Marcelo insistia, mas eu não gostava de falar naquele assunto. Era algo que me trazia más lembranças; lembranças muito ruins da puberdade. Com o tempo, eu as tinha sepultado; ou queria crer que estavam sepultadas. Ter me descoberto passivo, ou melhor, exclusivamente passivo tinha sido bom para mim. Foi uma salvação, na verdade. Havia me libertado do peso que havia passado a carregar quando os meninos da minha idade começaram a virar homens, como eu também virava.
Mas o que era natural para eles não era para mim: a ereção, o pau crescendo, o desejo de conhecer outros corpos, de ter prazer com outros corpos. E agora Marcelo vinha com aquela conversa; aquele seu tom professoral, aquela segurança de quem sabia bem do que estava falando e que sabia que eu mesmo já sabia. E que eu queria escutar, mas não queria; que precisava escutar mas era covarde demais para admitir que precisava. Que me liberava, e não que me envergonhava, como eu preferia crer.
– Zeca, eu sou um cara experiente. Tenho muito que aprender ainda, mas sou experiente. Bem mais do que você pode imaginar. E a minha experiência mostra que caras como você têm que passar por um processo de autoconhecimento. De resignação. Só então encontram realmente o prazer em ser como são. É isso o que você está vivendo. Com Otávio, com Rodrigo e, mais do que com eles, comigo. Você já nasceu assim, mas agora é que está realmente aprendendo quem você é.
Lá pelos 15, 16, 17 anos, a ereção era um desafio aterrorizante para mim. Na puberdade, eu as tinha involuntariamente, como todo garoto, sem qualquer estímulo sexual mesmo. Elas simplesmente vinham, e na maioria das vezes inoportunas. Mas vinham. Depois, na medida em que fui crescendo, o que deveria ser uma reação involuntária de excitação, automática, impensada, se transformou numa obrigação que eu tinha de cumprir, e que não me achava capaz. Foi se tornando um tormento. E se ele não levantar? Se ficar mole de repente? Se na hora de entrar não tiver a rigidez necessária e eu fracassar? Essas lembranças retornavam agora, umas sobre as outras, amontoadas a cada palavra de Marcelo, como se eu ainda vivesse naquele tempo, como se ainda sentisse aquele pavor, como se eu ainda fosse o cara mais infeliz do mundo como fui aos meus 16 anos.
– Nenhum menino é criado prevendo-se que vai querer dar o cu. É criado pra comer; não pra dar. Dar é proibido; é nojento. Então, a dificuldade de autoaceitação é gigantesca pra qualquer passivo. Mas você logo assumiu pra si mesmo que seu negócio era dar, não era comer. Essa dificuldade você venceu muito bem, Zeca. Foi se aceitando muito cedo. Na maioria dos casos, não é assim. Só que tinha um outro complicador nisso tudo, né, bezerrinho...?
Os paus dos meninos cresciam, e o meu parecia ter parado. Eles seguiam em frente, e era como se eu não tivesse dado mais do que dois passos além da linha de largada. Era assustador que pudessem descobrir; que vissem. O sexo então era algo no que eu não queria pensar; não queria ter de enfrentar. Meu corpo não estava à altura para ser um bom macho, meu vigor também não, meu desejo também não. Era tudo errado. Eu não achava que ser passivo era errado; os outros é que não sabiam. Era diferente, mas não errado. Mas todo o resto era.
Falar em sexo era, para mim, entrar num terreno cheio de areias movediças que, cedo ou tarde, iriam me sugar. E era difícil conviver com adolescentes sem ter de conversar sobre sexo, sem ter que falar sobre sexo como a coisa mais importante, mais fascinante e mais desejada do mundo. O romance, a paixão por Rai foi uma tábua de salvação. Eu podia ser passivo, podia ser broxa, podia ser mal dotado, mas eu era um super-homem, porque ele estava ao meu lado e me amava mais do que tudo na vida. Eu vivia um grande amor, o maior amor do mundo, e o cara que me amava me queria daquele jeito que eu era. Foi por isso que tive força de chegar em casa e dizer: “sou gay”. Uma merda, porque deu tudo errado.
– O complicador é que, no teu caso, não é só ser passivo. É ser um passivo que é broxa. Que é mal dotado. É pior pra aceitação de si próprio. Não é?
Dei de ombros.
