Os Verões Roubados de Nós/ CAPÍTULO 30

Um conto erótico de D. Marks
Categoria: Homossexual
Contém 3954 palavras
Data: 16/10/2018 13:29:53

Tarde, galera!

Os recados virão na primeira parte hoje.

*VALTERSÓ* - Amigo, não desista de ler, por favor! Aguenta mais um pouquinho, ok? Prometo que você não irá se arrepender. Abraços...

*Grilo falante* - Cara, o que falar de você? Nem sei... Eu mesmo deixei um spoiler proposital no início (kkkkk) e o Lebrunn já cantou a bola. Forte abraço e obrigado pelo comentário.

*Lebrunn* - mais atencioso qu você, só eu!! (kkkk).. Tudo isso é verdade mesmo. O conto praticamente são as memórias do Gabe ( em tese). Abraços, querido!

*arrow* - Relaxa um pouco aí senão você infarta! Os pontos começam a se fechar. mas com relação ao Ítalo? Será? kkkkkk

Os Verões Roubados de Nós

Capítulo 30

Narrado por Francisco

Meu mundo ruiu. Perder um filho é um golpe duro no meu coração e na minha vida. Não é justo. Pensei na minha filha e no modo como eu daria a notícia a ela. Roberto me ligou informando que Enzo estava passando mal por conseguir falar com Gabriel então conto parcialmente o que estou sabendo e ele me diz que chamará Miguel para conter Enzo. Agradeço e peço que o levem para a casa da minha irmã.

Eu aviso meu cunhado e ele segue direto para casa para dar a notícia pessoalmente. Quando chego lá, todos já estão reunidos e Enzo está dopado no quarto.

Mais tarde a polícia chega e nos dá maiores informações então Pietro e eu combinamos de ir ao IML juntos.

Enzo desce e age como se nada houvesse acontecido. Ele está em negação e quando Alice fala com firmeza o que aconteceu ele volta para o quarto e lá se tranca.

Saímos cerca de 1h depois a caminho do IML. Estou ansioso, com medo, com raiva, triste. Enfim, é uma mistura louca de emoções.

Ao adentrarmos no IML já sinto um cheiro estranho no ar e meu estômago embrulha. O médico legista responsável vem nos receber. Não há pertences pessoais e os documentos estão queimados.

— Sr. Maia, eu sei que é desagradável, mas gostaria de olhar o corpo? – pergunta o médico.

“NÃO! NÃO QUERO!” meu cérebro grita por conta do medo do que terei que ver. Troco um olhar com Pietro.

— Vou com você, cunhado. – ele anuncia.

Seguimos para uma sala refrigerada e meu coração dispara. Por um instante não quero vê-lo. Não quero ter a certeza de que é meu filho. O legista se aproxima de uma das gavetas.

— Estão prontos? – ele pergunta calmo.

— Não... Mas preciso fazer... – respondo.

— Ok. – então o legista abre a porta e puxa a maca.

O cheiro de carne queimada toma conta do ambiente e tenho vontade de vomitar. Nunca mais encaro um churrasco. Nunca mais mesmo!

— Meu Deus... – falo.

Pietro leva a manga da blusa ao nariz e seus olhos estão arregalados pelo que vê. O legista com toda calma diz:

— Apenas respirem normalmente e seu cérebro se acostumará com o odor.

Olho incrédulo para ele e o mesmo puxa o plástico que cobre o corpo. Meus olhos não acreditam no que veem.

— Esse não é meu filho! – digo enfático – Não é!

Olho para Pietro e ele continua de olhos arregalados, porém agora está paralisado.

— Senhor, quando o corpo queima ele desidrata então é normal diminuir de tamanho. – o legista explica – gostaria de esclarecer algumas coisas. – e aponta para corpo – Posso guarda-lo?

Faço que sim com a cabeça.

— Vamos até a minha sala, por favor. – ele abre a porta e o seguimos. Ao adentrar na sala ele me entrega um saco plástico com alguns pertences como celular, a carteira (o que restou deles) e nada mais

— Isso é tudo? – pergunto.

— Sim, senhor. – responde – Não havia mais nada no corpo e o que estava no carro se perdeu.

— Então agora é só preparar o enterro? – pergunto triste.

— Sim. – o legista responde – o corpo ficou totalmente carbonizado o que não permitirá caixão aberto, portanto saíra daqui já lacrado.

