Como será amanhã? – Capítulo 02 (Baseado em fatos reais)
Uma resposta a Augusto Cury:
"O ser humano não morre quando seu coração deixa de pulsar, mas quando de alguma forma deixa de se sentir importante"
(Augusto Cury)
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Respostas aos comentários no final do capítulo.
Boa leitura e espero que gostem.
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Capítulo 02
- Só tenho uma hora almoço, não é lhe apressando, mas tenho que ir. Vai?
Aquele cara tão lindo me chamando para entrar no carro dele? Mas com quais intenções?
Mesmo sem nos conhecemos aceitei a carona e logo estava eu dentro daquele palio vermelho como o Rodrigo. Ele tinha tirado o colete de segurança e estava só com a parte de baixo da farda, uma calça e uma camisa social manga curta cor preta.
Andamos uns dois minutos até ele parar em um sinal fechado. Foi ele quem quebrou o silêncio que estava dentro do carro.
- Quer dizer que está procurando um emprego? – Falou ele olhando para mim e depois voltando sua atenção ao trânsito.
- É. Terminei o ensino médio há alguns meses e estou precisando trabalhar para ter um pouco de independência. – Falei sem mudar os olhos do carro a nossa frente.
- Legal.
O sinal abriu e ele seguiu dirigindo.
- Conhece alguém na empresa?
- Não. Não conheço ninguém lá. Fiquei sabendo através de uns colegas que fazem curso comigo no Senai.
- Entendi. Legal.
O silêncio tornou a ocupar o carro por uns cinco minutos até ele falar novamente.
- Quer dizer que você quer independência? Qual sua idade Santiago?
- É. Meus pais me dão as coisas, mas é meio chato. Quero ter meu próprio dinheiro para comprar minhas coisas, sair sem ter que está pedindo dinheiro a eles.
- Entendo.
- Quanto a minha idade. Tenho 17 anos. Faço 18 no fim do ano.
- Legal. Espero que dê certo e fique trabalhando na empresa.
Nessa hora ele desviou o olhar rápido do trânsito e olhou para mim, meio que me avaliando. Fingi nem notar.
O cara é muito bonito. Além de ser muito simpático e legal. Era o sonho de consumo de toda mulher e de alguns homens também.
Andamos por mais uns 10 minutos o silêncio reinando no carro até ele parar em um sinal a 500 metros da minha casa.
- E você Rodrigo? – Foi eu quem quebrei o silêncio dessa vez. – Qual sua idade?
- Tenho 20 anos?
- Pensei que para fazer curso de formação em segurança tinha que ter no mínimo 21 anos? – Falei.
- E precisa.
Olhei para ele dessa vez com a expressão de dúvida. Como quem não tinha entendido. E acho que ele entendeu minha expressão e explicou.
- Na empresa sou do setor de segurança patrimonial, mas sou agente administrativo da portaria. Estou na empresa a quase dois anos e pretendo fazer o curso quando completar 21 anos, ano que vem.
- Entendi.
Ele continuou prestando atenção no trânsito.
- A segunda casa antes da esquina. – Falei quando ele se aproximava da minha casa.
- A verde?
- Sim.
Ao chegar na casa eu olhei para ele e agradeci.
- Obrigado cara. – Falei tirando o cinto e abrindo a porta.
- Disponha. Espero lhe ver na empresa em breve. - Ele falou quando eu bati a porta.
- Também espero.
Eu peguei a chave e abri o portão ele só saiu quando eu comecei a fechar o portão.
*** Um mês depois ***
Passou um mês e a empresa não havia me ligado, então eu deduzi que não tinha sido selecionado na triagem.
Era fim de tarde de uma sexta-feira quando eu estava saindo do Senai por volta das 17:25 quando meu celular toucou e era a moça da empresa avisando que eu tinha sido selecionado e que a prova seria no sábado na parte da manhã às 11:00 no auditório da empresa e que haviam enviado para o e-mail cadastrado as informações.
- Passei na triagem. – Falei para a Catarina.
- Que bom Sam. – Falou ela me abraçando.
***
Cheguei em casa era 18:00, minha mãe estava preparando a janta.
- Rose? – Era assim que eu chamava minha mãe muitas vezes. O nome dela é Roseane.
Eu estava tão feliz que ela logo perguntou.