– Um cara assim não tem só essa dificuldade de aceitar a si mesmo como passivo. Ele tem dificuldade de se aceitar como homem. Se for trans, se tiver uma identidade mais feminina, pode se arrumar com isso. Mas se tiver uma identidade masculina, a coisa complica. Diferentemente de um passivo comum, ele precisa também sentir que é aceito para poder se aceitar. É uma situação mais complexa, mais difícil do que é para os outros passivos. Não é só aceitar que se realiza como fêmea e não como macho, embora se veja como macho. É aceitar que ele é daquele jeito mesmo, um piquinha. Que todo mundo tem maior; que mesmo dando a bunda, qualquer outro tem o que você não tem do que se orgulhar. O piquinha implora pra que sua inferioridade seja reconhecida, precisa que esse reconhecimento seja explícito, escancarado, e que venha daquele que ele admira, que ele inveja, que ele queria ser igual mas que jamais será. Foi isso que você fez comigo; você implorou.
– Você está me ofendendo, Marcelo – murmurei.
– Não, não estou não, Zeca. Eu to falando o que você precisa ouvir. E que quer ouvir. E que eu também quero falar.
Baixou o tom da voz:
– Está sentindo meu cacete duro na tua perna, não tá? Eu também me excito; também tenho tesão nisso.
Eu sorri, sem graça.
– Os melhores passivos são os que têm pau pequeno e que tem nisso um definidor deles mesmos. Como você é. Eles se consideram incapazes de ser machos no sexo, se conformam com isso e acabam gostando dessa inferioridade. Se sentem inferiores e se sentem bem sendo inferiores, desde que sejam aceitos como inferiores por aqueles que eles identificam como superiores. Você está tomando consciência disso, Zeca. É isso o que está acontecendo.
Olhou-me, estudando minhas reações. Quis disfarçar; não sei se consegui.
– Você sempre depilou teu pauzinho?
– Não.
– Quando começou?
– Ah, não sei... – tentei desconversar.
– Tem tanto tempo assim?
– Não... – admiti.
– Já foi aqui no apê, né?
Fiz que sim com a cabeça.
– Depois que Otávio já tava te metendo o cacetão dele, não foi?
Repeti o gesto.
– Depois de Rodrigo também?
– Foi.
Ele sorriu e cutucou meu pau com um dedo, como se brincasse. Já havia feito isso antes.
– Está vendo? Não se sentiu melhor depois que passou a tirar os pelos? Não achou que tinha mais a ver deixar ele assim, como de um menininho?
Inclinou a cabeça, para tentar alcançar meus olhos.
– Sabe por que, Zeca? Porque você está se descobrindo. Não é ser só passivo; isso você venceu faz tempo. É ter consciência da tua inferioridade diante de quem efetivamente é macho. Pra sobreviver, você transformou essa condição em tesão. E quanto mais você se submete a ativos que você julga serem superiores, e que se julgam assim diante de você, mais você gosta, mais inofensivo você fica e mais submisso se torna. O teu prazer é ver um cara ser macho, justamente porque você jamais vai conseguir ser. Um dia me mostro comendo uma mulher, pra você ver como é. Acho que você vai gostar.
– Eu já vi.
– Eu?
– Não. Otávio.
– Que história é essa?
– Eu uma vez vi ele comendo uma garota.
– Aqui?
– Não, não aqui – me apressei em mentir.
– Onde?
– Na casa dela.
– Como foi isso, Zeca? Não to entendendo.
– Ah, uma história complicada. Mas eu vi.
– Eles fizeram na tua frente?
– Foi, mas ela não viu que eu estava vendo.
– Ele viu?
Fiz que sim com a cabeça.
– Ele olhou pra você?
– Olhou.
– E você pra ele, enquanto ele fudia?
– Foi. Quase a foda toda. Não toda, mas uma boa parte.
– Ele fudeu a garota pra se exibir pra você, então.
– Não. Foi por acaso. Ele já estava transando com ela quando eu apareci.
– Mas, quando ele te viu, se exibiu pra você. Foi depois disso que ele passou a te pegar?
– Não. Quando isso aconteceu ele já transava comigo.
Ele me deu um beijinho no rosto, depois foi se aproximando da minha orelha. Mordiscou, deu outro beijinho. Falou bem baixo, no meu ouvido:
– E o que você sentiu vendo um caralhudo feito Otávio, o macho picão que te comia... O que você sentiu vendo ele ser macho com uma mulher na tua frente, Zeca? Vendo ele fazer o que você nunca vai conseguir fazer com esse pintinho que você tem? O que você sentiu?