— Há algo mais que possa fazer pelo meu filho? – pergunto e surge uma dúvida – Como irei ter certeza de que é ele?

O legista me olha sério.

— Senhor, visto que o carro é de propriedade dele acho que não restam dúvidas.

Então me lembro de algo.

— Eu não posso manda enterrar se não tiver certeza de que é meu filho. Quero uma verificação da arcada dentária dele. – agradeço mentalmente Diego pela dica.

— Sim, senhor. – o legista concorda e pega um prontuário – Preciso dos dados do dentista dele. Por acaso ele já usou aparelho ou fez algum procedimento que exigiu radiografias e moldes da arcada dentária.

Fico confuso, pois não tenho certeza.

— Acho que sim. Perguntarei a minha filha.

— Se sim isso nos ajudará muito, porém preciso o mais rápido possível desse material aqui e assim que a comparação for feita o corpo será liberado.

— Tudo bem. – minha cabeça lateja – Algo mais?

— Fora isso, senhor, preciso que assine aqui por conta dos objetos pessoais da vítima. – e me dá o prontuário e assino nos locais indicados.

Feito isso, Pietro e eu saímos e uma estranha sensação não me deixa.

— Vai ficar tudo bem, Chico. – meu cunhado fala e eu tom é pesado e triste – Estamos aqui.

Eu não aguento e me sento na calçada e começo a chorar.

— Meu Deus, Pietro... Ele era tão jovem... Tão novo. – soluço – Não é justo enterrar meu filho! Não é!

Pietro se abaixa e me abraça.

— Eu não sei o que dizer, Chico... – ele chora também – Gabe era como um filho para mim.

Eu apenas choro.

— Meu Deus... O Enzo... – falo soluçando.

— Deixa o Enzo conosco, Chico... Vamos cuidar do meu menino.

Apenas concordo. Pouco depois me levanto para ir embora e olho para o IML ainda não acreditando que estou aqui e só então me lembro de algo.

— Pietro...

— Sim... – ele me olha sério. Ele lê meus pensamentos. – Temos que avisar Vera.

A dor de cabeça aumenta em pensar nela.

— Hoje não... – digo – Ela que se dane!

— Ela é a mãe dele, Chico! Precisa saber... – Pietro argumenta.

— Ela não é e nunca foi mãe de nenhum deles! – a raiva ressurge com força total. – Depois, Pietro!

E saio em direção ao carro. Voltamos para a casa de Pietro e recebemos a notícia de que Enzo sumiu.

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Narrado por Diego

Assim que meu sogro chega, eles ficam sabendo sobre a fuga de Enzo e que eu tive que arrombar a porta porque ele não respondia e d. Alice e Tati ficaram apavoradas achando que ele poderia ter cometido alguma loucura, mas ele apenas fugiu e pelo que entendi está em negação.

Converso alguns instantes com meu sogro sobre o que houve no IML e fico aliviado ao saber que ele pediu a comparação da arcada dentária. Como Tati que ir atrás de Enzo chamo-a para irmos e dou a desculpa que tenho que saber da minha filha e tomar uma banho. Despeço-me de todos e saímos.

Praticamente não conversamos durante todo o trajeto. Tati não mais chora, mas permanece num silêncio que me deixa agoniado. Sei que ela ficou curiosa sobre a forma que abri a porta e pelo que eu disse sobre Enzo estar negando todo o ocorrido, mas isto faz parte de mim e da minha profissão. Eu aprendi a ler as pessoas de todas as formas.

Deixo- a em frente ao prédio que eles moram, espero ela entrar e sigo em direção ao escritório. Ao entrar dou de cara com ele comendo um lanche.

— Isso é gorduroso, sabia? – falo para ele.

— Experimenta a nova dieta da Loreta e você achará sopa de pedra a refeição mais saborosa do mundo.

Vou até o bar e me sirvo.

— Noite difícil? – ele pergunta.

Suspiro e tomo tudo de uma vez e me sirvo de outra dose.

— Lembra do caso Gabriel Maia? – pergunto.

— Sim... O que tem?

— O que tem? – repito – Bom... Para começar minha namorada Tatiana tinha um irmão, o qual eu conheceria neste final de semana sofreu um acidente automobilístico. – pausa – E quando eu cheguei na casa dos tios dela me deparei com várias fotos dos filhos do casal... Dentre eles o filho mais velho... – olho para Antônio – Com o namorado. E adivinha quem é o casal? – engulo toda a bebida – Gabriel e Enzo... Gabriel Maia é irmão da minha namorada Tatiana. Dá pra acreditar?

