Não havia bebido nada além do esperado para um jantar acompanhado por vinho, mas o espírito com o qual acordei se assemelhava ao de quem está de ressaca. Não eram nem sete da manhã, cedo demais para levantar-se num sábado. Estava confuso: exultante pela noite anterior e ao mesmo tempo cheio de dúvidas sobre o comportamento de Marcelo.
Fiquei um tempo sentado na cama, como se não estivesse no meu próprio quarto, como se tivesse de me localizar. Marcelo devia saber que eu era gay. Tinha me visto depilado daquela forma, descoberto que eu cuidava de seu esperma nas cuecas; indícios que fariam qualquer cara ter absoluta certeza. E, então, tinha vindo aquele jantar, cheio de cavalheirismos e sorrisos, como se quisesse me conquistar. Então, por que não foi além? E por que aquela aproximação toda se estava vivendo um caso, como indicavam as manchas? A lógica de Rodrigo e Otávio não se aplicava: as cuecas mostravam que buceta não faltava; se queria algo comigo, não era porque a mulher não desse para ele. Ficava cada vez mais forte, embora eu não quisesse dar crédito a ela, a hipótese de que a noite havia sido um embuste e em breve eu teria uma grande decepção com Marcelo.
Senti o aroma de café fresco quando fui ao banheiro para escovar os dentes. Ninguém acordava tão cedo aos sábados. Rodrigo e Otávio, impossível; só mesmo se fosse Marcelo, por alguma razão inexplicável. Talvez dali a alguns minutos eu confirmasse que ele era um cafajeste mesmo, rindo debochadamente do viado que havia encantado à noite para humilhar pela manhã.
Não era Marcelo. Era Otávio, que me recebeu com uma tentativa de sorriso e uma difícil levantada da cabeça.
– Tô virado.
– Deu pra perceber – respondi, risonho, enquanto punha café na caneca. – Vai emendar?
– Porra nenhuma. Vou já já mergulhar na cama. Só queria um café antes, pra dar uma levantada.
O raciocínio não fazia sentido, mas Otávio adorava café. Então, tudo justificava tomar café, inclusive animar-se para ter um sono de pedra. E ele era mesmo quem fazia o melhor café do apê.
– A noite foi boa, pelo visto – falei, mesmo vendo em seu rosto que ele não estava nem um pouco disposto a conversas.
Fez uma careta.
– Mais ou menos – e pausou. – Estou meio parado numa gata aí.
Eu já sabia que ele estava de namorada nova. Não contei, mas provavelmente devia estar chegando à décima naquele ano.
– E isso não é bom?
Levantou o rosto para mim e, apesar das dificuldades, iluminou-se num sorriso.
– Bom demais, aê.
Já disse que Otávio, embora atraente e gostoso de sobra, não era propriamente bonito. Mas às vezes ficava, como agora.
– Mas é um bagulho meio doido – fez nova pausa. – Mermão, até essa hora com a mina e nem uma mamada; tu acredita?
Pelo visto, iria sobrar para mim. Mas não sobrou: logo depois, levantou-se, tomou a sala, entrou no corredor, foi para o quarto dormir. Eu o vi sair de costas, a camisa amafronhada no ombro, o torso moreno de canela num gingado tão cansado quanto sinuoso, os ombros com dois ossinhos levemente saltados, a calça descida mostrando parte do elástico da cueca. Mesmo sem o volume generoso balançando no short, Otávio era mesmo um tesão. Não foi à toa que minha discrição não funcionou com ele.
Peguei um toco de pão e mordi. Providencialmente, ele tinha aproveitado a passagem pela padaria e trazido para todos. Não deu três minutos para que Marcelo aparecesse. O dia começava agitado. Retesei o corpo, à espera do que viria.
Estava vestido como quem iria sair. Cumprimentou-me com um sorriso e sentou-se à mesa. Pus sua caneca, servi o café e me dei conta que Otávio, amante de café puro, não havia esquentado leite.
– Sem problema, Zeca. Tomo assim mesmo.
– Mas você gosta. Rapidinho, no microondas.
– Estou com pressa; em cima da hora. Não era nem pra ter sentado.
Pressa, num sábado tão cedo. Estranho.
