Respostas aos comentários:
VALTERSÓ - amigo... Seus questionamentos estão neste capítulo, quer dizer, alguns. Quanto ao Enzo saber que o Gabe está vivo é surpresa! Abraços.
Lolito for ever - sou médico sim! Mas não pago a conta não...kkkkk... A história acabaria no capítulo 38, porém decidi fazer algumas modificações. Prometo a você que no capítulo 39 falo com exatidão, ok? Abraços.
Grilo falante - Algumas respostas estão aqui. Quanto a Fabíola este foi um dos motivos para eu aumentar os capítulos. Eu sou perfeccionista demais...rsrsrs... Quanto ao Fernando, ele está em contato com o chefe, porém por conta de outros assuntos. Roberto não sabe de nada. Abraços.
Lebrunn - Tati entregou na inocência os documentos por achar que estava ajudando, mas Ítalo terá uma boa surpresa aqui. Enzo é curioso, por isso ele levou o documento... Fora que ele é intuitivo. P.S: NÃO SE PREOCUPE que explico nos capítulos a frente. Abraços.
arrow - A ligação eu explico aqui, meu querido. Eu não mataria o Gabe jamais porque não vejo o Enzo seguindo a vida sem ele... Abraços.
Adiery - Calma... Não fique ansiosa... Pelo menos não muito! ainda tem historia pela frente...rsrs... Obrigado por ler e comentar. Eu escrevo para vocês! Abraços.
Os Verões Roubados de Nós
Capítulo 35
As coisas saíram fora do previsto. O que era para ser um sequestro mediante a um alto valor de resgate culminou com a morte do meu filho. Eu sempre quis me vingar de todos que de alguma forma atrapalharam minha vida, mas eu nunca quis que Gabriel morresse. Para que vocês entendam como a situação chegou a esse ponto inicio minha história.
Minha família tem nome e pertence a sociedade paulistana a décadas. Nossos antepassados fizeram fortuna com a produção de café e cana de açúcar. Frequentávamos jantares, festas de luxo.
Eu sou a caçula de quatro filhos: Augusto (já falecido), Alberto, Olga e eu. Sempre fui mimada e tudo o que eu quisesse conseguia sem o menor esforço. Pelo menos foi assim até a adolescência. Com meus 14 anos numa viagem de férias conheci um dos capatazes da fazenda. Seu nome era Venâncio. Confesso que meu coração disparou quando o vi, pois ele era alto, porte atlético, um sorriso lindo e para lá de amistoso. Foi amor a primeira vista e nos tornamos amigos logo de cara. E todas as férias eu contava as horas para estar ao seu lado.
Passávamos muito tempo juntos e isso começou a incomodar meus pais, principalmente minha mãe, pois segundo ela, Venâncio era apenas um empregado e não passaria disso. Fora o fato de que ele era negro. Olga, que na época já era noiva apoiava nosso romance e a partir daqui vocês passarão a entender meu ódio por ela. Isso tudo aconteceu num verão e eu tinha 16 anos.
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Flashback on
Férias de janeiro e o calor era imenso. Graças a Deus conseguimos vir para fazenda sem Francisco. Ultimamente minha mãe estava me empurrando de forma excessiva para cima dele. Não que eu desgoste dele, mas meu coração pertence a Venâncio e eu mal posso esperar para podermos ficar juntos quando eu atingir a maioridade. Durante o período de aulas matávamos a saudade através de cartas e breve conversas via telefone, porém nunca em minha casa para ninguém desconfiasse de nada. Já é noite e eu quero ir até o lago nadar e namorar m pouco, pois avisei Venâncio antes. Sim, namorávamos escondido e não fazíamos nada além de dar beijos e abraços.
Esperei até a casa ficar silenciosa e desci para me refrescar do calor insuportável. Fui rapidamente para o lago e tirei minha roupa ficando apenas de maiô com camiseta por cima. Como já tinha avisado Venâncio, então eu estranhei o fato dele não estar aqui me esperando. Deliciei-me nas águas refrescantes, porém não percebi que estava sendo observada por um tarado que se fingia de amigo. Saí da água e comecei a me secar quando ouço um barulho de galho estalando e olho rapidamente.
— Pedro!! – exclamo assustada e olho em volta com medo de meus irmãos estarem escondidos.
— Vera... – seu sorriso é malicioso – Veio se refrescar um pouco?
Sinto-me acuada e um arrepio faz com que eu fique cautelosa.
— Sim. Estava com calor. – e começo a recolher meus pertences. “Preciso sair daqui!” penso angustiada.
