da garagem quando ela me fez parar.
Perguntei se tinha esquecido alguma coisa e pediu pra eu falar mais baixo.
Comecei a rir e ela me arrastou pra dentro daquele lugar escuro.
ㅡ se teu marido vê você me arrastando pra dentro desse lugar, vai pensar o quê?
ㅡ não vai pensar nada. Agora presta atenção!
ㅡ quanto mistério! Você está bem?
ㅡ estou ótima. Vocês dois que disfarçam muito mal.
ㅡ hã? ㅡ tentei fingir que não entendi, mas ela era esperta demais.
ㅡ hã, nada! Meu Deus! Eu sabia que você era gay desde quando ficou lá em casa pro vestibular e não parava de falar no Pedro. Vocês estão namorando, não estão? Me fala!
ㅡ ta doida? E não falei o tempo todo nele...só um pouquinho. Kkkk
ㅡ Lipo, vai ter coragem de mentir pra mim? Poxa! Só o Guto que é muito burro pra não perceber que vocês dois estão juntos.
ㅡ você vai parar de me olhar desse jeito se eu disser que estamos? Está me deixando com medo. Sério!
ㅡ sabia!
ㅡ quieta! Vai chamar atenção de todo mundo desse jeito.
ㅡ desde quando?
ㅡ te conto tudo lá em casa. Agora vamos sair daqui. Daqui a pouco teu marido aparece e soca minha cara.
ㅡ aquele palerma não se mexe nem pra pegar o próprio jornal.
ㅡ e porque ainda está casada com ele?
ㅡ porque ele é o palerma mais gentil que conheço.
ㅡ kkkk, então ta! ㅡ a Sabrina sempre foi doida, mas de um jeito bom e eu gostava muito dela.
Minha mãe estava na sala com meu avô e minha cunhada chegou fazendo a maior festa e anunciando que eu estava chegando.
Abri meus braços e minha pequena rainha veio me dar o melhor abraço de mãe que poderia existir.
Meu avó se ria de felicidade quando me viu e reclamou que já estava com sono e fome. Ele sempre foi acostumado a dormir muito cedo e acordar antes do sol nascer.
Levei minhas coisas até o quarto e minha cunhada atrás de mim querendo saber detalhes do meu namoro com o Ricardo. Fiquei doido e pedi pra ela parar de dar bandeira.
ㅡ vai, garoto...me fala!
ㅡ foi quando ele voltou e viemos pra cá, lembra?
ㅡ lembro. Caramba! Fico feliz por vocês. Mas e seus pais, sabem?
ㅡ claro que não! Sou assumido só pra minha mãe e pro meu tio Paulo.
ㅡ opa, então também não sei de nada.
ㅡ rsrs, obrigado. Seu pai também sabe, claro!
ㅡ ele sabe de tudo! O velho é danado que só ele.
ㅡ você saiu à ele kkkk.
ㅡ kkkk, acho que sim. Lipo, fico feliz...de verdade. Você sabe que te amo como um irmão, não sabe?
ㅡ sei sim! E seu irmão está me fazendo muito feliz.
ㅡ meu irmão é um cavalheiro, mas não chega a ser nesse nível de preocupação. Ele não trataria com tanto cuidado e zelo um amigo, apenas. Mesmo ele sendo tão querido com todos.
ㅡ posso te perguntar uma coisa?
ㅡ claro!
ㅡ como ele era com o Alexandre? Mas seja sincera!
ㅡ ele amava o Alexandre, foi um namoro conturbado porque ele ainda não era assumido e os pais dele eram bem conservadores. Só que não era esse chamego todo não. Nem quando eles começaram a namorar vi meu irmão suspirando pelos cantos ou com cara de bobo. Ele nunca tratou o Alexandre do mesmo jeito que vi ele te tratando hoje. Pra falar a verdade? Os dois se amavam, mas o Alexandre o controlava demais; ele morria de ciúmes do Pedro e meu irmão achava que era normal. Ele pensava que o Alexandre tinha medo de perdê-lo; por ele ainda não ser assumido e o Cado acabar se cansando. Sabe Lipo, um amor nunca é igual ao outro. Cada pessoa é única e isso reflete no modo de agir e tudo mais. Ele te olha diferente e isso reflete no modo que ele te trata. Algo aqui...dentro desse teu coração é importante demais pra ele e por isso esse carinho todo. Você é especial. Já dizia minha mãe: o menino Fillipo é um ser celestial.
Você é especial demais pra ele, Lipo! Pode ter certeza!
ㅡ nem sei o quê te dizer. A Yoiô falou isso de mim?
ㅡ ela sempre falava de você. Por isso temos tanto carinho por ti. Nossa mãe era uma pessoa que só atraía coisas boas em sua vida e você foi a pessoa mais importante que ela já conheceu. E se você perceber, meu irmão é igual a ela. Os dois são de uma generosidade sem fim.
ㅡ isso é verdade. Seu irmão fez tanta coisa por mim. Sua mãe então, nem se fala.
ㅡ você merece! Mas está preocupado com o quê?
ㅡ com nada, só curiosidade. É que o Alexandre mandou mensagem pro Cado esses dias e fiquei com medo dele ter balançado. Sei lá!
ㅡ maninho, isso são águas passadas! Se durante todo esse tempo meu irmão não teve uma recaída, não e agora que vai ter?! Ainda mais estando contigo.
ㅡ é, pode ser! Eu preciso me trocar. Muito obrigado pelo papo.
ㅡ foi um prazer! Vou pegar meu vestido e subir lá pra casa. Vê se não demora.
ㅡ rsrs, eu não vou.
