Fisicamente, Rômulo pouco tinha de atraente; pelo menos, não para mim. Era um coroa corpulento, já passado dos 50 anos, sem nada demais. Alto, de aparência forte, todo grande, tinha uma barriga que não chamava tanta atenção assim, mas era visível. Depois, eu veria que tinha pernas bem grossas, peludas como todo o corpo, e dotado de um pau médio, mas notável. A ausência de circuncisão preservara a generosa quantidade de pele, que dava majestade ao cacete mesmo quando flácido. Seu olhar era sempre muito sério, como agora ao me ver, e tinha maneiras que tornava impossível imaginar que vivia uma relação homossexual, menos ainda algo tão estável.
Rai o tinha descrito como “meio ogro”, mas eu não pensei que tanto. Minha primeira impressão foi a de que estava longe, muito longe, do macho protetor, carinhoso, do paizão que Rai tinha me transmitido. Ao longo da noite, fui confirmando que havia sempre uma aspereza no modo como o tratava; às vezes, deboche. Talvez para Rai os momentos de carinho, que também presenciei, anulassem esse lado. Para mim, seria difícil; mas, com ele, devia ser assim que funcionava.
Rômulo vinha em minha direção afrouxando a gravata, muito atento. Pôs-se quase à minha frente, guardando distância suficiente para poder ter um bom panorama de meu corpo mesmo ali sentado no sofá. Não me levantei, acho que já meio temeroso pela figura dele.
– Mas que gracinha...
Virou-se para Rai:
– Já te falei, Xaninha... Você fica trazendo essas passivinhas de primeira... Acabo te corneando, sua burra... – aproximou-se. – Mas é muito lindinha...!
Eu estava atônito. O coroa nunca tinha me visto na vida; falava comigo sem o menor respeito. Curvou-se e segurou meu queixo, com cuidado.
– Mas ela é linda...! Lindinha mesmo – voltou-se para Rai, que a esta altura punha as pedras de gelo no copo, para o uísque – Até que você tinha bom gosto quando pagava de macho. Mas que lindeza...
Sorria para mim. Na verdade, achei que me comia com os olhos. Pegou em minha mão.
– Vem, minha princesa. Deixa eu te ver inteira.
Olhei para Rai, em busca de auxílio, mas ele estava entretido em preparar a bebida para Rômulo. Eu não sabia o que fazer. Levantei, como ele queria. Quase me contornou, me examinando de cima a baixo.
– Ah, mas vou querer ver isso melhor... Tem muito pano aí...
Dirigiu-se à poltrona em frente, e Rai estendeu-lhe o copo, sentado ao lado, no chão. Ele se refestelou e esticou as pernas, apoiando-as na mesa de centro. Naquela hora entendi a estranha arrumação dos bibelôs, que mantinha metade do tampo vazio.
– Então você é a Zequinha... Xaninha me falou de você ontem, só. Nem sabia que algum dia ela tinha conseguido enganar como macho mais do que meia hora na sauna...
– Eu era muito jovem, Rômulo... – disse Rai, quase como se desculpasse, enquanto desamarrava os sapatos dele e os tirava.
– Jovem e burra – riu. – E você mais burrinha ainda, né, meu doce... Como é que uma coisinha como a minha Xaninha pode enganar alguém assim?
Eu sorri, sem jeito. Havia voltado a me sentar, e só me dei conta de que estava encolhido no sofá quando ele mesmo comentou:
– Olha, ela é timidazinha... Que dupla tenho hoje, hein? Uma putinha e uma santinha juntas aqui!
– Amor, não fala assim, que você assusta ele... – Rai falou, naquele tom baixo que logo percebi ser o que usava quando se dirigia ao macho que o havia domesticado.
– “Ele”?
– Ele não gosta que chamem no feminino...
– “Não gosta”? Que porra é essa de “não gosta”? E viado tem que gostar?
Eu estava ficando irritado com aquele sujeito. Mas ele baixou o tom logo em seguida, virando-se para mim.
– Garanto que daqui a pouco vai estar gostando. Não fica com medo de mim, não, gracinha. Não vou fazer nada que você não queira.
Esticou os dedos dos pés, enquanto Rai espalhava o óleo, que tirava de um pequeno frasco de prata disposto sobre a mesa de centro. A voz de Rômulo permaneceu amena, e apesar dos termos que usava, foi me tranqüilizando um pouco. Na medida do possível, claro.