— Já vai? – ele pergunta – Ainda é cedo...
— Sim. Como eu disse, vim apenas me refrescar. – e vou saindo apressada
Ao passar do seu lado sinto meu braço ser puxado.
— Não vai... Vamos nadar juntos? – tento puxar meu braço, mas ele é mais forte e o aperta – Você é gostosinha, sabia disso?
Ele acaricia meu rosto e sinto repulsa.
— Solta o meu braço, Pedro. Por favor... – peço com educação.
Meu medo era de alguém aparecer e interpretar a cena de modo errado. Fora o medo que me domina dele tentar algo comigo. E, num gesto rápido, Pedro me abraça com força e me leva para a beira do lago me jogando ao chão e começa a tirar sua roupa.
— Pedro... O-o que...
— Cala a boca, sua putinha! – ele tira a camisa e vem para cima de mim – Você me provoca com esse corpinho lindo e agora vai ter o que pediu.
E para meu desespero ele começa a tentar tirar a minha roupa. Faço um verdadeiro escândalo gritando e me debatendo até que acerto um chute em seu saco. Pedro geme de dor e sai de cima de mim. Levanto-me desesperada, mas não consigo ser mais rápida porque ele me puxa pela perna derrubando-me novamente. Sinto Pedro esfregar seu pau em minha bunda e grito com todas as forças desesperada, porém ele tapa a minha boca.
— Vera... Verinha.... – ele morde minha orelha cantarolando – Tão gostosinha, mas tão arredia...
De repente sinto seu peso sair de cima de mim e me rastejo para longe. Quando olho vejo Venâncio dando uma gravata nele e o arrasta para o lago jogando-o lá. Ele me olha e grita:
— Vai para casa, meu amor! – seu olhar é de ódio para Pedro – Agora é comigo, playboy!
Eu não conseguia me mover pelo choque. Apenas chorava e assistia Venâncio dar uma surra épica em Pedro deixando-o caído desacordado à beira do lago. Ele se aproxima e me toma nos braços me levando para sua casa. Uma vez lá, Venâncio cuida de mim com carinho e amor que acabo dormindo em seus braços.
Acordo e o dia ainda não amanheceu. Olho para o lado e ele me observa sorrindo e ali em sua casa acabamos fazendo amor e devo dizer que foi lindo.
Voltei para casa e nenhum sinal de Pedro. Ele praticamente havia sumido. Entro o mais silenciosamente possível e vou par o meu quarto onde tomo um banho relaxante. Tento esquecer a parte terrível da noite passada ficando apenas com a parte maravilhosa de ter meu amor nos braços. Fico receosa se desço ou não, mas a fome vence e vou tomar café da manhã. Meus pais conversam em voz baixa silenciando quando entro.
Minha mãe me observa atentamente e anuncia que iremos voltar para a capital a tarde e mesmo com meus protesto para dissuadi-la da ideia não consigo.
Voltamos para São Paulo e suas tentativas de me empurrar para Francisco tornam-se insuportáveis. Ele é legal, está no auge dos seus 20 anos e eu nos meus 16 anos recém completados, estuda, já possui alguns investimentos e mesmo sua família não tendo um nome expressivo na alta sociedade eles fazem parte dos chamados novos ricos.
Os dias se passam e começo a me sentir mal do estômago. Enjoos, sonolência e cansaço me deixam pior ainda. E o que eu nunca esperava, acontece. Estou grávida. Confesso que ao mesmo tempo que fiquei feliz, um medo tomou conta de mim também. O melhor disso tudo era que significava apenas uma coisa: meus pais me obrigariam a casar com Venâncio e isso me deixava pra lá de feliz.
Mas como toda adolescente boba e com medo de que meus pais pudessem fazer algo contra mim e meu filho resolvo fugir para a fazenda para ficar com Venâncio ou até mesmo fugirmos dali para algum lugar onde possamos criar nosso bebê.
Sinto meu mundo desmoronar quando chego a fazenda. Venâncio não está lá. Simplesmente desapareceu sem deixar rastros. Não há sinal dele. Pergunto aos empregados, mas eles se recusam a falar. Na verdade não podem, pois meus pais proibiram qualquer um de falar sobre ele.
— Meu Deus! – choro em meu quarto – O que será de mim?
Nem sei por quanto tempo permaneci chorando e acabei dormindo. Quando dei por mim já havia anoitecido e quando vou me levantar vejo minha irmã parada na porta do meu quarto.
