Mônica estava no céu. Há meia hora atrás mal sabia se se eu ex lembrava dela e se estaria namorando ou casado; agora ela sabia que ele não só estaria solteiro como jamais havia lhe esquecido, como seu amigo lhe confidenciara. E mais: estaria em breve indo até sua casa para lhe pegar para saírem. Rodopiou exultante, feliz, pela sala, jogando uma almofada para cima, até que travou como se entrasse em pause, lembrando de um detalhe bastante importante: Gabriel. Sentou então no sofá, tentando pensar naquilo tudo, se amaldiçoando por uma sorte tão azarada quanto aquela. Ficou assim, atônita, por alguns minutos, até que Gabriel entrou na sala, na ponta dos pés, sussurrando:
- E aí, desligou?
Mônica não respondeu.
- Mônica! Hey... já desligaram? Posso entrar?
Mônica seguiu petrificada. Gabriel então estranhou, mas, vendo o celular na mão da amiga, concluiu que a ligação, ou videoconferência na verdade, havia se encerrado:
- Amiga... que mico! Meu Deus...
Silêncio.
- Como que eu fui fazer uma coisa dessas? Mas e aí, você conseguiu contornar? Disse o que? Hein?
Mônica lentamente virou o olhar para Gabriel.
- Nossa... que cara é essa? Viu fantasma?
- O Marino... - falou ela, pausadamente.
- Que tem ele?
- Ele... ele... está solteiro...
- Olha... que bela notícia!
- E... tá vindo aqui me pegar pra sairmos...
- Sério??? Caraca... que beleza!
Mônica então enfiou a cara no travesseiro e começou a chorar. Gabriel foi até a amiga sem entender.
- Mônica? Que isso? O Marino está vindo aqui pegar você e você chora??? Como assim?
- Você não está entendendo, Gabriel...
- Não estou mesmo. Me explica.
- Pois bem. Não sei se você reparou, mas você ligou errado, para o amigo dele, o Erick. E como videochamada.
- Siiiim.... eu sei. Por isso fugi correndo. Sério... nunca mais bebo vinho e mexo no celular.
- Pois bem. Caso você não tenha se dado conta, não foi apenas o rosto do Erick que apareceu na minha tela mas também o seu na tela do celular dele.
- Sim... óbvio. Eu sei. E você contornou, né? Esse Erick me viu uma ou duas vezes na vida. Não teria como me reconhecer.
- É... não reconheceu.
- Então qual o problema?
Mônica respirou fundo. Não sabia como seguir aquela conversa ou o mais importante: como iria pedir a ele o que estava prestes a pedir:
- O problema, Gabriel, é que ele te achou uma gata. Ficou desesperado me pedindo informações sobre a 'ruivinha' que apareceu no celular dele.
Gabriel achou aquilo estranho, mas conseguiu ver graça:
- É??? E você disse o que?
- Eu disse que você era minha amiga. Que se chamava Pâmela.
- Pâmela? Como assim? De onde você tirou esse nome?
- Não sei! Mas isso importa? Enfim... disse a ele que você era minha amiga chamada Pâmela.
- Não é um nome feio... - falou ele achando certa graça. - mas e daí. Ainda não entendi o problema.
- O problema, Pâmela, digo... Gabriel, é que ele, te achando gatinha, propôs que saíssemos nós quatro hoje: eu, Marino, você e ele.
- O QUE??? Hahahahaha... que otário. Olha as ideias. E você, obviamente, disse que não, né?
Mônica ficou olhando para o chão. O sorriso largo de Gabriel foi então dando lugar à seriedade:
- Mônica.... você disse que não, né?
Mônica seguiu quieta.
- Mônica... você não disse pra ele que iríamos sair nós quatro de casaisinhos, né? Fala sério.
Mônica explodiu:
- E o que você queria que eu fizesse, Gabriel? O cara que eu amo, sempre amei, prestes a vir aqui me pegar pra dar uma volta. Como eu ia dizer que não?
- Mas bastava você dizer que eu, sei lá, tinha namorado e que sairiam só vocês três.
- Ai ,Gaby, pensa bem: e eu ia querer sair junto com amigo dele mais o Marino comigo tentando ficar novamente com ele?
