Elo sadomasoquista entre o dentista e o segurança
Eduardo chegou ao luxuoso edifício num bairro nobre da capital paulista, onde mantinha seu consultório, por volta das dez da manhã. Estacionou o Land Rover em sua vaga demarcada, bem diante dos enormes panos de vidro blindado que separavam a recepção do jardim paisagístico bem cuidado, sob o olhar sempre atento do porteiro Alysson, que desde antes das seis da manhã cumpria seu turno e, do segurança Ernesto, enfiado em seu terno preto barato, fornecido pelo condomínio, e que mal cobria seu corpo musculoso, obrigando-o a constantemente, numa espécie de tique nervoso, esticar o pescoço, os ombros largos e mover a perna para que a calça apertada parasse de apertar seu imenso cacete. Eduardo ia passando por ambos, como de hábito, sem lhes dirigir qualquer cumprimento, não fosse interpelado pelo Alysson.
- Bom dia, doutor! Tem uma encomenda que chegou para o senhor, quer leva-la agora ou prefere que eu mande entregar? – perguntou, com seu indefectível sotaque alagoano.
- Depois mando a Fátima vir pegar. – respondeu Eduardo, sem interromper seus passos até o elevador, nem olhar para o porteiro.
- Está bem então. – retrucou o porteiro, enquanto o dentista, já dentro do elevador, nem se dera ao trabalho de ouvi-lo.
- Esse filhinho de papai é um entojado, mas que o desgraçado é gostoso isso é! Tenho vontade de meter meu caralho naquela bundona e arregaçar o rabo do puto. – confidenciou ao Ernesto, que fora completamente ignorado como se fizesse parte da mobília da recepção, enquanto ajeitava a rola dentro da calça.
A cena retratada talvez não tivesse nada de excepcional não fossem dois desses personagens, que o destino resolveu colocar frente a frente, terem vivido uma história que não só os uniu como determinou suas vidas.
Eduardo nasceu numa abastada família de um empresário envolvido em vários ramos de negócio. Até onde remontava sua memória, sempre havia morado no luxuoso casarão que ocupava quase todo o quarteirão de uma rua na parte mais nobre do bairro do Morumbi. Cresceu cercado de empregados que, por imposição do trabalho ou pela conjectura da situação foram praticamente os únicos a lhe dedicar alguns minutos de sua atenção, uma vez que os pais, quase sempre ausentes, tinham preocupações mais urgentes do que as necessidades de uma criança. Conseguiu uma invejável bagagem cultural viajando mundo afora para preencher suas férias e, aprimorar os idiomas que aprendeu a dominar. O convívio nos colégios caros com outras crianças afortunadas apenas reforçava em seu caráter aquela divisão de classes sociais e o reconhecimento das regalias que as menos favorecidas deviam lhe prestar. Ele não era uma pessoa de má índole, pelo contrário, apenas espelhava aquilo que haviam incutido em sua personalidade. A escolha da profissão, assim como diversas outras coisas que fizera ao longo da vida, não foi feita pela necessidade de se sustentar ou de prover uma eventual família no futuro, ela foi feita por capricho, uma vez que o esplendor de seu futuro já estava garantido desde o berço. Depois de formado, montou o consultório no último andar do edifício onde o pai era o proprietário de diversos deles. Atendia a uma clientela seleta, composta quase que exclusivamente de amizades que cultivava entre os frequentadores de uma marina no litoral, do clube de polo no interior onde a família mantinha um haras e de competidores que, como ele, investiam recursos num kartódromo particular onde não só extravasavam suas energias como competiam por um reconhecimento. Essas atividades e a natação que pratica desde garoto conferiram-lhe um corpo muito bem esculpido e, constantemente bronzeado. Aquele tom acobreado da pele lisinha ficava mais sedutor quando ele estava usando roupas brancas. Aliava-se a isso o rosto quase angelical e imberbe, onde os olhos, de um verde citrino intenso, se destacavam pelo brilho cristalino. Ele frequentemente ia ao consultório acompanhado da namorada, ou esta vinha ter com ele nos finais de tarde para dali programarem a noitada. Era uma garota um pouco frívola, também herança de uma criação sem reveses, que via em Eduardo a chance de um sobrenome de peso e o acesso a círculos ainda mais seletos dos que os de sua família. Ela talvez não estava apaixonada pelo Eduardo, mas o jeito expansivo dele, o bom humor, o fato de ser um gato que chamava a atenção assim que adentrava a um ambiente e, a maneira carinhosa como a tratava eram suficientes para o namoro seguir adiante.
- Eu aqui tenho que sair de casa às quatro da madrugada do cu do Judas da zona leste, encarar um busão, o metrô e mais um busão, todos lotados de um povinho fedendo a desodorante barato para entrar aqui antes das seis, enquanto o cara sempre chega num carrão que vale mais do que todos os barracos da favela onde moro. E, ainda por cima, tem aquela gostosa da namorada, com aqueles peitinhos duros e provavelmente uma xoxota apertadinha onde ele deve ficar brincando de esconde-esconde com a pica dele. É meu compadre, uns nasceram para foder, outros para serem fodidos! – desabafou o Alysson, depois que a porta do elevador se fechou. Ele não conseguiu ouvir o grunhido de resposta do Ernesto que ficava em pé ao lado da porta de entrada, parecendo um leão de chácara.
Ernesto não conheceu o pai. Suas primeiras lembranças remontavam a casa da avó, onde ele dividia o pequeno cômodo, sem reboco nas paredes e, separado do restante do barraco por uma cortina de chita florida, com dois tios que nunca tiveram um emprego que durasse mais do que uns poucos meses e, que costumavam trazer as garotas da vizinhança para suas camas, enquanto a avó estava fora trabalhando como doméstica em casas de família. Muitas vezes ele era acordado pelos gemidos de uma dessas vagabundas fodendo com os tios. Ao ver as tetas das vadias balançando soltas a cada estocada que levavam na buceta, ele se lembrava de ter ido dormir sem ter comido nada na janta, e sentia seu estomago doendo. Esfregava os olhos e deixava o quarto abafado para ver se a avó tinha deixado café na garrafa térmica e alguma coisa para mastigar que lhe aliviasse aquela sensação de queimação no estômago. Foi nessa época também que frequentou por poucos anos um grupo escolar das proximidades e, onde conheceu outros garotos como ele, que mais se valiam da escola para jogar bola na quadra de terra do que para as poucas aulas dadas por professores com ar entediado ou para as tarefas escolares. No início da adolescência foi morar com a mãe e dois meio irmãos, cada um de um pai, e seu atual companheiro. Embora estivesse matriculado numa escola pública no turno da noite, pouco frequentava as aulas, pois costumava chegar tarde em casa com o padrasto que fazia bicos como pedreiro levando o enteado como ajudante. Foi nessa época que começou a fazer algumas amizades que o ajudaram a fazer uma grana pouco lícita. Por ainda não ter completado dezoito anos, os mais velhos o levavam para participar de pequenos furtos a lojas, transeuntes, ou o que a ocasião colocasse a sua disposição. À medida que a adolescência progredia, sua ousadia também avançava. Os golpes já não eram mais delitos e começavam a ganhar contornos de crime. Com isso, foi vendo os companheiros sendo pegos pela polícia e levados a casas de custódia de menores ou mesmo, sendo executados nalgum canto esquecido da periferia. Ele não queria ter o mesmo destino e, antes que se visse mais envolvido nas falcatruas dos companheiros, foi se afastando daquele ambiente. Boa parte dessa decisão foi motivada por uma garota que ele conheceu através de uma amiga da mãe. Ele estava completando dezessete anos, a mãe, que pouco tinha feito por ele durante toda a vida, presenteou-o com um bolo chamando algumas pessoas para comemorar a data. Ernesto já estava de olho na garota havia algum tempo, desde que ela e a mãe passavam pelo barraco com uma bíblia debaixo do braço para seguir em companhia da mãe dele até uma Assembleia de Deus nas proximidades. Embora ela tivesse só quatorze anos, tinha um corpo opulento para a idade, o que fazia os hormônios do Ernesto fervilhar em suas veias. Naquele final de tarde quente de um sábado de verão, ela apareceu com a mãe para cumprimentar o aniversariante. Intencionalmente, vestiu um shortinho curto e apertado que pouco cobria de sua bunda imensa e, uma blusinha que deixava de fora o umbigo e parte de suas tetas gordas. Lançava olhares languidos para a verga do Ernesto que teimava em se inquietar em ereções cada vez mais difíceis de controlar debaixo da bermuda. Enquanto as garrafas de cerveja iam se avolumando sobre a mesa junto ao bolo, do qual só restaram algumas partes disformes, os dois seguiram para uma área coberta de vegetação no terreno baldio vizinho que ascendia íngreme o morro onde os barracos se apinhavam. Ele mal se conteve, chegados a um ponto onde não podiam ser vistos, agarrou os peitões da menina sem nenhuma sutileza, encostou sua boca na dela nem tanto para roubar-lhe um beijo, mas para sentir os eflúvios de uma fêmea. Ela o abraçou esperançosa de que aquilo fosse se transformar em sua primeira paixão. Mas, Ernesto já havia tirado o caralhão da bermuda e mandara-a ajoelhar-se diante dele enfiando-lhe a pica na boca e ordenando que o chupasse. Resignada ela se incumbiu da tarefa da melhor forma que sua inexperiência permitiu. Sentindo aquela carne rija avolumar-se em sua boca ela percebeu que sua buceta começava a ficar cada vez mais molhada. Antes que pudesse atinar com aquilo, sentiu que os dedos do Ernesto estavam entrando por entre os lábios da vulva, gemeu de tesão. Ele a ergueu pela bunda carnuda e ela enroscou suas pernas ao redor dele quase no mesmo instante que o Ernesto lhe enfiava a pica na vagina virgem. Ela gritou, ele a estocou violentamente até sentir que seus pentelhos batiam de encontro ao monte de Vênus dela. Ela procurava ávida pela boca dele na tentativa de sufocar seus gemidos, mas toda a energia dele estava concentrada naquela maciez que agasalhava seu falo. Minutos depois ele gozava dentro dela num urro portentoso e desoprimidor. Quando tirou o pau da buceta dela, ele estava todo lambuzado de sangue e ela tentava limpar com um guardanapo de papel, que havia pegado na casa dele, aquele filete rubro que escorria por sua coxa. Mais úmida do que estava antes, ela caminhou ao lado dele até o barraco onde a mãe já a esperava com uma descompostura por ter desaparecido sem lhe avisar. Ernesto foi até o banheiro, lavou a pica e massageou o sacão desfrutando do prazer de ter aliviado aquela tensão acumulada nele.