Durante o baanho fiquei pensando no fato de eu não ser assumido e estar incomodando o Ricardo. Senti o mesmo medo que o traste do Alexandre sentia, mas eu não era babaca à ponto de manter uma relação abusiva; baseada em ciúmes e chantagem emocional.
Terminei meu banho e fiquei conversando com meu avô na sala. Fiquei feliz em vê-lo conosco e nos lembramos de como eu era travesso quando criança.
Minha mãe pediu pra eu levar uma carne assada até a casa grande e disse que já subiria com meu avô e que eu poderia ficar por lá.
Levei a carne até a cozinha e seu Otaviano descia as escadas todo sorridente.
ㅡ olha quem está aqui! ㅡ ele veio até mim e me abraçou.
ㅡ como o senhor está?
ㅡ estou bem, filho. E você?
ㅡ melhor, impossível! Um pouco cansado, mas feliz!
ㅡ bom te ouvir tão animado. Tem alguém lá em cima que já perguntou se você chegou. Segunda porta à esquerda.
Ele foi pra sala e subi as escadas correndo.
Fui até o quarto do Cado e ouvi barulho de água caindo. Fiquei sentado na cama esperando por ele e quando saiu do banheiro, abriu um sorriso do tamanho dele.
ㅡ tranca a porta, amor. ㅡ ele me pediu e passei a chave.
Fui até ele e o puxei pela toalha. Esfreguei meu rosto no dele e cheirei seu pescoço que ainda estava molhado. Lambi sua orelha e ele me levou até a cama.
ㅡ como vou dormir sem você, garoto?
ㅡ não fala assim...poxa! Deita aqui no seu travesseirão!
ㅡ na sua bunda? Vira!
ㅡ kkkkk, no meu peito, pow! Te deixei brincar demais com a minha bunda ontem. Está saidinho demais.
ㅡ mas você estava gostando. Não estava? Ou estava fingindo?
ㅡ claro que gostei! E nunca vou fingir contigo.
ㅡ e eu nunca vou inverter de papel contigo. Já disse que gosto do jeito que somos na cama. Só que um dedinho de vez em quando não vai te matar. Kkkk
ㅡ kkkkk, vai não! Cado, tua irmã sabe da gente! ㅡ ele não me parecia surpreso.
ㅡ você contou?
ㅡ sim e não. Ela desconfiou quando você estava tentando me levar lá pra casa. Aí não teve como mentir pra ela.
ㅡ não tem problema. Exagerei aquela hora, né?
ㅡ rsrs, um pouco.
ㅡ te deixei constrangido, me desculpa?
ㅡ está desculpado! Ahhh, seu sem vergonha...faz isso comigo não! Kkk
ㅡ me da um puta tesão ver você de pau duro pra mim. Olha que linda essa pica, Lipo! Está vendo? ㅡ ele tirou minha pica pra fora e abaixou pra dar um selinho na cabeça da danada. Senti cócegas.
ㅡ gosta dela, Cadão?
ㅡ gosto! Vou engolir toda!
ㅡ só uma vez! Estão nos esperado.
ㅡ malvado! ㅡ ele engoliu minha pica duas vezes e a guardou novamente.
Fiquei sarrando meu corpo no dele e seus lábios beijavam meu pescoço. De repente ouvi a voz do meu pai no andar debaixo.
Desci e pedi pra ele esperar um pouco e descer depois.
Na sala estavam todos e minha mãe parecia uma boneca. Estava linda e diferente; estava maquiada de forma leve e seu sorriso me alegrava.
Meu pai veio de encontro a mim, me abraçou e perguntou onde estava o Ricardo.
Disse que ele estava trocando de roupa e que subi pra devolver seu relógio que havia esquecido na minha mochila.
Não me surpreendi quando começou a me questionar sobre onde ficamos e se tinha muita mulher bonita.
A impressão que eu tinha era que ele fazia de propósito, só para me irritar.
Minha mãe, vendo as investidas de meu pai, veio até mim e me chamou pra dar uma volta pela fazenda.
Aceitei de bom grado o convite e a acompanhei até o jardim perto da piscina.
A elogiei e se envergonhando, disse que era exagero de minha parte.
Me vendo chateado, me fez sentar em um banco que ficava debaixo de uma jaqueira imensa. Brinquei que se tivesse carregada de frutos, ninguém se sentaria ali.
ㅡ imagina levar uma jaca na cabeça? ㅡ disse e ela ria.
ㅡ kkkk, seu pai já foi premiado uma vez.
ㅡ rsrs, agora entendo porque ele é tão cabeça dura. Nem uma jaca foi capaz de derrubar o coroa.
ㅡ seu pai anda muito diferente de uns tempos pra cá. ㅡ ela disse e senti que se arrependeu, pois tentou mudar de assunto.
ㅡ como assim?
ㅡ ah, não é nada. Bobagem minha.
ㅡ mãe, a senhora não me falaria isso sem ter uma razão que a convencesse. Me fala! É por minha causa?
ㅡ não, é com tudo. Vive irritado e se incomoda com qualquer coisa. Vai à cidade e demora demais.
ㅡ estranho, ele nunca foi assim.
ㅡ Lipo, seu pai nunca foi santo. Você não sabe porque era pequeno demais pra se preocupar com problemas de gente grande, mas seu pai já me magoou muito.
Fiquei chocado, de verdade. Nunca imaginei que minha mãe alguma vez na vida sofrera por causa dele. Me senti impotente e culpado por nunca ter prestado atenção em suas dores.
ㅡ ele te bate, mãe? ㅡ só eu sei o quanto me custou fazer essa pergunta e o medo que tive.
