Eu sempre achei que as idéias românticas um tanto clichês e nunca fui de perder tempo com novelas , filmes e séries.
Desde meus 18 anos eu dei início a minha carreira de designer de interiores e organização e ornamentação de eventos. Construí uma carreira sólida e em pouco tempo já estava com uma empresa e muitos contratos e trabalhos que consumiam bastante o meu tempo. Talvez por ter conquistado tudo isso tão cedo eu me relacionei somente com homens mais velhos que eu julgava serem mais maduros , mas nem sempre isso ocorria , meu último relacionamento foi a prova disto e eu estava em um período de não querer mais saber de namoros , rolaram algumas paradinhas pelo Grindr , mas mesmo assim eu precisava do meu tempo sozinho , curtir minha própria companhia , deleguei a minha sócia cuidar dos eventos agendados e diminuí um pouquinho o ritmo de trabalho por recomendação da minha psicóloga que me orientou a fazer academia e sair um pouco , em geral eu somente ficava nos bastidores dos eventos e chegava em casa , jantava , dava comida ao meu cachorro , lia um livro , mas comecei a assistir um pouco mais de televisão e assisti aquele filme Os Homens são de Marte e é pra lá que eu vou , me identifiquei muito com a personagem que estava sempre nos bastidores , estava sendo uma nova fase na minha vida e eu comecei a mudar alguns hábitos , passei a descer com o meu cachorro pra passear com ele , pois era a minha funcionária quem fazia isso , mas eu senti a alegria no olhar do big boy ao passear comigo , comecei a olhar as pessoas na rua e um cara começou a me chamar a atenção , novinho na faixa dos 22 anos , loiro , alto , cara de gringo e todo musculoso , logo pensei ... "fútil" , "wey protein" , "baladada" e "babaca" , esse era o julgamento que eu fazia de todos os caras dessa idade e com esse perfil e aos 30 anos eu não me via "perdendo tempo" com um cara assim , mas não podia negar que aquele loirão me chamava a atenção no aspecto físico pelo menos. Meu primeiro dia na academia me senti como a Dona Hermínia , custei a decidir o que eu faria , mas acabei optando por zumba , yoga e natação.
Comecei a fazer academia e para minha surpresa aquele loirão também malhava lá e a troca de olhares foi se intensificando , mas eu ainda estava resistente e não dava bola pra ele.
Como a academia era uma atividade nova , eu decidi ir até o shopping comprar mais algumas roupas para essa finalidade e depois passei na starbuck's , enquanto aguardava meu pedido fiquei um tempinho lendo um livro recomendado pela minha piscóloga que é o Poder do Agora e foi um livro que deu um novo sentido na minha vida me trazendo novas percepções , enquanto estava intertido na leitura eu ouvi aquele "boa noite" e quando eu vi era o loirão , até que enfim eu poderia saber o nome dele , Luan , ele me cumprimentou com aquele aperto de mão firme e olhar penetrante e eu mantendo a minha resistência pra não dar mole né? Mas acabou que ele me perguntou sobre o livro e foi a deixa pra um papo que desmitificou toda a impressão equivocada que eu tinha daquele que eu julgava ser um playboyzinho viciado em Whey Protein , descobri um jovem estudante de medicina , coordenador de um projeto voluntário e interessado em assuntos espirituais.
Como eu morava perto do shopping eu tinha ido a pé mesmo e ele me ofereceu carona e durante o trajeto as trocas de olhares foram inevitáveis , eu me senti um adolescente conhecendo o crush e me senti meio ridículo. Quando ele parou na frente do meu prédio ficamos alguns minutos naquele silêncio que deixa margem para várias possibilidades , mas eu sorri e agradeci pela carona , ele me pediu meu telefone e nos despedimos.
Cheguei em casa e fui tomar um banho , deitei no sofá com o big boy e meu whatsaap tocou e era o Luan dizendo que comprou o Poder do Agora e que gostou muito de conversar comigo , ficamos batendo papo por horas , trocando áudio e parecia que nós nos conhecíamos há séculos. Ele me convidou para correr na orla pela manhã e eu topei , não demorou muito para que nós já estivéssemos numa amizade muito bacana , ele me levou para conhecer a instituição social que ele coordenava e me encantei mais ainda ao vê-lo lidando com as crianças e o como elas eram encantadas por ele.
Eu estava me apaixonando por ele , mas não conseguia expressar nada , os olhares , sorrisos , brincadeiras eram muito bacanas , mas não sabia se havia brecha , parecia que havia uma certa barreira entre nós.
Eu estava retomando a minha rotina profissional aos poucos , mas havia dado uma equilibrada no ritmo , me permitindo mais tempo para o descanso.
Minha amizade com o Luan e nossas conversas eram sempre muito agradáveis e em uma conversa que estávamos tendo num restaurante japonês ele comentou sobre a infância dele no sítio dos avós na região serrana e me convidou para ir com ele visitar a avó e ir a missa em memória do avô dele. Eu aceitei o convite e a gentileza dele de me convidar para conhecer um lugar tão importante pra ele.
Fomos para o sítio e ao chegar lá eu imediatamente fiz amizade com a avó dele , fomos a noite na missa e ao retornarmos fomos jantar , aquela comidinha de avó que tem um sabor especial , eu notava que a avó dele me olhava muito fixamente durante o jantar , mas não era um olhar ruim , um olhar de análise , mas como ela era muito educada ela intercalava com um sorriso.
Quando terminamos de jantar ela me chamou para tomar um chá na varanda enquanto o Luan foi tomar um banho , eu fiquei surpreso com a objetividade acompanhada de delicadeza da avó dele quando ela me disse : Você sabe que meu neto está apaixonado por você não é? Eu quase engasguei com o chá , pois não esperava por aquele comentário , ela sorriu e me disse para não me sentir constrangido , mas apenas para entender que o neto dela apesar daquele tamanhão todo era muito sensível e que ele quando está apaixonado por uma pessoa ele hesita muito em tomar uma atitude. Eu respirei e confessei a ela que eu também sentia o mesmo "o que era óbvio" ela sorriu com aquele ar de "novidade!" e apenas me dissde para relaxar e me permitir. Ficamos mais alguns minutos na varanda quando o Luan chegou e sentou no chão deitando a cabeça no colo da avó.
Fomos dormir e no dia seguinte o Luan me chamou para caminharmos , fomos até uma cachoeira linda , ele me contou sobre a infância dele , sobre as coisas que ele aprontava e o clima da barreira parecia se dissolver , ficamos em silêncio por alguns minutos igual no dia em que ele me levou em casa pela primeira vez e não foram necessárias palavras apenas o melhor beijo que eu já dei na minha vida.
E depois disso tudo se tornou essa realidade que vivo hoje , o Boyzinho me pegou de um jeito que nenhum cara havia pego , ele me pegou pelo coração , pela doçura , pela pureza e me fez ver a vida com outros olhos.
