Oi, pessoal, tudo certo com vocês? Espero que sim.
Quero agradecer de coração os comentários de todos. É difícil perder quem se ama.
Vou finalizar o conto em breve, estou apenas me recuperando emocionalmente.
segue mais um capítulo para vocês!
Abraços a todos.
D.
Os Verões Roubados de Nós
Capítulo 37
Narrado por Gabriel
Ouço vozes sussurrando e abro meus olhos procurando por elas. Reconheço a de Tati logo de cara. Há um homem com ela, mas não consigo vê-lo direito porque ela está na frente. Quero chama-la, na verdade preciso.
— Ta- Tati... – sussurro e ela se vira lentamente.
Ela corre para o meu lado chorando e me abraçando.
— Gabe... – ela fala entre lágrimas – Gabe... Eu amo você, viu?!
— A... A-água... – peço com dificuldade e ela pega apressada.
— A enfermeira disse que não posso dar goles... – ela explica – Deixa eu molhar seus lábios... Isso... Mais um pouco... Agora pode chupar a gaze.
Ela faz tudo isso sorrindo e as lágrimas rolando. Terminado, ela deixa o copo de lado e vem acariciar meu cabelo.
— Eno... - sussurro
— Calma, Gabe... – ela me pede – Não se esforce tanto para falar.
— Eno... – repito novamente e fico observando-a.
— Maninho... Ele está bem, ok? – ela não me olha e sei que está mentindo – Ele... Ele está descansando...
“Mentirosa” penso porque não consigo falar. Ela se aproxima e começa a me fazer cafuné. Acabo dormindo novamente.
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Alguns dias se passam e estou mais desperto e comunicativo. Enzo não apareceu e quero vê-lo de qualquer jeito. Tati passa tanto tempo aqui comigo que nem meu mau humor a abala mais. Ela está tão feliz me mimando que mesmo quando a xingo ela sorri e diz que me ama.
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Flashback on
Perdi a noção do tempo. Entre acordar, dormir e acordar de novo, realizar exames, médicos entrando e saindo. E ninguém fala nada.
— Talita, que dia é hoje, por favor? – pergunto a enfermeira do dia.
— Hoje é domingo, dia– ela responde sorrindo.
— Já?! – ela confirma que sim – Quando vou ter alta?
— Após os resultados dos exames de amanhã, Gabriel. – Dr. Rafael entra no quarto acompanhado da minha irmã.
— Estou cansado de ficar aqui! – resmungo com um rosnado – Já estou ótimo, não sinto mais dores e nem estou mais com esses troços no braço. Quero ir para casa!
— Paciência, Gabriel! – Dr. Rafael é a calma em pessoa. O que me deixa mais irritado ainda.
— Calma, maninho. – minha irmã se aproxima – Falta pouco.
— Falta pouco o caralho, Tati! – resmungo irado – Quero sair daqui. E quero agora! Quero ver meu namorado!
— Aaahhh... Sabia! Eis a explicação, senhores! Ciúmes... – ela ri com gosto – Possessivo esse meu irmão!
Olho feio para ela, mas o movimento de alguém entrando no quarto chama minha atenção.
— Pai?! – pergunto em dúvida. Ele está com um bigode horroroso.
— Oi, filho. – ele me abraça sorrindo – Que saudade.
Durante meus dias de internação meu pai não veio me visitar nem um dia sequer e agora aparece aqui com esse bigode horroroso. Parece até um disfarce.
— Precisamos conversar, filho. – ele diz calmo – Há algumas coisas que você precisa saber. – ele fala e olha para minha irmã – Tati... pode chama-los.
Observo minha irmã sair e voltar acompanhada por dois homens: o primeiro, um senhor eu não conheço, mas o outro faz meu sangue ferver, principalmente quando vejo o modo como ele segura a mão da minha irmã. Diego!
— O que você está fazendo aqui?! – sento-me no leito – Seu filho da puta! Você estava nos seguindo! Pai, que palhaçada é essa?! – tento me levantar, mas meu pai me contém – Tira suas mãos da minha irmã! Tati, vem já pra cá!
