Após a surpresa e os primeiros carinho nos soltamos. Luciano me fitava, ele sorria descaradamente o deixando muito sexy e com ar de cafajeste. Nossos lábios vermelhos estavam inchados dos beijos urgentes e cheios de desejo, depois de dois meses a saudade era em fim quebrada. Nossas mãos entrelaçadas, a outra e seu rosto, um toque sutil em sua barba, o contato de meus dedos em seu rosto quente, o calor do seu corpo mesmo no frio de quase 0° C que fazia na noite piemontesa, meu corpo necessitava do dele, não era só saudade emocional, era carnal e o mesmo ele sentia. Luciano me olhava com luxúria, sua mão passeava pelo meu rosto, sem pudor, sem receio, não nos importávamos com a troca de carinhos, estávamos no nosso mundo particular.
- Ainda não caiu a ficha que você está aqui em Turim Luciano - olhava embasbacado.
- Pois acredite, eu estou aqui e acho que consegui uma entrada triunfal - odiava quando ele queria ser convencido.
- Quanta presunção - revirei os olhos.
- Eu estava com muita saudade de você Fabrício, senti muito sua falta - O Luciano carente e emotivo, o real era mais charmoso.
- Eu também grandão... - Ele tremeu e se aproximou de novo.
- Como é bom sentir seu toque, seu cheiro Fabrício - ele me encarava - eu contei as horas dentro da porra daquele avião para poder te ver - ele acariciou meu rosto de novo.
- Eu não contei as horas dentro de um avião, mas não via a hora de te ver também, meu querido "amigo" - ele riu.
- Somente seu amigo - Ele sussurrou em meu ouvido.
- Bobo... - lambi seu lóbulo esquerdo, ele tremeu.
Luciano estava diferente, ou era eu, nosso contato estava mais intimo do que nunca, seu olhar sobre mim, a sua presença e o que eu causava a ele com a minha estava mais forte. Eu amava um homem grande e carinhoso, mas amava mais ainda um homem grande carinhoso com cara de mal, e Luciano era o meu ogro, eu não era santo, não gostava dos certinhos e ecologicamente corretos, os puritanos ficavam para quem curtia.
- Um amigo não faz o que eu faço - ele sussurrou no meu ouvido.
- Eu sei que não - mordi seu lábio fazendo ele tremer
Pablo nos observava calado, não sorria, ele estava um pouco afastado e visivelmente sem graça, pois eu e Luciano nos amassamos em praça pública enquanto algumas pessoas passavam, mas não nos importamos com os outros e muitos menos com o que poderia acontecer, afinal eu estava na Itália, primeiro mundo, Europa e não no Brasil onde se fizéssemos isso seriámos presos por atentado ao pudor ou até ofendidos ou agredidos, tudo era diferente e antes de alguém mexer com a gente tinha que saber a merda que estaria fazendo, pois junto de mim havia um mastodonte de 1,90m e 120 kg que apesar de ficar lindo bravo ficava com raiva fácil, mas a julgar pela seu porte e característica ele passaria por um nativo tranquilamente, então para quem visse de fora era apenas um italiano beijando seu parceiro.
Olhamos ao redor um pouco envergonhados. Poucas pessoas deram atenção ao nosso carinho de amigos, as outras continuaram fazendo o que estavam fazendo.
- Pablo - chamei ele com um sorriso - vem aqui, não precisa ficar constrangido, quero te apresentar a um amigo do Brasil - Luciano bufou, eu sabia que ele queria que eu o tratasse como meu namorado, mas eu não estava preparado para isso, pelo menos não naquele momento.
Pablo parecia um pouco envergonhado, como se tivesse segurando vela ou estivesse atrapalhando um momento a dois, mas ao sorrir para ele tentei passar confiança a ele.
- Você beija seus amigos e os agarra no meio da rua Fabrício? - Pablo perguntou tentando quebrar o gelo, eu tive que gargalhar.
- Ele faz isso com os outros amigos dele? - Perguntou Luciano dando a entender que estava com raiva.