– Vai sair? Já?
– É. Só volto no fim do dia. Podíamos assistir um filme, à noite. Nunca mais fizemos isso. Não ía gostar?
– Claro – animei-me. – Que horas?
– Não sei. Mais tarde, conforme for, te aviso pelo celular.
Mal entornou o café, levantou-se. Eu, muito rapidamente, abri a geladeira e lhe dei uma maçã. De todas que tinha, e não eram poucas porque ele adorava frutas, a mais adequada para quem iria comer pelo caminho era maçã, embora eu soubesse que não era a sua preferida. Ía pegar de volta, pois não a tinha lavado, mas ele me impediu com uma piscada de olhos, charmoso como sempre. Despediu-se com um gesto de mão e seguiu para a sala. Logo depois, ouvi , pela porta, que ele saía.
Fiquei excitadíssimo. Desde aqueles dias de férias, nunca mais havia me chamado para assistir um filme com ele. Não era possível que o convite também fizesse parte de um grande estratagema para me fazer mal. Ele me queria do lado numa noite de sábado!
Terminei meu resto de pão, abandonado enquanto servia o príncipe, e me pus a lavar nossas canecas. Aproveitei para cuidar também da de Otávio, junto com o pratinho que ele havia usado. Havia um pacto no apê de que cada um era responsável por lavar o que usasse. Otávio, involuntariamente, funcionava como baluarte do pacto, embora uma ou outra vez alguém lavasse um prato ou copo deixado na pia, já que estava com a mão na massa. Mas não era comum: ele era especialista em deixar para lavar depois, e todos nós sabíamos que, se Otávio se acostumasse com generosidades de nossa parte, nunca mais lavaria nada mesmo. Mas daquela vez lavei. Não era a primeira vez, nem seria a última, porque não me custava nada, nem que fosse em agradecimento aos céus por ter posto aquele cacete tão bonito no meu caminho e a ele por usá-lo em mim.
Depois do retorno às aulas, estendi aos fins de semana o hábito de já começar o dia com uma higiene íntima. Fazia isso mesmo no único dia da semana em que eu tinha aula, ainda que tivesse de acordar duas horas mais cedo para poder fazê-lo. Também passava a gordura vegetal, fazia a dilatação e, depois de aplicar um perfuminho, estava pronto para qualquer eventualidade. Com o novo ritmo de Rodrigo em me comer, e parecendo cada vez mais entusiasmado, não era mais confiável a regra de que não tinha sexo de sexta a domingo, mesmo com mais riscos.
Na verdade, tenho que confessar, aquele processo todo no banheiro era mais um fetiche: com os novos horários dos dois, não havia qualquer necessidade – nenhuma mesmo – de me preparar pela manhã. Não seria Marcelo em casa que justificaria esses cuidados, e eu não tinha ilusões sobre isso. Mas a ideia de que eu era um passivinho sempre pronto para ser fudido me excitava. Estar sempre pronto significava manter meu sexo asseado, previamente amaciado, visualmente atraente e devidamente perfumado. Meu sexo era meu cuzinho. Acho que cuidava dele mais do que de qualquer outra parte do meu corpo.
Segui então para estas providências, mais ainda porque, com a perspectiva do apê o dia inteiro sem Marcelo, seria difícil que não fosse enrabado por Rodrigo, nem que apenas numa rapidinha antes de ele sair para o futebol ou estar com alguém que lhe fosse mais importante do que eu. Ri para mim mesmo quando percebi que, em resposta àquele que mais me enfeitiçava e iria trepar com outra pessoa, eu compensaria trepando com os outros dois. Isso, se Otávio finalmente se animasse a me comer sozinho novamente. Eu tinha esperança, embora a última vez que ocorrera tivesse mais de dois meses, ainda em junho, antes das férias.
Sentia saudade, porque ele continuava a só me pegar quando em conjunto com Rodrigo. E, cada vez mais, se satisfazendo apenas com mamadas, tal como era logo no início. Comecei a achar que a iniciativa dessas trepadas a três vinha muito mais de Rodrigo, porque mesmo o jogo erótico entre os dois não parecia estimulá-lo tanto quanto antes, mesmo que ele continuasse a disputá-lo.