- O que foi menino? Viu um passarinho azul foi?
- Ligaram da empresa. Eu passei pela triagem e vou fazer a prova amanhã.
- Sério? – Ela me abraçou. – Parabéns.
***
No sábado pela manhã eu estava na empresa junto de outros jovens para participar da segunda fase da seleção para aprendiz. Era 11:00 quando começamos a fazer os testes, era cada candidato em um computador fornecido pela empresa para realizarmos testes. Após os testes um cara do departamento de TI chamado Júnior, nos informou que o resultado sairia no site da empresa na segunda a partir das 10:00.
Era 11:50 quando eu sai da empresa. Quando passei na portaria eu passei observando para ver se via o Rodrigo, mas só vi o senhor do outro dia. Infelizmente não vi o belo segurança.
***
Era dia 03 de junho quando eu comecei a frequentar o curso de aprendizagem no Senai pela empresa. Eu iria passar um ano fazendo curso todos os dias de segunda a sexta e após o fim iria para a empresa fazer a parte prática.
Quando eu cheguei no Senai me informaram a sala que eu iria fica, o curso de aprendizagem era na parte da manhã das 07:30 às 11:30. Bati na porta e entrei na sala, era uma sala não muito grande, mas bem dividida e climatizada. Tinha 15 alunos na sala, oito meninas e 7 meninos, eu era o 8º garoto. Entrei e fui sentar em uma cadeira livre no inicio da sala. A professora logo se apresentou e pediu que os demais se apresentassem.
- Bom dia, sou a instrutora Laura. – Era uma mulher jovem, de seus 30 anos no máximo, cabelos loiros, um pouco baixa e estatura magra. – Gostaria que todos se apresentassem dizendo nome, onde mora, idade e de que empresa vem.
Como eu era o primeiro da fila sobrou para eu começar.
- Meu nome é Santiago, sou daqui da cidade, tenho 17 anos e a empresa é a Alimentos Ltda.
Cada um dos demais se apresentaram seguindo a mesma ordem. Passamos a manhã nos conhecendo, fazendo dinâmica, por volta das 9:00 fomos liberados para o intervalo.
Alguns dos meninos e meninas logo estavam se enturmando, eu sempre fui mais na minha, nenhum dos que fizeram os testes comigo na empresa estavam ali, então não conhecia ninguém.
Peguei meu lanche e fui em direção a uma das mesas que estavam sentados duas garotas, uma garota branca de cabelos lisos que pairavam no meio das costas, outra negra dos cabelos encaracolados maior que os da primeira, e três meninos, um negro de cabelos lisos cortados em um corte social e estatura normal, outro pardo de cabelos e olhos castanhos claro um tanto quando bonito, mas muito magro e o outro um dos que mais me chamou atenção na sala, cara alto, branco de cabelos pretos, bombado, estilo boyzinho.
Antes de eu chegar na mesa o cara magricela acenou para mim e falou:
- Ei cara? – Falou ele levantando a mão para mim. – Tem um lugar aqui com a gente.
Eu me aproximei e sentei na cadeira entre ele e a garota negra. Eu fiquei impressionado, de perto ela era mais bonita ainda.
- Eu sou o Lucas – falou ele –, essa é a Melissa – falou indicando a garota ao meu lado –, esse o João – indicando o outro garoto –, essa a Jaqueline – indicando a garota branca de cabelos lisos – e esse o Stefan. – Falou indicando o cara bombado ao lado dele.
Todos me cumprimentaram e começamos a conversar. Cada um tinha uma personalidade única e bem diferente.
Lucas era o brincalhão da turma, um cara super legal e divertido, Melissa era uma garota super educada e inteligente, João era o mais calado, porém super centrado, Jaqueline era a garota estilo patricinha, super gente boa também e o Stefan era um cara um tanto quanto criança, mais embalagem do que conteúdo.
Conversamos o intervalo todo, falando o que fazíamos, o que queríamos fazer no futuro, o que esperávamos etc., esse tipo de coisa que jovens conversam, sobre namoro entre outras coisas mais.
A manhã foi boa, passou super ligeiro e logo estávamos indo para casa. Como o Senai era mais afastado a gente tinha que ir andando a pé até o ponto do ônibus, outros moravam próximo ao Senai.