Aquele quase sussurro me deixou arrepiado.
– Tesão. Me deu tesão – eu disse, também baixinho.
– Que mais?
– Tesão, Marcelo.
– Fala.
– Falar o que? Me deu tesão.
– Fala tudo. Fala o que você sentiu além disso.
– Não sei.
– Fala, bezerrinho. Fala como o Zeca se sentiu diante do Otávio.
Hesitei um pouco.
– Humilhado – confessei.
Acho que eu suava frio. Ele mordiscou de novo a minha orelha. Seu cacete estava lindo, grande, pronto para o ataque, e eu em seu colo.
– Fala.
– Humilhado – fiz uma pausa. – Inferior.
– Abaixo dele – deu mais um beijinho. – Porque ele não é macho só contigo; porque ele estava sendo macho com mulher também. Porque ele vai ser macho de qualquer jeito. Sempre.
Deu outro beijinho.
– Porque ele consegue, e você não.
Outro beijinho.
– Porque eu consigo.
Mais um.
– Porque todos aqui no apê conseguem.
Mais outro.
– Só você não consegue.
Outro beijinho.
– Só você não tem um cacete entre as pernas.
E mais um.
– Tem um pintinho de menino.
Eu o agarrei e roubei um beijo. Ele aceitou e tomou o comando, me penetrando com a língua. Comecei a bagunçar seu cabelo, enquanto ele me alisava as costas. Eu estava endiabrado. Ele me abaixou e me pôs pra mamar. Ainda senti o gosto de sua porra na uretra. Não demorou muito, achei que fosse gozar mais uma vez. Mas, em vez disso, me levantou novamente.
– Zeca, me escuta.
Suas mãos seguravam meu rosto; os olhos me penetravam.
– Pra passivos como você, libertar-se não depende só da tua aceitação de si mesmo. Você precisa que um macho reconheça tua condição, que não é só a de passivo, mas de passivo do teu tipo. Por isso você tirou seus pelinhos; por isso você se sentiu bem se expondo assim. Você precisa que o macho identifique você não só como passivo, mas como um piquinha, um broxa, um menininho, um macho que não se completou. Que ficou no meio do caminho.
– É... – sussurrei, pra que ele não ouvisse.
Meu rosto estava apoiado em seu ombro, abraçado a ele enquanto falava. Ele havia me posto sentado sobre suas pernas, as minhas bem abertas, o botão desprotegido.
– Você não quer uma fantasia; você quer a verdade. A verdade que teu comportamento mostra, que teus gemidos mostram, que teu piruzinho pequeno e molinho mostra. Você quer que teu macho te diga as verdades na sua cara. Você é louco por mim porque sabe que eu vou dizer, porque sabe que eu sei quem você é, o que você é.
Afastou-me e me fez encará-lo.
– Escuta. Não foge. Na tua cabeça, o macho que te usa é a prova de que você pode ser aceito mesmo sendo como é. E porque você tem essa prova, pode se aceitar. É assim que você funciona.
Sorriu.
– Teu comportamento é padrão, Zeca. Você não é o único. Posso te garantir. Tenho experiência em lidar com vocês.
– Você é bem experiente.
– Mais do que você imagina. Eu te disse.
Fiz um olhar curioso.
– Um dia eu te conto – desconversou.
Retomou o tom professoral anterior:
– Um piquinha é sempre carente. Vocês são dependentes; não se resolvem por si mesmos. É isso que tá na raiz desse desejo infinito que um piquinha tem não só de ser fudido mas fudido e humilhado como incapaz, que é o que ele é mesmo.Que é o que você é como macho. A cada vez que um macho faz isso, que demonstra a superioridade sobre você, que mostra a enorme distância que separa você dele, mais ele satisfaz essa tua necessidade de aceitação. Foi isso o que você sentiu quando o Otávio te pegou, quando o Rodrigo te pegou. Não desconhecidos, mas caras normais, com quem você convive, que mostram a masculinidade deles sem rodeios, todo dia e com você vendo, e de repente essa masculinidade se impôs sobre você e te realizou. Virou o machinho café-com-leite da casa, não é isso?
– Café-com-leite?
– É. Café-com-leite.
