Coração Ferido - Capítulo XXXVIII

Um conto erótico de William28
Categoria: Homossexual
Contém 2917 palavras
Data: 14/09/2018 16:53:43

Não lembro de muita coisa, só lembro que Luciano me puxou pelo braço me afastando o mais longe possível de Rick enquanto Josh tentava em vão acordar Pablo. Tudo escureceu ao meu redor, eu tentava, mas não conseguia focar, tudo acontecia de novo, eu voltara há 12 anos atrás quando perdi meu melhor amigo. Eu olhava tudo ao redor com uma sensação de impotência tão grande que não vi quando Josh se aproximou de Rick que estava encolhido em um canto no chão e o chutou duas vezes.

- Desgraçado, maldito, psicopata – ele berrava. Rick poderia avançar em Josh a qualquer momento, mas não o fez, simplesmente deixou ele o agredir até que Luciano o tirou de cima dele.

- CHEGA! – berrou nervoso fazendo com que nós três olhássemos para ele espantados, ele nunca havia gritado assim, ou melhor, não desse jeito – o amigo de vocês inconsciente precisando de ajuda e vocês se agredindo como um bando de marginais, prostitutos – ele apontou e me encarou, eu sabia que ele estava me julgando pelo olhar – você não é assim Fabrício, você é calmo, sensato, e você Josh? Violência só gera mais violência - ele foi até Rick e estendeu a mão para o ajudar – vem, me dá a sua mão – Ele ajudou Rick que parecia um tanto desnorteado com aquilo tudo - eu não estou em posição de te julgar, mas eu juro por Deus que se você tem algo a ver com o que aconteceu com aquele rapaz eu mesmo vou te dar uma lição tão grande que você vai voltar para tua terra todo roxo, entendeu? – Luciano disse em um tom leve e ameaçador, ele sentou Rick no sofá e enquanto eu tentava reanimar Pablo notei que o sangue que escorria das suas pernas não era sangue, era tinta.

- Seu covarde... – Encarei Rick, ele negou com a cabeça.

- Eu não fiz nada... – Rick baixou a cabeça, ele parecia cansado, em seu olho direito havia uma mancha roxa, foi do murro que dei nele.

- Você não é homem, não honra o que tem no meio das pernas – ele não me encarou, não faria isso – dói né? Ver os outros felizes do jeito que são e você não poder realmente ser quem é, por isso essa implicância com ele, por isso essa violência toda, você não passa de um enrustido de merda – Luciano veio até mim.

- Agora não é hora de brigas e verdades, daqui a pouco a ambulância deve estar chegando e a polícia também, nós vamos resolver isso e depois vamos conversar só eu e você, tudo bem assim? – Ele me encarou nos olhos.

- Ok – concordei.

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Alguns minutos se passaram, na verdade pareceu uma eternidade e enfim quando ouvimos a sirene chegar, a porta foi aberta antes por uma Enola desesperada e nervosa e por um Marcelo com semblante preocupado que olhou para eu e Luciano assim que percebeu nossa presença.

- O que aconteceu rapazes? – Perguntou ele.

- Por que a polícia está aqui e... – Ela se calou quando viu o estado de Pablo no sofá e Rick sujo de sangue.

- O que aconteceu com o Pablo, quem fez isso? – Ele então olhou para Rick.

- Mas o que você fez? – Ela se aproximou de Rick e foi então que ele começou a chorar.

- Eu não queria...eu... – Ele olhou para ele, então mama o pegou pela orelha e levantou ele e o levou até o sofá onde Pablo estava deitado e começando a acordar.

- Foi você que fez isso Rick? – Marcelo perguntou decepcionado para ele.

- Não...quer dizer... – ela então suspirou, ele não precisava terminar de falar. Enola então deu as costas e foi até Pablo conferir seus sinais vitais, quando ela acabou os paramédicos chegaram.

- Eu te recebo em minha casa e você faz isso com seu colega, qual é o seu problema hein rapaz? – Ele alterou a voz.

- Eu tentei... – Enola o interrompeu.

- Estou muito decepcionada com você – ela olhou para Rick com um olhar que eu não queria nem do meu pior inimigo. Enola não precisava bater ou agredir, as palavras dela machucavam.

- Ele está bem? – perguntei assustado.

- Pablo, querido... – Ele resmungou.

- E então? – Josh perguntou.

- Ele desmaiou, está em choque, mas parece que os ferimentos não foram tão graves assim não – ela tentou os confortar.

- Mas e o sangue nas pernas? Ele foi estuprado! – Ela olhou, virou um pouco Pablo, passou o dedo e cheirou.