Desentendimentos constantes com o padrasto levaram Ernesto a deixar a casa da mãe. Por essa época ele havia conseguido um trabalho fixo numa casa noturna na zona sul paulistana. Os proprietários apostaram em seu visual tosco, porém relativamente bem apessoado e bancaram um curso de defesa pessoal e segurança. Ernesto, em agradecimento, ficou anos trabalhando na função. A relativa estabilidade e, a incessante necessidade de satisfazer suas demandas sexuais levou-o a procurar um relacionamento mais duradouro. Encontrou o que procurava numa morena fogosa que trabalhava como auxiliar administrativa nas imediações da casa noturna. Os primeiros encontros fortuitos aconteceram no ponto de ônibus, ela saindo e ele entrando no trabalho. Acabaram por dar um jeito de compartilhar os horários de folga e foram morar juntos em três cômodos alugados na favela Paraisópolis. As incompatibilidades não demoraram a aparecer. Elas não se restringiam apenas aos horários, mas também aos anseios de vida. Ernesto sonhava em colocar no ventre da companheira sua prole, como legado de sua passagem por esse mundo. A companheira, no entanto, não se via no papel de reprodutora e dona de casa. Preferia a companhia das amigas solteiras que ainda corriam à procura de machos com os quais pudessem aplacar os calores vaginais. Cerceada por conta do macho ao qual havia se ligado e, que dispunha de pouco tempo para procura-la, ela começou a se tornar irritadiça e pouco disposta a aturar as reclamações do Ernesto. Para piorar a situação, a casa noturna fechou as portas e Ernesto viu-se no olho da rua de uma hora para outra. Enquanto ele perambulava pelos botecos da favela jogando conversa fora e dividindo umas cervejas com a leva crescente de desocupados que enchiam esses estabelecimentos. Instigada pela mãe, a companheira de Ernesto passou a censurá-lo por ela ter que assumir as contas da casa. Discutiam com mais frequência do que faziam sexo e, um comentário suspeito fez com que ele desconfiasse que ela estivesse a lhe plantar uma galhada na testa. No primeiro desentendimento que tiveram, após essa suspeita implantar-se em seu cérebro, Ernesto cobriu a parceira de bordoadas. Foram parar na delegacia, onde ele jurou arrependimento diante do delegado, embora sua determinação de aplicar-lhe outro corretivo na primeira oportunidade que surgisse já havia sido tomada. No quase um ano que ficou desempregado, Ernesto fez amizades com a pior espécie de gente. Ex-presidiários, traficantes, homicidas, assassinos de aluguel, assaltantes e criminosos de todo o tipo passaram a compor seu rol de colegas. Embora evitasse entrar abertamente nas quadrilhas, ele se prestava a algumas participações menos arriscadas ou a promover a cobertura para que os demais fizessem o serviço sujo. Era um meio que havia arranjado para descolar uns trocados, vez ou outra, e evitar o falatório da companheira. Quando surgiu a oportunidade de conseguir uma vaga de segurança no edifício comercial, Ernesto não hesitou e foi candidatar-se. Não exigiram muito, apenas a comprovação de experiência na função, um mínimo de leitura e uma ficha criminal limpa. Ernesto conseguiu a vaga diurna. Deram-lhe algumas recomendações, um par de ternos pretos, um de camisas brancas, duas gravatas e dois pares de sapatos, era o suficiente para que ele se postasse junto à portaria por oito horas, com uma breve folga para o almoço e outras, o menos possível, para que pudesse ir ao banheiro mijar. O salário fixo, o direito a férias e décimo-terceiro, além de uma cesta básica e plano médico foi o suficiente para que ele passasse e se tornar parte da mobília da recepção. Pelo menos, era assim que a maioria das pessoas que passava por ele agia e, em poucos meses, ele próprio havia se resignado a esse papel. A única pessoa com quem trocava algumas palavras era o Alysson, que tinha o privilégio de trabalhar sentado atrás do balcão da recepção por ser capaz de juntar as palavras em algumas frases que fizessem um mínimo de sentido. Até este o tratava com certo ar de superioridade, no entanto, suas piadas aliviavam as horas cansativas em seu posto e, por isso, e só por isso, ele aceitava aquele olhar pejorativo. Pois, em outras circunstâncias, já teria dado uma bela surra no nordestino. Outra coisa que também era capaz de lhe amenizar o dia era a passagem, pela portaria do edifício, do garotão dentista do último andar. Ernesto não sentia nenhuma atração por homens. Contudo, aquele rosto quase angelical, o corpo escultural debaixo da roupa branca cheia de transparências que deixava visível a cueca slip, que cobria uma bunda quase tão vasta quanto à da parceira morena, mas que era sensivelmente mais rija do que a dela, mexia com seus brios de macho. Ao contrário do que o Alysson expressava, ele não tinha vontade de enfiar sua pica naquela bunda. Porém, achava que toda aquela beleza, a grande discrepância social, o rastro discreto do perfume cítrico que ele deixava ao passar pela portaria e que, provavelmente, custava mais do que seu salário mensal, além daqueles carros que dirigia e da namorada que mais parecia uma modelo, aliado ao fato de ele nunca ter feito menção de ter notado sua presença mereciam algum tipo de punição, fosse divina ou humana.
Assim, fez o destino com que estes dois personagens tão distintos, tão incrivelmente díspares, se cruzassem naquela encruzilhada da vida. Apesar da flagrante diferença eles viviam suas realidades a uma curta distância, cerca de cinco quilômetros. Também não estavam muito distantes quanto à idade, Eduardo estava com vinte e oito e, Ernesto com trinta e dois anos.
Num final de tarde de outono, a cidade viu acumularem-se sobre ela nuvens densas e acinzentadas, o ar estagnado e abafado começava a se mover ligeiro prenunciando a chuva que estava por cair. Ela despencou reforçada por raios e trovões exatos cinco minutos antes de o expediente do Ernesto terminar e, de ele ver o dentista galã passar por ele e entrar no carro, naquele dia em particular, uma BMW 540i. A curta corrida até o ponto de ônibus próximo ao edifício deixou Ernesto encharcado. As pessoas se acotovelavam sob o esparso telhado tentando manter-se secas, antes de embarcarem na condução lotada. O ar impregnado de suor que pairava dentro do ônibus com as janelas fechadas por conta da chuva que fustigava as vidraças, fez com que Ernesto deixasse seus pensamentos serem levados para o aroma fresco do perfume do dentista, amenizando um pouco aquela volta para casa. Ele pisou dentro de casa molhado até a alma e, logo ouviu a primeira reprimenda da parceira, ralhando por ele estar molhando todo o chão que ela havia terminado de limpar. Fazia um tempo que Ernesto não suportava mais aquele tom de voz sopranino atingindo seus ouvidos cheio de repreensões a cada ato seu. Ele e a mulher mal se falaram até atirarem seus corpos exaustos sobre o leito conjugal. Ernesto estava excitado, o short apertado resvalava na pele sensível da cabeçorra da benga e provocava ereções. Ele tentou ignorá-las, porém o incomodo não passava. Virou-se na direção da mulata e enfiou a mão na bunda dela, as carnes tremeram e estavam suadas entre o rego. Ela protestou, alegando estar moída de cansaço. Ele insistiu, não era possível que aquele dia infernal fosse terminar com essa pressão a lhe torturar o falo, e a encoxou, levando a mão para dentro da calcinha e acariciando a buceta, cujos lábios já não tinham o viço de antes e se pareciam com macarrão que cozinhou demais.
- Mas que merda, Ernesto! Trabalhei feito uma égua naquele escritório hoje, cheguei em casa e mais trabalho, agora você quer enfiar esse bagulho em mim, tenha santa paciência! – resmungou ela, afastando a mão que nem chegou a excitá-la.
- Agora vira e mexe você está cansada, indisposta, naqueles dias ou outra desculpa qualquer. Eu sou teu macho e quero te foder. – retrucou o Ernesto, possesso por ter sua investida rechaçada.
- Vá foder sua mãe, seu cretino! Vou dormir no sofá, estou farta de você, desse seu jeito de cavalo. Eu exijo ser respeitada. – devolveu ela, pegando um travesseiro e o lençol que a cobria e saindo do quarto.
- Sua vaca, cadela! Aposto que esse seu cansaço vem de ter se esfregado com um filho da puta qualquer no serviço. Escuta aqui, sua cadela vadia, se tu me botar um chifre eu juro que te mato. – ameaçou ele, sentindo o caralho perdendo a consistência lenta e sincronizadamente com a perda do clima.
- Fala isso para o delegado! Na frente dele você mijou para trás, seu covarde! – berrou ela. Segundos depois, sua cara ardia de tantas bofetadas que levou de um Ernesto transtornado, frustrado e descontrolado.
Separaram-se duas semanas depois. Ele chegou em casa uma noite e as coisas dela haviam desaparecido. A vizinha disse que ela foi morar com a mãe em Jandira. Ernesto pouco se importou, não valia a pena perder mais seu tempo com aquela piranha, pensou consigo mesmo. Porém, o passar dos dias trouxe de volta aquele velho problema, Ernesto era um macho que precisava de sexo para comportar-se de maneira minimamente civilizada, caso contrário, virava uma fera de pavio curto.
Alysson era um sujeito dado a fazer de tudo para faltar ao serviço. O síndico já andava cogitando demiti-lo, pois constantemente via-se na situação de precisar conseguir alguém para substitui-lo na portaria. E, como Alysson deixava propositalmente para a última hora para avisá-lo, ele precisava contar com a boa vontade do Ernesto para as duas funções. Frente a uma situação dessas começou aquela segunda-feira. Ernesto recebeu o recado do síndico através do segurança da noite e, não gostou da notícia. Os condôminos eram implacáveis com qualquer deslize que ocorresse na recepção, por conta disso, o Alysson não passava um dia sem ouvir algum desaforo. Ernesto já havia pensado muitas vezes no cargo, pois além de trabalhar sentado e com mais liberdade, o salário era melhor do que o dele. Mas, faltava-lhe instrução e, pior, paciência para ouvir desaforos, calado. Uma advogada baixinha e franzina que trabalhava no escritório do quarto andar era velha conhecida dos porteiros por sua intransigência. Por menor que fosse a intercorrência, ela fazia daquilo um caso criminal e, com sua voz estridente, agia como se estivesse num tribunal. Ernesto não conseguia ouvir aquela voz, que lhe lembrava a da mulata, sem sentir ganas de estrangular o pescoço raquítico da advogada. E, foi justamente ela, a primeira a infernizá-lo naquela segunda-feira pela manhã. O quarto andar não tinha as vagas da garagem demarcadas e, portanto, quem chegasse primeiro estacionava onde bem lhe aprouvesse. Ocorre que ela tinha dificuldade em manobrar e, uma coluna do edifício ficava rente a única vaga disponível para aquele andar. Ela começou discutindo com o rapaz do estacionamento terceirizado. Sem ter sua vontade atendida, foi cobrar uma solução na portaria.
- Dona Fernanda, as vagas do quarto andar não são fixas, elas estão disponíveis tanto para algum cliente quanto para os senhores. A senhora quer falar com um dos seus sócios e pedir para ele vir trocar de vaga com a senhora, eu posso interfonar. – retrucou o Ernesto, após ser confrontado por ela.
- Claro que não! Eu não vou perturbar meus colegas. É responsabilidade de vocês avisarem os clientes do escritório que não podem estacionar na minha vaga. – devolveu exaltada, diante o olhar curioso de outras pessoas que esperavam os elevadores.
- Quero lembra-la de que não existe sua vaga, as vagas são do quarto andar. Não é nossa função ficar guardando uma vaga para a senhora. – revidou o Ernesto.
- Você é um boçal, onde está o outro porteiro? Eu já tinha falado com ele sobre esse assunto, e não vou ficar perdendo tempo com você mais uma vez.
- Então procure o síndico e se entenda com ele! – Ernesto apertava o balcão diante de si como se fosse o pescoço da infeliz.
- Insolente! É exatamente o que vou fazer, mas para formalizar uma queixa contra você.