Ele sorriu.
– Você usou essa expressão uma vez comigo. E não escondeu a satisfação com ela. Não conseguiu. Porque você gosta; se identifica. E descobriu isso agora, com Otávio te tratando como parça no dia a dia mas te desmascarando como café-com-leite quando te mete o cacete dele, que não é essa coisinha que você tem aqui.
Brincou novamente com meu pau.
– É isso o que está acontecendo contigo, Zeca. Ter virado o putinho de dois caras, dois caras que você não te pegaram numa pegação, dois caras que não são desconhecidos, que não fazem parte do teu mundo gay, dois caras que você parece até ser igual... Ter virado o putinho desses dois caras te mostrou como é gostoso pra você ser tratado como café-com-leite.
Ele aguardou minha resposta. Fiz um sinal afirmativo com a cabeça, após um tempo.
– Porque você é mesmo café-com-leite.
Pausou.
– Não é assim que você se sente?
– Marcelo... – murmurei. – Me fode...
Ele sorriu mais uma vez, condescendente.
– E é comigo, mais do que com eles, que você mais se sente assim. Desde a primeira vez que me viu.
– Foi.
– Porque sentiu que eu te reconheço como você é. Você sente prazer quando faço isso – e, de novo, brincou com meu pau com um dedo. – Você se sente gratificado. Comigo, você percebeu que é reconhecido não só como passivo, não só como o café-com-leite da casa, mas também como o mal dotado. E que é desejado mesmo assim. Mais até. Que é desejado justamente por ser assim. Tua inferioridade passa de defeito a qualidade, e por isso te dá tanto prazer me servir, Zeca, me dar prazer. Você não lambeu minha porra do chão só pra sentir o gosto.
– Mas ela é diferente. É meio gostosa.
– Viu como é bom não comer tanta carne?
– É por isso que você não come?
– Não propriamente por isso. Mas é uma boa razão também. Carne vermelha deixa o esperma mais amargo. E frutose dá um tom adocicado. Eu como muita fruta. É isso o que você percebe na minha porra.
– Você sabe tudo.
– Não tudo. Tenho muito que aprender. Ah, como tenho... E você, sem nem saber, vai me ensinando. Já aprendi muito com você. Com tuas reações.
Eu ri baixinho.
– Você sempre me observou muito.
– Porque eu sempre te quis. E porque você é muito... típico. Você é perfeito. Já tinham me descrito você, mas nunca achei que fosse mesmo verdadeiro, que você existisse; que eu fosse te encontrar.
– Me descrito?
– Sou bom aluno, Zeca. Presto atenção no que me dizem, no que me ensinam. Aquela vez que te peguei com as minhas cuecas...
– Eu morri de vergonha.
– E ficou agachado no chão. Porque ali era teu lugar diante de mim. Foi sintomático.
– Eu não pensei nisso.
– Nem precisa. Você só precisa se deixar levar. Eu te dei o espaço pra você se deixar levar. Te dei corda. Queria que você crescesse; que estivesse mais crescido pra mim.
– Crescer?
– Teu pintinho não cresce, mas tua cabecinha de... Tua cabecinha já anda crescendo, e eu vou fazer ela crescer mais ainda. Te amadurecer. Você já é perfeito. Mas tudo pode ficar ainda melhor. Você também.
– Nunca mais você manchou as cuecas.
– Você gostava, né?
Eu ri.
– Chegou a lamber alguma vez?
Fiz que não com a cabeça. Sentia a cabeça do cacete dele roçar meu cuzinho.
– Não ía ter graça. Estava seca.
– Mas se realizava limpando a porra seca do macho que tanto queria...
– É... – sorri. – E eu achava que era por causa da amante casada.
– História maluca.
– Achava mesmo. Nunca imaginava que... Eu achava que você era hétero; que era bem caretão mesmo.
– Bom, não deixo de ser, nos teus termos.
– Nos meus termos?
– Você confunde hétero com macho, com fudedor. Otávio te mete há meses, mas você continua vendo ele como hétero. Rodrigo, então... Todo mundo comendo outro cara, mas pra você eles são hétero. Super héteros fãs de cu de viado – riu. – Então, sou hétero também.
Baguncei seu cabelo, em protesto.
– Me come, Marcelo... Teu pau tá duro... Você também quer.
– Não é esse o combinado – disse, já se levantando.
