Eduarda
Quando o ano escolar acabou, percebi que estava vivendo uma crise de identidade. Percebi que era uma padrãozinho perfeito pra me encaixar na sociedade, e não queria mais ser. Queria ser eu mesma, mesmo que isso me tirasse do papel de “politicamente correta”.
Conversei com a minha mãe, e ela disse que independente do que acontecesse ela iria me amar. Ou seja, sai de casa direto pro salão, não conversei com a minha namorada e nem ninguém. Cortei o cabelo, ele estava enorme e eu não suportava mais olhar na minha cara. Raspei a lateral e deixei uma franja que facilmente com pasta virava um topete. Coloquei alargadores de 4mm. E quando me olhei no espelho… Caralho! Eu estava exatamente como queria estar. Comprei outras roupas, aos poucos, porque né? Voltei em casa e minha mãe sorriu. Me abraçou e disse que eu estava lindo. Isso mesmo, lindo.
“Mãe, eu continuo sendo uma menina tá?” - Já preferi esclarecer
“Eu sei, mas se fosse um menino cê faria um verdadeiro estrago” - Ela saiu rindo depois de bagunçar meus cabelos.
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Mais tarde, naquele dia, fui pra casa da Ju. Estávamos namorada já fazia uns 7 ou 8 meses. Eu posso ser sincera? Sinto que gosto muito dela, e isso é real. Percebi que minhas atitudes imaturas me tiraram a pessoa que mais amei na vida. E agora, com 18 anos (Nossa, Eduarda, que idosa), reconheço o quanto erramos. Sim, nós duas. Eu e Mariana. Por mais que estivesse com a Ju, não estava mais tão segura que minha decisão tinha sido correta. Não tinha mais certeza se ficar longe de Mariana tinha sido o melhor caminho. Me perdia em devaneios, quando Ju abriu a porta.
“Posso ajudar?” - Perguntou solícita, sem me reconhecer
“Até pode, mas não entendi” - Me diverti quando vi a confusão em seus olhos
“Maria Eduarda, o que foi que tu fez?” - Ela me olhava espantada, tentando absorver todas as mudanças que eu tinha feito
“Decidi ser eu mesma. Não gostou?” - Perguntei analisando sua feição
“Dú, ficou linda. De verdade. Mas preciso me adaptar né? Afinal, dou uma mudança radical” - Ela sorriu e vi que ela tinha curtido - “Vem, entra. Vamos comer pizza?”
Confesso que sorri aliviada enquanto adentrava sua casa, fiquei com medo de ser rejeitada. Não que ela fosse terminar, mas querendo ou não, existe preconceito até mesmo no meio LGBT.
Seguimos nossa vida, até que um certo dia a senhora mãe da Mari me mandou mensagem. Conversamos um pouco, afinal, tínhamos nos distanciado conforme o tempo passou. E ela me convidou pra tomar café da tarde em sua casa, dizendo que faria o bolo de cenoura que eu tanto amo. Claro que não pude rejeitar o convite feito com tanto carinho. Ju não falava mais com tanta frequência com sua tia, afinal, o quebra pau tinha sido fodido.
Peguei o carro da minha mãe emprestado e segui pra casa da minha ex-sogra. Estacionei na frente. Esperei aquela linda mulher abrir o portão. Ela estava linda, e via os traços de Mariana naquela “senhora”. Confesso que não achava mais nenhuma semelhança entre Ju e Mariana, depois de tanto tempo percebi que foi confusão da minha parte. Entrei e ela elogiou meu novo visual. Em meio a conversa ela me disse algo que quase me engasguei com o bolo
“Você e minha filha namorava não é?” - Quando ela viu que arregalei os olhos e fiquei vermelha- “Ela se assumiu já faz um tempo e é algo que tenho trabalhado. Hoje vejo que vocês duas fazem um belo casal”
“Namoramos, mas infelizmente não foi algo que deu certo. Imagino que pra senhora tenha sido um choque e tanto. Falando nisso, como está Mariana?” - Tentei sair de fininho do assunto
“Minha filha tá bem, mas não gosto daquela namorada dela. Não sei, ela não me desce. Continua linda, mas tá com cara de mulher” - Falou com carinho relembrando a filha, se ela não gosta da Lara imagina eu?
“Se ela estiver tão linda quanto a senhora, então está ótima” - Ela riu com meu elogio, e eu sorri de maneira leve
Até olhar pra porta e ver Mariana me olhando de uma maneira profunda. Quase infartei. Ela estava ali, linda e me encarando. O que eu faria agora?