Essas mudanças era todas muito sutis, nada tão objetivo, mas eu as notava porque prestava muita, muita atenção nele. E era assim justamente porque adorava ser fudido por aquele pauzudo escrachado, mesmo que ele mal me tocasse. Meu raciocínio era o de que, se minha função era compensar a ausência que ele sentia de ter mais bucetas, quanto melhor eu a cumprisse mais a pica dele eu teria. Para aquele tesão nunca haveria buceta suficiente e, agora que havia descoberto o anal, se não fosse com meu cu ele iria se aliviar com outro. Então, eu monitorava todas as suas reações. Por isso, mesmo que de maneira muito difusa, eu identificava um entrave, algo que parecia impedi-lo de entregar-se à putaria de forma tão despudorada quanto antes.
Quer dizer, mais ou menos. Digamos que o impulso inicial e a quantidade haviam diminuído, mas a intensidade não. Se não parecia mais preocupado em estender a mamada ao máximo, agora dispensando os costumeiros intervalos quando pressentia a ejaculação, no fim acabava sendo tão intenso quanto antes. Quando eu tomava a iniciativa de lamber seu saco, me pegava pelo cabelo e me reposicionava para abocanhar de novo, como se pensasse unicamente em alcançar a gozada. Mas pegava minha cabeça com gana mesmo, e queria mais era fuder minha boca de jeito.
Eu engasgava, e tinha um tempo mínimo para recuperar o fôlego. Daí, prendia minha cabeça de novo e sob o comando de suas mãos me fazia voltar ao serviço, para manter contínua sua produção de porra. Não faltava tesão naquele cara, embora ele parecesse agir como se estivesse sozinho, ignorando até mesmo a presença de Rodrigo. Como se estivesse aliviando a gala porque encurralado pelo instinto de macho, e não porque quisesse usufruir do prazer que continuava sentindo.
A substituição frequente das penetrações pelos boquetes tinha como vantagem a maior assiduidade com que eu podia beber sua porra, vício que ele mesmo criou em mim. Se eu havia lhe despertado para o anal, ele o havia feito não só para o sabor da gala, mas para toda a carga de devoção, humilhação e carência que embute o ato de um homem desejar e engolir o sêmen de outro.
A intensificação de Rodrigo em me comer sozinho não supria essa ausência das fodas exclusivas com Otávio, porque eles eram diferentes, transavam de maneira diferente. Um não substituía o outro. E tinham me acostumado com essa diversidade, que não era dupla, mas tripla: sozinhos, cada um se servia de mim ao seu modo, e em conjunto tinham outra atitude, mais focada entre eles mesmos, na competição de quem era mais macho, e eu gostava disso também.
Havia outro problema. Não ter fodas a sós com Otávio significou a terrível perda dos carinhos de sua língua em meu botão. Ele não fazia com Rodrigo presente, e só ele mesmo quem fazia. Eu não tinha o direito de pedir coisa alguma, mas mesmo se tivesse não pediria a Rodrigo, porque esta é uma prática que definitivamente não combinaria com ele. Seria algo delicado demais, sensível demais para o jeito com que ele encarava uma foda.
Um bom cunete, ao menos no meu entender, é feito com atenção, com um certo vagar pelo macho para que ele possa perceber no passivo onde e como sua ação faz mais efeito. É mais complexo do que um boquete, porque exige muita sutileza com a língua e não tem muito como contar com o resto da boca. Também exige mais do que a dedada, que tem como instrumento uma parte do corpo cujo uso é desenvolvido quase espontaneamente desde a infância. Mas ninguém tem uma destreza natural com a língua; é preciso ter calma e dedicação para aprender a usá-la, conhecer seus movimentos e possibilidades, obter os melhores efeitos.
Nada disso combinava com o espírito de touro de Rodrigo. Não que ele chegasse fudendo e pronto-acabou. A foda com ele era gostosa; não se trata disso. Mas era mais bruto, agressivo, áspero no contanto intenso com meu corpo que, ao contrário de Otávio, se permitia ter. Rodrigo em meu cu certamente faria um festival desordenado, e no fim das contas incômodo, de mordidas e chupões. Nada feito.