Já passava das duas da tarde sem que Ernesto tivesse conseguido almoçar e, muito menos, aliviar a bexiga que parecia querer estourar a qualquer momento, quando outro imbróglio se formou na portaria. Desta vez com um cliente externo que não portava nenhum documento a ser escaneado para que tivesse acesso aos andares. A garota que atendeu o interfone no andar onde ele desejava ir, disse que não conhecia ninguém com aquele nome e que não estavam à espera de ninguém.
- Deixe-me falar com essa idiota! Deve ser uma auxiliar que não me conhece. Eu agendei com o Sr. Otávio. Não tem um Sr. Otávio nesse endereço? – protestou o sujeito.
- Tem sim, senhor. Mas eu não posso liberar o acesso sem que eles me autorizem e, muito menos deixa-lo subir sem fazer o seu cadastro. – respondeu Ernesto.
- Pois eu quero que essa garota desça e venha falar comigo! Se o Sr. Otávio não está pode ser qualquer pessoa que consiga resolver meu problema. – insistiu o sujeito. Ernesto interfonou novamente.
- Eu não vou descer. Diga que o Sr. Otávio não está e que eu não posso deixa-lo subir.
- Vocês são todos uns incompetentes! Lidar com esse tipo de gente é o mesmo que puxar boi pelo cabresto. – sentenciou o sujeito, dirigindo-se à plateia que assistia ao embate.
Para completar aquele dia fatídico, a secretária do Eduardo havia ligado umas quatro vezes na portaria a procura de uma encomenda que uma empresa fornecedora garantia que havia sido entregue. Ernesto vasculhou tudo debaixo do balcão à procura do tal pacote, inutilmente. O Alysson o havia entregado no andar errado e lá o pacote permaneceu até que percebessem o engano.
- Você tem certeza que não entregaram nada, Ernesto? O doutor está furioso, pois precisou do material para um paciente e a empresa garante que entregou. – disse a secretária ao se despedir dele no início da noite.
- Eu procurei por tudo que é canto e não encontrei nenhum pacote. – garantiu Ernesto.
O porteiro da noite estava atrasado uma hora. Ernesto já podia estar chegando em casa, mas continuava ali, pois não podia abandonar o posto sem ser rendido. Quase todos os andares já estavam vazios quando alguém colocou o pacote do Eduardo sobre o balcão avisando do engano.
- Vou matar aquele filho da puta do Alysson! – rosnou Ernesto, fazendo com que o sujeito que deixou o pacote sobre o balcão se virasse e o questionasse. - Não é nada não. Obrigado pelo pacote, já vou levar para o doutor. – emendou apressado.
O porteiro da noite chegou com uma desculpa esfarrapada e Ernesto percebeu que estava mentindo, teve vontade de falar poucas e boas, mas no estado em que se encontrava achou prudente não começar uma discussão. Antes de ir embora, levou o pacote até o último andar.
- Quem é? – a voz do Eduardo soou conhecida.
- Doutor, é a sua encomenda. – respondeu Ernesto.
A fechadura automática se abriu e ele entrou. Nunca estivera ali dentro. O ar estava fresco e pairava um aroma que lembrava o perfume do Eduardo no ambiente luxuosamente decorado, algo como uma plantação de laranjas ou mexericas; Ernesto lembrou-se de uma ocasião em que esteve no meio de uma plantação dessas e o perfume era o mesmo. Não havia ninguém na sala de espera e, todas as portas que davam nela estavam fechadas. Uma música suave tocava ao fundo, e não se ouvia nada daquele burburinho das ruas lá embaixo. Enquanto examinava cada detalhe do ambiente, percebeu que suas mãos estavam suando. Ele as esfregou nas calças, não queria entregar o pacote com o papel úmido. Não levou mais do que alguns minutos para o Eduardo surgir de uma daquelas portas fechadas. Ele veio acompanhado de uma senhora de meia idade cujo motorista a aguardava ao lado do carro no estacionamento há mais de hora e meia. Eduardo acompanhou-a até a porta e despediu-se dela com um beijo no rosto, ela ficou visivelmente contente com esse gesto. No entanto, nem olhou na cara do Ernesto quando passou por ele, aliás, nem a mulher.
- Eu esperava por essa encomenda hoje pela manhã e não há essa hora. Agora não preciso mais dela. Tive que dispensar o paciente! – disse o Eduardo enfurecido, pegando o pacote das mãos do Ernesto e conferindo seu conteúdo.
- Desculpe, doutor! É que o pacote foi entregue no andar errado e só agora eles devolveram. – justificou-se Ernesto, enquanto seu olhar se desviou inconscientemente para aquela bunda carnuda sobre a qual se via parte da cueca enfiada no rego através da calça branca de linho.
- Você é funcionário da empresa ou aqui do prédio? Não estou entendendo, que história é essa de entregaram no andar errado? Quem entregou no andar errado? – Até então Eduardo não tinha olhado na cara do Ernesto e por isso não o reconheceu de imediato, pensando tratar-se do funcionário da empresa onde havia feito a encomenda.
- Sou o Ernesto, segurança. É que o Alysson não veio hoje e eu fiquei no lugar dele. – respondeu, enquanto em sua mente fervilhavam as palavras – Esse filho da puta passa por mim todos os dias há mais de um ano e não sabe quem eu sou. Riquinho de merda!
- Você precisa ficar mais atento quando distribui a correspondência e as encomendas pelos andares. Tivemos um trabalhão correndo atrás disso o dia inteiro. – censurou Eduardo.
- Sim senhor! – As palavras saíram da boca de Ernesto como um rosnado. Embora Eduardo não tivesse sido rude quando o censurou, aquilo lhe soou como o pior ultraje daquele dia. Ele não saberia explicar por que se sentia assim, mas sentiu-se um João Ninguém diante daquele homem refinado e bonito. O sangue ferveu em suas veias. Esse veado nem ao menos disse um obrigado, pensou consigo mesmo. Ele ia saindo pela porta que o Eduardo segurava aberta para que ele se fosse quando um turbilhão negro se formou em seu cérebro deixando-o momentaneamente cego e fora de si; embora, através de seus olhos estivesse entrando a imagem do dentista. Girando sobre os próprios calcanhares ele se voltou e sua mão se fechou ao redor do pescoço do Eduardo, apertando aquela garganta como um torniquete. Os olhos do dentista saltaram fora das órbitas e seu rosto adquiriu um tom violáceo, da boca esganiçada assomava um ruído gutural. Por uma fração de segundos vieram-lhe à mente os desaforos que ouvira durante todo aquele dia, as humilhações que havia sofrido desde a infância, a desfeita da mulata ao abandoná-lo e, uma miríade de frustrações que carregava no peito. Essas cenas se desvaneceram repentinamente quando sentiu a reação de Eduardo em seu abraço, que estalou com a torção de um golpe. Eduardo tivera aulas de defesa pessoal há alguns anos, mas nunca precisou valer-se delas, até então. Ele lembrou-se de algumas dessas aulas e foi do pouco que recordava que estava a reagir. Antes que Ernesto percebesse, Eduardo havia se livrado dele e um soco o atingiu abaixo do queixo fazendo com que mordesse o lábio e sentisse seus dentes amolecendo dentro da boca.
- Seu desgraçado! O que você pensa que está fazendo vindo aqui me agredir? – berrou Eduardo, continuando a desferir socos e pontapés.
- Então você se acha capaz de me enfrentar, seu veado de merda! – rosnou Ernesto, partindo para cima do oponente com toda sua energia.
Eduardo não teve como conter aquela agressão, cuja origem ele não foi capaz de compreender, muito mais preparada tecnicamente do que a dele. Logo viu-se perdendo o equilíbrio, batendo as costas tão intensamente contra a parede do pequeno hall de entrada do consultório que seus pulmões pararam de respirar e, caindo praticamente sentado no chão frio. Ergueu os braços na tentativa vã de proteger a cabeça e o rosto dos socos que o atingiam como uma marreta. Ernesto não contava com a reação do dentista e viu sua ira explodir através de seus punhos cerrados. Ele não queria bater num sujeito deitado, por isso, agarrou a camisa de Eduardo e procurou coloca-lo de pé, mas a camisa se rasgou com o peso do corpo. Tentando fugir daquela fúria incompreensível, Eduardo arrastou-se pelo chão, enquanto desferia pontapés a esmo, nem sempre atingindo o alvo. No entanto, eles foram eficazes ao permitir que voltasse a ficar de pé. Lembrou-se das facas que tinha no pequeno apartamento que ocupava metade do andar no duplex do último andar e, que usava como um refúgio para se isolar entre um atendimento e outro. Correu até a escada que partia da tarde de trás da recepção e, saltando dois degraus por vez, chegou até a porta de entrada do andar de cima. Foi alcançado pelo Ernesto assim que abriu a porta e ambos caíram ao chão quando ela se abriu, permitindo que os dois corpos se desequilibrassem. O braço de Ernesto tocou a pele do torso nu de Eduardo, coberto apenas por farrapos do que fora sua camisa, e isso provocou nele um choque como se tivesse tocado num fio elétrico. O corpo abaixo dele se movia desesperadamente procurando escapar de suas mãos, quente, excitado e ofegante. Embora seu próprio corpo experimentasse essas sensações, ele podia distinguir perfeitamente as que não eram geradas por ele, mas pelo corpo que se revolvia sob seu jugo. A ira descontrolada ainda o movia, mas ele começou a enxergar o que se passava a sua volta, especialmente os contornos daquela cueca parcialmente enfiada no rego daquela bunda carnuda debaixo da transparência da calça branca. Agarrando seu oponente pelo cós da calça ele a rasgou com selvageria. A carne roliça e imaculadamente branca emergiu pelo tecido roto. Ernesto sentiu tesão. Não aquele tesão que induz à copula, mas o tesão que o predador sente ao dominar sua presa antes de estraçalha-la.
- Veado, filho da puta! – grunhiu Ernesto.
- Você vai se arrepender do que está fazendo, isso posso te garantir, seu miserável! – explodiu Eduardo.
- Ah, é! Ainda tem forças para reagir, então não apanhou o suficiente. – bradou Ernesto, cobrindo aquele rosto afogueado que o encarava com mais socos e bofetões.
A mão de Ernesto doía quando ouviu, pela primeira vez, durante um instante da recobrança de sua lucidez, o choro sofrido de Eduardo. Foi como se toda a adrenalina que instigava suas ações, de repente, parasse de correr em suas veias e, um fluido gélido passasse a correr dentro delas. Havia sangue em suas mãos e ele sentiu como se fosse um assassino, embora o despojo sobre o qual estava debruçado ainda respirasse.
- Onde está aquela arrogância que te faz passar por mim todas as manhãs e me ignorar como se eu fosse um poste, hein? Fala seu riquinho de merda! Eu vou te ensinar como é que se respeita um ser humano, sua puta! – rosnou colérico e sádico.
Abrindo a braguilha com uma das mãos, enquanto a outra agarrava os cabelos sedosos de Eduardo e erguia sua cabeça, ele tirou o caralhão da calça e se espantou com o fato de ele estar experimentando uma ereção. Esfregou-o no rosto ferido e inchado de Eduardo, tomado de um sentimento opressivo.
- Chupa a pica de um macho de verdade, sua puta! Se tentar qualquer bobagem eu juro que te mato, seu merda! – Ernesto jamais se sentira tão poderoso. Foi como um carrasco que tem em suas mãos a vida de um condenado.