- Não é sangue, é tinta! – Ela virou ele mais um pouco e foi só então que percebemos que sua calça e parte da sua camisa estavam sujos de vermelho e em suas costas na altura do pescoço estava escrito: "veadinho", foi isso, humilharam e agrediram ele e no fim ainda jogaram tinta vermelha nele para o desmoralizar.

- Covardes, não basta terem agredido ele... – Mama olhou para mim e eu me calei.

- Nem tudo é o que vemos - Enola levantou, foi até Rick e notou que havia a mesma tinta em suas mãos, mangas do casado escuro e um pouco de tinta preta na lateral do seu rosto que nós não tínhamos visto. Ela então sorriu, sentou perto dele e o abraçou.

- Mama... – Agora víamos algo até pouco tempo surreal, o grandão Rick chorando feito uma criança abraçado em mama que acariciava seus cabelos.

- Chora, vai te fazer bem... – ela então olhou para a gente e fez sinal, olhamos para Pablo que estava acordando.

- Onde eu estou? – Perguntou ele.

- Calma, não se mexe – respondi e mama então veio até nós.

- Pablo, você foi agredido e desmaiou, fique calmo que nós vamos para o hospital – ela então segurou em sua mão, ele virou a cabeça para o lado e em silêncio chorou.

Marcelo ajudou a levar Pablo para o hospital junto de Josh que estava tão assustado e impressionado com o ocorrido quanto todos ali. Luciano dispensou a policia justificando que foi um mal-entendido entre família e que já havia resolvido tudo e após isso seguimos para o hospital.

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A cena no hospital seria cômica se não fosse triste. Josh estava sentado e cuidava Rick com um olhar assassino. Marcelo e Enola se entreolhavam preocupados, mas cheios de cumplicidade e Rick estava caldo sentado mais distante, desde que chegou ao hospital ele permanecia calado, nem mesmo quando foi examinado ele falou alguma coisa.

Luciano estava calado, aliás, muito calado, parecia estar descansando, ele nem de longe parecia aquele brutamontes descontrolado que gritou com a gente há duas horas atrás causando espanto em Josh, em mim. Sua cabeça agora repousava em meu ombro e sua mão segurava firme a minha, eu fazia carinho nele, sabia que meu ursão precisava de mim nesse momento e mesmo abalado por tudo que estava acontecendo eu precisava ser forte, por mim e por todos, pois eu já havia passado por tudo isso.

- Rapazes, vou comprar algo na cantina para o Marcelo já que ele não para de reclamar que está com fome – disse ela olhando feio para ele - vocês querem alguma coisa para comer? – Negamos com a cabeça.

- Posso ir com a senhora? – Perguntou Rick parecendo incomodado de estar ali.

- Pode, claro que pode – ela sorriu e o abraçou de lado.

Observei aquela cena calado e uma saudade de casa me bateu. O que será que meus pais fariam se fosse eu no lugar de Pablo? Acho que meu pai surtaria. Entre pensamentos sinto alguém se mexer.

- Luciano... – chamei ele baixinho, pois todos ali agora pareciam cochilar.

- Sim... – ele acordou, mas não me encarou.

- Você quer alguma coisa da cantina? – Perguntei.

- Não, só quero que você fique aqui me confortando – sorri, eu sabia que ali havia um pouco mais de drama do que o necessário - e quero receber notícias logo desse rapaz, eu estou preocupado – ele apertou minha mão.

- Eu sei, também estou... – respondi e beijei sua cabeça, um silêncio assustador se fez entre nós durante alguns minutos.

- Amor... – Olhei para Luciano, era a primeira vez que ele me chamava assim e nessa hora essas palavras surtiram um estranho efeito em mim.

- Você me chamou de amor... - Seus olhos castanho-claros me encararam, ele apertou minha perna de leve.

- Chamei... – respondeu ele com um sorriso bobo, mas logo fechou a cara – o que aconteceu hoje me fez ver que eu não posso e não quero ficar mais longe de você Fabrício, eu quero você mais perto, pode me chamar de egoísta, mas é a verdade – Sua voz saiu embargada, eu não iria falar disso em um hospital.

- Luciano, são só mais alguns meses – acariciei seu rosto, sua barba arrepiou toda - a Europa é um lugar perigoso para quem é diferente, mas eu sei me cuidar, você sabe que acima de tudo somos brasileiros, nós lidamos com a violência diária de nossas grandes metrópoles – ok, eu sabia que isso não era justificativa.