– Não fica tensa não, meu anjinho... Rai é sua amiga; não trouxe você pra cá pra nada de ruim; pra nada que você não saiba... Trouxe só pra eu te conhecer.
– Pra ela te conhecer – corrigiu Rai, sem tirar os olhos da massagem que fazia.
– Putinha... – respondeu com um sorriso, aprovando a inversão da frase, que lhe dava prioridade.
Curvou um pouco o corpo para frente, no que retraiu as pernas, atrapalhando Rai. Mas ele não reclamou, reacomodando-se para poder continuar a massagem nos pés do marido.
–Está com medo de mim? Não sou o bicho-papão; só o macho da tua amiguinha. E se você é amiga dela, também é minha. Não vou te fazer mal nenhum. O que faço pra você ficar mais à vontade, minha gracinha?
Tomou o primeiro gole do copo de uísque, que tinha mantido numa das mãos, chacoalhando de vez em quando. Ficou olhando detidamente para mim, próximo de como fazia Marcelo, mas sem a segurança que ele me passava. Eu o sentia ameaçador.
– Xaninha, apressa isso para ir ajudar Zequinha.
Rai olhou para ele, sem entender.
– Empresta uma das suas pra ela. Quero que tua amiga perca essa carinha assustada dela; fique mais à vontade aqui – olhou pra mim. – Quero que se sinta em casa.
Riu.
– Ou melhor, pelo visto, melhor do que em casa... Do jeito que é retraída, ainda reprimida assim... Aqui você pode ser você mesma, Zequinha. Larga essa vergonha porque é só olhar pros teus olhos... Você é fraquinha; nasceu com pirulito mas não tem força nem pra usar ele. Só de olhar um macho já te reconhece, meu anjo.
Como assim?
Fez pior:
– Alguns são mais fortes, outros são mais fracos, mas...
Sorriu, como se houvesse cumplicidade entre nós. Lembrei-me daquela conversa terrível com Marcelo; ele dissera a mesma frase para mim. Completou:
– Nem sempre os mais fortes querem eliminar os mais fracos. Nem sempre querem fazer mal a eles. Às vezes, só querem cuidar deles – pausou de novo; tomou outro gole. – É gostoso ter um fraquinho pra cuidar; ver ele desabrochar como menina.
Rai o olhou, sorrindo. Ele tinha novamente se acomodado na poltrona e piscou, carinhoso, para o amante. Ou a amante; eu não sabia mais nada.
– Cuidar direitinho assim como cuido da tua amiga.
Adotou um tom levemente autoritário, retraindo as pernas para sentar-se.
– Está bom já, Rai. Vai com ela para o seu quarto e me volta aqui sem essa tua roupinha. Se ela é tua amiga, não tem por que isso; era pra estar como fica em casa. Vai.
Olhou pra mim:
– Zequinha, se você continuar a olhar pra mim assim, eu vou me irritar. E você não vai querer me ver irritado.
– Rômulo...! – Rai disse, num fiapo de voz.
Ele ignorou. Continuou olhando para mim, agora com uma voz muito dura:
– Vê se entende logo e para de ficar assim. Eu não vou te currar. Não vou te fuder. Não foi pra isso que Rai te mandou aqui. Deixa dessa frescura e age como a fêmea que tu é. Estamos entendidos?
Eu estremeci. Se ele pretendia me tranquilizar, fez tudo errado.
Rai já pegava em minha mão, para que eu me levantasse.
– Xaninha traz amiguinhas pra cá; fazemos umas festinhas. Ela deve ter te contado.
Não, não havia contado.
– Mas nada é a força; nenhuma delas vem enganada, ludibriada. Não ia ser com você, amiguinha dela de colégio, que eu agiria assim. Sou homem, putinha. Homem que é homem não é canalha.
Mesmo com o tom de voz ainda forte, dessa vez ele conseguiu com que eu me sentisse menos ameaçado, menos nervoso, ainda que não propriamente calmo. Segui com Rai, enquanto ele permaneceu na sala. Logo depois, ouvi a música suave que tinha colocado para tocar.
Rai começou a despir-se assim que entramos em seu quarto, para “estar como fica em casa”, como Rômulo tinha dito. Vestia uma calcinha que, pela parte da bunda, vi que era preta, coberta na frente por uma espécie de sainha que mal lhe cobria a frente, vermelha, feita de uma renda larga. Terminava com dois lacinhos pretos, um em cada lado dos quadris. Fiquei estarrecido.