— Gabriel... Calma! – ele solta a mão da minha irmã e se aproxima – Precisamos conversar com você. Pode, pelo menos nos ouvir? Por favor?
— Gabe... O Eno teve a mesma reação. – Tati fala – Mas ele ouviu o que Diego tem a dizer. – ela se aproxima e aperta minha mão – Por favor, é por causa deles – e aponta Diego e o outro – Que você está aqui.
Isso me para.
— Como assim?! – pergunto sério – Você falou com Enzo? Quando? Onde? – eu quero sair daqui. Sinto a raiva voltando.
— Falei com ele no dia seguinte a sua “morte”. – Diego responde – Mas ele estava muito abalado, em negação e não falava coisa com coisa... Eu diria que ele estava fora da casinha...
— Desnecessário isto, Diego. – o homem fala – Prazer, Gabriel, meu nome é Antônio.
Mesmo ele falando eu continuo olhando para Diego e o filho da puta sustenta meu olhar.
— Fora da casinha é você quem vai ficar quando eu quebrar a sua cara! – retruco com olhar duro e olho para minha irmã – É ele o “tal” namorado?
De repente uma gargalhada irrompe no quarto. É o tal Antônio.
— Diego, que família! – ele zomba – Gostei dele também...
— Aaafff... – Diego resmunga – Eu namoro sua irmã sim, mas eu juro que não sabia do parentesco. – ele me olha sério – Vai nos deixar explicar ou vai ficar dando chilique? Enzo pelo menos foi mais adulto neste ponto.
Fico irado por esse comentário e quando vou retrucar ouço meu pai.
— Filho, por favor! Vamos parar com essa picuinha! – ele está muito sério – você precisa ouvir tudo e sem retrucar... Precisa ouvir porque ainda corre perigo de vida.
Então eu entendo a presença de Rafael no quarto caso eu me alterasse demais. Mas eu não vou me alterar. Quero sair daqui o mais rápido possível e ir buscar meu amor. É só nisso que penso e é isso que quero.
— Ok, pai. – olho para Diego e peço – Conte tudo, por favor...
Diego toma a frente do relato e a medida em que falam desde o acidente até sobre o envolvimento de Ítalo. Confesso que fico chocado, furioso. Se eu o pegar, com certeza não sobrará muito dele para contar história. Ele fez todos sofrerem, inclusive Enzo que ainda não sabe de nada.
— Tem certeza de que é o Ítalo? Meu gerente?! – ele confirma – Ai, meu Deus, não era a toa a implicância do Eno...
— O quê? – Antônio pergunta.
— O Enzo. – respondo – Nunca foi com a cara dele. Achava Ítalo falso e dissimulado... Ele tinha razão. – termino num sussurro.
Antônio tira de seu casaco um envelope dobrado e nos entrega. Meu pai abre e começamos a ver fotos e mais fotos. Fico chocado ao ver minha mãe e Ítalo nelas.
— Meu Deus! – Tati fala – Eles são amantes? Que cadela! Por isso ele sabia tanto sobre você, Gabe.
— Achávamos que essa era a explicação. – Antônio fala.
— Por quê? – eu pergunto – Você disse que achávamos e quero saber o porquê?
Antônio olha para meu pai e diz.
— Francisco...
— Eles não são amantes. – diz meu pai.
— Como não, paizinho?! – Tati pega a foto em que ela acaricia o rosto dele – Se não são amante, eu juro que não sei o que esta foto significa.
— Não são amantes... – eu falo olhando para Tati – São mãe e filho.
Tati abre a boca em choque.
— No dia da nossa discussão, ela disse que só amava um pessoa... – eu mostro a foto – É o Ítalo.
— Gabe... Você bateu a cabeça e agora está pirando...
— Ele está certo! – meu pai a corta – É tudo vingança por parte deles.
Olho para meu pai.
— Como o senhor sabe disso? – pergunto.
— Sua tia-avó Amélia. – ele responde – Conversei longamente com ela... E depois com Olga.
— É agora que as peças terminam de se encaixar. – Antônio fala e acena para meu pai – Francisco conte tudo a eles.
E meu pai começa seu relato.