— Olga? O que faz aqui? – pergunto apreensiva.
Ela me olha com ar de superioridade e entra no quarto sentando na poltrona.
— Vim para lhe contar o que houve. – ela está fria – Você quer saber o que aconteceu com Venâncio?
Apenas aceno afirmativamente.
— Ele foi embora. Após seu retorno para a capital papai chamou Francisco aqui e ambos foram conversar com Venâncio. – ela diz calma – Francisco deu dinheiro a ele para ir embora e nunca mais te procurar.
Minha cabeça gira confusa. Não! Não pode ser verdade! Meu Venâncio jamais faria isso comigo.
— É mentira sua! – digo me levantando – Você está falando isso porque ele bateu naquele seu noivo miserável! Sabia que o Venâncio me defendeu dele? E sabe por quê? Aquele playboy inútil quase me estuprou.
Olga levanta-se lentamente e vem até mim desferindo um tapa no meu rosto.
— É mentira! – tanto seu olhar quanto sua voz são puro ódio – Pedro me contou tudo! Da sua infantil tentativa de seduzi-lo e de como seu namoradinho sujo o atacou.
— Não é verdade... Olga... Por favor... – lágrimas rolam por meu rosto – Onde está Venâncio? Eu preciso saber...
Ela dá um sorriso maldoso.
— Seu precioso Venâncio nunca mais irá voltar. – ela diz – Papai, Francisco e Pedro se encarregaram de coloca-lo no eu devido lugar.
Eu caio no chão e me enrolo toda sobre meu próprio corpo, pois preciso proteger meu bebê. Pelo modo como Olga fala tenho a certeza de que não verei mais o amor da minha vida.
— Você está grávida, não é? – ela pergunta se agachando ao meu lado – Mamãe irá tomar providências.
E foi isso mesmo que aconteceu. Meus pais me enviaram para a casa de uma tia- avó com a desculpa que eu estava com problemas respiratórios e foi lá que meu filho nasceu. Nesse período eu me comunicava com Francisco através de cartas enquanto no meu íntimo a raiva, a mágoa e o desejo de vingança iam se formando e meu plano de vingança teve seu início.
Quando Ítalo completou seis meses fui obrigada a deixa-lo, pois tinha que noivar com Francisco. E meu coração sangrou. Chorei por noites e noites de saudade de meu filho de Venâncio. Chorei pelos verões que eu não passaria mais com ele e nem com meu filho.
Quando Ítalo completou 15 anos, eu já estava casada há um bom tempo e Tatiana tinha por volta de 9 anos e Gabriel estava com 4 anos de idade. Ele sempre me pedia para conhecer os irmãos e então decidi que era o momento de contar a minha história, a minha verdade. Vi seu olhar de menino brejeiro passar para um ódio mortal e assim eu o inclui nos meus planos, ou melhor, ele mudou os planos e jurou vingança.
Flashback off
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E tudo estava indo bem até que Gabriel sofre este acidente e perde sua vida. Não era para ser assim, pois Ítalo calculou tudo minuciosamente com seus comparsas. Com o dinheiro obtido pelo resgate partiríamos do Brasil para vivermos em liberdade como mãe e filho. O que eu sempre quis.
Mesmo não sendo apegada emocionalmente aos meus filhos com Francisco, Gabriel de alguma forma tocou meu coração de pedra com seu jeito meigo e doce. Já Tatiana, de forma alguma me arrependo do que fiz a ela, pois ela parecia Olga quando me desafiava ou me provocava, então tudo o que Olga fez para mim ela estava pagando de alguma forma.
Vinguei-me de meu pai ministrando veneno em sua comida, sua bebida e o assisti sucumbir sem que os médicos descobrissem o que era. Já minha mãe faleceu por conta de um câncer, porém não perdi meu tempo cuidando dela e nem ao mesmo fui ao seu encontro quando ela estava na fase final da doença e me chamava insistentemente para conversarmos. Eu não fui e não iria jamais.
Meus irmãos se casaram e foram viver suas vidas. Contra eles eu não tinha nada, pois eles nunca me fizeram mal a mim ou a meu filho. Quanto a Olga? A desgraçada casou-se com Pedro e viu seu marido inútil gastar todo seu dinheiro com mulheres, jogos e bebidas e no fim, troca-la por uma jovem rica. Sem ter para onde correr ela foi embora trabalhar nos EUA e vive por lá até hoje. Nunca mais nos falamos e nem quero que isso aconteça, pois se ficarmos frente a frente sou capaz de matá-la.