Quando aquela mão se fechou mais uma vez ao redor de seu pescoço como uma garra, Eduardo viu-se obrigado a abrir a boca, pois o sangue que saía de seu nariz não permitia que ele respirasse. Uma cabeçorra imensa invadiu sua boca, úmida, cheirando a ureia, nauseante e quente vertendo um sumo que escorria até sua garganta esganada. Não havia mais dignidade no olhar com o qual encarava seu algoz, só lágrimas que brotavam sem que ele as pudesse conter por vontade própria. No íntimo, ele se perguntava, qual a razão daquilo tudo? O que tinha feito para despertar tanto ódio? Quem era esse sujeito que estava lhe tirando todo o amor próprio e sua hombridade? Sem encontrar as respostas, ele mantinha aquela carne em sua boca, enquanto encarava o tamanho daquele falo.
- Eu mandei chupar, veado! – grunhiu Ernesto, e uma sugada débil se fez sentir na mucosa sensível de sua glande.
Ernesto pincelava a jeba naquele rosto imberbe e suave, esbofeteava-o, metia o caralho naquela boca morna e macia, esbofeteava-a, dizia impropérios e sentia um prazer animalesco. Um prazer crescente, um prazer de uma natureza pouco ortodoxa, um prazer que o fez gozar e, um prazer em poder ordenar que Eduardo engolisse sua virilidade. Sentindo engulhos ele o fez, mesmo porque, as bordoadas ardendo como brasa em seu rosto não lhe dava opções.
Empoderado, Ernesto queria mais. Queria tudo aquilo que a vida não lhe dava. Queria ser o dono do mundo e, se isso não fosse possível, queria ser o dono daquele ser ajoelhado a seus pés. Queria poder determinar tudo o que aquele homem subjugado podia ou não fazer. Dando uma gravata em Eduardo ele deitou-se sobre seu corpo sem forças. Sentiu a pele lisa e morna da nádega exposta resvalando em sua pica. Sentiu aquele mesmo tesão voltando. Arriou a cueca de Eduardo e meteu sua rola insaciada e encapada no cuzinho rosado que se escondia na profundeza do rego espraiado. Consumiu sua presa num devaneio sem afobação, tão lenta e intensamente que a fazia ganir, implorar e se humilhar. Sua pica estava encravada num casulo apertado e rijo, não como nas carnes adiposas e flácidas da mulata que o serviu por algum tempo e, nem como nas da filha da amiga de sua mãe, que imediatamente lacearam quando ele a descabaçou. Ele podia sentir em toda sua plenitude um anel musculoso apertando sua rola como um elástico. Nunca a vida havia lhe dado tanto em tão pouco tempo, era preciso usufruir de cada um daqueles instantes, pois podiam jamais se repetir.
Eduardo lutou até o limite de suas forças, como se sua vida dependesse disso, mas reconheceu o momento no qual seu algoz vencera o embate. Esse momento se deu quando seu cu foi invadido por algo tão gigantesco e insólito quanto o caralhão de um homem. Em toda sua existência Eduardo nunca cogitara um acontecimento trágico como esse, por isso, capitulou como um náufrago que já não consegue lutar mais contra o destino e, sente seus pulmões se inundando de água que não permite mais que ele continue respirando. Contudo, surpreendentemente, ele continua sentindo o ar entrar em seus pulmões e a vida não se esvai como ele deseja, sendo obrigado a conviver com essa ignomínia. O macho o penetra e o dilacera, ele sente todo seu poder pulsando em suas entranhas, consumindo-o sem dó nem piedade. E, a razão disso tudo, continua um mistério. Quisera ele que a resposta entrasse em sua mente com a mesma clareza e fluidez do esperma que começava a deixar o ar impregnado de sexo.
Ernesto só percebeu que estava esporrando quando os ganidos do dentista se tornaram tão plangentes que o tiraram do devaneio, trazendo-o para a realidade do crime que havia cometido. Sem saber o que fazer, ele sacou a verga daquele cuzinho, ainda galando. Pôs-se de pé e olhou a sua volta, seu olhar testemunhou a cena de um crime. Sua pica leitando jatos espessos e cremosos dentro da camisinha lhe pareceram como um punhal ensanguentado e, era ele que o segurava em sua mão diante daquele corpo exangue. Desencapou-o e enfiou-o dentro da calça e se preparava para descer a escada e fugir dali, quando um último ímpeto de raiva o fez ameaçar.
- Se o que aconteceu aqui sair destas paredes, não conte mais com um único dia dessa sua vida, sua puta!
- Filho da puta, desgraçado! É você quem vai dizer adeus a sua vida de merda! – gemeu Eduardo, antes de sentir o peso de um coturno pisando sua bunda.
Ernesto seguiu para casa tomado de uma excitação incomum, pois ela não era prazerosa, mas, trazia aquela mesma sensação de alívio que se sente depois de ter segurado o mijo por um tempo muito além do suportável. Não havia nenhum arrependimento pelo desatino que acabara de cometer. Ao chegar em casa, na favela, não acendeu as luzes. Vagou pela penumbra das luzes que vinham do beco barulhento, onde se ouviam as vozes de mulheres comentando da vida alheia, de crianças disputando uma pelada e pondo para fora o vocabulário chulo que aprenderam em casa e, de homens exaltados jogando conversa fora ao redor da mesa de sinuca do boteco da esquina. Tudo era tão diferente daquela sala luxuosamente decorada, onde estivera horas atrás, imersa na luz difusa dos pontos luminosos dispostos de tal forma que valorizavam cada objeto iluminado, onde o ar recendia ao frescor de uma manhã invernal e, onde uma música distante tinha o poder de penetrar na alma. Seu estômago se revolvia, e ele se lembrou de que não tivera tempo de almoçar, ocupado com as demandas da portaria; mesmo assim, resolveu não comer, pressentindo que, o que quer que engolisse, naquele estado de ânimo, lhe faria mal. Despiu-se, e foi recostar o corpo cansado na cama onde tantas vezes fodeu a morena e, onde outras tantas, ela o rejeitou. Olhou para o cacetão que repousava de lado sobre uma de suas coxas. Levou a mão até ele e o manipulou na esperança de sentir novamente aquele anelzinho musculoso ao seu redor. Que sensação era essa que essa lembrança trazia de volta? Ódio, concluiu consigo mesmo. Mas, nem ele estava convencido disso. Melhor esquecer, pensou, tentando imbuir-se dessa conclusão. Teve uma noite péssima, acordava constantemente empapado de suor e culpa.
Eduardo também não conseguia conciliar o sono naquela noite depois do que viveu no consultório. Após a partida de seu verdugo, ficou procurando forças para levantar-se do chão frio. Levou um tempo até que conseguisse se manter de pé, apoiado na mobília e, dar um passo arrastado de cada vez, até chegar ao banheiro. Diante do espelho tocou no rosto desfigurado. Tudo lhe doía, não só o rosto, mas todo o corpo e até as entranhas. Enfiou-se sob a ducha e deixou a água tépida escorrer pela pele. Ela não conseguia levar consigo o enxovalho que se mantinha vívido em sua mente, apenas amenizava a carne dolorida. Ele seria incapaz de precisar quanto tempo ficou ali, recordando cada uma das ações da última hora, e se perguntava se ainda seria capaz de viver depois daquilo. Ele sentiu uma contração dolorida no baixo ventre e, abrindo ligeiramente as pernas, viu o piso claro do box sendo tingido pelo líquido gosmento e leitoso mesclado ao sangue que pingava do seu cu. A raiva dominou seu peito, mas foram os soluços que trouxeram a dor. Era madrugada quando deixou o consultório. Não foi preciso encarar o recepcionista noturno, pois ele cochilava recostado na cadeira com o queixo metido no peito, quando passou pela portaria rumo ao estacionamento. Ele dirigiu pelas ruas tão familiarmente conhecidas de seu trajeto, semidesertas, como se fosse um autômato, com uma única diferença, desta vez ele sentia medo daquela falta de movimento. Chegou em casa, onde ninguém estava acordado e, subiu direto para o seu quarto. Seu estomago também se revolvia com o conteúdo que carregava, por isso não quis comer nada. Achou que, a qualquer momento, aquele gosto almiscarado que aflorava em sua boca, de tempos em tempos, seria vomitado junto com aquele líquido espesso que fora obrigado a engolir. Mas, isso não aconteceu até ele desabar de cansaço, após notar que a aurora já se infiltrava pela janela.
Ernesto estava pontualmente em seu posto na manhã seguinte. Respondeu lacônico às perguntas que o Alysson lhe fez quanto ao movimento da recepção. No fundo, ele esperava que o síndico aparecesse a qualquer momento e o demitisse. Tinha jurado a si mesmo que, se isso acontecesse, daria com os punhos bem no meio das órbitas do sujeito. Eduardo não apareceu no consultório nos dois dias que se seguiram. O Alysson voltou a fazer piada com a ausência do dentista.
- Por onde andará aquele colírio de bunda que deixa minha jeba babando todas as manhãs ao passar por aqui? Você sabe de alguma coisa, Ernesto? – inquiriu ladino. Ele entendeu o grunhido do segurança como um não.
No terceiro dia, pouco antes do horário do almoço, quando já se preparava para deixar seu posto, Ernesto viu o síndico se aproximar com outros dois homens. Logo os identificou como sendo policiais. Ele havia aprendido, com os colegas da favela, a reconhecer um a quilômetros de distância. A adrenalina foi sendo injetada em suas veias com a mesma intensidade de um esguicho.
- Ernesto? – questionou um dos sujeitos que acompanhava o síndico, como se não soubesse que era ele, ou por mero costume.
- Pois não! – sua voz não lhe soou tão firme quanto queria.
- O senhor vai nos acompanhar até a delegacia. Eu sugiro que o faça com toda a tranquilidade para que não tenhamos uma cena em seu local de trabalho. – disse autoritário um dos sujeitos. Ernesto resolveu não afrontá-lo, mas estava jurando que o dentista haveria de arcar com as consequências disso. Especialmente com o comunicado do síndico que o despedira sem o menor constrangimento.
Já havia passado da hora do final de seu expediente quando finalmente foi levado a uma sala diante do delegado e de um sujeito muito bem apessoado trajando um terno escuro. É certamente um advogado que aquele merdinha contratou para me colocar atrás das grades, imaginou com seus botões. Ele estava certo, o advogado havia entrado com uma denúncia contra ele, acusando-o de tentativa de homicídio, agressão física e invasão de propriedade. Ele só não me acusou de ter fodido o cu dele, remoeu, enquanto expunha uma série de mentiras em sua defesa. Ele saiu pela porta da frente horas depois, surpreso por não ter sido detido. O advogado deixou a sala contrariado, levando um pedido de solicitação de corpo de delito.
Na mesma noite, Ernesto e uns capangas da favela que logo se prontificaram a ajuda-lo em sua vingança, fizeram vigília diante dos portões da mansão no Morumbi. Por volta das onze horas, os fachos azulados e frios do Land Rover que ele conhecia tão bem, iluminaram o portão que começou a se abrir. Ao volante estava Eduardo e, ao seu lado, a namorada. Foi pela porta dela que o primeiro capanga de Ernesto entrou acessando a trava pelo vidro parcialmente aberto. Antes que Eduardo pudesse esboçar uma reação, foi imobilizado por uma gravata vinda do banco traseiro. Ernesto arrancou-o do volante e o lançou para dentro de banco traseiro. O mesmo foi feito com a garota, que se agarrou a Eduardo em estado de choque. Ernesto dirigiu até o edifício, valeu-se de sua amizade com o porteiro da noite e levou o casal para o último andar.