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Narrado por Francisco
Ao chegar na clínica para falar com meus filhos pedi a Diego e Antônio que me acompanhassem. Tanto porque eles não só esclareceriam os fatos, mas também porque eu iria contar um pouco da história da mãe deles. Pelo menos tudo o que fui pesquisar sobre Vera e a explicação sobre esse monstro que ela se tornou.
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Flashback on
Depois de contar para minha família finalmente sinto-me em paz, mesmo que momentaneamente. Há tantas pontas soltas que culminaram com o sequestro de meu filho e tenho certeza de que a intenção de Ítalo era matar Gabe, afinal ele já havia forjado sua morte.
Eu só quero entender o porquê? Por que tanto ódio do meu filho? Por que se arriscar tanto? Aqui deitado no quarto de hóspedes na casa da minha irmã fico remoendo as dúvidas. Vou proteger meus filhos deste lunático, nem que para isso tenha que contratar um exército de seguranças. Ele nunca mais irá fazer mal a minha família.
Ouço uma batida na porta e minha irmã entra.
— Oi, mano! – ela sorri – conseguiu descansar?
Eu me sento e respondo:
— Sim! – suspiro – Alice... Senta aqui comigo, por favor?
Ela vem e senta permitindo que eu coloque minha cabeça em seu colo enquanto ela inicia um cafuné. Não falamos nada por um tempo.
— O que te aflige ainda? – ela pergunta.
— Dúvidas... – e conto tudo a ela – O que você acha?
— Acho que a resposta está no passado... – ela diz e isso me faz sentar na cama.
— Como assim?!
— Chico... Lembra-se que Vera ficou um pouco mais de 1 ano fora por motivo de doença? Problemas respiratórios... Ou algo assim... – ela me olha e confirmo – As viagens de Vera à casa da tia...
— Tia Amélia! – corto minha irmã.
— O que tem ela? – agora ela está confusa.
— No dia seguinte a “morte” de Gabe, ela me falou sobre avisar Olga... – minha cabeça trabalha rápido – E que se quisesse conversar poderia procura-la.
Levanto-me rapidamente e começo a colocar o casaco e os sapatos.
— Onde você vai? – Alice pergunta.
— Buscar respostas! – respondo – Vou com seu carro, ok?
Dirijo rápido pelas ruas de São Paulo até chegar à casa dela. Toco a campainha e não demora a empregada me recebe levando-me a sala. Tia Amélia chega um pouco depois e pede que nos sirvam um café.
— Tia... – estou ansioso – A senhora me disse algumas coisas na casa de Alice...
— Eu sei o que disse, Francisco. – ela abre uma gaveta e tira de lá um envelope amarelado pelo tempo – Antes de lhe entregar isto, quero contar uma história.
— Tudo bem, tia. – digo – Eu preciso entender algumas coisas.
— Eu sei, querido. – ela sorri amável – Sabia que Vera nem sempre foi essa megera que ela é hoje? Ela é a caçula e sempre foi mimada por todos. Sempre teve tudo o que queria. Quando ela completou 14 anos, ela se apaixonou pelo rapaz errado. – ela tira uma foto velha e me entrega – Esse era Venâncio, uma antigo capataz da fazenda em que eles iam sempre durante as férias.
Olho para a foto e vejo o rapaz forte e sorriso amistoso.
— O que aconteceu?
— Eu vou te contar tudo se você prometer não me interromper, Francisco. – ela pede e concordo – Então, ela se apaixonou por Venâncio...
E a medida que ela vai me contando, as peças do quebra cabeça finalmente se encaixam. A frieza dela comigo e para com nossos filho, a intolerância, o ódio mortal por Olga e os pais... Meus Deus, quando ela mais precisou eles viraram as costas para ela.
— Por que ela nunca me contou nada antes? – pergunto chocado ao final do relato – Eu teria ajudado a cuidar do bebê. Teria criado-o como um filho junto com os nossos...
— Eu sei, meu querido, você era e é um homem digno, mas o ódio dela tornou-se uma doença... – Amélia diz com uma gesto triste de cabeça – Nem se quiséssemos poderíamos ajuda-la... Porque ela não quis esclarecer os fatos quando mais velha e poderia ter feito isso de forma mais madura. – pausa – Vera fechou-se em seu próprio mundo... Um mundo que é onde o ódio e desejo de vingança imperam. Na cabeça dela os pais, você e Pedro foram os culpados pelo sumiço de Venâncio.