Agora minha consciência pesa pelo ocorrido ao meu filho e não há lágrimas suficientes que possam expressar essa sensação. Quase contei ao Enzo, mas Ítalo chegou na hora e senti uma certa pressão de sua parte.
Neste momento estou em casa, mais precisamente no quarto de Gabriel. Ouço o telefone tocar e não vou atender. Termino meu whisky (minha companhia constante nos últimos tempos) e sento-me na cama que um dia ele dormiu. Olho para a estante e lá está uma foto dele ainda adolescente com aparelho nos dentes. Sorrio pela primeira vez.
— Perdoe-me, meu filho. – falo olhando para a foto – Eu não queria que terminasse assim.
E mais lágrimas rolam pelo meu rosto. Deito-me na cama e o cansaço somado ao efeito da bebida me fazem adormecer.
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Narrado por Ítalo
Tentei pegar os documentos do restaurante através de Enzo, mas não consegui porque o moleque está totalmente fora da casinha por conta da “morte” do namorado viadinho. Então, voltei minha atenção para Tatiana e com um pouco de persuasão e lábia consegui o que quero. Tive apenas um momento de receio quando ela se assustou ao me ver esperando-a.
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Flashback on
Ouço o barulho do elevador e quando as portas se abrem Tatiana sai com um papel nas mãos. Vejo seu olhar de surpresa ao me ver.
— Ítalo? – ela fala – Aconteceu alguma coisa?
Encarno o ator que existe em mim:
— Oi, Tatiana... Na verdade aconteceu. – falo baixo e num tom triste – Podemos conversar?
Ela assenti e abre a porta.
— O que houve? – ela pergunta.
— Bom, eu falei primeiro com Enzo, mas o coitado está abalado com tudo o que aconteceu então, fui falar com seu pai, mas ele disse para adiarmos. – faço uma cara de cachorrinho pidão – Olha, tem alguns documentos, notas e boletos a serem pagos... E também há o salário dos funcionários. Enquanto não se resolve a parte burocrática, o restaurante não pode ficar fechado, concorda? – e dou o golpe final – Gabriel não gostaria que fosse assim. Ele prezava demais os funcionários, Tatiana. – e choro – Gabe era mais que nosso chefe, nós o considerávamos como um irmão.
Vejo seus olhos lacrimejarem e sei que acertei seu ponto fraco.
— Ele era assim mesmo! – ela fala num tom triste – Vocês eram como a segunda família dele... E Gabe tinha você como um irmão.
— Obrigado. Eu também. – digo dissimulado – Você pode nos ajudar? Na verdade, eu gostaria de fazer o restaurante ir funcionando até eu pai decidir o que irá fazer com o estabelecimento... E conosco. – termino com pesar encolhendo os ombros e abaixo a cabeça. Esta tática sempre funciona.
Funciona tanto que Tatiana se aproxima e aperta meu ombro.
— Claro, Ítalo! Vem comigo!
Bingo! Vamos para o apartamento e ela vai procurar a pasta.
— Você quer ajuda? – ofereço humildemente.
— Sim! – ela vai pelo corredor – Acho que pode estar no quarto deles.
Seguimos para o quarto e começamos a olhar tudo.
— É uma pasta verde. – informo a ela.
Tatiana abre o guarda roupa e encontra não uma, mas três pastas verdes. Meu coração dispara de felicidade.
— Você sabe qual é? – ela pergunta – Porque eu não entendo nada disso.
— Eu preciso olhar uma por uma... – digo pensativo – Posso leva-las e te devolver depois? Porque tenho que avisar nossos fornecedores sobre o ocorrido. E os telefones estão nas notas.
— É verdade, Ítalo... Ninguém pensou nisso. – ela diz – Você faria isso por nós?
— Claro que sim! – respondo com um sorriso falso – Eu considerava Gabe como um irmão e mesmo não te conhecendo bem, também considero, viu? Conte comigo para tudo... Maninha! – e sorrio mais ainda.
Ela devolve o sorriso e me surpreende com um abraço.
— O que seria de Gabe sem você? – ela diz – Muito obrigada, Ítalo... Também vou considera-lo como um irmão a partir de agora.
Confesso que isso me abala por alguns segundos, mas enterro qualquer sentimento que não seja o ódio e o desejo de vingança contra eles.
Terminamos a sessão mela-mela e saio com todos os documentos nas mãos. Tão fácil. Agora sim, tudo irá acontecer do modo que planejei por todos esses meses.