Cheguei em casa por volta das 12:30, fui almoçar, tomar um banho e descansar um pouco.
Acordei as 17:00 quando minha mãe me chamou.
- Santiago? – Ela falou batendo na porta do meu quarto.
- Oi mãe? – Respondei acordando ainda.
- Precisando que você vá no mercado para comprar umas frutas.
- Vou já.
- Certo. Estou na cozinha.
Me levantei, escovei os dentes e fui ao mercado comprar as frutas. O mercado era a uns 150 metros da minha casa, atravessei a rua, andei um pouco e cheguei no mercado.
Fui para a seção de frutas. Peguei as frutas que minha mãe pediu e fui colocando em uma cesta e fui em direção a seção de biscoito, para comprar alguns biscoitos.
Cheguei na seção e peguei quatro pacotes de biscoito oreo – amo esses biscoitos para mim é o melhor biscoito que existe.
Estava pegando o terceiro pacote quando deixei um cair no chão, logo me abaixei para pegar, porém algum idiota não prestou atenção o que fazia e tropeçou em mim e caiu no chão quebrando um vidro de molho em cima dele.
O cara se levantou atordoado e eu também. Que mico cara, cair no meio do mercado.
- Desculpa cara. – Falei me levantando e logo reconhecendo o cara.
- Cara olha para a minha roupa?! – Falou ele sem olhar para mim, apenas para sua roupa toda suja de molho. – Como vou limpar isso agora? É brincadeira.
Ele olhou para mim e sua boca logo se formou em um sorriso quando me viu.
- Sério Santiago? Você?
E logo os dois estávamos rindo no meio do mercado, enquanto dois caras que trabalhavam no mercado vieram em nosso encontro ver o que estava acontecendo.
- O que houve? – Falou o primeiro cara.
- Eu tropecei nele e acabei derramando o molho quando cai. – Falou o Rodrigo. – Mas nada que não se resolva. – Completou ele olhando para mim ainda rindo.
Resolvemos o empecilho no mercado e fomos em direção a saída do mercado.
- Sério Rodrigo, desculpa. – Falei ao ver a situação dele.
- Tranquilo. – Falou ele. – Eu só vou ter que trocar essa camisa.
- Você vem do trabalho agora é?
- Não. Estou de férias estava indo para a casa dos meus pais no sítio aí resolvi passar aqui antes para comprar umas coisas para levar.
- Entendi.
- E você? Frutas da semana? – Perguntou ele indicando as sacolas com frutas na minha mão.
- Minha mãe pediu para eu vir comprar algumas frutas que tinha acabado.
- Pelo jeito ela despertou você do seu sono da tarde né?
- Como sabe?
- Sua cara de quem estava dormindo lhe entrega.
- Nossa!
Nós dois rimos.
- Santiago eu vou indo, tenho que pegar a estrada, caso contrário vou chegar lá a noite. Foi bom te rever.
- Igualmente. Até mais então.
Ele me estendeu a mão em cumprimento, logo retribui.
Ele entrou no carro e saiu.
***
Os dias iam passando e minha rotina era curso de aprendizagem pela manhã e o resto do dia costumava dormir, assistir filmes entre outras coisas mais como ir ao shopping, pegar um cinema.
Minha rotina era essa durante o decorrer dos meses que se passavam. Chegou agosto, setembro, outubro, novembro e enfim dezembro. Eu não cheguei a ver o Rodrigo mais, eu fui na empresa duas vezes levar os dados bancários e a cada três meses ia assinar os contracheques.
Era 20 de dezembro e faltavam apenas cinco dias para o natal e dez dias para o meu aniversário. O natal nós costumávamos ir para a casa dos meus avós que moram em uma cidade vizinha, uma cidade pacata com seushabitantes.
Dia 24 de dezembro e estávamos todos nós na casa dos meus avós no sítio, zona rural da cidade vizinha. Estava nós, minhas tias e tios e meus primos, que fazia meses que eu não os via. Depois que comecei a “trabalhar” eu não fui mais na casa dos meus avós devido a preguiça e porque teria que viajar quase uma hora de carro para poder chegar e voltar no dia seguinte.
Celebramos o natal e logo estávamos nós colocando os assuntos em dia, os primos e primas conversando, crianças correndo de um lado a outro da casa.