— Mas eu nem sabia da existência desse rapaz! – retruco revoltado.
— Eu sei e todos sabiam disso... A culpa foi de Olga. – e Amélia completa – Ela e a mãe armaram tudo para separa-los. O que elas não contavam é que Vera iria se vingar.
— Pai do céu! – agora eu entendo tudo – E o que aconteceu com Venâncio?
— Ele apanhou muito uns dias depois de ter surrado Pedro. – ela fala com pesar – E morreu... Uns dias depois em decorrência dos ferimentos.
— Senhor! – sinto um enjoo – A maldade humana desconhece limites.
— Francisco, eu sei que você pode achar estranho o fato de eu saber disso tudo e nunca ter contado nada. – Amélia diz – Mas eu fiquei sabendo da história por partes... A primeira pela minha irmã em seu leito de morte... E até achei que fosse delírio. – pausa – Mas Olga confirmou tudo depois.
— Vera não quis cuidar da própria mãe... – digo pensativo – Agora sei o motivo.
Amélia empurra o envelope sobre a mesa.
— Está carta é para Vera. – explica – Foi Olga quem deixou antes de partir. Espero que você consiga esclarecer suas dúvidas e quem sabe... Perdoa-la.
— Tia... Por acaso a senhora tem o telefone atual de Olga? – peço – Porque não consegui falar pelo outro.
Amélia se levanta e pega uma agenda anotando o número para mim e fala ao me entregar.
— Espero de coração que possa perdoa-la, Francisco. Ela era penas uma menina.
— Tia... Ela teve todo o amor que pude dar a ela... E dos filhos também. – digo – Posso perdoa-la por não me amar, mas judiar dos meus filhos e quase mata-los em nome de uma vingança... Isso não! Qualquer crime que ela tenha cometido é punível com prisão.
Despeço-me dela e volto para a casa da minha irmã que nesses dias tem sido meu refúgio.
Flashback off
************************
Termino o reato com meus filhos em choque. Antônio e Diego apenas ouvem em silêncio.
— Agora vocês entendem o porque disso tudo! – falo cansado.
— Meu Deus! – Tati senta-se na poltrona – Tudo por vingança...
— Onde está a carta da tia Olga? – Gabe pergunta.
Retiro o papel do bolso e ele pega, mas por seu braço estar quebrado entrega a Tati que começa a ler.
***
“Querida irmã,
Será que ainda posso te chamar assim? São tantos anos sem nos falarmos e às vezes estando no mesmo ambiente você me ignora completamente. E pensar que um dia já fomos melhores amigas. Eu sei que errei muito com você e sei também que não há desculpas ou perdões suficientes para que eu possa me redimir. Porém, gostaria que você tentasse me entender um pouco. Eu amava o Pedro com loucura e fiquei cega por esse amor. Amor esse que era apenas da minha parte e agora pago um preço alto por isso.
Vera, eu estou partindo do Brasil e gostaria de manter contato com você e meus sobrinhos. Sua família é linda e você deveria ama-los com a mesma intensidade que ama o Ítalo. Você deveria ter contado ao Francisco, pois como homem integro que é tenho certeza que ele criaria o menino como se fosse dele. Mesmo que a “sociedade” torcesse o nariz.
Sei que a mentira que contei fez com que você o odiasse, mas Francisco não sabia e nem participou de nada. Tudo foi ideia de Pedro e de papai e eu sinto muito por isso. Pedro me contou o porquê da surra que tomou de Venâncio e a culpa por não acreditar em você me corrói. Gostaria muito que me perdoasse para que pudéssemos ser irmãs como antes e quem sabe, amigas.
Rogo para que seu coração me perdoe algum dia e rogo também para que você veja o quão maravilhosos são seus filhos. Sinto que você não os deixe se aproximar de mim e dos primos, mas espero que um dia isso possa acontecer.
Se isso servir de conselho: conte tudo ao Francisco, desabafe com ele. Nunca é tarde para recomeçar.
Peço mais uma vez o seu perdão, minha irmã.
