Vendaval de sexo e paixão
O ano, 1856 e, alguns subsequentes. O cenário, Condado de Calvert, Maryland, Estados Unidos da América. Os personagens, Liam Thornberg – fazendeiro e próspero mercador, Margareth McCoy Thornberg – esposa de Liam, Mason Thornberg – filho único de Liam e Margareth, Landon Chapman – sobrinho de Liam Thornberg que se juntou às forças Confederadas, Nathan McCoy – filho do irmão de Margareth McCoy Thornberg, o narrador desta História.
Cheguei à imensa propriedade em Calvert, que ocupa toda a península de mesmo nome a oeste da baía de Chesapeake, conduzido pela mão de uma assistente social, numa manhã clara e um pouco fria, alguns dias depois de ter presenciado aterrorizado nossa fazenda e minha casa em estilo georgiano com seus tijolos acastanhados, suas inúmeras janelas brancas acima do pórtico de entrada sustentado por quatro enormes colunas brancas que eu tentava abraçar, quase semanalmente, para ver o quanto meus braços já haviam crescido, sendo consumida por labaredas de fogo alaranjado que brotavam de dentro da casa e se dissipavam numa fumaça cinza que ganhava o céu. Eu estava acocorado com os pés na água junto aos braços da velha Ayme, que tremia feito uma gelatina, sob a pequena ponte de pedras que cruzava o riacho algumas centenas de metros diante da casa. Eu me divertia brincando de esconde-esconde com ela, mas desta vez a brincadeira não tinha nada de engraçado, eu podia sentir que alguma coisa muito ruim estava acontecendo e, que aquele esconde-esconde estava acontecendo por conta daqueles homens encapuçados, que circulavam pela fazenda com enorme alarido e brandindo enxadas, pás, paus e tochas no ar enquanto contemplavam as chamas consumindo a casa e as construções ao redor.
- Malditos yankees! Não haverá de sobrar um sobre a terra! – gritavam.
Eu não conseguia entender por que a velha Ayme estava chorando, ela nunca chorava. Eu enxuguei as lágrimas que desciam brilhantes sobre sua pele negra, mas sempre brotavam outras. Estava escuro quando ela cautelosamente saiu comigo do esconderijo, eu fiquei aliviado, pois meus pés estavam gelados de ficar tanto tempo dentro da água e minhas pernas formigavam quase adormecidas, eu sabia que ia levar uma bronca da minha mãe, pois ela não gostava que eu ficasse com os pés molhados.
- Anda já para o seu quarto! Vá tirar esses sapatos molhados! Quer ficar doente ardendo em febre? – eu já conhecia essas três frases de cor.
Só então me lembrei de que não tinha mais visto meus pais desde quando a Ayme correu comigo para debaixo da ponte. Enquanto caminhávamos pelo mato na escuridão eu perguntei a ela sobre eles, ela não me respondeu. Em seguida, perguntei para onde estávamos indo, ela me mandou parar de fazer perguntas, depois de ter me mandado calar a boca. A Ayme nunca tinha me mandado calar a boca.
Tia Margareth veio nos receber na varanda do enorme casarão branco com suas janelas de venezianas pintadas de um verde escuro, implantado num vasto gramado, que também tinha colunas em toda sua fachada, porém não tão grossas como as da minha casa. Eu a tinha visto com o tio Liam e o primo Mason no último Natal, quando foram nos visitar e ficaram alguns dias conosco. Embora estivesse com um sorriso no rosto quando abriu seus braços na minha direção, ele parecia não exprimir felicidade.
- Como você está meu pobre menino? – perguntou quando me abraçou e começou a chorar. Ultimamente todos choravam a minha volta.
- Bem, senhora Thornberg, preciso que assine uns papéis. – disse a assistente social que me acompanhava. Ela parecia ter pressa de se livrar de mim.
- Sim claro! Vamos entrar. – disse tia Margareth, enxugando o rosto e os olhos vermelhos.
Não demorou a que o tio Liam saísse de seu escritório e se juntasse a nós, na sala de pé direito alto de onde pendiam três lustres ornados com pedaços de cristal que brilhavam como as estrelas. Ele era um homem sisudo e barrigudo, suas costeletas eram tão largas que pareciam uma continuação de sua cabeleira negra, e eu nunca o tinha visto sorrir, por isso tinha um pouco de medo de me aproximar dele. Eu ficava olhando de longe para aquela figura de voz grossa que se assemelhava a trovões numa noite escura. A assistente social colocou numa pasta de couro envolta numa fita, uns papeis que tio Liam e tia Margareth tinham assinado e foi embora. Eu fiquei ali.