Minha previsão foi certeira e, pouco depois das onze, senti o hálito mentolado de Rodrigo enquanto ele fungava minha nuca e me encoxava, com o corpo morno de quem tinha acabado de sair da cama. No caminho para ao banheiro, provavelmente viu a porta aberta do quarto de Marcelo e confirmou sua ausência no resto do apê. A falta da cueca sob o short, típica de Otávio, mas não dele, me mostrava a ansiedade com que vinha em busca do meu botão. Eu sentia a bunda pressionada pelo volume maciço daquele cacete tão diferente do de Otávio. Só tinham em comum a virilidade e a beleza negra dos pelos que os cercavam.
Em silêncio e mantendo a mão na minha bunda, ainda preguiçoso pelo sono, me encaminhou para o abate. Não era preciso dizer nada; ele sabia que eu seguiria cabisbaixo, mas com o botãozinho ansioso pela sua rola. Enquanto se desvencilhava do short, assim como eu, me indicou com a cabeça que eu me pusesse a sua disposição sobre o lençol. Otávio ainda dormia na cama ao lado.
– De bruços – mandou, numa calma sonolenta.
Deitou-se sobre mim mas, em vez de meter imediatamente, se pôs a me distribuir beijinhos pelo pescoço, pelos ombros, as costas. Estava incrivelmente carinhoso comigo. Mas a barba ainda não feita, densa, áspera, arranhava minha pele de leve, lembrando com que tipo de macho eu estava lidando e que estava prestes a me possuir.
– Geme, meu viadinho do caralho – disse, numa voz terna inesperada para aqueles termos, quando notou que eu arfava.
O corpo de touro se arqueou e ele pegou minhas duas mãos com vagar. Cruzou-as por trás de mim e as manteve firme, apoiando parte de seu peso.
– Empina.
A voz estava mais rouca, ainda se acostumando ao início do dia após uma noitada. A outra mão, recém-molhada por sua boca, passou roçando pela pele da minha coxa. Aplicou a saliva na ponta do caralho, e não em mim, pois já se acostumara que não era preciso. Não sabia da gordura vegetal, pois, como me ensinara Rai, um passivo que quer seduzir não a revela para os ativos; apenas se apresenta como se possuísse uma lubrificação natural, própria de quem nasceu para dar. Logo senti aquela ponta molhada encostar nas minhas bordas, sem pressionar muito. A cabeça encorpada, maçuda, provavelmente assustadora para os inexperientes, não parecia ter pressa em entrar.
– O que eu vou fazer de você, seu viado filho da puta...? – murmurou, como se falasse para si mesmo.
Completou, no mesmo tom, enquanto finalmente me penetrava:
– O que você fez comigo, seu broxa? Seu broxa filho da puta... – continuou a murmurar, enquanto deslizava para dentro de mim. – Broxa bonito pra caralho...
Então, pareceu tomar impulso e se pôs a castigar meu cu, mantendo minhas mãos presas pela sua, que pesava em minhas costas. O cacete curto e largo me doía, mas ele sabia que eu queria assim, que era assim que nós queríamos. Gemi um pouco mais alto. Puxei o travesseiro para abafar, mas ele o arrancou de mim e deixou que caísse fora da cama.
– Grita, cachorra.
Agarrou meus cabelos, forçando minha cabeça para trás, em sua direção, numa posição incômoda que aumentou mais minha entrega. Parecia querer aumentar cada vez mais a força que impingia em meu canal. Num movimento inverso, e que fez aqueles culhões grandes pressionarem mais minha bunda, empurrou minha cabeça para baixo e a manteve presa sobre o lençol. Com ela de lado, abri os olhos, sedento para que ele me maltratasse mais, que mantivesse aquela gana toda até o fim, até me injetar a gala.
Então meus olhos cruzaram com os de Otávio, deitado na cama próxima. Ele se mantinha imóvel, acompanhando a foda não sei há quanto tempo. Estava sério, compenetrado no que assistia. Eu não escondi dele meu prazer em estar sendo fudido pelo seu “parça”, assim como ele não escondera de mim o prazer que sentia quando fudia a menina na sala, cinco meses antes. Olhei-o com expressão de puro tesão, provavelmente na mesma intensidade que ele o fizera para mim. Se havia me dirigido as feições da fera que dominava sua fêmea, eu agora lhe devolvia as da presa subjugada pelo macho. Ele também me queria; seus olhos faiscavam agora.