Com amor,
Olga.”
***
Vejo meus filho chorarem... Por anos de sofrimento, por nunca terem tido o amor materno e não tem como eu não me sentir um pouco culpado. Tati é a primeira a falar.
— Por que está carta nunca chegou até ela?
— Ela não quis receber nada que viesse de Olga, segundo tia Amélia. – esclareço.
— Vou guardá-la comigo. – Tati avisa e guarda na bolsa.
— Como você está, meu filho? – pergunto. Gabe nada falou após a leitura e parece tão calmo.
— Estou bem, pai... – ele aperta minha mão – Vamos ficar bem...
— Com licença... – Diego nos interrompe – Eu quero informar algo a vocês... Jeferson me avisou que perdeu Ítalo de vista na praça da República.
— Mas o que ele estava fazendo por lá? – Tati se apavora e eu também.
— Eu sei o que ele vai fazer. – Gabe diz e olha para Diego – Lembra-se dos documentos que você entregou a ele, Tati? – ela acena que sim – Nas pastas só havia boletos, notas e promissórias... Nada demais. O documento de transferência não foi assinado por mim e não estava na pasta. – ele sorri maldoso – Aposto 100 contra 1 que ele irá tentar falsificar minha assinatura.
— Filho da puta! – Tati se exalta.
— Bingo! – Antônio fala – se você estiver pensando o mesmo que eu, quer dizer que ele irá tentar vender ou transferir seu restaurante para o nome dele. Estou certo?
— Sim... – Gabe responde.
— Apenas me esclareça uma dúvida, Gabriel: onde está o documento?
— No meio das roupas... – Gabe responde com um sorriso cínico – Mas, conhecendo meu namorado, tenho certeza que na hora de arrumar a mala ele achou... E como é curioso deve ter levado para ler o documento.
— Ai, meu Deus! – Tati fala – E se a falsificação não der certo?
— Ele irá atrás do Enzo! – Diego responde – O que ele espera ganhar com tudo isso?
— Ele vai tentar vender o meu restaurante! – Gabe responde e o olham espantados – Há um tempo atrás recebi uma proposta muito boa para vende-lo e ele estava junto.
— Mas que moleque vadio! – estou revoltado – O que podemos fazer para impedir?
— Já tenho um plano em mente, mas para isso precisamos acha-lo de qualquer jeito. – Antônio fala calmo.
— Antônio... – Gabe o chama – Ele irá tentar vender meu restaurante. Tenho certeza disso.
— Mas se você não assinou, filho, também não levou ao cartório, certo? – pergunto torcendo para que ele não tenha feito isso.
— Exato... Ele precisa do restante que ficou no apartamento para finalizar tudo. – Gabe é enfático ao afirmar – Eno é curioso... E se ele achou, com certeza levou junto.
— Precisamos ir atrás dele! – Tati está desesperada – Di... Vamos atrás dele?
— Não! – Antônio a corta – Ele não sabe que está com Enzo e se alguém estiver seguindo um de vocês, pode vir a descobrir.
Gabe olha para Rafael que até agora se manteve quieto e pede:
— Por favor, me dê alta... Eu preciso sair daqui!
— Sinto muito, Gabriel. – Rafael responde.
Troco olhares com Diego e resolvo falar.
— Filho, calma. Para tudo dá se um jeito. – e pisco para ele.
— Bom, se está tudo resolvido agora é hora do Gabriel descansar. – Rafael anuncia.
— Ok. – digo – Posso ficar mais um pouco com meu filho, Rafael?
— Claro, Chico!
E assim que todos saem digo.
— Tenho um plano! – aviso sorrindo e ele me olha assustado – Esteja acordado a noite... você será sequestrado.
Abraço-o em seguida e vou embora sem dar tempo dele retrucar.
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Narrado por Diego
Se me perguntarem hoje qual é a melhor sensação do mundo eu respondo de boca cheia: VER A FABÍOLA SE FODER!
Eu sabia que seria uma questão de tempo até meu telefone tocar da delegacia e foi exatamente o que aconteceu.