ㅡ não, isso nunca! Só que não apaga tudo que ele me fez. Já perdoei traição do seu pai. Depois que viemos pra cá que ele sossegou, mas agora fico na dúvida se voltou ou não pra àquela vida.
ㅡ minha nossa! Pensei que minha família fosse perfeita. Quanto tempo eu dormi pra não perceber tudo isso?
ㅡ nenhuma é, Lipo. Mas filho, não fica chocado com nada que te disse. Essas coisas acontecem. Já faz tanto tempo!
ㅡ mãe, eu não quero ver a senhora sofrendo por homem nenhum nessa vida. Nunca mais. Promete pra mim que se ele voltou pra àquela vida de novo, a senhora me conta?
ㅡ conto sim, mas não quero você batendo de frente com ele.
ㅡ levo a senhora pra Capital comigo. Tenho o dinheiro que a Yoiô deixou e logo arrumo um bom emprego.
ㅡ Lipo, são só suspeitas. Não fale como se ele estivesse me traindo de novo e como se fóssemos nos divorciar.
ㅡ acho que estou exagerando, mas a senhora ainda o ama? Me fala a verdade. Se abre comigo.
ㅡ amo! Seu pai aprontou uma vez comigo, se arrependeu e me pediu perdão. Sei que uma traição é algo que fica marcado pra sempre, mas eu o amava e continuo amando. Ele tem seus defeitos, é turrão, mas nunca foi violento comigo.
ㅡ ele é explosivo, mas não chega às vias de fato. Isso é verdade, mas não o livra de tê-la magoado. Eu andei pensando e vou me assumir pro pai assim que essa bendita colação de grau passar. Eu queria a família reunida. É uma etapa importante na minha vida. Não quero contar antes e correr o risco dele me odiar pra sempre e certeza que ele deixaria de ir. Vai ser um dia especial pra mim e quero todos à mesa comemorando comigo.
ㅡ e eu estraguei tudo. Me perdoa?
ㅡ ei, não se preocupe com isso. Entendeu? Se me contou, é porque não aguentava mais sofrer sozinha. O mais importante é que a senhora esteja bem. Não se trata apenas de mim, mas de nós!
ㅡ só te deixei preocupado.
ㅡ mãe, eu tinha o direito de saber e pode ser que doa, mas é necessário.
ㅡ ele é seu pai e te ama. Sei que está chateado, mas não o responda. Não quero vocês discutindo. Ainda mais aqui na casa grande. Os patrões não tem nada haver com nossos problemas.
ㅡ tudo bem. Prometo que não tocarei no assunto, mas depois de tudo que eu ouvi da senhora, fica difícil olhar pra ele com o mesma consideração que sempre tive.
Fiquei decepcionado com o que tinha acabado de ouvir.
Era uma sensação estranha. Sempre me orgulhei do casamento feliz dos meus pais e, de seus valores morais que me foram passados. Hipocrisia da parte dele não me aceitar como sou, sendo que foi desonesto com minha mãe.
Masl sabia eu que o casamento dele não era o mar de rosas que eu pensava ser.
Me senti mal pela minha mãe ter passado por situações desagradáveis e eu nem estava lá para confortá-la.
Entramos e estavam todos conversando. Minha mãe foi até cozinha com a Sabrina e me sentei em uma poltrona perto da porta.
Meu pai estava com seu Otaviano e o Cado conversava com o irmão e cunhado, mas não tirava os olhos de mim. Fiquei remoendo o quê minha mãe havia me falado e tentando me manter calmo pra não ir até meu pai tirar satisfação.
Me sentei ao lado do meu avô e o coitado já estava cochilando. Perguntei se ele queria beber alguma coisa e disse que queria caminhar um pouco. Ofereci meu braço a ele e demos uma volta pelo jardim.
Ouvi suas estórias de quando morávamos no sítio e eu morria de medo de assombração.
Morri de rir com o jeito dele falar e se lembrando de minha vó, ficou um pouco em silêncio e sentindo a falta de sua velha amada. Perguntei se algum dia foi desonesto com ela e me encarando disse que jamais se atreveu a sair com outra mulher que não fosse ela.
ㅡ esse pecado eu nunca vou carregar. Já perdi dinheiro no jogo, já bebi demais, mas trair, bater ou erguer a voz pra sua vó? Jamais! E olha que oportunidade não me faltou, mas sempre a respeitei. Ela estava certa em todas elas. E como ela era brava! Não tinha papas na língua. Era um poço de sinceridade e sempre discutíamos, mas no nível da boa convivência.
ㅡ o senhor é bem diferente do meu pai, né?
ㅡ está falando do quê?
ㅡ das safadezas do meu pai. A mamãe acabou de me falar. Porque nunca me falaram nada?
ㅡ porque ela pediu. Tinha vergonha e não queria que você se decepcionasse com ele. Lembra? Era Deus no céu e seu pai na terra. Você sempre o admirou. Ele te levava pra trabalhar e não se desgrudavam nunca. Seu pai era um heiroi pra você.
ㅡ agora eu nem sei mais o quê ele é.
ㅡ não precisa ficar remoendo o passado. Já foi. Ele é seu pai e te ama.
ㅡ não sei até quando...
ㅡ oxi menino, como até quando?
ㅡ o tio Paulo nunca te falou de uma conversa que tivemos?
ㅡ depende...sobre o quê?
ㅡ sobre eu gostar de homens!
Ele se colocou na minha frente e botou as mãos nos meus ombros e me abraçou.
ㅡ me falou sim! Fica tranquilo, que teu segredo está bem guardado.
ㅡ e acha que o pai vai continuar me amando depois que eu contar?