– Calma, amore, não olha assim tão assustada. Pra você vou escolher uma mais discretinha, comportada – disse, e logo virou-se para o gavetão do armário que tinha acabado de puxar.
– Pra mim???
Não respondeu, mexendo nas coisas da gaveta, de costas para mim.
– Rai, eu não vou usar calcinha.
– Por que não? – disse, sem sequer me olhar.
– Não vou.
– Essa aqui – voltou-se. – Discretinha, branquinha pra te dar um ar suave; combina mais com teu jeitinho. Nem parece uma calcinha; parece mais um biquíni.
– Eu não vou usar isso, Rai – respondi, tentando ser firme, mas com a voz saindo levemente trêmula. Eu me sentia meio tonto.
Não era um fetiche que me atraísse. Eu me acharia ridículo, assim como, sem demonstrar, achava que Rai estava. Tinha que admitir que a calcinha vestia bem em seu corpo, agora tão bonito. Embora os músculos bem definidos endossassem a masculinidade, tinha um certo quadril, a cintura estreita com uma barriguinha chapada, a bunda durinha, a pele bronzeada totalmente sem pelos, tratada, sedosa. Nada propriamente feminino, mas sua silueta torneada se acomodava bem naquela peça. Mas nada disso impedia o óbvio da situação: para mim, um homem de calcinha é algo de mau gosto; é risível. Eu não queria viver aquilo.
– Já usou alguma vez?
– Claro que não.
– Então, por que não experimentar? Zeca... – tentou fazer uma ar ao mesmo tempo ponderado e compreensivo. – Só estamos nós três aqui... Eu te conheço; já fui homem pra você... Você acha que não me lembro? Teus suspiros, tua entrega, o jeito que empinava a bundinha pra mim... Não vou achar nada estranho te ver vestida com ela. Pro Rômulo, vai ser totalmente natural também. O estranho pra ele é que uma gracinha feito você esteja na frente dele com essas roupas de homem, ainda mais aqui em casa, com a intimidade que nós temos.
Intimidade? Com ele daquele jeito? Eu apenas o olhei. Que situação!
– Anda, vai... Deixa de ser boba...!
– Não fala assim comigo – disse, sem ser agressivo.
Ele sorriu.
– Tá. Deixa de ser bobo, garoto. Você não quer; não gosta, tem medo de gostar, não vem ao caso. Mas é uma chance de experimentar. Por que não aproveita, Zequinha? Quando vai ter uma oportunidade dessas...? A não ser que você esteja escondendo, né, meu bem... Já tem alguém que te ponha calcinha, é?
– Claro que não, Rai.
Não, eu não estava escondendo nada. Pelo contrário, fui para aquele apartamento com a intenção de não esconder nada. Na viagem, me dei conta de que aquela poderia ser a oportunidade de dividir com alguém o que estava vivendo no apê. Falar daquela experiência nova com Otávio e Rodrigo, confessar o quanto gostava, de quanto queria que os dois me usassem mais e mais, e ao mesmo tempo como sentia falta de uma relação verdadeira. E falar de Marcelo; contar como ele era maravilhoso, como me tratava, como eu finalmente tinha encontrado um cara que me completava quase inteiramente, exceto pelo sexo. Eram tantas as minhas questões, mas todas elas foram atropeladas pela narrativa de Rai.
– Você nunca foi medroso, Zeca. Ficou assim depois de burro velho?
Eu começava a ficar dividido. Para mim, aquela ideia era até cômica. Eu, homem, com o corpo de homem que eu tinha, mesmo sem pelos nem pauzão, vestindo uma calcinha de mulher? Eu cairia na gargalhada se me olhasse no espelho. Mas, ao mesmo tempo, seu argumento era forte: por que não, se estava acompanhado por duas pessoas que não teriam o menor pudor em me permitir aquela experiência? Neste ponto, Rai tinha razão: quando eu teria novamente a chance de viver aquilo? Não seria com um namorado, por mais íntimo que fosse, porque eu não me exporia a um ridículo desse na frente de alguém que fosse importante para mim. Mas Rai e Rômulo...? Quando eu os veria de novo? Que diferença faria eles me virem de calcinha?