- Não! - Dei um tapa em seu ombro - até parece que você não me conhece - ele me fitou por um momento - só faço com um, mas ele é especial - pisquei para ele que entrou na brincadeira.
- Posso saber quem é? - Perguntou fingindo curiosidade.
- Pode sim - me aproximei dele - é um ogro marrento com cara de mal, acho até que já foi preso - fitei ele que ouvia com um meio sorriso - é carente, grande e carinhoso, mas fazer o que, eu gosto de um homem assim - Ele se aproximou e me puxou pela cintura.
- Você gosta de um homem mal? - Ele me encarou.
- Gosto - mordi o lábio.
- Eu posso mostrar como castigo um rapaz desobediente - ele esfregou sua barba em meu rosto e tocou seus lábios em minha orelha direita.
Luciano me agarrou de novo, logo senti seus braços me apertarem para junto dele, eu queria é que ele me pegasse de jeito, mas não podíamos, estávamos na rua.
- Uhhumm... - Pablo pigarreou.
- Desculpa - essa foi a deixa para apresentações, desfiz o abraço e me ajeitei, era a hora das apresentações - Luciano, esse é Pablo D'Avola - Pablo estendeu a mão a Luciano.
- Como vai? - Ele sorriu.
- Oi...tudo bem? - Luciano o observou, ele era um tanto quanto intimidador nas apresentações.
- Luciano Cazarotto, - Luciano retribuiu cordialmente, meu ogro estava aprendendo boas maneiras, mas pude notar um certo receio por parte de Pablo.
- Vou bem, obrigado por perguntar - ele corou, Pablo com certeza não estava acostumado como homens como o Luciano sendo gentis com ele.
- Esse sotaque não é nativo daqui me arrisco a dizer que você não é europeu, pelo menos não - Pablo ficou surpreso com essa observação.
- Nossa! - Ele se surpreendeu - como é que você sabe? - Perguntou curioso.
- Seu sotaque é carregado demais, você é descendente, mas não é italiano, isso tenho certeza, no máximo diria que é mexicano ou então num palpite muito alto diria que é do chile - Ele observava Pablo.
- Você acertou - ele riu - não da parte que sou do Chile, mas realmente não sou europeu, eu sou da Argentina, Buenos Aires - ele estava com ares nostálgico.
- Buenos aires! - Exclamou Luciano animado - é uma bela cidade, eu e Fabrício já a visitamos duas vezes, lembra Fabrício? - Luciano me fitou e mordeu os lábios.
- Sim - meu pensamento foi longe - eu me lembro que na nossa primeira vez eu tive que te levar embora de tão bêbado que você ficou naquele bar esportivo no Recoleta - ele bufou de raiva, sabia que ele estava sem saco. Luciano sorriu para Pablo.
- Já falamos sobre isso, eu nunca tinha bebido cerveja uruguaia... - ele cruzou os braços parecendo uma criança emburrada.
- Vocês são engraçados - Pablo deixou escapar.
- Porquê somos engraçados? - Perguntei.
- Por quê vocês realmente parecem um casal, um bonito casal, mas com a intimidade de amigos de longa data - ele corou.
- Então quer dizer que você é um Hermano portenho? - Luciano estava zombando com a cara de Pablo.
- Com muito orgulho - ele tentou se recompor - como eu ia dizendo quando vocês começaram uma quase D. R na minha frente, eu também tenho cidadania italiana, meu avô paterno era de Lucca e minha avó de Roma - Luciano ouvia abismado.
- Um argentino de sangue quente, isso existe? - Luciano riu, eu e Pablo nos entreolhamos pois sabíamos que Pablo não era assim.
- Existe, mas eu não sou um desses - seu olhar caiu, Luciano percebeu que deixou ele de algum jeito sem graça e para não deixar a situação pior mudei de assunto.
- Luciano, você chegou a pouco ou já estava aqui? - Ele me olhou e sorriu.
- Cheguei há duas horas, o voo atrasou em Bruxelas por causa do tráfego aéreo - ele explicou.
- Está em qual hotel? - Perguntei, ele então sorriu e se aproximou.