- Você não ouviu meu conselho, não foi veadinho? Achou que era só mandar a polícia atrás de mim para se livrar de algo que o incomoda como se joga no lixo o que não tem mais serventia. É isso, sua puta? – berrou. A namorada do Eduardo parecia estar tendo uma síncope, olhava para um vazio diante de seus olhos e chorava copiosamente, agarrando-se ao namorado com tanta força que havia tirado sua camisa de dentro das calças.
- Por favor, não façam nada com ela! Deixem que vá embora, eu garanto que ela não vai denunciá-los. – afirmou Eduardo, procurando manter a lucidez para ver se encontrava alguma escapatória.
- Essa vaquinha não me interessa! O papo é contigo mesmo. A única coisa que eu quero dessa putinha, é que ela testemunhe o que vamos fazer com seu macho, depois duvido que ainda queira qualquer coisa contigo, seu veado de merda! – bradou Ernesto.
Os capangas eram três e, um deles, ao aceno da cabeça de Ernesto, arrancou a garota dos braços de Eduardo e a levou até uma das poltronas da sala de espera do consultório, obrigando-a a se calar com uma bofetada na boca.
- Fique bem atenta, cadela! Você vai assistir teu macho virando putinha. – assegurou Ernesto. A garota se desesperou e foi contida por outra bordoada.
Ernesto se postou a poucos centímetros do rosto de Eduardo, aquele mesmo calor que sentira dias antes voltou com força quando aquele rosto, ainda marcado por sua selvageria, o encarou desafiador. Ele abriu a camisa de Eduardo com um único golpe que fez os botões voarem pelo ar. O torso nu e arfando de medo e preocupação, não conseguia esconder sua beleza escultural. Ele apertou com toda a força os dois mamilos que se projetavam sensuais em sua direção. Eduardo tentou afastar as mãos do segurança, mas só conseguiu ver seus peitos sendo puxados e se transformando em tetas de menina moça. Imediatamente seu rosto foi atingido por um tapa ardido.
- Não se atreva a fazer qualquer movimento que eu não tenha ordenado. – rugiu enfurecido. – Tire as calças! – ordenou.
- Não! Vamos fazer um acordo! É dinheiro que você quer? Diga-me quanto, vamos resolver isso de outra maneira. – sentenciou Eduardo.
- Não quero seu dinheiro, seu filho da puta! Não pense que vai me comprar como compra tudo aquilo que quiser. Eu vou te foder, veado! Você vai ser minha putinha e, de quebra do restante da galera. – afirmou Ernesto, com um risinho sarcástico e debochado.
Como Eduardo se recusava a obedecê-lo, levou mais meia dúzia de bofetões no rosto e, teve suas roupas arrancadas por Ernesto e dois capangas. Puseram-no de joelhos e sacaram as picas das calças. Ernesto foi o primeiro a pincelar sua verga na cara dele, sob o olhar estupefato e incrédulo da garota.
- Chupa, bicha! Chupa como fez naquele dia! – ordenou. Com os lábios trêmulos e um frêmito se apossando de seu corpo, Eduardo cerrou os lábios ao redor da cabeçorra.
De olhos fechados para não ter que encarar o olhar atônito da namorada, foi sendo estapeado enquanto mamava na jeba. Vez ou outra sentia seu rosto sendo tocado pela rola dos capangas, que se masturbavam excitados com a cena. Viravam sua cabeça, agarrando-o pelos cabelos, enquanto se revezavam metendo os cacetões na boca macia do dentista. Eduardo teve engulhos e foi espancado enquanto o repreendiam pela reação fisiológica. Enquanto chupava as rolas, Eduardo sentia o cheiro de suor e urina impregnado nos pentelhos que roçavam seu rosto. Sentia-se um farrapo humano, o último dos seres, um resto de nada. Ernesto levantou Eduardo pelos braços, um capanga abriu seu rego apartando as nádegas com ambas as mãos. Ante a visão do cuzinho rosado um dos capangas grunhiu, dirigiu sua verga contra a portinha pregueada e meteu com força, invadindo as entranhas de Eduardo. Ele ganiu como uma cadela enquanto o vaivém em seu cu dilacerava sua mucosa anal. Ernesto enfiou-lhe a pica na boca, úmida e babando pré-gozo. Senhor daquele servo, fodeu-lhe a garganta, até deixa-lo sem folego. A garota não acreditava no que seus olhos a faziam enxergar, nunca tinha visto uma barbárie como aquela. Seu namorado gemendo, de quatro, com uma pica devastando seu cu. Aquilo era tão animalesco que procurava esconder o rosto entre as mãos, mas era impedida pelo capanga que a vigiava, pois queriam que ela assistisse a tudo, sem perder nenhum detalhe.
Ernesto obrigava Eduardo a encará-lo, enquanto o capanga o regaçava e, seu melzinho fluindo abundante, lambuzava os lábios de seu escravo. Urrando o capanga despejou sua gala no cu esfolado do Eduardo. Todos riram, quando a rola saiu pingando porra. Três espasmos travaram novamente o cuzinho de Eduardo, antes que o caralhão do outro capanga o estocasse com força, obrigando seus esfíncteres a se abrirem rasgados e ensanguentados.
- Agora é a minha vez, dessa bicha chupar meu cacete! – exclamou o capanga que vigiava a namorada de Eduardo, começando a tirar seu falo de dentro da calça.
Ernesto encarou-o com o mesmo olhar que o macho alfa da alcateia encara um macho em posição inferior, pois não estava disposto a ceder aquela boquinha aveludada que lhe sugava os fluidos da destemperança. Baixando a bola, o capanga se emparelhou ao que fodia Eduardo, procurando convencê-lo a ceder uma brecha naquela rosquinha. Tentaram uma penetração dupla, mas a posição de Eduardo não favorecia o acesso e, cada vez que um tentava meter seu cacete, tirava o do parceiro. Por isso, apenas um conseguiu despejar sua porra no casulo, enquanto o outro teve que se contentar com a visão de seus jatos de esperma se espalhando pelo flanco do dentista. Eduardo já nem sabia mais onde estava. Foram tantas as bordoadas que desistiu de senti-las. Seus glúteos estavam vermelhos, perfeitamente edemaciados com os tapas que desferiam em sua carne sedutora. Por alguns minutos, cessaram todas as agressões, os capangas, satisfeitos, procuravam se restabelecer da excitação que os dominou. Eduardo não se atreveu a sair de sua posição, de quatro e com as pernas ligeiramente abertas. Temia a mão de Ernesto, como nunca havia temido nada antes. Também não se atreveu a encará-lo, primeiro por que poderia ser entendido como um desafio, segundo por que sabia o que ia encontrar, uma cara resplandecendo de satisfação. Ernesto puxou-o pelos cabelos obrigando-o a levantar a cabeça.
- Quem é o macho aqui? – perguntou arrogante. Eduardo não sabia se deveria responder ou se calar. Outro bofetão no rosto deu-lhe a resposta.
- Você. – respondeu baixinho, engolindo ao mesmo tempo aquele nó em sua garganta.
- O que foi que você disse, veado?
- Você. – devolveu o dentista.
- E você quem é? – aquela tortura parecia não ter fim.
- Eduardo. – balbuciou tremendo.
- Resposta errada! – a palma da mão de Ernesto fez seus lábios se comprimirem contra os dentes. – Você é minha putinha! – Fala, veado! Eu sou seu escravo e sua puta. – berrou colérico.
- Eu sou seu escravo e sua puta. – repetiu gaguejando, ao mesmo tempo em que introjetava que isso estava se convertendo numa verdade.
Agora, deitado sobre a mesa da recepcionista, com os quadris pendurados junto a beirada da mesa, Eduardo viu suas pernas sendo lentamente apartadas pelas mãos poderosas de Ernesto que, na sequência, agarram sua mandíbula forçando-o a encarar o semblante pérfido que lhe penetrava lenta e progressivamente o cu ardendo em brasa. Não havia o que fazer, a não ser, engolir cada nó daqueles que pareciam estar travando sua garganta e, esperar pela gala que o tornasse a puta na qual fora forçado a se converter. Isso não demorou a acontecer.
- A partir de amanhã, minha putinha, ao passar por mim na portaria, você vai me cumprimentar com um sorriso de quem quer adular seu mestre, pois hoje mesmo você vai reverter minha demissão e tratar de retirar a queixa que fez contra mim na delegacia. – ordenou. – Sei onde você mora, posso te encontrar na hora que eu quiser. Sei quem é cada um da sua família e, se quiser continuar a conviver com eles, nunca mais pense em me desafiar, entendeu, veado? – ele havia tornado a apertar a mandíbula de Eduardo em sua mão. – E trate de fazer com que essa cadela não dê com a língua nos dentes. O seu futuro e o dela dependem disso, esteja certo!
Nem o advogado e nem o delegado conseguiram compreender o porquê de a queixa ser retirada. O síndico se viu contrariado por ter que voltar atrás em sua decisão. A namorada não respondeu as mensagens deixadas no Whatsapp, e Eduardo não sabia se ainda queria continuar vivo. Tudo que ele tinha certeza de não querer, era se submeter a um exame de corpo de delito no qual constatassem a violação de seu ânus e, levar outra surra de um Ernesto colérico, ou de ver alguém de sua família ameaçado pelo sadismo dele.
Alguns dias depois, Eduardo procurou retomar sua rotina. Fez o que lhe fora ordenado quando retornou ao consultório. Muito discretamente, mas procurando o olhar consentido do Ernesto, cumprimentou-o de cabeça baixa com um bom dia quase sussurrado e um esboço tênue de sorriso nos lábios ao passar por ele na portaria. Não obteve resposta.
- Tu é sortudo mesmo, hein meu brother? Eu me acabando de bater punheta por essa bunda e o cara dá sorrisinhos de bom dia para você. Vá ter sorte assim na casa do caralho! – sentenciou o Alysson, enciumado com o que acabara de presenciar.
- Qualquer dia você ainda vai pagar caro por essa boca que fala demais! – grunhiu Ernesto, sentindo-se dono daquele corpo escultural e perfumado cobiçado pelo alagoano sem eira nem beira.
Os meses seguintes trouxeram uma profunda mudança na vida de Eduardo. A namorada o deixou com uma alegação sem fundamento. As ameaças de ter sua vagina arregaçada por aquele conjunto de picas que Ernesto e seus capangas lhe exibiram acintosamente, se ela desse com a língua nos dentes quanto ao que presenciara no consultório do namorado foram suficientes para ela procurar uma relação menos violenta. Aquele Eduardo bem humorado e extrovertido que curtia seus esportes e viagens com os amigos tornou-se um homem solitário e pensativo. O simples fato de estar na presença de Ernesto provocava-lhe frêmitos, incialmente de puro medo, algo que ele nunca teve por nada, depois por saber que seu corpo seria usado para satisfazer as taras do segurança. Eles até começaram a conversar mais amiúde, mas Eduardo sempre se sentia como que pisando em ovos. Temia que qualquer palavra em falso pudesse gerar consequências imprevisíveis. A ligação que se formou entre os dois nesse período foi algo que Eduardo nunca soube definir e, muito menos, explicar. O que ele percebeu, foi que, de certa forma, ambos dependiam dela. Ele, por não se recordar de um dia ter um envolvimento tão verdadeiro com alguém, e Ernesto, por ter encontrado nele uma satisfação que jamais encontrara em outra pessoa.