Quase me fez perder o equilíbrio, mas me agarrou a tempo e me levou assim para a cama, com as pernas enlaçando sua cintura. Fez como da primeira vez, quando me sustentou contra a parede para me beijar, deduzindo que eu não saberia como fazer, devido à altura dele. E eu não saberia mesmo; o beijo sairia torto. E foi um beijo tão gostoso... Quando lembro, parece que estou sentindo aquela primeira vez em que ele entrou em mim.
– Não acostuma não, bezerrinho. Teu pau é pequenino, mas você não é. Você pesa – disse, já me pondo sobre o lençol e se encaixando entre minhas pernas. – E também isso não vai acontecer de novo. Você me deixa doido, mas tenho que terminar meu trabalho. E você o teu.
– Tá quase na hora que você costuma parar.
– Eu sei. Por isso to te dando essa colher de chá – encostou novamente a cabeça da pica no meu botão, mas agora pressionando um pouco. – Te dando esse caralho, que você tanto gosta.
Mas não entrou. Puxou-me pelas mãos.
– Vem cá – empinou o membro ereto em minha direção. – Dá uma lubrificada aqui com a boca. Um dia te mostro outro modo.
– Que modo?
– Cala a boca e mama, bezerrinho. Só a cabeça.
Afastou a pelve quando eu me preparava para tentar abocanhá-lo inteiro.
– Eu disse “só a cabeça”.
– Desculpe – falei aos pés dele, e logo depois fiz como mandou, envolvendo apenas aquele cabeção vermelho, macio, que volta e meia me arrebentava todo ao entrar.
Quando estava bem molhado, ele tirou bem devagarzinho da minha boca. Entendi e a abri, para que o contato dos lábios não tirasse o excesso de saliva, como ele parecia querer. Pareceu tomar posição para entrar em mim, mas interrompeu o gesto.
– Pera – avisou, levantando-se.
Foi até a mesa e pegou o celular. Voltou, posicionou o cacete bem em frente ao meu, que jazia molinho e miúdo próximo à pele lisa do meu púbis. Marcelo tinha razão: seus olhos brilhavam quando focava nele.
– Você vai tirar uma foto?
– Pra você ver o que eu vejo.
Mostrou-me, depois da terceira tentativa. Era mesmo impressionante nosso contraste.
– Vou enviar pra você – disse, enquanto teclava o aparelho. – Calma, bezerrinho, que já vou te dar o que você está precisando.
Demorou um pouco mais da conta.
– Estou enviando pro Orlando também.
– Orlando?
– Um grande amigo meu. Meu maior amigo.
– Você vai me mostrar pelado pra um amigo? Uma foto minha?
– Foto nossa. Mas o meu cacete ele já conhece.
– Foi teu passivo?
– Não, ele também é macho.
– E como conhece teu pau?
– Um dia te conto.
Terminou e pôs o celular ao lado.
– Não acho legal você enviar uma foto minha...
– Você viu a foto. Nem aparece teu rosto. Mas se eu conheço ele bem, e eu conheço, já já ele vai pôr isso na internet.
– Marcelo...
– Nem dá pra saber nada, Zeca. Relaxa. Nem cenário tem; só o lençol. Branco.
Ergueu novamente minhas pernas. O cacete continuava duro. Eu ficava muito impressionado com a facilidade com que ele tinha ereções, como havia me dito tempos atrás. Mas me impressionava também como elas eram duradouras, persistentes.
– Eu falei de você pra ele. De como você é perfeito. E ele curte piquinhas também. É fã, como eu.
– Você falou de mim pro teu amigo?
– Um tempo atrás. Depois que passei a te comer, não falamos mais. Mas mandei na foto que era você.
Ele olhava muito concentrado pro meu pau enquanto falava, mantendo minhas pernas levantadas.
– Agora ele vai ficar sabendo que tenho o piquinha mais gostoso, o mais bonito do mundo. Que é meu.
Ficou um tempo em silêncio. Voltou o rosto levemente para o lado, como se estivesse pensativo. Mas não tirava os olhos do meu membro, que ele tanto gostava, embora homem algum fosse me invejar por conta dele. Aos poucos, foi baixando minhas pernas e aproximando o tronco de mim.
– Fica quietinho, Zeca.
Eu retesei o corpo. Antevi o que ele faria.