No dia 12 de abril de 1861 eu finalmente compreendi o significado de todas aquelas palavras estranhas que tinha ouvido ao longo dos últimos cinco anos residindo com meus tios e o primo Mason. Abolicionistas, escravagistas, confederados, sulistas e nortistas, secessão, latifundiários, além dos nomes dos generais Ulysses Grant e Robert Lee, tudo agora se juntava como as peças de um quebra-cabeça, estávamos numa guerra civil. Durante aqueles cinco anos, quando tio Liam recebia a visita de alguns homens muito bem vestidos, como ele, de casacas e gravatas, ao referir-se ao meu pai a palavra latifundiário sempre estava acompanhada, como se fosse um adjetivo que exprimisse uma qualidade do meu pai. No ar, sempre ficava um silêncio respeitoso entre eles, por alguns minutos, depois de ouvir mencionado o nome dele. Também foi o dia em que finalmente tive a certeza de que jamais voltaria a encontrar meus pais.
- O que foi? Por que está com essa cara? – perguntou o Mason, quando o encontrei selando um cavalo no estábulo.
- É a minha cara, ora essa! – respondi, ainda ouvindo na minha cabeça certas frases que meu tio e aqueles homens acabaram de trocar.
- Ela já é feia, mas hoje está pior! – exclamou ele. Aquele era um de seus passatempos favoritos, ficar me zoando.
- É melhor do que a sua com essa barbicha ridícula parecendo uma vassoura depenada. – devolvi. Ele riu.
- Vamos dar uma volta, vem! Vou selar a Flicka para você montar e darmos uma volta por aí. – propôs, abrindo a cocheira e guiando para fora a égua mais mansa do plantel.
- Você sabe que eu tenho medo de subir nesses bichos. Nunca mais vou subir num depois daquilo que aconteceu ano passado. – retorqui, referindo-me a um incidente que quase quebrou meu pescoço, quando fui arremessado pelo cavalo no qual estava montado dentro de uma valeta à beira da estrada.
- Aquilo só aconteceu por que você, tonto, soltou as rédeas. O cavalo entendeu que estava livre e podia galopar para onde lhe aprouvesse. – explicou ele, pela centésima vez, o que não me convencia da mansidão daqueles bichos.
- Tonto é você! Prefiro ficar aqui. – devolvi emburrado.
- Deixa de ser criança! Então sente aqui na garupa, eu levo você. Ou, vai querer passar a tarde toda aí sozinho, sem fazer nada? – insistiu.
- Mas, se você começar a fazer gracinhas e, disparar com o cavalo eu vou te dar um soco bem em cima dos rins, estou avisando! – ameacei, pois conhecia bem seu lado sádico que gostava de me por em apuros e me fazer medo.
- Tá bom, eu prometo! Agora chega de lengalenga senão vai anoitecer e nós ainda estaremos aqui discutindo por você ser um cagão. – protestou ele.
O Mason estava com vinte anos quando começou a guerra civil. Graças às amizades influentes do pai não fora convocado pelas tropas da União. E, talvez também, pelo fato de ser completamente alheio ao conflito que mobilizava a nação. A ele só interessava se divertir com as posses do pai, o que costumava provocar acaloradas discussões entre os dois, que beiravam às vias de fato, deixando tia Margareth aflita e desesperada num choro que demorava horas. Eu e ele nos dávamos bem para dois primos com cinco anos de diferença de idade. Ele costumava ser zeloso comigo quando não estava me provocando com alguma coisa. Eu gostava dele porque era a única pessoa naquela casa que não era um adulto voltado para seus compromissos e, tinha tempo para passar algumas horas conversando comigo, mesmo que fosse para me azucrinar. Outra coisa que eu admirava nele era a sua força. Ele era uma cabeça mais alto do que eu, mas tinha uns músculos enormes capazes de mover as coisas ou erguê-las sem um mínimo de esforço. E, de uns dois anos para cá, seu peito começou a ficar cheio de pelos, praticamente ao mesmo tempo em que aquela barbicha em seu rosto começou a ficar mais hirsuta. Um de seus trunfos quando queria me provocar era tripudiar sobre a minha falta de pelos pelo corpo, deixando-me tão zangado que demorava até uma semana para voltar a falar com ele.