ㅡ tua mãe já sabe?
ㅡ sabe! Me responde vô!
ㅡ eu não sei te responder, me desculpa!
ㅡ viu só?! É disso que eu estou falando.
ㅡ você tem sua mãe, seu tio e a mim...fica tranquilo, filho.
ㅡ eu vou tentar. Quer entrar?
ㅡ quero, to com uma vontade doida de mijar.
ㅡ kkkk, eu te levo no banheiro.
Fiquei pela sala e o Bruno, marido da Sabrina, veio conversar comigo.
Batemos um papo descontraído sobre algumas séries que estavam passando na tv à cabo e nos lamentamos com o final ridículo de Lost. Era minha série favorita.
Combinamos de maratonar algumas qualquer dia no apartamento do Ricardo e a Luana, sua esposa, o arrastou pra sala de jogos. Eu estava entediado demais pra ficar ali, queria estar com o Ricardo em algum lugar onde ele pudesse me pôr em seu colo e acarinhar-me do jeito ele sabia.
Minha mãe sentou-se ao meu lado dizendo que serviriam o jantar e, mirei de longe o Ricardo que estava conversando com seu Otaviano.
Procurei pelo meu pai e não o vi em lugar algum.
ㅡ mãe, se perguntarem por mim, diz que fui até as cocheiras ver o Texas.
ㅡ mas agora? Daqui a pouco vão servir...
ㅡ sim, só vou dar um beijo nele.
ㅡ se ver seu pai, pede pra ele vir jantar. Não sei onde ele se meteu. Até parece que tomou chá de sumiço.
Desci até em casa, calcei minhas botas e fui até as cocheiras. Passei pelo galpão e ouvi uma voz vindo de dentro. Continuei caminhando e era meu pai. Parecia falar ao celular e estranhei ele estar lá dentro aquela hora da noite.
Resolvi chegar mais perto e a porta estava entreaberta.
" agora preciso desligar. Daqui a pouco vão servir o tal jantar e o patrão tem um comunicado a fazer. Amanhã nos vemos. Invento um pretesto e vou aí! Calma! Se digo que vou, é porque eu vou!"
Não consegui ouvir a conversa até o final. Saí dali o mais rápido que pude e fui até as cocheiras.
Me sentei em um monte de feno e fiquei intrigado com a conversa do meu pai ao celular.
Minha cabeça girava e me deitei tentando não pensar na possibilidade dele estar traindo minha mãe novamente.
Fiquei conversando com o Texas pra tentar esquecer meu pai.
Ele não parava quieto. Estava feliz demais em me ver.
Ouvi passos perto das cocheiras. Eu estava de costas e senti uma mão pesada em meu ombro. Quando me virei, era meu pai.
ㅡ oi!
ㅡ está fazendo o quê aqui?
ㅡ conversando com o Texas.
ㅡ vamos lá jantar?
ㅡ vamos...
ㅡ eu estava conversando com Ricardo e notei ele meio chateado. Vocês brigaram?
ㅡ não. Deve ser saudade da Yoiô.
ㅡ é, pode ser. Natal e o patrão reunia todo mundo lá na casa. Deve ser isso.
ㅡ nos lembramos sempre dela. Às vezes, quando ele cozinha, sempre lembra da Yoiô e das coisas que ela fazia.
ㅡ não sabia que ele cozinhava pra você.
ㅡ ele cozinha pra nós! Ele também come. E por que não cozinharia? Eu também faço as refeições quando ele está ocupado.
ㅡ calma, só estou comentando...você ainda está chateado comigo por causa da Clotilde, não está?
ㅡ pra falar a verdade? Eu nem me lembrava mais dela. Tenho outras preocupações!
ㅡ posso saber quais são?
ㅡ coisa minha! Deixa pra lá!
ㅡ por onde você veio?
ㅡ não entendi.
ㅡ quando você veio pra cá, por onde você veio? ㅡ eu precisava mentir pra ele não suspeitar que eu havia passado pelo galpão e ouvido a tal conversa.
ㅡ fui lá em casa calçar minhas boas e vim pelo riacho. Gosto de sentir o cheiro das plantas à noite. Por que?
ㅡ não, por nada. É que eu estava no galpão procurando um lampião e não te ouvi passar. Vamos?
ㅡ vamos, estou faminto!
Fomos conversando e fiquei me segurando pra não comentar com ele aquilo tudo que minha mãe havia me contado e, sua conversa dentro do galpão, mas me mantive firme. Afinal, eu não tinha certeza de nada.
Assim que chegamos já estavam todos sentados à mesa.
Meu pai se sentou ao lado de minha mãe e a única cadeira que sobrou foi ao lado do Ricardo. Fui lavar as mãos e me sentei ao lado dele, que imediatamente me serviu uma taça de vinho.
ㅡ está tudo bem? Onde estava?
ㅡ estou ótimo! Só fui ver o Texas e conversar um pouco com ele.
ㅡ aposto que ele ficou feliz.
ㅡ e ficou!
ㅡ o quê achou do vinho?
ㅡ muito bom! Não é o mesmo que bebemos em casa? Certeza que e o mesmo!
ㅡ sim! Está com o paladar apurado. Pensei que não iria reconhecer.
ㅡ sou quase um sommelier. Kkkkk
ㅡ você é especialista em mais alguma coisa que eu não saiba? Ah, já sei! Espirrar vinho nas pessoas à mesa. Nisso você é mestre. Kkkkk ㅡ notei meu pai prestando atenção em nossa conversa, mas não o encarei.
Rimos do banho de vinho da última vez. Ele parecia mais animado. Mas era horrível tê-lo por perto e agir como se fosse apenas um amigo.