– Não precisa ficar com medo. Não vou fazer nada de ruim com você. Não vou te cobrar nada, ok?
– Marcelo... – pedi, vendo que seu rosto se aproximava do meio das minhas pernas.
– Fecha os olhos, Zeca – sua voz foi imperativa. – Fica quietinho aí. Só sente.
Senti sua respiração na minha pele.
– Você não tem que fazer nada. Deixa molinho mesmo. Ele molinho é mais gostoso. É assim que eu quero.
Senti uma lambidinha suave na ponta, pouco abaixo da uretra.
– Quietinho, Zeca. Não se mete. Deixa eu trabalhar aqui.
Fiquei calado.
Ele pôs meu pau todo na boca e, com ele ainda dentro, moveu a língua para que acariciasse a cabeça, bem na ponta. Depois, deixou que saísse naturalmente e que repousasse sobre o púbis. Fechei os olhos.
– Relaxa, bezerrinho... Você não tem obrigação de nada... Fica como sempre fica comigo. Sou teu Marcelo; você é meu Zeca de sempre. É desse Zeca que eu gosto.
E então senti o molhado de seus lábios percorrendo vagarosamente meu pau. A língua ía e vinha, concentrando-se naquela área, pouco abaixo da uretra. Estava gostoso. Eu evitava demonstrar. Ele, claro, sabia.
– Se solta, Zeca. Relaxa.
Eu não podia. Estava chupando meu pau; isso me deixava tenso. Ninguém chupava meu pau. Não queria que ninguém chupasse meu pau. Eu tinha um pau, mas não era para isso.
Mas ele não estava chupando meu pau como se chupa um pau. Não estava fazendo como eu fazia quando chupava um pau; não estava fazendo como todo mundo faz.
Eu não podia demonstrar, mas estava muito bom. Soltei um suspiro.
– Zeca – falou baixinho; senti o calor de seu hálito na pele úmida da cabeça do pau. – Eu sou teu cara. Sou teu homem. O homem que te ama, Zeca. Te conheço mais do que qualquer pessoa, e você sabe disso. Não tenta esconder de mim o que eu já sei.
Eu queria, mas não conseguia.
– Quer que eu tampe meus ouvidos? – percebi que dizia sorrindo. – Se for pra você se sentir mais à vontade, eu tampo.
Voltou a fazer aquelas carícias. Não usava as mãos; não usava nada além da boca. Não segurei um gemido. Depois, outro. E outro.
– Zeca...
Continuou. Eu queria que continuasse. Não queria que ele percebesse, mas queria que continuasse, e ele continuou. Senti que minha pele se arrepiava. O prazer era intenso e minha respiração foi se tornando levemente ofegante. Não queria ver mais nada, fazer nada, só senti-lo me acariciar daquele modo. Eu flutuava, mas ao mesmo tempo era como se estivesse encurralado e os braços pareciam querer se abrir, para que se libertassem. Levei um dedo à boca.
Não foi um orgasmo; acho que não dá para chamar aquilo de orgasmo, porque não houve um clímax. Outras vezes ocorreria; outras vezes ele faria.
Veio até mim. O pau dele pressionando meu abdômen. Duro, maciço, grande, vigoroso. O meu molhado pela saliva dele; gostoso sentir seu torso roçar nele como estava.
– Sabe o que acontece na sexta semana de vida de um embrião?
Fazia um intervalo, e era bom para que eu descansasse, após aquele êxtase que era e ao mesmo tempo não parecia ser um orgasmo. Eu tinha certeza de que ele acabaria me fudendo; que não pararia ali. E tinha que recobrar as forças, porque sabia que sofreria nas suas mãos. Mas esse lado acadêmico de Marcelo às vezes me irritava. Era charmoso, mas às vezes realmente me irritava. Fiz que não com a cabeça.
Não era apenas um breve cansaço, mas também uma perplexidade que exigia uma parada antes de estar devidamente pronto para a posse que se avizinhava. As sensações que ele tinha me causado eram impactantes para mim não só porque haviam me dado um prazer intenso, mas também porque tinham sido inéditas, improváveis, absolutamente surpreendentes. Estava tentando me acostumar àquela ideia de que meu pau também podia ser fonte de prazer numa transa. Estava confuso, talvez assustado, além de meio fatigado.