- Mas e se fosse você todo machucado em uma cama de hospital, hein Fabrício? Você já pensou que poderia ser você... – interrompi ele.

- Mas não é! – Exclamei um pouco impaciente – primeiro por que eu não dou margem para as pessoas crescerem para cima de mim e outra por que eu sei me defender – suspirei chateado – o coitado do Pablo paga pelos trejeitos, é um absurdo em pleno século XXI termos que nos esconder, deixar de ser quem somos por causa de uma sociedade retrógrada e cheio de falsos moralismos e hipocrisia – Luciano arregalou os olhos para mim – aquilo aconteceu por causa de dois ou três babacas que tem medos, que não passam de covardes e que quando vem alguém esclarecido e com personalidade se doem por não poderem por medo ou preceitos serem quem realmente são – respirei, estava tudo engasgado em minha garganta e em fim coloquei tudo para fora.

- Eu sei... – ele me olhou sem graça – mas é que tudo isso me fez voltar lá atrás sabe Fabrício, eu não quero mais perder ninguém, não mesmo – ele então baixou a cabeça.

- O ursão, você não vai me perder... – ele me abraçou com força – também não precisa que quebrar no meio né Luciano – ele riu.

- Desculpa... – comentou sem graça – eu tenho medo que você encontre alguém melhor do que eu por aqui e siga em frente... – interrompi ele.

- Como assim Luciano, eu não estou contigo? – Eu odiava quando Valmir baixava em Luciano, ele tinha tamanho, mas resmungava.

- Está, mas e se um italiano galante vim e querer te passar o sal – tive que rir com o que ele disse.

- Ai Luciano, como você é bobo, até parece que você não confia em mim né, desde quando eu dou ousadia para qualquer um chegar em mim e quem garante que eu vá gostar que um italiano me passar o sal – ele franziu a testa.

- Eu já tenho um ítalo – brasileiro que faz isso – disse sussurrando em seu ouvido – acho que não preciso caçar um cassete na rua, você não acha, ou não se garante – discretamente apertei seu membro que estava duraço.

- Fabrício para... – ele gemeu.

- E se eu não parar, você vai fazer o que? – Perguntei em seu ouvido.

- Eu vou te arrastar para o primeiro canto ou banheiro deste hospital e te mostrar quem é teu homem, é isso que você quer? – ele me agarrou sutilmente, mas com firmeza.

- Talvez – disse apertando seu membro e mordendo meus lábios – mas agora não é hora, vamos aguardar o médico trazer notícias do Pablo – ele bufou.

- Você me deixa com tesão e depois foge... – disse cruzando os braços.

- Quem disse que eu estou fugindo de você – mordi os lábios – agora não é hora, não sou puto ao ponto de transar em um hospital – ele riu., seu celular tocou, ele pegou, olhou para o visor, seu semblante fechou.

- Ligação de trabalho, vou atender lá fora, já volto – Luciano não me olhou nos olhos, ele estava todo errado e eu o conhecia muito bem para saber que essa ligação não era desejada, pelo menos não naquele horário e não para atender perto de mim.

---

Luciano só voltou uns 30 minutos depois, o que achei muito estranho, ele não era disso. Depois disso ele parecia estar distante e me evitava a qualquer custo. O médico logo apareceu para dar notícias. Luciano parecia apreensivo e preocupado, algo estava errado, mas não era hora de mexer nisso, pelo menos não agora. O médico, no entanto, estava tranquilo, ele não era portador de boas notícias, pelo menos era o que parecia.

- Vocês são os familiares do Pablo? – Perguntou ele com uma prancheta na mão. Enola logo levantou e se aproximou.

- Somos os pais de intercambio, mas o pai dele já está ciente lá em Buenos Aires, tudo que precisar ser feito ele está de acordo doutor – Respondeu Marcelo.

- Como ele está doutor? – Perguntou Enola que segurava um rosário interrompendo os dois.

- O paciente sofreu uma lesão no braço e alguns ferimentos no rosto, costas, pernas, mas devido as agressões – ele então pareceu ficar incomodado -teve algo a mais, foi encontrado vestígios de sêmen em sua boca e garganta, mas fora isso ele não apresentou nem hemorragia e nem abuso sexual – o médico olhou para Rick e depois para Marcelo e Enola – como profissional eu não posso opinar, mas como homossexual eu posso, se fosse vocês eu denunciaria para as autoridades quem fez essa barbaridade com esse rapaz, isso não pode acontecer – disse frustrado.

- Realmente não pode – Marcelo olhou para Rick.