As sessões sadomasoquistas, que geralmente se perpetuavam por umas três horas, em média, costumavam acontecer após Eduardo dispensar o último paciente e, tanto a recepcionista quanto a enfermeira do consultório terem ido para casa. Ele entrava num estado de ansiedade até ouvir o interfone tocar e a imagem do Ernesto diante da porta aparecer no monitor do seu escritório. Ele acionava a tecla para destrancar a porta e ficava esperando Ernesto chegar junto dele. Muitas vezes eles sequer trocavam uma única palavra antes de Ernesto agarrar sua mandíbula e tocar sua boca nos lábios trêmulos dele. Fitavam-se mutuamente em meio ao silêncio, até Ernesto começar a despi-lo num ritual demorado e sensual. Ele se habituara a começar pela camisa, que ia desabotoando vagarosamente e, afastando até expor os peitinhos de Eduardo que, por alguma razão, se enrijeciam e projetavam os biquinhos dos mamilos de forma concupiscente e alheia a sua vontade. Ernesto os prendia entre os dedos e os apertava até Eduardo gemer, depois os abocanhava e, cravando seus dentes deixava a pele ao redor coberta de marcas que no dia seguinte se converteriam em hematomas. Algumas vezes, quando o fetiche do Ernesto o levava dominar seu escravo na cadeira odontológica, ele pegava a correntinha com presilhas metálicas nas pontas e, que serviam para prender o babador ao pescoço dos pacientes e as prendia aos biquinhos de Eduardo, que gemia com a dor daquelas garras a comprimirem seus peitinhos. Satisfeito por marcar aquela pele saborosa, Ernesto partia com suas mãos pesadas rumo a bunda de Eduardo. Ele não saberia explicar por que sua respiração se interrompia, até sentir suas nádegas sendo amassadas num assanhamento lascivo. Uma vez nu, Eduardo se via obrigado a ajoelhar diante das grossas coxas de Ernesto, ligeiramente entreabertas, onde o contorno da rola dura já era perfeitamente visível por baixo da calça.
- Cheira seu macho! – ordenava, passando sua mão pelo rosto de Eduardo. A ordem era cumprida, e aquele cheiro almiscarado já não causava mais engulhos.
Ernesto tirava o cinto e derrubava Eduardo a seus pés, girava seu corpo para que a bunda ficasse para cima e pisava nela com o coturno, antes de fazer estalar o cinto sobre aquela pele lisinha e branca. Eduardo gemia cada vez que o cinto marcava sua pele. Quando as nádegas já estavam vermelhas devido às saraivadas, Ernesto acariciava demorada e voluptuosamente as manchas e, depois dava umas palmadas antes de apartar as nádegas e lamber o rego perfumado de Eduardo. Ernesto se despia como se estivesse fazendo um streaptise para Eduardo. Abria a braguilha, arriava a calça e fazia Eduardo lamber a mancha úmida que se formara em sua cueca. Completamente nu, Ernesto se deliciava com a expressão que se formava no rosto de Eduardo, era um misto de insegurança e, de uns tempos para cá, de veneração. Ele sabia que isso se devia ao seu dote avantajado, e o esfregava na cara de Eduardo antes de enfiá-lo em sua boca e fodê-lo até que este ficasse sem fôlego. Enquanto fodia aquela boca aveludada, ele estapeava o rosto de Eduardo, reforçando sua dominação. Ele sentia um prazer imenso naquilo. Ter um macho bonito e socialmente superior a ele a seus pés, levando tapas na cara, seu sexo potente na boca, cheirando sua virilha suada e lambendo seu pré-gozo sem ousar reclamar ou se impor, era algo que ele nunca havia experimentado. Mas, o passar do tempo e também a frequência com que ele abordava seu escravo, trouxeram um revés com o qual ele não contava. Ficava cada vez mais difícil resistir à tentação de meter sua jeba naquele cuzinho. O sangue lhe fervia nas veias e, creditando ao dentista a sedução da qual se via vítima, surrava-o, como se o punisse por algo que conscientemente não admitia, aquele tesão que o dominava quando via aquele corpo escultural.
- Veado desgraçado! Tu vai apanhar até parar com isso! – exclamava colérico, sem que Eduardo conseguisse atinar com o sentido daquelas palavras.
Ernesto começou a trazer para essas sessões um verdadeiro arsenal de objetos para subjugar seu escravo. Ele os descobrira, por acaso, quando, tomado de curiosidade, foi a uma sexshop recém-inaugurada em Paraisópolis. Entrou encabulado, depois de muito considerar, ante o olhar inquisidor da proprietária, à procura de um vibrador que fantasiava admirar funcionando dentro do cuzinho inexperiente do Eduardo.
- Só isso? – perguntou a dona da loja.
- Sim, apenas isso. – murmurou Ernesto, constrangido com a situação.
- Temos uma série de apetrechos para apimentar e aumentar o prazer da relação, posso lhe mostrar o que temos? Serei breve. – disse a mulher, sem se importar em segurar nas mãos enormes caralhões de borracha, dildos e colares tailandeses como se fossem meros objetos do cotidiano.
- Talvez outro dia. – respondeu Ernesto.
- Estamos à disposição. Se quiser algo em especial que não tenhamos na loja, posso providenciar. – revidou ela, entregando-lhe o vibrador embrulhado numa embalagem livre de qualquer suspeita.
Ernesto saiu da loja com a fronte porejando um suor frio. Jurou a si mesmo que Eduardo teria seu castigo por tê-lo feito passar por essa situação, mesmo não sabendo o porquê. Mas, na sessão que rolou no dia seguinte, ao meter aquele vibrador no cuzinho pregueado do Eduardo e apreciar como ele se contorcia em desolação, esquecera-se do juramento e apenas acariciou aquele rosto lindo que o encarava em suplício. A partir daí, suas visitas à loja se tornaram uma constante à procura de novidades. Toda vez que Ernesto aparecia com um embrulho nas mãos, Eduardo arregalava os olhos para ver o que ele extraia dele e, se preparava para o que estava por vir, sentindo-se uma cobaia de seu mestre.
Durante uma sessão, a quarta na mesma semana, com a qual Eduardo não contava para aquele dia e, para o qual já tinha um compromisso, ousou se rebelar contra os bofetões que recebia na cara, pois não queria estar marcado como uma res.
- Chega! Quero ir embora agora. – protestou, com as mãos atadas por uma corda e, cada um dos pés preso a uma tira de couro, à altura do tornozelo, nas quais estava engatada uma corrente, por onde Ernesto o erguia ao mesmo temo em que metia sua rola no cuzinho dele. Uma sonora bofetada ecoou pelo ambiente.
- O que foi que você disse, veadinho? Perdeu a noção do perigo? Quem é o mestre aqui? – rosnou Ernesto, intensificando as estocadas que dava no cu do escravo.
- Eu tenho um compromisso. Chega! Não posso aparecer lá nessas condições. – continuou Eduardo.
- Quem diz quando chega sou eu, sua putinha! Pede desculpas para o mestre! – ordenou, desferindo palmadas na cabeça e rosto de Eduardo.
- Ai! Está me machucando. – gritou, sentindo a dor das agressões.
- Não foi isso que eu mandei você falar! Quer apanhar mais? Você gosta de apanhar do seu macho, não é? Pede perdão, putinho! – ameaçou enfurecido.
- Por favor, me solta, mestre. Não estou aguentando mais. Perdão Ernesto! – retrucou Eduardo chorando.
- Veado chorão! – rosnou Ernesto, embora ouvir seu nome sendo pronunciado por aqueles lábios sempre o fizesse fraquejar ante suas convicções. Ele já havia proibido Eduardo de chama-lo pelo nome, pois não conseguia lidar com a repercussão que isso causava em seu peito. No entanto, desta vez ele cedeu, não apenas por conta de ouvir seu nome, mas também por aquelas lágrimas cintilantes que escorriam pela face avermelhada do Eduardo.
- Obrigado! – Eduardo já havia perdido a dignidade há muito. Estava agradecendo pelo fato de um sujeito parar de fodê-lo e, isso lhe doía mais do que o cu esfolado.
- Que compromisso é esse? – questionou Ernesto. Coisa que ele raramente fazia, pois temia que ao ficar sabendo mais intimamente da vida de seu escravo, fosse começar a sentir empatia por ele, ou pior, pudesse começar a nutrir algum sentimento mais comprometedor.
Eduardo explicou do que se tratava. Não era nada que fosse demorar mais do que uma hora ou pouco mais. Ernesto não quis que Eduardo pensasse que ele havia cedido por causa de seu pedido, por isso, disse que ele o acompanharia e que, depois do compromisso, Eduardo teria que acompanha-lo numa rodada de cerveja no boteco da favela.
- Não! Na favela não! Vamos a outro lugar. Tenho medo de entrar naquele lugar. – confessou Eduardo, temendo que Ernesto estivesse com outros planos.
- Quer voltar a apanhar novamente? Não vou deixa-lo ir a esse compromisso se não me obedecer. Depois, você estará comigo, ninguém lá vai mexer com você, eu garanto! – sentenciou Ernesto.
Eram dez horas quando a BMW, dirigida pelo Ernesto, entrou nos becos estreitos e atulhados sob o olhar curioso das pessoas que perambulavam pelas vielas, e parou diante de um boteco com mesas até do lado de fora e, onde sujeitos sem camisa bebiam e conversavam em voz alta. Repentinamente todos se calaram e fixaram seus olhares enxeridos nos dois homens que desceram dela. Um foi logo identificado e sorrisos se abriram para ele, o outro, desconhecido, foi encarado com desdém pelas roupas que trajava e examinado como se fosse um objeto caro.
- E aí, mano! Tudo na boa? – disse um dos sujeitos que se levantou e veio de encontro a Ernesto, cumprimentando-o.
- Beleza! Trouxe um amigo disposto a pagar uma rodada para toda a galera. – retrucou Ernesto, dominando a situação. As pessoas não paravam de encarar Eduardo, mas sabiam que ele não estava ali por vontade própria. Sua expressão era a confirmação disso.
- Qual é pessoal, não vão cumprimentar meu amigo aqui? – questionou Ernesto. Alguns sujeitos se dirigiram a Eduardo e o cumprimentaram.
- Beleza mano! – disse um deles, sem camisa, que Eduardo imediatamente reconheceu como um daqueles capangas que estiveram em seu consultório e em seu cu.
- Tudo bem? – a voz de Eduardo tremia tanto quanto seu corpo todo. Ele procurou o olhar de Ernesto como se estivesse perguntando – Você me trouxe aqui para que eles me fodam novamente? – havia pânico em seu semblante angustiado. Ernesto pareceu adivinhar seus pensamentos e aproximou-se dele.
- Senta aí e fica tranquilo, ninguém vai mexer com você. Paga uma rodada para a galera e nós vamos embora. – murmurou junto ao ouvido do Eduardo.