Antônio coça o queixo me encarando.

— Está se sentindo culpado, não é?

— Sim.

— Mas você só fez o seu trabalho, Diego. – ele diz – Quem o contratou é o verdadeiro culpado.

— Como você sabe disso? – pergunto nervoso – Acha que o acidente foi proposital?

— Claro! Por que não seria? – ele fala como se fosse óbvio – Pensa bem, Diego, quem ganharia alguma coisa mandando você seguir um casal de namorados jovens e homossexuais? Ou o pai ou a mãe, certo?

— Certo.

— Pois então, quem contratou seus serviços era uma pessoa mais jovem, certo?

— Certo. Um rapaz... – penso melhor – Acho que o infeliz até deu o nome errado para se livrar de qualquer enrascada. Filho da puta.

— Concluindo, - diz Antônio – Lembra do que eu falei sobre ex ou até mesmo um sequestro?

— Mas há um corpo no IML, Antônio e tudo leva a crer que é o Gabriel. – passo a mãos no cabelo nervoso – Falei ao meu sogro para ele pedir uma comparação da arcada dentária já que o corpo ficou todo carbonizado.

— Fez bem, Diego. – Antônio caminha pela sala – Tem caroço nesse angu...

— Isso foi armado, Antônio. – digo determinado – Vou encontrar quem me contratou e entrega-lo a policia, quer ele deva ou não. Prometi isso ao Enzo quando o vi fugindo hoje.

— Como?! – ele pergunta surpreso – Fugindo?

— Sim, enquanto eu falava com você ao telefone ele pulou a janela e saiu da casa sem que “ninguém” visse.

— Coitado do rapaz. – ele me olha – Diego, descubra quem é o delegado responsável pelo caso e vamos investigar por fora. Cole no seu sogro e observe todos que se aproximam durante o velório e o enterro. Quem fez isso, com certeza conhecia os rapazes.

— Ok.

— Assim que tiver algum suspeito me avise que entro em ação. – Antônio vai ainda mais longe – Se o que você estiver suspeitando for verdade há alguém querendo destruir a família – e me olha muito sério – E começou pelo elo mais fraco da corrente.

Agora eu o olho assustado e coisas que Tati vem me contando ao longo do nosso namoro volta a minha memória.

— O que foi? – Antônio é observador demais.

— Algumas coisas que Tatiana vem me contando... Aos poucos, sabe? – vou me servir de outra dose – Antônio... Tem muitos caroços nesse angu... muitos mesmo.

Conversamos por mais um bom tempo e quando saímos do escritório já está amanhecendo.

Vou para casa me preparar para colar em meu sogro e observar cada pessoa que se aproximar dele e da família. Todos são suspeitos até que o criminoso apareça.

O modo detetive está ativado. E o pior de tudo é que terei que contar a Tatiana e devo confessar que estou com medo de sua reação e do modo que ela irá interpretar tudo o que eu disser.

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Narrado por Tati

Meu pai vai para o IML acompanhado por tio Pietro e recusa minha companhia. Tudo bem. Eu não queria ir mesmo e nem sei porque me ofereci.

Diego permaneci conosco na casa e conversamos um pouco. Conto coisas da nossa infância, apenas os momentos felizes e esses foram todos vividos nesta casa. É tão estranho ficar sem ele, não ouvir mais seus xingos quando Eno fala da intimidade deles, suas risadas estrondosas. Resolvo ir falar com Eno e peço licença aos dois. Enrico e Aline foram para seus quartos.

Seco um pouco das minhas lágrimas e bato a porta d quarto de Enzo. Nada. Tento abri-la , mas ela está trancada. Fico apreensiva

— Eno? – chamo e encosto meu ouvido a porta tentando ouvir algum ruído. Nada. – Eno? Enzo!

Mexo na fechadura e nada acontece.

— Eno! – chamo em voz alta.

— Tati? – ouço a voz triste de Rico

— Rico! Vem cá... – minha voz exala medo – Eu estou batendo e ele não abre.

Observo Rico arregalar os olhos e vem até a porta para chamar também.

—Eno! – ele chama – Abre aqui, mano! Por favor...

— Enzooo!! – bato também e já olho para Rico desesperada – Meu Deus... Que não seja o que eu estou pensando...