Quando chega a DP, Vargas vem me cumprimentar e resume o que estava acontecendo. Todos abriram o bico e entregaram Ítalo e mais um comparsa de nome Bento fazendo eu me lembrar do magrelo alto no crematório.
— Os que prendemos no galpão tem uma ficha corrida que só! – Vargas ironiza – Já pedi o mandado de prisão de Ítalo e do tal Bento. Seu menino ainda está seguindo Ítalo?
Pela manhã, Jeferson me liga apavorado informando que perdeu Ítalo de vista na praça da República, o que me deixa apreensivo e com medo do que ele possa estar tramando. Conto tudo a Vargas que também demonstra preocupação.
— Sabemos que quem quer falsificar qualquer tipo de documento frequenta as ruas próximas a praça. – ele diz e concordo – Vou espremer mais um pouco os meus convidados... A tal Fabíola pediu para e ligarem, não é?
— Sim.
— Certo... – ele diz – Ela está numa cela isolada e vou pedir para leva-la a sala. – ele me olha – Diego... Tente arrancar algo mais dela... É importante.
— Pode deixar Vargas! – e fico esperando até que um investigador me chama para ir até ela.
Quando entro na sala deparo-me com uma Fabíola muito diferente da que estou acostumado a ver. A mulher toda arrumada, maquiada e perua mais parece um gato escaldado(sem ofensa aos gatos). Sua aparência é medonha. Cabelos desgrenhados, roupa suja, descalça e olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. Por que será, não é?! Kkkk...
— Diego... – ela começa a chorar.
Confesso que tive um prazer momentâneo em vê-la daquele jeito, mas agora lembrei-me de Julia e em como filha ficaria quando eu contasse a verdade a ela.
— Fabíola. – cumprimento sério.
— Diego, por favor... Você precisa me tirar daqui! – ela pede.
Sento-me a sua frente e pergunto com calma.
— O que você e seu namoradinho andaram aprontando? E pense bem no que vai me dizer, Fabíola...
Ela funga e começa a falar.
— No dia em que fui ao seu escritório brigar por causa da intimação sobre a guarda da Julia, esse cara... O Ítalo... Ele estava lá, mas eu estava tão puta da vida com você que nem o notei e quando você mandou o Almeida me tirar a força de lá, ele nos seguiu... – enquanto ela vai falando buco na minha memória e realmente tive a impressão de ver alguém, mas eu estava tão puto da vida que nem dei atenção.
— E depois disso? – pergunto.
— Ele chamou o Zé e ofereceu uma boa grana por um serviço... – ela continua – Nós só teríamos que vigiar uma pessoa enquanto ele vendia os bens do cara...
— Como assim?! Vender?! – me faço de tonto – Geralmente precisa de assinatura do proprietário.
— Se eu prometer contar tudo, você me ajuda? – ela pergunta – Por favor... Eu prometo ser uma boa mãe para nossa filha...
Respiro fundo e seguro minha raiva. Essa cadela está usando o nome da Julia para tirar vantagem da situação.
— Fabíola... Você não está em posição de barganhar nada! – falo cínico – Primeiro: se você falar pode até atenuar sua pena, mas mesmo assim irá presa e... Segundo: se não cooperar vai presa do mesmo jeito porque você é cumplice... – sorrio maldoso – Até porque o autor não foi preso e se ele tiver grana quem vai continuar se fodendo será você. Entendeu? Ou quer que eu desenhe?
— Por favor, Diego... – ela implora – Pela Julia...
— Não coloca nossa filha no meio! – soco a mesa – Quer saber... – eu me levanto – Foda-se você e apodreça na cadeia.
Faço menção de sair quando ouço.
— Tá bom... Eu conto tudo! – sorrio internamente porque o blefe funcionou
— Vai contar tudo? – pergunto.
— Sim! Eu prometo. – ela fala.
— Espera um pouco... – e saio para chamar Vargas.
Fabíola é conduzida a sala onde ele, o escrivão e outros agentes ouvem seu depoimento por mais de 2h. Fico estarrecido com a frieza de Ítalo em arquitetar tudo.
Então esse era o plano dele o tempo todo? Forjar a morte de Gabriel para conseguir sua assinatura e depois mata-lo? Céus, ele era no mínimo ousado. Após levaram Fabíola, Vargas comenta:
— Precisamos tirar esse cara das ruas o mais rápido possível!