– É na sexta semana que os genitais do bebê se definem; é quando vira menino ou menina. Uma mesma parte vira clitóris ou vira a glande. Essa área que eu explorei do teu pau é feita do mesmo tecido, tem os mesmos terminais nervosos que eu também tenho – fez uma pausa. – E que uma mulher também tem.
Fiz uma expressão interrogativa.
– Em mim, em você, se transformou na glande. Nas mulheres, se transformou em clitóris. Mas é a mesma origem.
– O que você quer dizer...
Interrompeu:
– Exatamente o que eu estou dizendo. Uma mulher e um homem têm sensibilidades muito semelhantes nesta área. Ela no grelo, ele na cabeça do pau. Por isso foi tão gostoso pra você.
Continuei olhando. Ele me encarava daquele jeito dele, bem no fundo, me mantendo preso.
– Eu posso ter esse mesmo prazer que você. Mas se eu usar meu pau todo, meu prazer é maior, é mais forte, e eu gozo. Ejaculo. E eu gosto desse prazer. Por isso eu meto, porque quero esse prazer que pra mim é mais pleno. Essa é a nossa diferença; é por isso que não somos iguais. Temos pau, temos o mesmo tecido, mas não somos iguais. Meter pra você é um preço alto demais a pagar; você não quer esse prazer. Eu quero. Mas você pode ter esse prazer no que é essencial – fez uma pausa. – Foi o que eu quis que você descobrisse.
– É, e fez – murmurei.
– Gostou, não foi?
Sorri, sem jeito, e fiz que sim.
– Vai gostar mais. Com o tempo, vai gostar mais. Vai se soltar mais, deixar esse prazer te tomar todo – beijou minha testa.
Seu cacete pulsava, contrastando com a voz serena.
– Vou te ensinar a ter prazer nesse pauzinho do jeito que você pode ter prazer sendo do jeito que você é.
Entendi o que ele quis dizer. E ele percebeu que eu tinha percebido. Sorriu.
– Não tem que ter vergonha.
Eu ri, mais relaxado.
– Não tem mesmo. Já notou como meu cacete está? Então. Você me excita do jeito que é.
Respirou fundo, mexeu no meu cabelo, percorreu meu rosto com os olhos.
– Cada vez eu descubro mais como você é perfeito, Zeca.
Ficou em silêncio.
– Você vai ser meu pra sempre. Vai ficar comigo. Vou cuidar de você. Vai ser minha mulher.
Minha musculatura enrijeceu. Ele notou.
– Calma, seu babaquinha... Falei “mulher” no sentido de esposa, marido, companheiro. Da pessoa que a gente quer com a gente, do lado da gente, beijando, trepando, construindo as coisas juntos, sofrendo juntos, se amparando juntos...
Abriu um sorriso largo, daqueles raros nele.
– Mas se preferir, te chamo de marido. Acho que vai ficar meio ridículo eu, do jeito que sou, chamando você de marido, do jeito que você é... Mas se quiser...
Eu ri.
– Meu maridinho – e começou a me fazer cócegas.
Eu me contorci todo e aos poucos ele foi se acochambrando para se encaixar no meu corpo. Logo me penetrava. A gordura vegetal facilitava, claro, mas não estava suficiente para que a entrada fosse suave. Fiz uma caretinha de dor e ele sorriu, como se estivesse encantado com minha expressão.
– Meu maridinho... – sussurrou, aumentando o movimento.
Encheu-me de beijos, enquanto começava a fuder a toda.
– Meu maridinho de xotinha gostosa e de grelinho que vou despertar...
Arfei. Sentia vergonha, mas me excitava.
– Meu homem gostoso – ele disse.
A voz saiu trêmula, pela excitação.
– O homem que eu sempre quis pra mim... Do jeito que você é, Zeca. Homem do jeito que você é.
...
[continua]
[PS: Nesta parte, vários trechos das falas de Marcelo tiveram origem no texto “Sobre piquinhas e dominação”, publicado aqui mesmo na CDC pelo autor FCOBRA, e que muito me impressionou quando li, há algum tempo. Algumas frases ditas por Marcelo são reproduções exatas do que ele escreveu, outras eu adaptei do original e ainda outras criei a partir do ponto de vista que FCOBRA desenvolve. Para quem curte esse fetiche, fica a sugestão de leitura. Pra quem não curte, desaconselho veementemente. O autor é muito franco em seu texto e há passagens bem fortes, provavelmente ofensivas para muitos.]