- No hotel: "Seu quarto hoje a noite, eu e você" - ele sorriu quando o encarei surpreso.
- Como assim? Você vai ficar na casa com a gente?! - Pablo me olhou como se me chamasse de safado, eu olhei para ele e ruborizei, olhei para Luciano e ele piscou para mim.
- Claro e vou fazer mais do que dormir com você no quarto - ele me abraçou por trás e roçou sua barba na minha nuca - eu quero que aquelas paredes caiam de tanta luxúria que nós vamos fazer - Agora eu não sabia onde enfiar a cara.
- Luciano não me faz passar vergonha... - Apertei seu braço.
- Eu nunca te fiz passar vergonha - ele me olhou como se tivesse ofendido.
- Vocês são engraçados juntos - Pablo sorriu - será que um dia vou achar alguém assim também? - Pablo estava muito carente, Luciano me olhou sem graça, eu apenas me aproximei de Pablo e alisei seu ombro.
- Pablo, você vai encontrar alguém - ele suspirou - o que importa é o que você é por dentro e não por fora - ele franziu a testa.
- Explica isso para quem me vê assim - Luciano então entrou na conversa.
- Seremos julgados pelos nossos atos e não pelo que somos - eu e Pablo olhamos para ele.
- Luciano... - fiquei espantado com o que ele disse.
- Deixa eu falar Fabrício - ele me interrompeu e se aproximou mais ainda de Pablo, era engraçado ver um Luciano sério, ou alguém que somente diria belas palavras, esse não era o feitio dele - nunca deixe de ser quem você é por causa de uns e outros ou por medo ou opressão - senti um certo pesar em sua voz, só não sabia qual sentimento ou lembrança causou isso.
- Nossa - Pablo parecia afetado pelas palavras - eu nunca imaginei que um cara assim como você pensaria assim dessa maneira - Pablo franziu a testa.
- Isso é ignorância sabia - Luciano riu com meu comentário - ele é grande, mas é inteligente, eu consegui deixar ele sociável - então fitei Luciano que me olhava de um jeito, mas não desviamos do foco da conversa.
- Por causa de ódio e por causa de um psicopata doente perdi uma das pessoas que eu amava muito, além de ter quase perdido outra pessoa por causa de medo - ele olhou para mim, seu olhar era de uma intensidade que eu nunca vi.
- Pablo, lembra que te contei do meu melhor amigo, que ele foi morto por um doente religioso? - ele me olhou como se tivesse entendido, eu assenti.
- Sinto muito Luciano... - ele ficou sem graça, visivelmente triste - não devia ter falado isso a você - Luciano logo tratou de se recompor - você matou o cara mesmo? - Ele ficou um pouco apreensivo.
- Matei - Luciano respondeu com um pouco de receio.
- Pablo, é complicado falar disso - Ele me olhou sem graça.
- Desculpa, não quis ser evasivo - disse ele.
- Tudo bem, eu não me arrependo, salvei muitas vidas naquele dia - assenti, Pablo olhou para ele com certo medo e admiração e depois olhou para mim - meu irmão era uma pessoa maravilhosa e iluminada que não pode viver por que seu jeito incomodava os outros - olhei para Luciano e segurei sua mão bem firme - não permita que te oprimam, o mundo é cheio de gente ignorante, sempre vai haver pessoas apontando, machucando e rindo, mas ninguém é melhor e nem pior do que ninguém - Pablo sorriu.
- Tem certeza que você é gay? - Ele franziu a testa com a pergunta feita pelo meu amigo argentino, tive que olhar para Luciano e esperar a resposta.
- Na verdade bissexual, mas se for pensar em rótulos eu vou pirar - ele coçou a cabeça e olhou em minha direção - para mim ainda é difícil demonstrar sentimentos tão fortes por um outro homem, mas é mais difícil negar e ficar longe do Fabrício - ele então me olhou - uma coisa é certa Fabrício, eu te amo - caralho, isso foi muito pessoal e sentimental.
- Eu também te amo... - me aproximei dele e dei um selinho nele.
- Que inveja de vocês - Pablo suspirou.