— O caralho que é, Tati! Não pensa, ok? – a voz dele treme.

Nesse instante Aline chega.

— O que está acontecendo? – ela pergunta

— Eno não quer abrir a porta! – Rico responde – Desce e chama a mamãe... Rápido, mana!

Ela sai gritando pela mãe escada abaixo e não demora muito tia Alice volta com Diego logo atrás.

— Mama... – Rico fala desesperado – Eno não quer abrir a porta! ENO! ABRE, PORRA! – ele grita e esmurra a porta.

— Meu Deus, meu filho... – ela vem até nós e quando vai bater Diego se manifesta.

— Deixa eu abrir a porta, d. Alice!

Todos olhamos para ele.

— Está trancada por dentro. – Enrico avisa.

— Sem problemas! – ele responde calmo – Só um instante.

E desce as escadas rapidamente.

— O que ele vai fazer? – Aline pergunta curiosa.

— Não sei, querida. – respondo apreensiva – Mas espero que seja rápido.

— ENZO! – minha tia grita e esmurra a porta – ABRA JÁ ESTA PORTA! ANDAAA...

— Mama... – Rico se aproxima e a abraça pelos ombros. Ambos choram.

Eu amo tanto meus primos porque eles são unidos em todos os momentos, seja nos bons ou nos ruins. Diego volta com uma maleta na mão.

— Eu posso, senhora? – ele pergunta a minha tia.

— Claro, querido! Seja rápido, por favor!

Meu namorado simplesmente desmonta a fechadura em questão de minutos. Confesso que estou chocada e curiosa para saber como ele sabe fazer isso.

— Pronto, depois é só repor. – ele anuncia – Eu vou na frente.

Diego entra e vamos logo atrás. O quarto está extremamente frio, a janela aberta e a cama vazia. Ele vai até o banheiro e diz:

— Ele não está aqui. – e aponta a janela – Com certeza fugiu.

— Mas para onde ele pode ter ido? – tia Alice está aflita – Ele quer me matar do coração?

— Calma, mama! – Rico a conforta – Ele deve estar caminhando... Já fez isso algumas vezes, lembra?

— Acho que ele está em fase de negação! – Diego declara calmo – É normal em casos assim... Não aceitar o que está acontecendo e fugir da realidade.

Olho boquiaberta para ele. Com certeza, preciso conhecer mais do meu namorado e algo que Eno disse há um tempo atrás.

“Investigue-o, gata!” lembro de sua frase. Naquele momento achei sem sentido, mas agora...

— Tati ou algum de vocês – ele fala – Tem ideia de onde ele possa ter ido?

Minha tia apenas chora e nega.

— Eu não sei...

— Nós também não... – Enrico responde e Aline confirma.

— Ele foi para casa! – declaro – Quando ele desceu disse que queria ir para casa, não é?

— Sim... – minha tia responde – Será?

— Só vendo para crer. – e me viro para Diego – Você pode me levar até lá, por favor?

Sorrio para ela.

— Claro, amor! – responde – Vamos esperar seu pai retornar e te levo.

Minha tia fecha a janela e meus primos voltam para seus quartos enquanto desço com Diego.

— Tenho medo de que ele possa cometer uma loucura. – digo para ele – Ele e meu irmão são como almas gêmeas, sabe? Um não funciona sem o outro? O fato do Eno ter passado mal... Ele sabia que algo havia acontecido. Ele sentiu. – minhas lágrimas caem – A intuição do Eno é muito boa... Para tudo... E todos.

Vejo seus olhos lacrimejarem e ele me abraça. Após um tempo ouvimos ruídos e vozes e então meu pai e tio Pietro entram. Contamos sobre a fuga de Enzo e meu tio vai atrás da esposa. Observo meu pai e Diego conversando em voz baixa.

No instante seguinte ele se vira para mim.

— Meu amor... Assim que você quiser podemos ir.

— Então vamos agora! – vou até meu pai e o abraço – Eu volto mais tarde, ok? Vou atrás do Eno!

— Ok, filha e traga-o de volta. – ele derruba algumas lágrimas.

— Farei o possível, pai. – e então pergunto – Já avisou Vera?

— Não! – ele nega e eu semblante endurece – Quando for o momento... Agora não!

— Eu nem avisaria, mas é necessário. – beijo seu rosto – Eu te amo, paizinho!

