Obstante os transtornos habituais de locomover do bairro ao centro, atrasos de ônibus, ou ora lotados, ora o trânsito, ainda era teu meio mais agradável de deslocação na cidade. Como normalmente dizia e mantinha como filosofia de vida, “Já tivera pressa em chegar, porém agora apenas desejava chegar!” Assim a tão exasperadamente pedra no caminho dos coletivos urbanos tornava-se um passeio. Em seu jeito pacato, distraído, os que observassem pelas ruas não iriam percebê-lo, em suas vestes simples, calça social cinza escura, camisa em um tom cinzento mais claro e sapato preto, ao qual, aos seus olhos, combinava perfeitamente com o cinto. Uma mochila de tecido, tamanho médio completava seu perfil. O tempo passou rapidamente nos últimos quinze anos. Até os meados de 2002, o dia aparentava ter mais que as vinte e quatro horas. Hoje, não se percebe e já estamos na noite no aconchego do travesseiro, dormindo. Nada contra seus já sessenta anos de vida, tão próximo do fim, pois, é inevitável compreender que um dia tudo terá seu término. Quando passou a aceitar isso, entendeu que a pressa não leva a nada, mas importava chegar.
Sentado ao fundo do coletivo, lado da janela, numa lembrança de tempos passados, olhava as ruas, calçadas, lojas, pessoas, o movimento, quase fascinado. Aos seus oito, nove anos uma viagem de trem suburbano em São Paulo, em bancos de madeira, lotados, aquele característico barulho sempre fora uma odisseia maravilhosa. Quando dentro do ônibus, olhando o mundo lá fora, outra odisseia. Os bons momentos nunca são esquecidos, porém, mantidos como alento, a esperança, o ar renovado da fé no dia seguinte. Alguns o chamavam de velho, uma forma carinhosa de chama-lo, contudo, em seu Universo, a certeza de um Universo excelente. Constantemente o encontrariam com um risco de sorriso nos lábios, um trejeito na face de alegria, uma aura de satisfação pelos momentos que em seu Pensamento tudo isso materializava.
Absorto nos pensamentos e nas visões de pessoas nas calçadas, não reparou em duas jovens senhoras sentando-se no banco a frente do dele.
-“Pois é, Comadre, não acreditei no que a Ivone contou ontem pra mim!”
-“Mas é absurdo isso... Também, com tudo isso de celular nas mãos das crianças, só pode dar nisso. Esse mundo está perdido.”
-“É verdade. São jovens demais o casal de filhos da Dona Maria. Pra mim são duas crianças ainda beijando na boca desse jeito, escondidinhos atrás da casa.”
-“Verdade. Irmão e irmã fazendo “coisas”. Que mundo perdido”.
Aproximando de teu ponto de desembarque, em pé, próximo à porta do coletivo, colocou-se de maneira a observar nas duas mulheres. Em torno de seus quarenta anos, seios fartos, obesas com certa sensualidade, ambas trajando vestidos estampados em tons escuros. Quando pôde ter o olhar de uma e da outra, sentiu um sorriso maroto e no seu íntimo o quanto essas duas deveriam ser carentes de sexo dentro do casamento, de suas vidas. Conjecturou serem bem safadas dentro das quatro paredes do quarto. “Lenha verde chora, mas pega fogo”, pensou consigo descendo do ônibus.
Sentado tendo um painel de chamada a sua frente, calculando pela senha em mãos a última chamada, ainda dez pessoas para serem atendidas, esticou-se acomodando na cadeira e fechou os olhos. Com um suspiro pensou nas duas mulheres falando do absurdo do beijo entre um casal de irmãos. “-Ah, duas distintas senhoras, o que não julgariam de mim contando o que passou em minha vida...” Pensou, divagando em seu passado, naquele longíguo inicio de tarde de outono brasileiro, muita nebulosidade, um clima fechado e temperatura oscilando entre morna e quente. Ainda tão jovem, um adolescente, como tal como uma enorme indisposição para perder algumas horas trabalhando invés de poder desfrutar dos que mais aprazerasse nas horas por vir. Entretanto, por uma tácita ordem da mãe vira-se obrigado a ajudar o pai, não que isso o desgostasse, mas ele tinha ido ao médico e essa seria uma tarde sua.
-“Vai, Filho, recolhe aqueles blocos para adiantar o trabalho amanhã de teu Pai!”