Flashback off
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Agora de posse dos documentos sigo para minha casa para procurar o documento de propriedade do restaurante que Francisco transferiu para Gabriel há alguns dias atrás.
O primeiro passo de todo meu plano foi contratar um detetive para segui-lo e descobrir sua rotina, com quem ele andava e com informações preciosas de minha mãe e sua desconfiança de um relacionamento entre ele e Enzo, este também entrou na investigação. E após o detetive me entregar o relatório planejei um sequestro, pois Bento disse que o sequestro renderia uma boa grana e estava em alta, porém quando minha mãe disse que ele estava envolvido num um empreendimento grande mudei de ideia, pois com o sequestro poderíamos ser presos. E eu não vou morrer na praia após nadar tanto contra maré, então montei o melhor currículo que podia e para minha surpresa fui selecionado para trabalhar como gerente do restaurante. Confesso que tive que aprender a gerenciar na marra porque meu currículo era falso, mas com muita lábia e jeitinho me dei bem, pois ganhei a confiança de todos. Menos de Enzo. Esse filho da puta me olhava desconfiado e com ar de superioridade o tempo todo quando estava lá e eu tinha que me esforçar para não soca-lo ali mesmo. Mas agora ele viu, ou melhor, está vendo e sentindo na pele como é perder quem se ama de verdade. Bom, relativamente ele ainda não perdeu, mas é apenas uma questão de tempo. Sorrio imaginando como será quando esse viadinho descobrir tudo o que realente aconteceu. Sua cara ao saber que Gabe morreu bem depois que eu consegui acabar com todo seu patrimônio e ainda faturar com ele.
Agora o segundo passo e acordar Gabriel, faze-lo assinar a transferência de posse e fechar o negócio com o comprador. Na verdade, ele recebeu uma proposta milionária para vender o restaurante e não quis. Viado do caralho. Somente por causa disso o plano entrou em ação, mas com uma diferença, assim que ele assinar o documento seu destino está selado, pois Bento irá ata-lo e dar um sumiço no corpo. Ele mesmo havia me dito que há muitas fazendas de porcos na região, então o descarte será fácil.
Sorrio de felicidade porque tudo está dando. “Sequestro”, morte forjada, assinatura e finalmente a morte chegará de verdade para o meu irmãozinho caçula. Simples e prático. Dou uma gargalhada.
— Ítalo, você é um gênio!
Ouço meu celular tocar. É minha mãe.
— Droga... – resmungo, mas atendo – Oi, mãezinha.
— ÍTALO! – ela grita – POR QUE VOCÊ FEZ ISSO, MEU FILHO?!
— Fiz o que, mamãe?! – pergunto calmo já sabendo o motivo da pergunta.
— VOCÊ MATOU SEU IRMÃO! – ela chora em desespero – ISSO NÃO ERA O COMBINADO... Meu Deus... VOCÊ ESTÁ LOUCO?!
Louco? claro que não! Eu sou prático e estou mais lúcido do que nunca.
— Mãezinha... – digo suave – Eu não tive culpa, ok? O carro dele derrapou e caiu numa ribanceira explodindo. Não deu tempo nem de tira-lo de lá. – e termino com voz triste – Eu também não queria que acabasse assim, mãezinha...
— Tem certeza? – ela pergunta após uns minutos de silêncio.
— Claro, meu amor! – reforço minha voz triste – A senhora não confia em mim?
Ouço ela fungar do outro lado.
— Sim... Eu confio. – ela responde – Quando vamos partir?
— Assim que o corretor me ligar para finalizar o negócio da casa. – respondo.
— Tudo bem... Continue me mantendo informada, por favor. – ela pede – Eu amo você, meu filho.
— Eu também amo, mãezinha. – digo sincero e desligo.
Minha mãe acredita que com a venda da casa de praia vamos embora para sempre e ficar bem. Até ficaremos, mas preciso de muito dinheiro para isso. Assim o dinheiro da venda da casa dela de Paraty e da fazenda estão guardados uma conta. Agora é só concluir a venda do restaurante, sair do país e colocar a casa que ela mora a venda para sermos felizes como deveríamos.
Estaciono em frente a minha casa e entro com as pastas nas mãos. Estou excitado, ansioso e feliz... Nem sei o que dizer. Sorrio feito uma hiena. Como tudo se encaminha conforme o previsto dou-me o luxo de relaxar um pouco.
Subo, tomo um banho e desço para preparar algo para comer. Em nenhum momento olho para o meu celular que toca insistentemente. Deve ser minha mãe de novo.