Passou o natal e enfim chegou dia 31 de dezembro. O ruim de completar ano no dia de feriado é que as vezes as pessoas esquecem. Meu Dia foi normal, até meus amigos tramarem uma festinha surpresa para mim e lá estávamos nós dia 31 de dezembro esperando a virada do ano.
Eu sai e fui para um canto na calçada de casa, sentei e fiquei observando o céu. Era quase meia noite. Fiquei ali o que parecia ser um tempão, mas foram poucos minutos até alguém se sentar ao meu lado.
- Sabe Sam – falou Lucas ao sentar ao meu lado –, eu sempre gostei de brincar de levar tudo na esportiva, mas tenho uma coisa para contar e não sei se é o momento ideal ou a hora certa...
Todos estavam lá dentro bebendo, brincando e conversando. Meus pais tinham ido para a casa dos meus avós após tramar com o pessoal minha festa surpresa, a Vanessa tinha viajado com o namorado e a família dele para a praia, o que me deixou indignado, pois ela deveria está no meu aniversário, certo que ela gravou um vídeo para passar no telão em homenagem a mim.
Eu tinha me aproximado bastante do Lucas, da Melissa, da Jaqueline, do João e do Stefan nesses últimos meses no curso, éramos o grupo dinâmico da sala, segundo os instrutores, pois gostávamos de debater tudo e questionar.
Porém o João foi quem mais se mostrou meu amigo nos últimos meses, sempre pegávamos o carro juntos na ida e na volta para ao curso, saíamos para o shopping, cinema, clube. Nos tornamos amigos, mais que isso, irmãos.
Eu olhei para ele dando atenção ao que ele falava.
- Olha – ele baixou a cabeça, olhando para os pés –, não quero que nada mude entre a gente, você é muito para mim Sam, um amigo para todas as horas.
Eu não estava entendendo, o Lucas sempre foi desenrolado, brincalhão, era o tipo de cara que as garotas gostavam o que dava uma certa vantagem a ele, porém ali, ele estava vulnerável, como se estivesse despido.
- O que foi Lucas? – Perguntei já apreensivo. – Aconteceu alguma coisa?
Ele levantou a cabeça para olhar para mim e depois baixou novamente, ele estava com os cotovelos apoiados nos joelhos e uma garrafa de Smirnoff ice na mão, ele balançava a garrafa com leveza como se imaginasse ela em um oceano navegando como um navio.
Ele ficou alguns segundos em silêncio, isso já estava me deixando nervoso.
- Lucas o que estar acontecendo? – Questionei.
- Olha – ele enfim começou a falar –, não quero começar o ano ruim, com mentiras.
Ele parou novamente. Como se procurasse as palavras certas.
- Sam? – Ele não me olhou quando falou meu nome, continuava a fitar os pés. – Eu sou gay.
Nessa hora ele olhou para mim e vi uma lágrima descer de seus olhos.
- O que? – Me levantei de supetão ficando de pé em segundos.
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Olá galera. Obrigado pelos comentários e aqui estamos nós de novo, mais um capítulo.
Obrigado Geomateus, fico feliz por ter gostado. Forte abraço e espero que tenha gostado do capítulo de hoje.
VALTERSÓ quanto a escrita, desculpa os erros, eu reviso, porém sempre passa algumas coisa ou outra que não vejo, prometo que vou tentar revisar minunciosamente, quanto a seu questionamento da minha classe social é o seguinte: minha mãe na época trabalhava em uma casa de família, por sinal, uma das mais ricas da cidade, ela ganhava mais de dois salários mínimos – salário da época – o que acarretava dois salários em casa, meu pai trabalhava na Construção Civil e ganhava em média dois salários mínimos semanais, pois trabalhava na diária o que somava mais de oito salários mínimos – da época – mensais somando dez salários mínimos aqui em casa naquele tempo. Segundo critérios do governo, nossa renda per capita naquela época era de mais de dois salários mínimos, pois morávamos nós quatro aqui em casa, isso acarreta em nos classificarmos como Classe Média Alta, quando me referi a isso era no tempo, estou seguindo a ordem cronológica. Espero ter tirado sua dúvida. Obrigado por ler e pelos comentários. Forte abraço. Espero que tenha gostado do capítulo de hoje.