- Vamos dar uma espiada se já cresceram mais alguns pelos aí embaixo, ou se esse matinho ralo continua aí! – zombava, baixando minhas calças e deixando expostos os parcos pelos pubianos, os únicos que nasceram no meu corpo.
A baía de Chesapeake que experimentara anos de tranquilidade após as batalhas contra os ingleses para a independência, agora vivia mergulhada no caos, desde que a guerra civil explodiu e os combates pelo domínio da baía e, das prósperas indústrias às suas margens serviam de campo para disputas entre os dois exércitos. Os estaleiros, que também faziam parte dos negócios do tio Liam, estavam sob constante ameaça e deixavam-no com os nervos a flor da pele. O fato do Mason não dar nenhuma importância para a rotina da fazenda era uma das principais razões de suas brigas. E, com o tio Liam no limite de sua tolerância, as brigas se tornaram diárias.
- Você é um imprestável! Com as coisas no estado em que estão, você não faz outra coisa senão cavalgar por aí despreocupado enquanto a colheita do algodão está atrasada e estamos perdendo milhares de dólares. – berrou, dando um murro na mesa que fez os talheres do jantar saltarem sobre a toalha, ao nos juntarmos a ele à tia Margareth com mais de meia hora de atraso.
- Acalme-se, querido! Isso só pode fazer mal a sua saúde. – ponderou tia Margareth.
- O que faz mal a minha saúde é a vagabundice desse preguiçoso irresponsável! Há uma semana atolado com as coisas no estaleiro, penso que está tudo em ordem com a colheita do algodão e, quando circulo pela plantação, constato que nem um quarto do que precisava ter sido colhido está nos depósitos. Esse vagabundo não foi uma vez sequer checar como andavam as coisas por lá, apesar de eu ter recomendado uma dúzia de vezes, para que cuidasse disso na minha ausência. – reclamou ele, fazendo sua jugular engrossar no pescoço gordo, e perdigotos saírem de sua boca como gotas d’água num chafariz.
- Que culpa tenho eu se os escravos já não querem mais trabalhar como antigamente? Ao contrário do que você está afirmando, eu estive lá sim! Mas, ninguém me deu ouvidos quando disse que precisavam apressar a colheita. – protestou o Mason, também aos berros.
- Esses malditos confederados ainda vão afundar o país! Há tempos venho falando que precisamos trocar esses escravos preguiçosos por trabalhadores assalariados, motivados para o trabalho. No entanto, esses políticos não dão a mínima para quem gera a riqueza dessa nação. Estamos à mercê dos negros e agora também desses confederados desgraçados. – Tio Liam era um liberal e, imbuído desse ideal, vivia repetindo que a escravidão já não tinha lugar num mundo moderno. Embora ainda mantivesse negros trabalhando em suas terras, ele os havia alforriado, mas dava-lhes uns trocados a guisa de salário que não os permitia deixar as terras e viver apenas desse dinheiro. Era a libertação da escravatura à moda dos endinheirados da época.
- Essa guerra só está acontecendo por que vocês burgueses gananciosos e seus amigos políticos são incapazes de abrir mão dos atuais privilégios. – sentenciou o Mason.
- Saia das minhas vistas ou não respondo por mim, seu desgraçado! O único privilegiado aqui é você que não faz por merecer a comida que está diante dessa cara deslavada! – berrou tio Liam, estendendo os braços em direção ao pescoço do Mason. Na outra ponta da mesa tia Margareth começava a soluçar. Eu engolia com dificuldade as garfadas que colocava na boca, calado como um mudo.
Enquanto pratos e travessas se espatifavam no chão, o Mason saia da mesa esquivando-se das mãos do pai e, esse voltava a se aprumar na cadeira bufando feito um bisão selvagem. Só eu comi as framboesas com sorvete de creme, enquanto as criadas tiravam a mesa e limpavam o chão.
Eu sabia que o Mason ficava com o mesmo mau humor do pai depois dessas discussões e, que o mais prudente nesses momentos era ficar longe das vistas de ambos. Demorei-me um pouco na banheira quando subi para o meu quarto, esperando a água esfriar até o ponto de começar a incomodar. Era cedo para dormir, mas não se ouvia outro movimento pela casa que não fosse aquele vindo da cozinha, onde provavelmente o assunto corrente era a briga recém-terminada. Vesti meu pijama e fui me arriscar. Sem bater antes, abri cautelosamente a porta do quarto do Mason, nenhuma lâmpada estava acessa e, a única luz que se infiltrava pela janela onde as cortinas permaneciam abertas era uma lua em crescente. Foi ela que me permitiu distinguir o corpo do Mason estirado sobre a cama com a cabeça apoiada sobre os braços cruzados na nuca, olhando para o teto.