E... Foi num triz, mas me passou na cabeça a imagem de Rômulo me examinando, e ele o faria de novo se me vestisse daquele jeito. Tinha ficado completamente acanhado, mas havia sido excitante vê-lo andar em torno de mim, observando meu corpo.
Era um macho estudando a presa, avaliando o material, simplesmente examinando um corpo como se a função desse corpo se resumisse a ser usado por homens como ele; um corpo sem dono, à sua disposição. Imaginei a mesma cena repetida agora comigo praticamente todo à mostra, sem estar coberto pelas roupas, mas apenas por aquela peça pequena, colada à minha pele, ajustando firme o que eu tinha na frente e realçando o que eu poderia oferecer atrás.
Não, eu não tinha a menor vontade que Rômulo me comesse. Ele não me dava tesão algum; nem a situação toda me dava tesão. Mas me imaginar sendo avaliado assim, examinado com aqueles olhos... Talvez fosse apenas uma vaidade besta, mas a imagem que me veio à mente me envolveu.
– Tá bem.
Rai sorriu, me estendendo a calcinha. Comecei a tirar os sapatos, quando me lembrei da depilação. E agora? Se eles me vissem lisinho daquele jeito, aí mesmo é que eu perderia qualquer moral. Enquanto ainda tirava a camisa, já fui ficando de costas para Rai, disfarçando que me esconderia quando tivesse de baixar a cueca. Quando o fiz, de bunda para ele, riu.
– Tua bundinha também lembro, meu bem, sei dela de cor mais do que você de frente. Não tem novidade nem de um lado nem do outro. Como se eu não conhecesse essa coisinha que você tem aí...! Cresceu, foi?
Eu nada disse; nem pensei em virar o rosto e sorrir para ser gentil. Estava nervoso, concentrado em ficar o menor tempo possível sem nada e rapidamente vestir a calcinha, para que ele não tivesse como descobrir meu segredo.
Virei-me. Ele sorriu.
– Logo se vê que você não mentiu, Zequinha...! Tá na cara que você nunca pôs uma – falou, sorrindo, e vindo em minha direção. – Deixa eu arrumar isso.
Gelei. Não tinha escapatória; ele iria mexer na calcinha. Foi o que fez, dizendo que a costura estava torta nos quadris, que eu não tinha acertado a cava na bunda e que... pior, meu pau não estava bem posicionado, fazendo uma marca desnecessária. E foi direto nele. Não baixou a calcinha, apenas pôs a mão por dentro, num gesto rápido que mal pude acompanhar.
Parou e olhou para mim, com um sorrisinho malicioso.
– Zequinha, o que é isso aqui...?
Tateou, ainda sem baixar o elástico, com muito vagar.
– Sua safadinha... E se fazendo de santa pra mim...
– Não, não é isso... É só...
– Está bem. Está bem... – falou sem dar muita importância.
Com muita prática, pôs meu saco para trás e com a ponta do dedo enfiou a cabeça do meu pau para dentro, como se o escondesse em meu próprio corpo. Eu me assustei com aquilo; nunca tinha visto, nem sabia que podia ficar assim.
– Se o Rômulo vir isso... Acho que não te deixar escapar não, querida... – e riu. – Ainda mais você sendo assim...
Foi tudo muito rápido. Já saíamos do quarto quando ouvimos Rômulo nos chamar:
– Como é que é? Viraram lésbicas, as duas?
No corredor, puxei-o pelo braço e cochichei:
– Rai, eu não vou ficar afeminado. Não gosto e não sei fazer isso.
Ele deu um tapinha na minha mão.
– Não precisa, sua boba! Só se deixe ser livre; se joga!
Rômulo nos recebeu com um sorriso de satisfação. Ficamos lado a lado, ambos cobertos apenas pelas calcinhas – Rai com a preta de sainha vermelha, bem de puta, e eu com a mais discreta, tanto pelo corte, pelo tamanho quanto pela cor branca. Mas o branco, justamente pelo efeito das sombras, realçava que havia apenas uma bolinha onde um homem normalmente tem um volume mais extenso e proeminente, por menos que seja. Fiquei constrangido. Imediatamente, visualizei o tecido do short de Otávio balançando pela casa. Que diferença.
Rômulo se levantou e veio até nós.
– Não sei qual a mais gostosa...