O patrão fez uma prece, nada ligado à religião, mas agradeceu pela saúde da família e de todos que estavam presente à mesa. Agradeceu por sempre ser rodeado de bons amigos, por ter a sorte de ter filhos maravilhosos e netos queridos.
Me senti realmente tocado com tudo que ele disse e me arrepiei com o toque suave das mãos do Cado em minha coxa.
Um calor me subiu à espinha, mas permaneci imóvel e com medo de alguém perceber.
O jantar foi servido e se tem uma coisa que seu Otaviano gosta, é de um bom bate papo durante as refeições.
Ele sempre dava um jeito de nos fazer sorrir e às vezes se lembrava de algum acontecimento.
Estava tudo muito agradável. Até as crianças estavam animadas.
Foi aí que ele pediu que trouxessem uma garrafa de champanhe.
Fiquei curioso em saber o quê era a tal surpresa que ele estava preparando e me adiantei.
ㅡ o senhor quer nos contar algo agora, ou vai esperar eu infartar de tanta curiosidade? ㅡ ele ria e me pediu pra ter paciência.
ㅡ oxi, menino! Até aprece que não me conhece? Gosto das coisas com emoção, mas vamos ao que interessa. Então, eu reuni vocês todos aqui pra comemorar a volta do Pedro Ricardo ao Brasil e espero que ele nunca mais volte a ficar longe da família. Aqui é seu lugar e fico feliz que tenha voltado. Não só eu, mas seus irmãos e todos aqui presente. Mas não foi só por isso! Na verdade, à partir de agora, vocês estão olhando para o novo proprietário da antiga fábrica de ração de Ercolano e Menezes. Faz dois anos que venho negociando com os herdeiros do finado Onofre Alencar, um valor justo pra comprar aquilo tudo. Até que enfim consegui. Só que não é só isso. Vou precisar de você Ricardo, pra me ajudar à administrar e já estou pensando em ampliar a filial de Menezes. Preciso do Augusto e da Sabrina pra me auxiliar na parte jurídica e de muita disposição de todos. Ah! Por último, mas não menos importante, preciso do Fillipo. Não é atoa que consegui aquele estágio pra você. Foi caso pensado. A menos que você não queria entrar nessa conosco. Fique à vontade pra dedicir. Eu não sei o quê está pensando em fazer assim que pegar seu diploma, mas acho que pelo tempo que estagiou naquela fábrica, deu pra você ter uma noção do funcionamento da parte nutricional daquilo tudo e queria muito que você nos ajudasse. Bom, é isso! E vamos comemorar!
Estavam todos felizes, inclusive eu. Seria a chance de eu ter de verdade a independência financeira que eu sempre sonhei. Mesmo com a poupança e a renda do apartamento que a Yoiô me deixou, eu queria mais.
Brindamos ao novo feito do seu Otaviano e dei minha resposta assim que o Ricardo me serviu uma taça de champagne.
ㅡ eu aceito! Não vejo a hora de começar a meter a mão na massa.
ㅡ é assim que eu gosto! Quero todos vocês comigo. Acha que tem uma boa base inicial, Lipo?
ㅡ claro, aprendi muito estagiando naquela fábrica. Como não produzir ração de má qualidade, por exemplo. E se o senhor ouvir o quê eu tenho à dizer, vai ganhar mercado rapidinho. Aquilo lá nem deveria estar aberto e os produtos são de má qualidade. Ainda sobrevive porque tem nome no mercado e ninguém até agora ousou bater de frente em matéria de qualidade. Além do mais, se o senhor investir em uma boa publicidade logo de início, vai ganhar mercado em um estalar de dedos.
Contei tudo de bom e ruim que havia aprendido na fábrica e ele me ouvia com atenção.
Senti que ele estava interessado em saber mais e, depois do jantar, fomos até a varanda conversar.
Estavam todos alegres e vibravam com a nova conquista do velho, que sendo bem esperto, me disse que queria o Cado e eu em Erculano cuidando de tudo.
ㅡ quer que moremos em Erculano?
ㅡ isso mesmo. Preciso de pessoas de confiança, Lipo. O quê acha?
ㅡ por mim, tudo bem. O senhor sabe que acabei de me formar, não sabe? Não tenho experiência, mas tenho determinação.
ㅡ claro que sei. Por isso vou contratar alguem com experiência pra te guiar no início, mas quero você de olho em tudo. Quero o melhor produto nas prateleiras e preciso fazer isso com honestidade. Já estou mexendo meus pauzinhos pra expandir a filial em Menezes e onde eu mais conseguir. Só preciso levantar mais capital.
ㅡ assim que chegarmos na Capital, vou entrar em contato com amigos que fiz. Aprendi muita coisa e vou poder ajudar o senhor no quê precisar.
ㅡ é disso que preciso! De pessoas com vontade!
ㅡ mudando um pouco de assunto, o senhor me permite uma pergunta?
ㅡ claro!
ㅡ a mãe disse que o pai anda chegado meio tarde em casa. Ele está sendo relápso com o trabalho aqui na fazenda?
ㅡ bem, de uns tempos pra cá venho notando que ele chega meio tarde, mas nada que me afete ou afete seu trabalho na fazenda. Seu pai é um homem muito correto com tudo que faz. Não tenho o quê reclamar dele. Está acontecendo alguma coisa?
ㅡ não, perguntei só por desencargo de consciência. O senhor quer mais vinho?
ㅡ chega por hoje, obrigado. Já vou me deitar. Amanhã conversamos mais sobre a fábrica. Boa noite, filho!
ㅡ boa noite.