— Eu também, filha.

E saio com Diego para ir atrás de Enzo.

**********************************

Diego me deixa em frente ao prédio e vai para casa ver como Julia está e descansar um pouco. Pergunto ao porteiro se Enzo apareceu e ele confirma que sim. Subo até meu apartamento e pego a chave reserva que tenho e sigo para lá. Toco a campainha algumas vezes e nada. Apreensiva abro a porta com cuidado e entro.

A sala está na penumbra então sigo para o quarto. Bingo! Ele dorme com uma camiseta cobrindo seu rosto e com a janela entreaberta. Fecho-a e vou para o seu lado.

Meus olhos se enchem de lágrimas, mas as evito. Coloco um cobertor sobre ele e me deito ao seu lado. Vou velar seu sono como ele fez comigo há 12 anos atrás.

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Flashback on

As dores em minha barriga são insuportáveis e me levanto para ir ao banheiro quando vejo que estou encharcada de sangue e minha cama também. Fico desesperada e vou para o banheiro. Tomo um banho na esperança de que o sangue suma.

Minha mãe entra no banheiro.

— Como você está, Tatiana? – ela pergunta de modo suave.

— Eu não paro de sangrar, mãe! – choro – Estou com medo...

— Tome seu banho e coloque esse absorvente. – ela deixa obre o balcão – E desça para irmos ao médico.

Ela sorri e sai. Concordo e faço o que ela manda. Algum tempo depois estou encolhida no banco traseiro de seu rumo ao médico.

Ela estaciona um tempo depois dentro de uma clínica particular. Uma mulher alta e magra a espera com uma cadeira de rodas na qual me sento e sou guiada por um corredor até chegar numa sala. A enfermeira me ajuda e deito-me numa maca. Ela tira minha calcinha e pede que apoie minhas pernas em apoios bilaterais e faço isso envergonhada.

Não demora muito e um médico entra na sala.

— Bom dia. Você deve ser a Tatiana, certo? – confirmo – Qual a sua idade?

— Eu tenho 16 anos.

— Ok. Primeira gestação?

— Sim. – digo – Doutor, eu estou com medo porque o sangramento não para.

— Fique calma. – ele responde e sorri – Vou fazer com que tudo fique bem, ok? Confie em mim.

E aplica uma injeção em meus braços e tudo se apaga.

Acordo sem saber onde estou e nem que horas são. Estou dolorida da cintura para baixo e com vontade de vomitar, que faço assim que viro o rosto na cama.

— Socorro... – sussurro após vomitar.

A mesma enfermeira entra no quarto.

— Ah... Tenha santa paciência! – ela resmunga com raiva – Não deu pra segurar, menina?

Olho para ela assustada.

— Onde está minha mãe? – pergunto tremendo.

— Foi embora. – responde e sai do quarto.

Instantes depois uma faxineira entra e começa a limpar o vômito.

— Por favor... – imploro – A senhora pode me ajudar?

Ela me olha com piedade.

— O que você quer, menina? – ela pergunta se aproximando.

— Ajude-me a sair daqui. – digo fraca – Por favor...

— Quer que chame alguém?

Quase não consigo pensar por conta da dor, mas uma pessoa me vêm a mente.

— Alice... – sussurro – tia Alice...

— Alice. – ela repete – Sabe o número para eu ligar?

Confirmo com a cabeça e dou o número a ela. Minutos depois ela volta.

— Já chamei, viu? – ela fala – Você é corajosa! Abortar nessa idade...

— O quê?! – meu cérebro dá um estalo. Literalmente.

— É... Sua tia levou um susto quando contei. – ela diz.

— Eu não abortei... É mentira! – começo a chorar e a juntar as peças. O chá. O médico. A clínica. – Meu Deus... – encolho-me sobre a cama. A dor é insuportável.

Cerca de 1 hora depois minha tia chega com meu primo a tiracolo e vem até mim assustada.

— Tati! – ela diz me abraçando – O que você fez, meu amor?

Eu a abraço de volta.

— Não fui eu, tia! – choro soluçando – Foi minha mãe... E ela foi embora e me deixou aqui...

— Desgraçada! – minha tia fala furiosa. Enzo observa tudo com olhos atentos – Vamos embora, meu amor! Vou leva-la para um hospital chamar seu pai...

— NÃO! – grito em meio ao choro e dor – Não... Por favor, tia eu imploro...