Então, nos rodeou, como eu havia imaginado. Quando passou próximo a mim, senti um arrepio. Nunca haviam me observado assim, fosse do jeito que fosse, com ou sem calcinha.
Acariciou minha bunda, até de um modo terno. Estremeci.
– Calma, Zequinha... Só estou sentindo, vendo como ela é. Já disse que Rai te mandou aqui não foi pra sacanagem. Não vou fazer nada com você, está bem? – e me deu um beijinho no ombro.
Quando ficou à nossa frente, sorriu mais uma vez e olhou para Rai.
– Xaninha, você realmente tinha bom gosto, viu? Olha só, parece que não tem nada mesmo...! Eunuco que nasceu pra ser menina de macho de verdade.
Ele olhava para a área do meu pau. Eu senti um baque por ele me chamar de eunuco. Não me via assim e não queria que alguém me visse assim, mesmo um homem como ele.
– Nem duro fica, Rômulo – delatou Rai.
– Como assim? Ela...
Fiquei tenso com o olhar cúmplice que percebi nos dois.
– Broxinha...?
– Todas as vezes, amor. Todas. Duvido que tenha mudado. Se aos 16 já era assim... – e sorriu para mim, como se me tivesse feito um favor.
Ele agora tateava levemente a área do meu pau. Não sei se eu suava, mas me sentia como se. Estava envergonhado pelos comentários deles, e morto de medo que Rômulo quisesse ver o que estava por trás da calcinha e descobrisse que eu eliminava meus pelos.
– Vai ver que você não convencia tão bem, minha gostosa... É difícil te imaginar macho.
– Ah, Zeca, até que eu te comia direitinho, né?
Só fiz que sim com a cabeça, desnorteado pela situação.
– Que delícia... que delícia... – ele comentou baixo, sem parar de me acariciar sobre a calcinha, às vezes rodeando o volume da bolinha com um dedo.
Ouvi Rai dar uma risada abafada e olhei para ele. Ele me retornou o olhar, mordiscando o lábio.
– E você não sabe... – disse para o marido, sorrateiro e ao mesmo tempo divertidamente travesso.
– Que foi, Xaninha?
– Baixa só a calcinha dela pra você ver... – e, virou-se para mim, com uma odiosa expressão dissimulada de tristeza. – Desculpa, Zequinha, mas ele vai adorar...
Não tive coragem de olhar para baixo enquanto sentia ele vagarosamente descer o elástico.
– Mas olha só...!
Sua voz saiu em um tom assombrado, como se visse alguma maravilha. Poxa, também não era para tanto.
– Mas é uma puta... uma putinha...!
– Pode fazer o que quiser que não levanta. Não consegue mesmo, né, Zequinha? Ou mudou?
Não respondi. Estava cabisbaixo por tanta humilhação, e à frente dos meus olhos estava o nítido volume provocado pela ereção de Rômulo sob a calça bege. Ele devolveu a calcinha ao lugar, mantendo novamente a bolinha presa sob o tecido. Pegou em minha mão e me puxou, para que o acompanhasse. Resisti.
– Querida... Ainda nervosa...? Achei que na calcinha você iria se soltar mais...
Continuei sem responder, nem olhar. Estava pronto para reagir, caso ele me forçasse a alguma coisa. Era bem maior do que eu, mas eu só transaria com aquele coroa se fosse estuprado, se me derrubasse metendo porrada. Eu queria fugir dali. Não estava gostando nada daquele clima. Ele não reagiu bem diante da minha resistência:
– Você está pensando que está lidando com quem, moleque?
A voz veio meio como um trovão. Eu franzi o rosto e tremi, no susto. Rai tentou intervir.
– E você cala essa boca que eu não te mandei falar, sua puta! – foi como respondeu à tentativa.
Puxou-me pelo braço, com certa violência. Eu continuei resistindo e ele me imobilizou, me abraçando e suspendendo-me do chão. Aquilo me pegou de surpresa e me aterrorizou. Tentei não entrar em pânico, pois poderia ser pior. Ninguém sabia onde eu estava. Não sabiam que eu havia reencontrado Rai. O prédio não tinha porteiro; o apartamento era um por andar. Se sumissem comigo, ninguém teria pista alguma de como me procurar.
...
[continua]
[PS: Publicarei o terceiro e último segmento desta parte ainda hoje, por volta das 22h, e nele darei retorno aos comentários dos leitores às partes anteriores, ok?]