Fiquei pela varanda. Bebi o resto do vinho e notei que já estava meio alto. Resolvi parar e estava apertado pra ir ao banheiro. Quando fui abrir a porta, vi que estava ocupado. Quase fiz nas calças.
Fui até o banheiro no andar de cima e senti as mãos do Ricardo no meu braço e, me arrastou pro quarto na velocidade da luz. Me assustei com a forma abrúpta que ele se dirigiu a mim, mas passou quando senti seu corpo pesado contra o meu e me espremeu na parede. Suas mãos me apertavam forte, sua boca tomou posse da minha em um beijo que me fez amolecer em seus braços.
Tirou minha pica pra fora e me masturbava enquanto roçava seu corpo no meu de uma forma deliciosa.
ㅡ me assustou, safado! ㅡ disse e ele me sorriu.
ㅡ me desculpa! Mas não resisti quando te vi subir. Vi que seu pai saiu com o Guto e foram pro jardim. Aí vim te capturar.
ㅡ você é um amor! Te amo demais. Nunca vou te enganar, nunca vou mentir pra você. Promete nunca mentir pra mim? Promete, Cado?!
ㅡ ei? O quê está acontecendo contigo? Lipo, te cuidei durante a noite toda e vi que está meio chateado.
ㅡ eu não queria falar disso agora, mas não tem nada haver com a gente. Entendeu? Na verdade, tudo que estou vivendo contigo está sendo incrível demais.
ㅡ oh meu amor! E se acalma esse teu coração, prometo nunca te magoar. Porque eu faria isso? Já senti a dor da traição, Lipo...e não foi nada bom. É uma ferida que demora a cicatrizar. Te amo, meu menino.
ㅡ tem horas que eu queria desaparecer.
ㅡ pelo visto o assunto é sério, mesmo. Seu pai está desconfiado? Te falou alguma coisa?
ㅡ eu nem ligo mais pra isso. Se ele abrir aquela porta e nos pegar em flagrante, é um favor que me faz. Mas não me disse nada, não é isso!
ㅡ então porque não descemos e contamos logo pra ele?
ㅡ porque isso é problema meu! Sua família não tem nada haver com isso. Não vou estragar com o Natal de ninguém. Por isso quero contar depois que me formar. Quero todos comigo na minha colação. Se bem, depois do que eu andei sabendo, eu não sei mais de nada.
ㅡ caramba! O assunto é sério! Certeza que não quer dividir isso comigo?
ㅡ quero, mas não agora. Só me abraça! ㅡ ficamos abraçados e era bom demais sentir seu corpo colado ao meu.
ㅡ amanhã vou na cidade comprar presente pra criançada. Quer ir comigo?
ㅡ quero. Pelo menos vou me distrair. Eu vou descer e dormir. Estou morrendo de sono e preciso mijar! ㅡ ele me deu um beijo e se abaixou dando um selinho na minha pica. Comecei a rir e lhe dei boa noite.
ㅡ boa noite, meu menino-gigante!
Desci as escadas e meu pai conversava com o marido da Sabrina. Minha mãe já estava em casa com meu avô.
Fomos pra casa e, quando entramos, ele me ofereceu uma xícara de café que prontamente aceitei.
Ele botou a água ferver, passou o café e se sentou no banco de madeira à minha frente.
Agradeci pelo café que estava fumegando na xícara e ele sorriu.
ㅡ eu queria te dar algo de presente de formatura, mas não faço ideia. ㅡ ele disse e pegou um pedaço de bolo.
ㅡ não precisa me dar nada. Só que volte a ser aquele pai carinhoso que sempre foi.
ㅡ mas eu sou carinhoso. Não sei de onde você tirou essa ideia que mudei contigo depois dos seus quinze anos. Quer que eu te trate como? Que te pegue no colo? Você já é um homem!
ㅡ é disso que estou falando! Essa sua ideia absurda que agora sou um homem e que não precido mais de seus carinhos. Tem medo de quê? ㅡ ele tomou um gole de café e me olhava nos olhos de um jeito estranho, mas estava calmo.
ㅡ medo de nada. Só que as coisas mudam com o tempo. Te abraço sempre que nos vemos e, é isso! Pra quê tanto agarramento? Não sou tua mulher pra ficar de chamego contigo.
ㅡ ai, pai! O senhor fala cada coisa!
ㅡ mas é verdade. Sou teu pai e te amo, mas não vejo necessidade de tanta intimidade.
ㅡ tudo bem. Valeu pelo café! Ah, vai sair amanhã?
ㅡ vou na cidade com o patrão. Quer ir?
ㅡ eu vou, mas com o Ricardo. Ele vai comprar presente pra criançada.
ㅡ hum! Entendi!
ㅡ eu vou dormir. Boa noite, pai!
ㅡ boa noite e durma bem.
Fiquei imaginando se meu pai iria se encontrar com a tal pessoa no dia seguinte.
Passei pelo quarto dos meus pais e vi minha mãe deitada na cama, mas estava acordada. Perguntei se podia entrar e disse que sim. Me sentei ao seu lado e lendo minha mente, disse que eu podia me deitar com ela. Tirei minha camisa e fui até meu quarto vestir um short. Voltei correndo e me deitei ao seu lado. Ela sorriu e me fazia carinho igual quando eu era pequeno.
Ficamos conversando e era tão bom estar ao lado de minha rainha.
Olhei em direção à porta e vimos meu pai nos olhando. Perguntei de ele se deitaria, mas disse que iria ver um pouco de tv.
A última coisa que me lembro era de sentir minha mãe acariciando meu rosto e adormeci.
Era bem cedo quando ouvi meus pais na cozinha. Falavam de mim e fiquei prestando atenção na conversa.