— Ok... Ok... Serei responsável por você. Calma agora, meu bem...

Concordo e minutos depois saímos daquele antro e vamos para um hospital. Estando lá, alguns exames são realizados e o aborto é confirmado. Conto o que aconteceu desde o momento em que tomei até chegar ali.

— Você pode desenvolver uma infecção, então vou mantê-la internada para observação. – o médico fala – E faremos mais exames para saber se houve algum dano ao útero e se houver qual a extensão do mesmo. – pausa – Tatiana, você é menor de idade e o que sua mãe fez é crime. Você quer denuncia-la?

Ainda estou assustada e em choque. Nego com a cabeça. Passo a noite sozinha, pois minha tia tem que cuidar dos filhos, mas na manhã seguinte após deixa-los na escolinha ela vem ficar comigo.

As dores estão fracas agora e meu único medo é de não poder gerar filhos no futuro.

— Querida... – minha tia diz enquanto me serve suco – Disse a seu pai que você viajou em uma excursão da escola, tudo bem?

— Sim... Obrigada, tia. – digo – E Gabe?

— Ele ficou triste porque você não se despediu, mas está bem. – ela sorri – Você irá para minha casa e lá cuidaremos melhor de você.

— Cuidarmos? Quem? – meu medo era do meu tio saber.

— Eu e meu filhote. – ela acaricia meu rosto – Eno quer cuidar de você porque está dodói, segundo ele.

Sorrio emocionada.

— O tio...

— Ele não está sabendo de nada, mas verá você enquanto estiver em casa. – fico com medo – Fique calma, meu amor que do seu tio cuido eu. – pausa – Você precisa contar ao seu pai e denunciar sua mãe.

Meu semblante fecha.

— Ela não é mais minha mãe! – digo firme – Eu não vou fazer nada. Pelo menos não agora, tia. Por favor...

— Você sabe que sou contra, mas vou respeitar sua decisão... Por enquanto, Tatiana! – ela diz de forma suave e firme.

— Obrigada.

E então, dois dias depois eu deixo o hospital e vou para casa de minha tia. Uma vez lá fico no quarto de hóspede onde acabo dormindo por conta do efeito dos medicamentos e ao acordar me deparo com um par de olhos verdes e um sorriso lindo olhando para mim.

— Oi, Tati! – Eno fala – Dormiu bem?

Sorrio para ele.

— Sim, meu querido. – sento na cama e bato para ele sentar-se ao meu lado.

— Mama e eu vamos cuidar de você, tá? – ele diz me abraçando – Tia Vera machucou você?

— Quem te falou isso?

— Você! – ele responde – Lá no médico...

Eu esqueci que ele estava com minha tia.

— Conta tudo pro tio Chico! – ele diz inocente – Eu conto, quer?

Eu me sento com certa dificuldade e olho para ele.

— Eno... – digo com carinho – Promete pra Tati que não vai contar pra ninguém sobre meu dodói? Nem pro tio e nem por Gabe? Promessa de dedinho...

E ofereço meu dedo e ele pega.

— Promete? – repito.

— Prometo, Tati... – ele diz e levanta empolgado – Deita aqui!

E ele me cobre e cuida de mim com sua pouca idade de 6 anos, meu primo cuida de mim do seu próprio jeito.

Flashback off

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E agora enquanto velo seu sono e relembro o passado, vejo o quanto nossas vidas estão interligadas e somos próximos um do outro.

Nossa perda e nossa dor é imensurável. Lembro de quando Gabe me contou que estava apaixonado por ele e seus olhos brilhavam de medo, felicidade, ansiedade. Choro de saudade e choro por Eno e pelo o quanto ele irá sofrer sem Gabe.

— Estou aqui para você, gatão! – sussurro e acaricio seus cabelos – Para sempre! Vou cuidar como você cuidou de mim.

E faço uma prece a Deus para que ele nos ajude.

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Comentários

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Gente que capítulo forte!!!!!!! As emoções afloram no meu peito, meu coração dispara e as lágrimas rolam... Quanta dor destas famílias, quanto sofrimento!!!! Se isso é obra da Vera trevosa ela merece o maior dos castigos que possa existir... Ranço da sete peles!!!!!

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Retiro tudo que foi dito quanto a história do aborto... Realmente você conseguiu encontrar uma forma lúdica pra esplicar!

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Ainda tenho esperança do gabe está vivo

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