Uma cerveja gelada foi derramada no copo barato e emplastado que colocaram diante dele, sem formar colarinho e fazendo o copo transpirar. Eduardo quase não encostou a boca na borda do copo ao verter o primeiro gole daquele líquido dourado, amargo e xoxo, que escorreu goela abaixo como o fel de um remédio inevitável. O capanga que o estuprara no consultório alisava acintosamente a pica debaixo da bermuda, encarando Eduardo com um saudosismo sádico. Eduardo era incapaz de dizer sobre o que conversaram com ele, tal seu estado de torpor e alucinação. O sêmen formigante do Ernesto ainda estava presente em seu ânus, deixando-o inseguro e retraído. De quando em vez Ernesto disfarçadamente olhava para ele com um risinho sarcástico, curtindo a sensação de saber que sua porra estava todinha naquela bunda carnuda que a galera examinava com uma inveja enrustida. Quando Ernesto o chamou para irem embora, ele o seguiu como um cão receoso de se perder do dono. Seguiram rumo ao duplex no consultório, onde Ernesto se despiu e entrou na cama esperando que Eduardo o seguisse.
- Como são macios esses lençóis! – exclamou, ao jogar seu corpo pesado sobre o colchão que afundou sob seu peso e, deslizar as mãos pelos travesseiros.
- São de algodão egípcio! – devolveu Eduardo.
- Algodão o que? Que frescura é essa? – revidou Ernesto.
- O algodão do qual são feitos vem do Egito, é um algodão muito macio. – explicou Eduardo.
- Tu é um veado muito afrescalhado mesmo! – sentenciou Ernesto, embora a maciez dos lençóis em seu corpo lhe trouxesse uma excitação inexplicável. – Isso é uma veadagem sem tamanho. Para que precisa vir um algodão de tão longe?
- É macio, não é? – questionou Eduardo, hesitando em entrar na cama nu, mas sabendo que era isso que deveria fazer.
- Macio é onde vou enfiar isso aqui! – respondeu Ernesto, manipulando a jeba que já começava a empinar. – Pega o caralhão de borracha e vem cá! – emendou libidinoso, referindo-se ao dildo de 24 centímetros com vibração que comprara na sexshop.
Os dois passaram a noite juntos depois de mais uma sessão onde o sadismo e masoquismo se entrelaçaram como os fios de algodão urdidos para tecer os lençóis sobre os quais o desfrute ocorreu. Assim que Ernesto sacou sua pica esporrada do cuzinho do Eduardo, enfiou-lhe o dildo vibrando nas preguinhas rotas. Eduardo ganiu e acabou adormecendo com aquele tormento no rabo. Quando a energia das pilhas acabou, ele já estava no quinto sono, indiferente ao fato da resignação levar ao hábito. Na manhã seguinte, Ernesto assumiu seu posto descendo à portaria, já embalado no terno preto, pelo elevador que também trazia o dentista. Alysson, como de costume, secou a bunda do Eduardo até ele entrar na BMW e partir; não sem antes se perguntar o que o dentista fazia ali muito antes de seu horário habitual e, deixando o edifício, ao invés de estar chegando. O alagoano era burro para muitas coisas, mas não parvo para todas.
- Cabelinho molhado, cheiro de loção de barba, terno nos trinques, tu tá comendo aquela bunda gostosa da porra, não tá cumpadi? – ironizou, após algumas pessoas terem passado por eles e estarem distantes o suficiente para não ouvir o comentário.
- Você sabe que o peixe morre pela boca, não sabe? Então fica na sua, meu camarada. – grunhiu Ernesto, enquanto encarava o Alysson a centímetros de sua cara enfurecida, agarrado pela camisa. O alagoano tremia feito um junco ao vento e, por pouco, não deixava escapar o conteúdo de sua bexiga cheia por entre as pernas, tamanho foi o susto que teve com a reação do segurança.
- Bricadeirinha, mano! Qual é, somos Brothers! – exclamou gaguejando. Ernesto o soltou e voltou para junto da porta, os dois não se falaram mais naquele dia.
Ernesto nunca simpatizou com o alagoano, mesmo não tendo um motivo. Quando via o porteiro manuseando a pica toda vez que Eduardo passava pela recepção aquilo o incomodava, como se o sujeito não se tocasse que aquilo era muita terra para o seu caminhãozinho. Incomodava-o, particularmente, o fato de o porteiro nutrir o mesmo interesse que ele por aquelas coxas torneadas e a bunda arrebitada. Ele sabia que não estava à altura de sonhar com elas, tanto quanto o alagoano, mas depois que se apossara delas com vilania, não admitia nem um tipo de concorrência.
Eduardo deixara de procurar seus antigos amigos e parceiros. Temia que vissem seu corpo marcado por mordidas, hematomas e toda sorte de carimbos que atestavam as agressões que sofria. Sentia-se só, atormentado por aquele segredo que jamais ousaria partilhar com quem quer que fosse. Assim, mesmo tendo passado por uma daquelas sessões de sexo bizarro, ele algumas vezes convidava Ernesto para acompanha-lo numa pizza ou num jantar. Ele logo percebeu que Ernesto de deliciava com esses convites e, algumas vezes chegava a barganhar para que as torturas fossem mais brandas.
- Você não disse que iríamos para a mesma pizzaria da semana passada? Eu gostei de lá. Por que está entrando nesse shopping? Vou logo avisando, não tenho paciência para acompanhar veado fazendo compras! – resmungou, enquanto Eduardo procurava uma vaga no estacionamento lotado.
- Vamos sim, não seja tão ranzinza! É rapidinho. – garantiu.
- Olha como fala comigo! Quer levar um tapa aqui mesmo, putinha? – devolveu Ernesto.
- Vou comprar umas roupas para você, assim você se sente mais a vontade quando saímos para comer alguma coisa. – afirmou Eduardo, enquanto desciam da escada rolante bem diante de uma loja de vestuário masculino.
- Não quero seu dinheiro! Você vai entender isso de uma vez por todas ou vai precisar apanhar para aprender? – protestou Ernesto, querendo dar meia volta e se dirigir até o estacionamento.
- É um presente! Se quiser me bater depois, faça-o! Eu achei que você poderia gostar. Não quero provoca-lo!
Ernesto não estava gostando nem um pouco do rumo que as coisas estavam tomando. Ele se sentia inseguro quando perdia o controle da situação e, isso vinha ocorrendo com mais frequência ultimamente. Ora ele cedia àqueles olhares marejados, ora se deixava levar pelo cuzinho agasalhando sua pica, e agora isso.
- Você quer dar um presente para o cara que fode seu rabo e te dá umas porradas? Tu é veado mesmo! Que tipo de macho aceita uma coisas dessas? – questionou petulante.
- Você se esqueceu de que eu não aceitei isso de livre e espontânea vontade? E, essa nem é a questão. Você vem ou vai ficar aí plantado fazendo birra? – revidou Eduardo.
Ernesto cedeu mais uma vez. Achou que Eduardo lhe compraria uma camisa, talvez uma calça, e tudo estaria resolvido. Mas, não foi o que aconteceu. O vendedor que se aproximou de Eduardo provavelmente já o conhecia, pois o cumprimentou com um sorriso amistoso e um - que prazer tê-lo aqui mais uma vez, em que posso ajuda-lo?
- Você gosta dessa aqui? Acho que ficaria bem em você. – perguntou Eduardo, tirando uma camisa da prateleira e exibindo-a a Ernesto.
- O que você está pretendendo com isso? – rosnou, constrangido pelo olhar do vendedor. Eduardo ignorou sua pergunta.
- Experimente esta e mais essas aqui. O provador fica naquela direção. – apontou Eduardo, colocando as camisas nas mãos de Ernesto.
Quando estava provando a segunda camisa Eduardo abriu o provador e elogiou o que viu, estava com algumas calças penduradas no braço e as colocou num suporte dentro do provador.
- Depois prove as calças! – disse inocente, antes de ser agarrado pelo braço e encurralado contra a parede dentro do provador.
- Está me dando ordens? – rosnou Ernesto, torcendo o braço do Eduardo atrás de suas costas.
- Não foi isso que eu quis dizer! Aqui não, por favor. Aqui não. – balbuciou Eduardo, inseguro, temendo apanhar dentro da loja. O vendedor se aproximou perguntando se as peças serviram e Ernesto o soltou.
Enquanto Ernesto provava as calças, Eduardo perambulou pela loja garimpando acessórios, camisetas, polos, jeans e tudo que ele próprio usaria. Mandou que o vendedor as colocasse em sacolas antes que Ernesto voltasse. Ele o viu acenando do provador e foi até lá.
- E então, serviram? – perguntou ao abrir o provador e encontrar Ernesto vestindo uma das calças.
- Entra e fecha a porta!
- Para que?
- Entra e fecha a porta, caralho! – Eduardo não queria uma cena dentro da loja e obedeceu. – Desce a calça! – ordenou, a fúria se dissipara e um sorriso ladino se formou em seu semblante. Quando Eduardo deslizou a calça pelas coxas grossas e peludas, o cacetão saltou para fora, Ernesto estava sem a cueca. – Chupa minha pica! – disse, segurando a cabeça de Eduardo entre as mãos e a enfiando na sua virilha pentelhuda. A quarta estocada que chegou até sua garganta, despejou os jatos de porra leitosa em sua boca e Eduardo engoliu um por um, servil e depravadamente.
- Vamos levar tudo. – disse Eduardo ao vendedor que os aguardava perto do balcão e, que abriu um sorriso de orelha a orelha, vendo garantida sua comissão da semana.
- Levo quatro meses juntando todo meu salário para comprar essas coisas. Você me trouxe aqui para me humilhar, foi isso? – questionou Ernesto quando se dirigiam ao estacionamento.
- É óbvio que não! Isso nunca me passou pela cabeça. Eu jamais faria uma coisas dessas! – protestou Eduardo. – Eu nunca dei motivos para você fazer esse tipo de julgamento a meu respeito. Que mal eu te fiz para você agir dessa maneira comigo? Eu não entendo! Juro que não entendo! – questionou Eduardo
- Deixa que agora eu dirijo! – devolveu Ernesto, sem responder a nenhuma das perguntas que lhe foram feitas.
- Ainda vamos comer a pizza, ou você desistiu? – perguntou Eduardo depois de um silêncio prolongado quando já haviam ganhado as ruas.
- Vamos. – mais um silêncio que só o sistema de som do carro quebrava tocando a Rapsódia sobre um tema de Paganini de Rachmaninoff, fazendo cada acorde das teclas do piano ecoar no peito de Ernesto numa cadência paralela aos batimentos de seu coração. – Obrigado! – custou muito a ele pronunciar aquela palavra. Estava agradecendo ao veado que o ignorara durante meses, pondo em xeque a determinação assumida de só desprezá-lo e fodê-lo.
Desde que a mulata o deixou, não faltavam candidatas a preencher a casa de Ernesto. Elas surgiam de becos da favela onde ele nunca havia pisado, ou eram parentes dos caras com quem ele passava umas horas no boteco aos finais de semana, ou ainda, vizinhas solidárias que vinham trazer-lhe um pedaço de bolo ou qualquer quitute que haviam preparado para terem um subterfúgio para se aproximarem dele. Havia ainda aquelas adolescentes assanhadas, cujos hormônios já haviam moldado seus corpos de mulher com tetas gordas que se derramavam de blusinhas propositalmente justas. Todas elas atraídas pelo porte másculo e aquele volume indiscreto que ele carregava entre as pernas. Como os capangas viviam cobrando dele a substituição da mulata, ele se via obrigado a meter a rola numa buceta de vez em quando, para manter as aparências. Isso só veio a aumentar o encarniçamento da mulherada.