ㅡ você o trata como se ainda tivesse doze anos. Fui me deitar e ele já estava dormindo. Você o mima demais. Tive que dormir no quarto dele.
ㅡ deixa o menino, Erasmo. Está morando longe e sente falta da gente. Você deveria agradecer pelo filho que tem, ao invés de ficar reclamando por qualquer bobagem. Se continuar distante desse jeito, vai acabar perdendo seu filho. Desde quando tem idade pra se receber amor e carinho?
ㅡ sempre fui carinhoso com ele. Agora ele é um homem feito. Já passou da hora de arrumar uma namorada. Quantas vezes ouviu ele dizer que estava saindo com alguém?. Nunca conversou comigo. Isso me incomoda. Todo filho conversa com o pai sobre namoradas, mas ele não gosta nem que toque no assunto. Fica todo enfezado.
ㅡ você pega muito no pé dele. Vai ver é isso.
ㅡ é pode ser, mas não justifica! Você dormiu bem? Porque aquele gigante tomou conta da cama. Não sei porque cresceu tanto.
ㅡ dormi. Lembra quando ele acordava de madrugada e vinha se deitar conosco?
ㅡ claro que me lembro! Mas ele não tinha quase dois metros. ㅡ ouvi eles gargalhando e sorri.
ㅡ exagero seu. Está com ciúmes.
ㅡ ciúmes? Eu quero que ele vire homem.
ㅡ ele é! E vamos parar com esse assunto. Vou lá na casa grande preparar o café. Vai comigo?
ㅡ claro que vou. Seu Otaviano e eu vamos até a cidade depois...
Ouvi os dois saindo e ainda era seis da manhã. Me levantei e fui até meu quarto.
Nem dei muita importância pra conversa dos dois. Era a mesma coisa de sempre e ele achando que tem razão. Resolvi dormir de novo. Só sei é que eu sentia falta do carinho de minha mãe e me senti um menino novamente dormindo ao seu lado.
Me deitei e fiquei nu. Adorava dormir pelado e lembrei que minha mãe sempre brigava comigo.
Peguei no sono novamente e sonhei com o Ricardo acariciando minhas costas. O sonho estava tão real que pude sentir seus lábios em minha nuca.
Abri os olhos e vi o rosto mais belo de todos. Ele sorriu me dando bom dia e vi como ele estava bonito. Senti o cheiro do seu perfume favorito e fiquei curtindo sua mão deslizar em meu rosto ainda iberne.
ㅡ acabei de sonhar contigo. Como pode isso?
ㅡ é porque sentiu eu fazendo carinho em você. Deve ter sido isso.
ㅡ acho que foi! Bom dia, amor! E meus pais?
ㅡ seu coroa acabou de sair com meu pai e sua mãe está lá em casa com seu avô. Ela disse que viria te chamar pra tomar café, mas eu falei que te chamaria. Vamos lá?
ㅡ deita aqui!
ㅡ deito. Está pelado?
ㅡ uhum! Estou!
ㅡ deixa eu ver?! ㅡ ergui a manta que me cobria e ele ficou me olhando, mas de um jeito terno.
ㅡ coisa linda! Eu tenho o namorando mais lindo desse mundo.
ㅡ rsrs, exagerado! ㅡ ele se deitou comigo e me afundei em seu corpo.
ㅡ me abraça também!
ㅡ te abraço, te beijo, te amo...
Ficamos namorando um pouco e subimos pra casa grande.
A mesa do café já estava posta e minha mãe tomava café com a Sabrina e a Luana.
Em um gesto de gentileza, o Ricardo puxou a cadeira me oferendo assento e sorri agradecendo. Minha mãe perguntou o quê eu comeria, mas ele disse pra ela não se preocupar, pois ele mesmo serviria à nós dois.
A Luana disse que o Ricardo se fantasiaria de papai noel. Comecei a rir e ele passou manteiga na minha cara. Fiquei sem reação.
ㅡ cara, que porcaria foi isso? ㅡ disse e a mulherada ria. Vi o irmão do Cado chegando e ficou me olhando sem entender nada.
ㅡ respeita o Pedro Noel, rapaz! Não vai ganhar presente!
ㅡ o Pedro adora ver as crianças se matando pelos presentes, Lipo. Você precisa ver! ㅡ a cunhada dele disse e limpei meu rosto.
ㅡ e eu vou ganhar o quê? Manteiga na cara? Muito obrigado!
ㅡ vai ganhar um guardanapo pra limpar essa cara suja. Kkkkk ㅡ ele disse e fiquei sem entender nada.
ㅡ suja? Acabei de limpar, man!
ㅡ suja sim, disso!
O filho de uma égua enfiou a mão no pote de geléia, lambuzou minha cara e saiu da mesa na maior tranquilidade dando risada e subiu.
Fiquei puto. Minha mãe se acabava de rir e a Sabrina me jogou um pano de prato. Limpei o rosto novamente e corri escada acima indo até o banheiro. Lavei meu rosto e, quando saí, ele me esperava encostado na porta de seu quarto.
ㅡ palhaçada, heim?! Vou pegar aquele pote de geléia e passar no teu...ㅡ disse e ele ria.
ㅡ olha a boca! Kkkkk
ㅡ crianção! Que droga! Esse cheiro não sai!
ㅡ cheirinho de morango!
ㅡ sacanagem! Coisa mais nojenta.
ㅡ é só geléia!
ㅡ ridículo!
ㅡ está bravo? De verdade?
ㅡ claro que não! Tonto!
ㅡ ufa! Pelo menos está cheiroso! Kkkkk
ㅡ caramba, quantos anos você tem?