Depois de passado o impacto da surpresa feita por Luciano e a conversa que tivemos, decidimos ir caminhar, a noite estava convidativa. Pablo ia mais à frente e não parava de falar, eu e Luciano participávamos da conversa um pouco mais atrás, estávamos próximos, mas sem estar de mãos dadas, não precisávamos disso, nossos olhares respondiam por si só.
- Já está ficando tarde, amanhã vou encontrar o pessoal do curso no parque, vocês não querem ir - Pablo disse animado - algumas das minhas colegas de sala iriam adorar conhecer o Luciano, ele tem o trapézio ótimo para um bom terno, fora que seria um ótimo modelo para nossas aulas e... - Ele é interrompido por alguém indesejável.
- Aí estão vocês! - Rick apareceu do nada e parecia nervoso.
- Rick! - Pablo exclamou assustado.
- Marcelo e Enola me fizeram vir atrás de vocês já que demoraram tanto tempo na rua sabe lá fazendo o que - ele debochou dando a entender que estávamos fazendo coisas...
- Estávamos conversando e... - Ele interrompeu Pablo.
- Quem é você? - Perguntou para Luciano que o encarou, eu toquei no braço dele para ele não fazer merda, ele me olhou e sorriu.
- Eu sou Luciano Cazarotto, amigo de Fabrício e agora também do Pablo - Luciano lançou um olhar presunçoso, Rick ele olhou para o Pablo com raiva, eu sabia o que era isso - e você, quem é? - Perguntou para Rick.
- Eu me chamo Rick Stadler - Então mais uma vez Luciano se mostrou educado e esticou a mão para ele, Rick retribui o cumprimento e eu podia jurar que havia mais tenção do que o normal ali.
- Americano? - Rick confirmou.
- Brasileiro? - Luciano confirmou.
Rick então olhou para Pablo que estava totalmente desconfortável e constrangido, se afastou e saiu andando.
- Você não vem Pablo? - Era como se ele quisesse exercer algum tipo de controle, mas Pablo olhou para gente e sorriu.
- Não, eu estou com meus amigos, ficarei com eles e quando eu quiser eu volto para casa e não precisa se preocupar, com a Enola e o Marcelo eu me entendo depois - Rick então como se tivesse sido contrariado encarou a gente.
- Eu não acredito que em vez de estar fodendo alguma "ragazza" por aí eu estou pagando de babá de dois veados... - Então como um touro Luciano foi para cima dele o peitando.
- Repete o que você disse - Rick não recuou, ele peitou Luciano.
- Me solta, você é grande, mas eu também sou - Luciano riu, eu entrei no meio e separei os dois.
- Vai para casa - encarei ele.
- Vou mesmo - Rick então olhou para Luciano, deu as costas e saiu.
- Quem é esse otário Fabrício? - Perguntou ele ainda tremendo.
- É um idiota homofóbico que pega no meu pé... - Pablo respondeu, ele estava com os braços abraçando os ombros - ele me odeia - disse com pesar.
- Acho que esse idiota homofóbico não lhe odeia - disse Luciano observando ele - acho que é algo que ele não sabe lidar, pelo menos não ainda - Pablo olhou para Luciano assustado com sua observação.
- Acho que temos alguém que precisa se aceitar - disse a eles.
- Precisando se aceitar ou não ele que não venha bancar o babaca para cima de mim, eu não tenho paciência para isso - Luciano falou com raiva, mas se conteve na frente de um já assustado Pablo.
- Bom, eu acho que já está ficando tarde mesmo, vamos indo para casa - eles me olharam e assentiram, Pablo então saiu na frente, eu segurei Luciano pelo braço - não vá me fazer passar vergonha, esse rapaz já é complexado, não dificulte as coisas para ele, por favor - Luciano então me encarou.
- O que eu não faço por você Fabrício? - ele acariciou meu rosto com um sorriso bobo.
- Você pode fazer hoje a noite, já que eu terei um coleguinha de quarto eu acho bom eu o tratar muito bem né - Luciano então se aproximou, passou seu braço pelo meu pescoço e saímos andando. Pelo jeito a noite ia ser longa.