Rodrigo parecia ignorá-lo, ocupado em extrair prazer do meu corpo. Fudia sem parar. Até que Otávio se levantasse, levou algum tempo. Parecera ter se enfeitiçado com nossa troca de olhares. Rodrigo diminuiu o ritmo, mas não parou.
– Aê, meu parça – cumprimentou o amigo que agora se punha próximo à minha cabeça.
O cacete hiperdesenvolvido empinava o short. Tentei mexer a cabeça em sua direção, querendo ao menos tocá-la com os lábios sobre o tecido, mesmo impedido pela força de Rodrigo, que continuava a empurrá-la contra a cama.
– Põe de quatro. Tô a fim de dar uma esporrada.
– Antes eu termino aqui – avisou Rodrigo, começando a me puxar pelas ancas.
– Partiu. Quero ir é na boca.
Meteu o cacete sem nem tirar o short, levantando e esgarçando o tecido fino para que o membro passasse pela abertura da perna. Eu não tinha como engoli-lo todo por causa disso, mesmo agora estando de quatro, enquanto Rodrigo voltava a me comer sem perdão. Otávio se deu conta de que a parte junto à base do cacete estava presa e aproveitou a dificuldade: movimentava quase que apenas a cabeça para dentro e para fora da minha boca. Fui ficando desesperado, querendo aquilo tudo, e não só a fração que ele me concedia.
Ele riu, e Rodrigo entendeu o que se passava, também rindo de mim.
– Melhor soltar e dar tudo antes que ele desmaie de tesão...
Tirou da minha boca e seguiu o conselho do amigo, deixando também seu corpo moreno nu de cima a baixo, como havíamos feito. Mirou de novo e, de uma vez só, invadiu minha garganta. Eu engasguei, sem nem mesmo assim Rodrigo aliviar as metidas que me dava sem perdão. Estava me sentindo arrombado por trás e acabava de sofrer a tentativa de arrombamento pela frente.
Os dois riram com meu engasgo. Otávio pôs de novo, agora mais paciente comigo, e foi enfiando tudo o que sentiu que podia. Estavam agora se movimentando quase no mesmo ritmo, arfando como eu. De vez em quando, Rodrigo falava umas putarias, como gostava.
Eu poderia me sentir um objeto. Mas o que me sentia mesmo, em meio a estes diálogos dos dois, era o café-com-leite da situação, como tantas outras vezes: o que não é levado a sério, o que é ignorado na conversa, o que tem de ter sua fragilidade compreendida, mesmo sendo usado sem dó. Era café-com-leite porque não me viam um homem como eles.
Eu havia me sentido assim na véspera, com Marcelo. Na véspera e já há algum tempo. O contexto era diferente, mas o sentimento igual: Otávio e Rodrigo dialogavam apenas entre si porque a mim não cabia um papo de machos; Marcelo havia sido um gentleman comigo, me ensinava nos estudos, me salvava de situações constrangedoras porque não me via homem como ele, mas sim o café-com-leite que precisava de benevolência e atenção. Não como uma mulher; não como um viado, mas como um não-homem, porque café-com-leite. Caía em mim que Marcelo estava me comendo tanto quanto os dois, mas pior: não com a pica, mas aos poucos. Estava me comendo pelas beiradas.
– Toma, viado! – Rodrigo quase gritou, me puxando pelos quadris e acertando ainda mais forte dentro de mim.
Otávio também estava prestes a gozar, numa sincronia que raramente havia acontecido. Os jatos vieram muito grossos. E foram tantos a ponto de minha boca não conter a quantidade de porra, que resvalou pelos cantos mesmo com ele me segurando firme pela testa e pelo queixo.
– Caralho...
A voz de Otávio veio como num alívio.
– Caralho, Raquel... – murmurou novamente, enquanto ainda soltava um pouco mais de gala na minha boca.
...
[continua]
[PS: Abaixo, pus umas respostas aos comentários que os leitores fizeram à parte anterior da história]