ㅡ kkkkkk, marrento!
ㅡ não vai terminar seu café?
ㅡ eu já comi. Vai lá comer pra gente sair. Vou trocar de roupa.
ㅡ está bonito assim!
ㅡ essa calça não está muito justa?
ㅡ está, mas e daí? Te deixa com o corpo marcado. Adoro quando veste essa calça.
ㅡ gosta mesmo? É que sei lá...não fica chateado se eu for com ela?
ㅡ eita, claro que não! Por quê eu ficaria chateado? Até parece que vou pedir pra você não usar algo. Se você gosta, usa. Te amo, cara!
ㅡ obrigado! Sou vou trocar a camisa e escovar os dentes.
ㅡ de nada, bonitão. Vou terminar de comer.
ㅡ vai lá, moranguinho!
ㅡ vai se ferrar!
Desci, terminei meu café e o Guto veio conversar comigo na sala. Notei que ele queria me perguntar alguma coisa e se arrastou pra mais perto de mim. Achei super estranho e ele fez um gesto pra eu chegar mais perto. Comecei a rir e disse:
ㅡ mas já estamos perto. Kkkk
ㅡ rsrs, desculpa! Lipo, vocês estão namorando? ㅡ fiquei gelado, mas comecei a rir e ele ficou me encarando.
ㅡ você e sua irmã deveriam ser detetives!
ㅡ sabia! Caralho! Sério mesmo?
ㅡ sério mesmo!
ㅡ poxa, fico feliz. E teus pais já sabem?
ㅡ ta doido? Meu pai nem sonha que gosto de homem. Minha mãe sabe, mas não sabe do Cado, ainda.
ㅡ entendi...entendi...
ㅡ quem te falou?
ㅡ oxi, ninguém! É que o Pedro, por mais educado que ele é, não fica destribuindo gentilezas e gracinhas por aí. Nunca o vi tão feliz. Ainda mais quando vocês chegaram. Ele puxou a cadeira pra você sentar e depois fez aquela brincadeira nojenta na sua cara. Aí desconfiei. Ah, ele te olha de um jeito que...nossa! Chega ser lindo.
ㅡ assim eu fico sem graça! E sua irmã também desconfiou do cavalheirismo exagerado da parte dele.
ㅡ a Sabrina sabe? Quem mais?
ㅡ só teu pai, tua irmã e você.
ㅡ a família toda kkkk.
ㅡ é kkkk.
ㅡ mas é serio, faço gosto desse namoro de vocês. Ele não poderia ter encontrado pessoa melhor.
ㅡ valeu, maninho! ㅡ o cara tinha quarenta anos e eu o tratava como se tivesse minha idade. Se bem que ele sempre foi meio molecão e nem parecia ser mais velho que o Ricardo.
Percebi que já era hora de contar pra minha mãe. Ela precisava saber que o Ricardo e eu estávamos namorando.
Fiquei esperando o Cado e, quando desceu, estava mais lindo do que nunca. Fiquei olhando pra ele todo gatão e me lamentando por estar vestido igual um skatista; de camiseta, bonê virado pra trás, tênis e jeans mais largo. Pensei em ir pra casa me trocar e ele perguntou se eu estava pronto.
ㅡ estou, mas te olhando desde jeito, estou até com vergonha de sair com essa roupa.
ㅡ rsrs, você está muito bonito. Esse jeans te deixa todo largadinho e eu adoro quando você se veste assim. E fico excitado!
ㅡ fala baixo! Fica? Kkkk
ㅡ fico. Posso te falar uma coisa?
ㅡ deve!
ㅡ na verdade, me bate um certo ciúmes quando você se veste desse jeito. Fica gato demais!
ㅡ você pode ter ciúmes, assim como eu também tenho, mas que não interfira no nosso modo de ser. Acho chato esse lance de ficar regulando o quê o outro veste. Isso é pensamento de gente pequena. Confio em você e se confia em mim, não precisa ficar preocupado com o quê eu visto.
ㅡ você está certíssimo. É que passei por um período bem chato com o falecido. Sempre criaticando o quê eu vestia.
ㅡ enquanto te traia na sua cama. Hipócrita! Mas eu não sou ele. Não faço joguinhos e nem gosto que façam comigo. Gosto de ser livre em uma relação e sei que você também deve gostar. Não nascemos grudados.
ㅡ mas até agora temos feito tudo juntos! Kkkk
ㅡ sim, mas é porque queremos e não por obrigação. Gosto de estar contigo, me faz bem. Nunca disse pra você não ir em algum lugar, disse? Você simplesmente pega sua beleza e vai. Kkkk
ㅡ kkkkk, isso é verdade. Acho até estranho quando te convido e não quer ir. Porque com o outro, nooooossa! Era um grude!
ㅡ credo! Deus nos livre de sermos assim!
ㅡ amém!
ㅡ kkkkk, bobo!
ㅡ vamos?
ㅡ vamos. Só pra você saber...teu irmão também já sabe da gente!
ㅡ kkkkk, minha nossa!
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Continua...
Olá, pessoas maravilhosas! Tudo bem com vocês? Muito obrigado pelos comentários e fico feliz que mais pessoas estejam disponde de um tempinho pra comentar. Valeu, mesmo!
E espero estar de veras agradando. Vocês são 10!
Obrigado à todos que lêem! Fico feliz que ainda tenham paciência pra lerem tudo isso. Kkkkk Sei que às vezes pode não estar do agrado de todos, mas me esforço ao máximo. Já disse que não sou profissional, mas tendo manter uma narrativa agradável. Ate o próximo! 😉✌
Happy Pride!! 🌈