- O que foi que você perdeu aqui dentro, seu pestinha! – rosnou ele, assim que notou minha presença. O adjetivo pestinha era uma herança da minha primeira semana naquela casa e, ele o usava toda vez que estava zangado, mas não comigo, com o mundo.
- Vim saber se você precisa de alguma coisa. – falei baixinho, como se isso ajudasse a mantê-lo calmo.
- Que me deixem em paz! E isso inclui você! – retrucou, embora eu soubesse que não era verdade.
- Não fique assim. Eu vou contar para o tio Liam que você foi ver como andava a colheita, mas só quando a raiva dele passar. – anunciei.
- Não se meta nisso! – resmungou raivoso.
Eu já estava sentado na cama dele, gostava de estar ali, especialmente quando ele também estava. Durante os temporais do meu primeiro verão naquela casa, era para lá que eu corria quando a energia acabava e os raios chicoteavam o telhado. Agora, o que me trazia para cá era o Mason, que costumava ficar deitado quase sem roupa, absorto em seus pensamentos.
- Vai ficar aí sentado como as estátuas do colosso de Memnon? Pode deitar aqui, se jurar que vai ficar com essa boca fechada. – aquilo era sinal do que eu já vinha notando há algum tempo, a minha presença o acalmava, o fazia sentir-se bem consigo mesmo, embora ele não o admitisse.
Eu me deitei ao lado dele, pois a cama era larga o suficiente para acomodar a nós dois com folga. Também segui sua recomendação, mantendo-me calado por mais de uma hora. Mesmo estando louco para lhe contar que, as minhas imagens feitas com o daguerreótipo, do farol de Pooles Island, no fundo da baía de Chesapeake, que registrei durante um passeio de barco com ele durante a primavera tinham sido as vencedoras de um concurso promovido pelo comitê gestor do condado e, que eu receberia um troféu e um prêmio de cem dólares como primeiro colocado.
- Perdeu a língua? Faz uma hora que está aí mudo feito uma múmia? – quando estava assim era normal querer uma coisa e, depois de alguns minutos, querer exatamente o contrário. Isso era sinal de que queria fugir dos pensamentos que o atormentavam, e eu era a melhor solução para isso.
- Sabe aquelas imagens que fizemos do farol de Pooles Island? Eu concorri com elas no concurso do condado. Ganhei o primeiro prêmio! – revelei, pausando as palavras tentando imprimir naturalidade ao fato.
- Verdade? Que legal! Elas ficaram mesmo muito bonitas. Você mereceu, parabéns! – disse ele, dando uma cotovelada nas minhas costelas.
- Nós merecemos! Você me ajudou bastante. – devolvi, contente por ele estar voltando ao seu estado normal.
- Eu só ajudei a montar o tripé para o daguerreotipo, o enquadramento foi sensibilidade sua. – afirmou.
- Obrigado! – eu tinha um jeito de agradecê-lo que sempre o comovia, apesar de ele querer esconder esse sentimento de mim.
- Já é tarde! Dá o fora daqui antes que eu o expulse. – ele já havia se refeito da discussão com o pai.
- Quero dormir aqui esta noite! Deixa?
- Com essa bundinha arrebitada virada para o meu lado? Depois fica reclamando que eu sou um depravado.
- Eu falo isso quando você fica se exibindo ou fica mexendo nesse pauzão duro.
- Eu vou ficar de pau duro sabendo que esse bundão está tão perto.
- Não vou nem ligar para o que acontece dentro dessa calça. – desdenhei. Ele riu, o que me encheu de felicidade, pois seu humor havia voltado.
Eu já o tinha flagrado me examinando pormenorizadamente quando íamos tomar banho no rio e minhas ceroulas molhadas colavam no meu corpo e ficavam transparentes, ou quando ia conversar comigo enquanto eu me banhava na banheira do meu quarto ou me enxugava ao lado dela. Seu olhar ganhava um brilho devasso, e eu nunca sabia como agir diante desse olhar. Eu sabia que ele era muito parecido com o olhar pelo qual eu olhava para o peito musculoso dele, e também, para o cacetão grosso e peludo que pendia entre suas coxas grossas. Ficávamos ambos inibidos quando notávamos que o outro tinha percebido esse olhar e, especialmente, o sentimento que o acompanhava. Embora ele fosse muito mais desinibido do que eu e, até bastante assanhado, particularmente quando estava na presença das gêmeas Mullins e seus ombros e colos expostos, sob a renda fina de seus vestidos. Depois de alguns minutos na presença delas ou de outras garotas da vizinhança, ele sempre precisava ajeitar, disfarçadamente, aquela pica enorme dentro das calças. Ultimamente, isso também vinha acontecendo quando ele olhava daquele jeito esquisito para mim.