Preparo uma refeição reforçada e como calmamente saboreando cada garfada. Após terminar, lavo toda louça e finalmente vou verificar o que há nas pastas e pegar o que me interessa. Gabriel me contou uns dias antes que o pai havia transferido o restaurante para o seu nome e que ele ainda não havia contado ao Enzo porque faria uma surpresa. Solto uma gargalhada.
— Surpresa eles terão quando descobrir que não há mais restaurante. – suspiro feliz – Vocês perderam e eu ganhei! Um brinde a minha inteligência.
Porém, meu sorriso vai morrendo a medida em que vou verificando os documentos vou ficando tenso e nervoso. Leio e releio tudo o que há nelas e nada.
— DROGA! – grito jogando tudo no chão – MALDIÇÃO!
Esfrego meu rosto e o ódio me domina.
— Onde você colocou esse documento, hein, maninho?!
Subo novamente e mudo de roupa. Está na hora de acordar o belo adormecido para faze-lo falar. Ou por bem ou por mal. Quando pego as chaves do carro para sair dou de cara com Bento na sala.
— O que você está fazendo aqui, Bento?! – pergunto de mau humor.
— A casa caiu, Ítalo! Alguém descobriu tudo... – ele diz muito sério – O Zé e a namorada mais o Caboclo foram presos e o rapaz resgatado.
Meu estômago dói.
— Como você sabe disso?! – pergunto nervoso – Era para você estar lá, Bento! COMO VOCÊ FUGIU E ELES NÃO?! – agora estou nervoso pra caralho!
— Porque foi quando eu ‘tava’ voltando pra lá... Depois do enterro como você mandou. – ele responde – Eu tive sorte porque vi os ‘homi’ na estrada de acesso e me escondi. Tinha uma ambulância junto e eles foram na direção do galpão... Eu segui pelo outro caminho e quando cheguei perto eles ‘tavam’ sendo levados. – ele continua explicando – A casa caiu, véi... Melhor sumir antes que eles ‘dê’ com a língua nos dentes.
Não. Não. Não! Isso nunca!
— Ainda não... – fico estranhamente calmo – Sabe para qual hospital levaram ele?
— Não sei porque eu tratei de salvar a minha pele primeiro! – ele dá de ombros – E outra... Não era só a polícia...
Eu o olho curioso.
— Antes entrou uns caras com touca ninja e armas pesadas e liberaram a entrada ‘pros homi’... Foi louco o negócio.
— Alguém mais sabia dos nossos planos... – digo pensativo – Mas quem?
— Sua mãe? – ele pergunta e tenho vontade de mata-lo por isso.
— Não, idiota! Ela não sabe que o Gabriel está vivo! Eu não posso correr esse risco... – respondo impaciente – Até porque ela anda bebendo demais.
Bento suspira.
— Pois alguém sabia, Ítalo. – ele fecha a cara – Porque os caras entraram e saíram sem nenhum problema. Eles só abriram o caminho pra polícia.
Minha raiva volta.
— DROGA! CARALHO! MALDIÇÃO! – grito chutando o que vejo pela frente.
— E tem mais... – ele diz – O pai do Gabriel ‘tava’ na ambulância...
— Fudeu! – digo – Pensa, Ítalo... Pensa!
E a ideia vem num lampejo.
— Bento... preciso que você faça uma coisa. – digo frio – Ache o Enzo. Ele é a nossa próxima carta na manga, mas eu quero ele vivo, entendeu?
— Pode deixar. Algo mais? – vejo um sorriso maldoso surgir no rosto dele – Posso comer aquela bundinha pelo menos?
— Depois que eu conseguir o que quero ele é todo seu! – eu o olho com nojo – Não sabia que você era chegado num viadinho... Que nojo!
— Não sou! – ele responde rápido – Mas aquele moleque é gostosinho pra caralho!
— Eu hein?! – retruco – Agora cai fora daqui que vou resolver umas paradas aqui! – ele sai me deixando só – Vocês não vão ganhar essa! Não vão!
Mudo de ideia e ligo para Bento.
— Bento... Esquece o Enzo por enquanto... – ouço seu resmungo – Cola no Francisco! Ele vai nos levar até Gabriel... E depois vamos para cima do Enzo. – e desligo.
“Não vim até aqui para morrer na praia. Não mesmo!” penso enquanto recolho os papéis do chão e encontro um com o que quero. Nele há a assinatura de Gabriel.
— Seu restaurante já era, maninho! – e saio para resolver este probleminha.