Há muito que Ernesto não usava mais camisinha quando penetrava o cuzinho do Eduardo. Na segunda ou terceira vez que metera nele, seu tesão descontrolado por aquele orifício apertado o fez arrancar a camisinha em plena meteção e, voltar a enfiar a estrovenga desencapada na maciez daquele ninho. Seu gozo foi farto e prazeroso. Nunca mais encapou a benga. A insurgência de Eduardo frente a esse novo abuso acabou lhe rendendo algumas bordoadas na cara, enquanto seus pulsos amarrados atrás das costas o impediam de se defender da investida. Eduardo gemeu e pediu para que Ernesto fosse embora, deixando-o em paz. Foi então que conheceu mais uma vez a capacidade que Ernesto tinha de se enfurecer.
- Você vai ficar quietinho ou quer apanhar mais? Vai ficar parado e deixar eu comer seu cu? – berrou, uma vez que seu cacete não se mantinha dentro do Eduardo que se contorcia tentando se esquivar da pica, entre uma bofetada e outra. – Responde, veado! Vai abrir as pernas e deixar eu comer seu cu?
- Está doendo! Me solta não quero que você meta isso em mim. – gemeu agoniado.
- Tu vai levar pica no cu até aprender a se comportar, seu puto!
Eduardo tentou dissuadir Ernesto de fodê-lo sem proteção mais algumas vezes, o resultado foi praticamente o mesmo. Rendeu-se ao inevitável torcendo para não acabar infectado por alguma doença venérea. Por quase dois anos suas preces pareciam estar sendo ouvidas por seu anjo protetor, mas durante um autoexame em seu cuzinho, Eduardo notou algumas verrugas entre as pregas anais. Desesperou-se com a suspeita que imediatamente se implantou em sua mente. Era preciso procurar um proctologista e confirmar o diagnóstico. Suas mãos frias estavam suadas quando ele aguardava na sala de espera do médico. A recepcionista ofereceu-lhe água, café, mas ele sabia que nada iria descer por sua garganta naquele estado de aflição em que se encontrava. Encarar o especialista foi constrangedor. Em nenhum momento Eduardo mencionou que estava sendo enrabado por outro homem. Não era necessário, o médico chegaria a essa conclusão por si só. Era um senhor de meia idade, já devia ter passado por essa situação inúmeras vezes e, discreto, não esmiuçou o interrogatório. Levou-o até a sala contígua e pediu que tirasse as calças. Completamente nu da cintura para baixo, Eduardo atendeu à solicitação de deitar-se sobre a maca forrada. Se ao médico ainda restavam dúvidas, a anatomia daquelas nádegas sanou a questão. Eduardo mal conseguia respirar, sentia seu orgulho ferido e vilipendiado, enquanto o médico lhe enfiava um espéculo no cu e distendia suas pregas. Era mais um macho a manipular aquela estrutura que ele jamais imaginou ficar tão disponível a estranhos.
- Essas verrugas são o sinal prodrômico de uma infecção pelo papiloma vírus humano, o HPV. – sentenciou o especialista, confirmando as suspeitas do Eduardo. – Você sabe do que se trata, não é?
- Sei. – a voz quase não lhe saiu da garganta e ele teve vontade chorar.
- Teremos que agendar a cirurgia para fazer uma cauterização, pois algumas estão localizadas mais profundamente e será preciso sedá-lo para a realização do procedimento. – declarou o médico.
Eduardo saiu do consultório do proctologista arrasado. Ele já antevia todos os pormenores e as consequências que estavam por vir, uma internação, mais pessoas sabendo do drama pelo qual ele estava passando, mais pessoas tendo acesso ao seu cuzinho, o receio de desenvolver um câncer anal, a ignomínia na qual sua vida estava se transformando. E, tudo por quê? Que sina era essa que se abatera sobre ele? O mais irônico é que não encontrava respostas, por mais que tentasse.
- Vou precisar cauterizar umas verrugas no meu cu na próxima semana. Você me infectou enfiando esse troço enorme em mim. Eu tanto implorei para que não o fizesse sem proteção. Eu estou perdido. Perdido, entende! – o nó que se formara em sua garganta aflorou num choro contido. Pela primeira vez Ernesto não encontrava palavras para retrucar.
- Eu não tenho nenhuma dessas doenças sexuais. Posso atestar que estou bem. Você andou dando o cu para mais alguém? – insinuou.
- Seu cretino, filho da puta! Eu nunca dei o cu. Foram você e aqueles seus capangas que meteram as picas nele, a despeito de minha vontade. – era a primeira vez que Eduardo reagia com tanta veemência.
- Eu te arregaço, veado, se voltar a falar assim comigo! – bradou Ernesto, chegando sua mão ao redor da garganta do Eduardo.
- Faça o que quiser! Mate-me de uma vez! Eu já não me importo com mais nada! – revidou Eduardo, sufocado. Ernesto soltou-o no mesmo instante, transtornado por não saber como agir.
Eduardo se submeteu ao procedimento ocultando o fato inclusive de sua família. Inventou uma desculpa qualquer para justificar o dia em que ficou internado e, outras tantas por não ir ao consultório por toda uma semana. Programou uma viagem até a casa de praia por outra semana, onde, solitário, caminhava ao longo da areia e do final das ondas, que iam lamber a pequena enseada, ao raiar do sol e nos finais de tarde quando uma brisa fria o obrigava a agasalhar-se. Nem esses dias de calmaria serviram para tirar de seu peito aquela angustia ou encontrar uma solução para sua vida.
Ernesto inquietou-se quando, na segunda semana, a secretária do Eduardo disse que ele não viria ao consultório e que estava se recuperando de uma gripe severa, pois sabia que aquilo não era verdade. Teria havido alguma complicação com o procedimento? Teria ele fugido apesar das ameaças que tinha feito contra ele e sua família? Foram apenas palavras para intimidá-lo e fazer com que o deixasse comer seu cuzinho, ele não era um criminoso, argumentava consigo mesmo. E, se fosse ter com ele em sua casa? Poderia inventar um pretexto qualquer para que o deixassem ver Eduardo. Não, não seria prudente, a polícia já estivera envolvida uma vez, era melhor não chamar a atenção sobre si. Sua irritabilidade era visível.
- Que perrengue todo é esse, homem? Que bicho que te mordeu? Vai me dizer que você e o doutorzinho não estão mais, bem, você sabe o que. – arriscou o Alysson, notando a mudança de temperamento do segurança.
- Olha aqui cara, eu já cansei de te avisar para não se meter onde não é chamado! Ou você cala essa sua merda de boca ou eu mesmo faço isso. – devolveu Ernesto, debruçando-se de um só lance sobre o balcão da recepção e desferindo um soco na cara do alagoano, que foi se estatelar contra a parede antes de cair sentado no chão. As pessoas que circulavam pela entrada do edifício intervieram antes que Ernesto o espancasse mais.
O síndico já não suportava mais lidar com os problemas da portaria. Estava decidido a esperar a virada do mês para despedir a ambos.
Quando Eduardo voltou ao consultório na terceira semana, Ernesto respirou aliviado. Não fosse seu jeito sisudo e comedido, daria para perceber o contentamento que a volta do Eduardo lhe causou. Falaram-se pouco no final daquela tarde quando, como de costume, Ernesto foi ter com ele no consultório.
- Você está bem? – perguntou tímido.
- Na medida do possível. Mas, se não for pedir demais, eu gostaria que você não me agredisse e nem me fodesse hoje. – retorquiu Eduardo.
- Você me toma por um ser abjeto, não é? Eu vim mesmo só para saber se você estava bem. Como foi a cirurgia? Você está recuperado? – não havia empáfia em sua voz que, pela primeira vez nada tinha de autoritária.
- Até hoje tento te entender. Tento saber quais as razões para você ser assim comigo. E, foi tudo bem sim, já me recuperei, do ponto de vista físico pelo menos. – respondeu.
- Talvez você não acredite, mas fico feliz de saber que você está bem.
- Vou tentar acreditar nisso.
Três dias depois, após as duas funcionárias do Eduardo chegarem para o trabalho, pela manhã, passaram tagarelando pela portaria com aqueles assuntos que só as mulheres conseguem estender por horas a fio, cumprimentaram o Alysson e o Ernesto antes de as portas do elevador se fecharem. Mas, minutos depois, ambas retornaram gritando como duas ensandecidas, que o doutor estava morto na sala de espera. Ambas não quiseram subir e deixaram que o Alysson e o Ernesto fossem averiguar. Assim que Ernesto cruzou o umbral da porta de entrada, viu o corpo nu e sem vida do Eduardo pendurado pelo pescoço a uma corda atada ao gradil do guarda-corpo da escada que levava ao duplex. Seus passos pareciam não querer leva-lo para junto dele na mesma velocidade que sua mente. Antes de tocá-lo, seu olhar se fixou na beleza que nem a morte conseguiu tirar daquele corpo. A pele agora tinha um tom marmóreo e pálido, estava fria como o gelo, as pontas daqueles dedos longos e finos tinham uma cor azul violácea, assim como os artelhos dos pés. A boca estava ligeiramente aberta, mas aqueles lábios rosados e úmidos deram lugar a um contorno disforme e arroxeado. Ernesto abraçou-se ao tronco enrijecido e frio e desatou o nó junto ao guarda-corpo. Todo o peso do corpo caiu-lhe nos braços e, ele o levou até o sofá de couro que estalou quando depositou Eduardo serenamente sobre ele.
- Você não devia ter feito isso! A polícia não vai gostar nenhum pouco do que você fez. Não se deve mexer no corpo. – preveniu o Alysson que, em estado de choque, mal conseguia se mover do lugar.
Ernesto ignorou-o. Tudo em que se concentrava agora era naquele rosto, por onde seus dedos deslizavam delicadamente, acariciando seu contorno. Tantas vezes ele o esbofeteara para extravasar sua raiva, no entanto, ele sempre o encarava com aquela mesma placidez de agora. Ernesto beijou a boca fria que, outrora úmida e macia, incendiava seu tesão chupando sua rola ou beijando-o enquanto gania com a pica no cu. Ao mesmo tempo em que sentia a imobilidade daqueles lábios, notou que por suas faces desciam lágrimas de dor e arrependimento. Quando os soluços começaram a sacudir seu peito, Ernesto abraçou o corpo do Eduardo com força e cólera. Ele havia se tornado um assassino, soube disso naquele exato momento. Quando o furgão da morgue veio retirar o corpo, Ernesto teve ímpetos de segui-lo, não conseguia imaginar que nunca mais o teria só para si. Naquele instante ele compreendeu que havia se tomado de amores por seu escravo sexual e, que viveria cada um dos seus dias tentando preencher aquele vazio que se instalara dentro de seu peito. A partir dali, passou a ter noites nas quais acordava empapado de suor, sentindo dor na pica que estava invariavelmente dura como uma barra de ferro e clamando pelo cuzinho acolhedor do Eduardo. Ao constar que se tratava de um pesadelo, ficava a sentir o peito oco e sem perspectivas. Tornou-se um errante após a perda o emprego. Às vezes ficava semanas sem enfiar a cara para fora do barraco na favela. Vivia de bicos, ora honestos ora nem tanto, que os capangas lhe chamavam para participar. Sua única certeza quanto ao futuro residia no fato de saber que ao dar seu último suspiro, o rosto do Eduardo estaria diante dele, gemendo e deixando que ele se deleitasse em seu cuzinho apertado.