- Mas então que dissesse pra saírem só você e o Marino.
- Não dava! Ele disse que o Marino estava indo na casa dele e que eles iriam sair juntos! Aí fiquei com medo de eles não quererem sairmos assim e acabei dizendo que era uma boa ideia.
- Mas, Mônica, pelo amor de Deus! Como que pode ser uma boa ideia isso??? Você acha por acaso que eles não vão descobrir que eu sou um homem?
- Claro que não! Você já se olhou bem no espelho?! Você está linda! Não me admira o Erick ter ficado caidinho por você!
Gabriel, ainda assustado, não teve como não se sentir lisonjeado, afinal, ele tinha que reconhecer que ficara bem mesmo de mulher.
- Gabriel, eu nunca te pedi nada nessa vida.
- O que? Como assim?
- Tá, já pedi sim. Pedi muito, mas nunca de todo coração como isso que te peço agora.
- Não, não, não... você não vai me pedir isso.
- Vou.
- Você vai me pedir para sairmos nos quatro como casais, numa espécie de encontro duplo? Quer que eu me vista de mulher e fique fazendo companhia para o amigo do seu crush para você tentar ficar com o Marino?
Mônica apenas olhou para Gabriel, com olhar suplicante de cãozinho perdido:
- Sem chance, Mônica. Você está louca!
- Mas o que que tem, Gabriel? Vai ser divertido!
- Divertido? Defina melhor diversão.
- Claro que vai! Eu te empresto algumas roupas, a gente se arruma bem gatas e vai pra noite se divertir. Imagina a zoeira.
- Zoeira??? Ah, tá... e a vergonha?
- Mas que vergonha? Você vai sair na noite como uma mulher. E linda! Se ainda ficasse feia vá lá. Qual a vergonha se ninguém vai descobrir que você é homem?
- Claro que é vergonhoso. Pelo amor de Deus. Ainda mais servindo de isca pra distrair o amiguinho do teu peguéti.
- O Erick é um gato, vai dizer.
- Mônica! Não, né?
- Tá, brincadeira. Mas, Gaby, você não precisa fazer nada demais. Eu arrumo você maravilhosamente. É só sair, dar umas voltas e logo estamos de volta em casa.
- Sem chance.
- Por favor, por favor, por favor, por favor... - suplicou ela.
Gabriel estava resoluto em não aceitar aquilo, mas ao mesmo tempo lembrou de todas as vezes nas quais a amiga esteve ao seu lado, em todos os momentos, nos melhores e nos piores. E sabia também o quanto significava pra ela aquela volta com o Marino.
- Mônica... pensa bem. Olha o que você está me pedindo...
- Eu sei, Gaby, é loucura, é absurdo, mas quebra essa pra mim. Por favor. Sério, se tivesse alguma chance de você ser descoberto ou algo assim, mas não. Quando eu namorava o Marino você nem tinha cabelo comprido. Montado e maquiado nunca que ele iria te reconhecer. E, sei lá, podemos dizer que você é uma prima dele.
- A prima Pâmela... - falou ele, com desânimo.
- Siiim... isso mesmo. - riu ela. - Gaby, vamos fazer assim: a gente te monta e aí você diz. Se você não se sentir à vontade ou eu mesma achar que não ficou legal, eu juro, abortamos o plano e eu desmarco com eles.
- Tá... e se ficar bom?
- Aí vamos pra noite como melhores amigas, amiga!!!
Gabriel não pôde deixar de sorrir de canto de boca com o entusiasmo da amiga.
- Ok, Mônica... eu tenho certeza de que vou me arrepender disso, mas vamos lá. Não se perde nada em tentar.
- Sério???
- Sim. E vamos logo antes que eu mude de ideia!
- Uhuuuuuuuul... vamooooos!!! Vem, vamos lá tomar um banho e tirar essa maquiagem.
- Mas, como assim tirar? Eu já estou maquiado. Tá ótimo.
- Amiga... por favor: isso é uma maquiagem básica. Pra noite a gente tem que usar maquiagem bafônica! Helloooo...
- Ai, meu Deus... - revirou os olhos ele. - onde eu fui me meter?
CONTINUA...