- Nós entendemos, mas parece que nem ele sabe direito quem foi que o atacou – Enola estava mentindo descaradamente.

- Bom, minha parte eu fiz – disse ele em tom profissional – fica a critério do paciente e de vocês seguir com a denúncia ou não – ele então conferiu as horas em seu relógio de pulso e sorriu – me deem licença,

- Cara, será que o Pablo vai ficar bem? – Perguntou Josh baixinho para mim.

- Acredito que sim... – respondi inconclusivo.

- Você acha que ele está mentindo? – Perguntou Luciano, Josh estava calado e só nos encarou esperando uma resposta.

- Quem? – Josh olhou na direção de Rick que nem piscava.

- O Rick, ele disse que não foi ele, que não queria... – Josh coçou a cabeça – pelo menos foi o que ele disse para mama agora pouco – Josh era até metódico com as palavras que usava.

- O que você acha Luciano? – Perguntei, pois sinceramente eu não tinha certeza de nada.

- Acho que não foi ele... – Olhei rapidamente em seus olhos e desviei o olhar, Luciano estava pensativo.

- Por quê acha isso? – Ele sentou do meu lado e segurou firme minha mão.

- Olha para ele Fabrício – Rick estava em um canto afastado, parecia que todo mundo o deixou de lado, eu não me sentia culpado – o cara está cabisbaixo, em choque, ele não saiu daquele lugar até o médico vim dar notícias e quando ele falou que estava tudo bem com o Pablo ele relaxou – ele estava defendendo Rick.

- A sim, e ele ficar com a consciência pesada depois de espancar Pablo na rua é a coisa mais normal do mundo né – falei sem paciência, nisso Rick ouviu e levantou, veio até nós e sentou do nosso lado, olhou bem para nós três e suspirou.

- Você está certo Fabrício – ele me encarou – a culpa foi minha – respondeu tranquilamente, mama Enola que estava perto se aproximou.

- Como assim? – Perguntei.

- Eu não agredi o Pablo, mas ainda assim foi por minha causa que ele acabou em uma cama de hospital – Luciano estralou os dedos e eu segurei em sua mão e dei uma encarada para ele que logo se acalmou.

- Rapaz, o que você quer dizer com isso? – Marcelo segurava um pacote de pipoca na mão, Luciano no nervosismo tomou da mão dele – ei... – protestou ele.

- Eu compro outro, agora vamos ouvir o que ele tem a dizer – Josh então também se aproximou mais.

- Eu sou gay! – Exclamou ele escondendo o rosto com as mãos.

- Eu sabia! – Exclamamos eu e Josh juntos os outros apenas olhavam surpresos.

- Mas, você é todo grande e musculoso, marrento, cursa educação física e implicava com o Pablo quase todos os dias – Marcelo comentou, achei um tanto ignorante seu pensamento.

- Eu sou assim, grande, marrento e praticamente namoro o Fabrício e não a nada de errado com isso – Luciano comentou e me fitou – basta ele querer – revirei os olhos.

- O que eu quero dizer é que você não demonstrava – disse ele parecendo decepcionado com Rick – até achei que você era de algum grupo neonazista que odiava gays quando me disse que na sua casa não se falava disso... – ele coçou a cabeça com o cutucão que Enola deu nele.

- Vem aqui meu querido – ela abraçou e beijou Rick que pareceu gostar desse gesto de carinho – a mama já sabia a muito tempo – ele fitou todo mundo e olhou em seus olhos, mama podia desarmar alguém com seu olhar – eu sabia que no fundo isso era alguma coisa reprimida gritando para sair – ele acariciou seu rosto.

- Não estou entendendo, se ele espancou Pablo por que todo mundo está com pena – Josh ajeitou seus óculos – ele é gay, Fato, mas e o nosso amigo está em uma cama de hospital justamente por isso – ele encarou todos nós.

- Não fui eu – Rick tomou a frente.

- Besteira, foi você sim – Josh gritou com ele – você não só espancou ele como o usou para se aliviar, eu ouvi o médico dizer que foi encontrado sêmen na boca dele e... – Rick interrompeu.

- Cala a boca porra! – Rick berrou – o sêmen encontrado nele é meu sim por que hoje de manhã ele me chupou no banheiro da faculdade – agora todos olhavam surpresos, inclusive eu que imaginei que algo assim iria acontecer, mas não em uma espécie de banheirão. Uma coisa era certa, algo estava muito errado ali e logo iriamos descobrir.

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Rick resolveu sair do armário, mas quem espancou o Pablo....

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