— Sim! – estou pensativo – Ainda mais agora que resgatamos Gabriel. Vou chamar Antônio para prepararmos um plano.
— Faça isso e me chamem, pois esta investigação está sobre minha supervisão. – Vargas me olha – Diga a Antônio que quero falar com ele pessoalmente.
— Pode deixar... – suspiro – Vou chamar um amigo advogado para vir conversar com ela. – aponto para onde Fabíola foi levada.
— Sério?! – Vargas me olha surpreso – Achei que você simplesmente daria uma banana para ela.
— Faço isto por causa da Julia! – sorrio ao pensar na minha princesa – Um dia ela pode saber que não ajudei a mãe e como fica? Não quero decepciona-la.
Ele concorda com um aceno e após conversarmos mais um pouco saio e vou para casa onde tomo um banho e brinco um pouco com minha filha. Francisco me liga e pede que eu vá para a clínica que Gabriel está. Encontro-me lá com ele e Antônio e brevemente ele nos conta sobre o passado de Vera. Resolvo manter para mim o que ocorreu na delegacia, pois ele praticamente já sabe da história toda. Seguimos para o quarto de Gabriel para contar a ele todo o que se passa.
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Após contarmos tudo e mostrarmos as fotos e Francisco revela alguns segredos de família, finalmente as peças do quebra-cabeça se encaixam.
Gabriel pede que o médico lhe dê alta e o mesmo recusa, então Francisco troca olhares comigo e Antônio. Saímos para espera-lo fora do quarto. Assim que saímos Tati desabafa:
— Meu irmão vai pirar se ficar mais um dia sem ver o Eno!
Eu a abraço confortando-a, mas nada falo. Apenas troco olhares com Antônio. Não demora e Francisco sai do quarto.
— Podemos conversar? – ele aponta para a sala de espera e quando lá chegamos o mesmo dispara – Vocês podem resgatar meu filho novamente?
Antônio e eu sorrimos enquanto Tati fica surpresa.
— Pai!
— Pai nada... – ele dá de ombros – Meu filho está bem e quer ir atrás do amor da vida dele e eu prometi ajuda-lo. Posso contar com vocês?
— Sim! – respondemos juntos.
Sigo com Tati até o apartamento onde ela coloca umas mudas de roupa para ele numa mochila. Como ela está de acompanhante dele fica mais fácil.
Voltamos para a clínica e a deixo lá enquanto vou para casa arrumar uma mochila para mim também. Converso com meus pais e com Julia pedindo que cuidem dela mais um pouco. Passa da meia noite quando estaciono em frente a clínica.
De repente um alarme dispara e a porta da frente se abre dando passagem a alguns funcionários. Não demora muito e dois carros de segurança privada chegam ao local. Meu celular toca.
— Onde você está? – Tati pergunta.
— Do outro lado da avenida. – e saio do carro quando a vejo.
Eles tentam caminhar rapidamente, mas Gabriel ainda cambaleia um pouco, afinal ele passou muitos dias deitado. Assim que entram no carro, meu celular toca novamente.
— O que você aprontou?! - pergunto
— Nada demais! – Antônio responde rindo.
— Velho, você é um filho da puta em matéria de safadeza! – acabo rindo.
— Eles já estão no carro?
— Sim.
— Ok. Boa viagem! – ele fala – Ligue-me assim que chegarem.
E desliga. Na minha cara. Como sempre. Dou a partida e guio pelas ruas sem quase sem movimento de São Paulo.
— Gabriel? – chamo – Para onde?
— Paraty. – ele responde.
— Mas ele disse que não foi para lá! – Tati fala confusa.
— Ele foi! – Gabriel é enfático.
Apenas aceno e sigo.
— Está pronto para a viagem? São pouco mais de 4h de estrada.
Ele me olha e sorri pela primeira vez.
— Eu nasci pronto, Diego! – ele responde – Por favor, me leva para ele.
Tati solta um gritinho de felicidade e resmunga algo como dar uns tapas n o primo por mentir. E eu? Eu levo meu cunhado para reencontrar seu amor.