Contrariado foi executar a ordem. Olhando o milheiro de blocos, a escada escavada no chão batido, a casa em construção no alto, a tarefa de carregar dois blocos por vez, contribuía para que sua coragem esvanecesse entre os dedos. Colocara dois no chão baixando do alto da pilha quando sua irmã dois anos mais nova chegou com sua postura pacata, suave, passiva, em seu tradicional vestido rosa, blusinha marrom e sandália de couro marrom.
-“A Mãe falou que é para você guardar só os blocos que vai ser usado no muro do fundo. Depois você pode ir brincar.”
Ah, um alívio por saber que apenas trinta, quarenta minutos daquele trabalho. Já pensou no campo de futebol, seu maior passatempo.
-“Está bem.” Retrucou olhando a irmã, com o olhar cabisbaixo em postura de timidez.
A jovem serenamente encostou-se aos blocos, braços caídos ao lado do corpo, olhar fixo no chão. Não fora de si que nasceram os atrevimentos ao corpo da irmã, porém dela mesma quase que oferecendo ao irmão após uma manhã que durante os folguedos de manos, acabou-se agarrando à sua irmã, por trás, sentindo o corpo dela ao seu. Assim, agarrado, erguendo-a do chão, aproveitando-se de estarem a sós no quintal, levou-a para trás da casa e findou sua aventura incestuosa levantando-lhe o vestido, olhando impunemente a bunda, a calcinha, as coxas. Encoxou-a fortemente esfregando como seus coleguinhas de escola, de futebol de rua, tanto diziam e algumas vezes faziam nele. Sim, as sensações foram excelentes, loucas, sem uma definição. Encostar o corpo, o membro por cima do calção à bunda da sua irmã, por cima da calcinha, causou sentimentos maravilhosos. Um incidente ocasional fez desencadear inúmeras aventuras nas descobertas juvenis do prazer da carne, do sexo, dos sentimentos confusos, dos hormônios, da vida.
O alarme sonoro do painel avisando a chamada para atendimento fez retornar à realidade. Olhou em volta como que buscasse identificar pessoas que poderiam ter ouvido seus pensamentos. Sorriu. “- Que tolice alguém ouvir meus pensamentos!” Restavam quatro para serem atendidos. Voltou-se para si, em suas confabulações memoriais. Em seu pensamento a irmã à frente, passiva, aguardando por algo. Qual como tantas vezes aproximou-se tímido e inseguro encostando o corpo ao corpo dela. As mãos em sua cintura alisando por cima do tecido a barriga, os flancos, descendo para as coxas e entrando por baixo do vestido. A maciez, o calor da pele, o prazer do pecado, da carne falando mais alto. As gostosas excitações juvenis, o volume no calção. Ergueu o vestido levando o volume em si à região pubiana da irmã, empurrando o peso do corpo ao dela. Seus rostos ficaram lado a lado, sua respiração ofegante à dela, calma e serena. Um curto lapso temporal os olhares cruzando num tom apaixonado, mirando-se causando momentaneamente uma parada no tempo e espaço.
-“Beija eu...” A irmã pronunciou as palavras em tom baixo, voz rouca, gostosa.
As bocas colaram uma à outra apertando os lábios, sentindo o gosto da carne, da mesma carne. O primeiro beijo entre eles, o primeiro beijo de sua existência. A primeira vez que ousava tocar sua boca a outra boca. Esse Beijo incestuoso com sua irmã. Tornou-se surreal sua volta e os acontecimentos. O beijo selava um sentimento, não apenas as brincadeiras dos corpos, das excitações, dos gostosos momentos da busca pelo prazer do sexo. O beijo tornava a relação mais do que irmão e irmã, mas de um casal de jovem com amor no coração.
Ficou atônito observando sua irmã saindo pela calçada, em passos rápidos. Passou os dedos na boca qual procurando por um sinal do que tinha ocorrido. Tudo normal. Apertando os lábios um gosto peculiar marcava aquele beijo e não desaparecia mais em sua vida, por mais longa que pudesse ser.
Uma senhora ao lado tocou em seu braço despertando do breve devaneio.
-“É sua vez, Senhor.”
Caminhando ao guichê do banco pensou no primeiro beijo e no peculiar gosto. “- Vou comprar toucinho para cozinhar com o feijão... Lembrar-me-ei do gosto do meu primeiro beijo!” Com o rosto esfuziante por essa recordação agradável, vagou um pouco pelo almoço daquele dia, quando a mãe colocou feijão com couro de toucinho.