- Eu te amo muito, Mason! – exclamei, num sussurro, quando estávamos aninhados em conchinha e eu segurava entre as minhas a mão do braço que ele passara pela minha cintura. Estávamos há tanto tempo em silêncio ouvindo o vento sacolejar as venezianas que eu achei que ele havia pegado no sono.
O braço que me cingia se comprimiu e me puxou para mais perto dele. Um beijo suave tocou a pele do meu pescoço e eu senti a respiração acalorada dele como uma lufada morna. Ele apertou a pelve contra minha bunda e eu senti sua ereção. Não me movi, apenas trouxe a mão que segurava para perto do rosto e a beijei. Ele desceu a calça do meu pijama e baixou suas ceroulas. A ereção quente tocou a pele da minha bunda antes de deslizar para dentro do meu rego, onde a senti pulsando, enquanto ele a movimentava vagarosamente entre os meus glúteos. Movi minhas pernas até conseguir tirar completamente a calça do pijama, o que me permitiu abri-las, e colocar minha bunda numa posição que se encaixou perfeitamente em sua virilha. Meu coração batia acelerado e fui tomado por uma ansiedade como nunca havia sentido antes, era o tesão, querendo que aquele contato físico se estreitasse ainda mais. Eu não sabia como isso seria possível, a menos que ambos fossemos dois líquidos que se fundem quando misturados. Mas, o Mason sabia como fazer isso, e eu fiquei imensamente contente quando ele começou a tentar, pois isso significava que ele estava sentindo a mesma coisa. Na quarta tentativa ele conseguiu concretizar essa fusão. A cabeçorra estufada daquele cacetão enorme que ele tinha entre as pernas, penetrou na minha rosquinha úmida e melada com seu pré-gozo, bruta e muito dolorosamente, após um impulso vigoroso de sua pelve contra minha bunda. Eu soltei um ganido quando aquela dor aguda e fina rasgou minhas preguinhas como o fio de uma faca afiada. Passado o impacto daquela invasão no que eu tinha de mais íntimo, meu desejo começou a se realizar, ele e eu estávamos tão estreitamente unidos que até o ritmo dos batimentos dos nossos corações havia se sincronizado. Dava para sentir isso porque o peito dele estava grudado nas minhas costas. Apesar da dor, eu empinava minha bunda para que aquela verga grossa pudesse deslizar mais vorazmente para dentro de mim. O Mason bufava, o ar escapava-lhe pelas narinas e pelos lábios semicerrados, impulsivo e agitado. Eu intercalava ganidos e gemidos, conforme a impetuosidade que o Mason imprimia ao seu pinto me estocava as entranhas. Meu corpo todo retesado tremia num furor insano. Eu estava tenso e teso, a pele toda arrepiada e o pau duro como o tronco de uma faia. Fiquei assim por um bom tempo, enquanto o Mason perpetrava um vaivém cadenciado no meu cu, até que uma onda quente e fluida como as águas que correm num riacho, se concentraram no meu baixo ventre e me fizeram expulsar toda aquela tensão numa ejaculação profusa e desopressora. Nada do que eu havia sentido até então fora tão prazeroso quanto a porra eclodindo do meu pinto, enquanto meu cu arregaçado acalentava aquele caralhão em seu seio. A mucosa do meu ânus parecia estar em carne viva e a rola do Mason continuava a me esfolar com aquele entra e sai interminável e voluptuosamente delicioso. A mesma tensão que eu havia sentido também retesava o corpo dele que, parecia se contrair cada vez mais à medida que a intensidade de suas estocadas aumentava. Os gemidos que ele liberava junto ao meu ouvido enquanto o lambia e mordiscava, se transformaram um bramido gutural quando ele gozou e encheu meu cuzinho de porra espessa e cremosa. Depois disso, só se ouvia sua respiração acelerada ecoando no quarto escuro.
- Eu também te amo, Nathan! Te amo muito! – exclamou, voltando a se comprimir contra o meu corpo.
Ele olhava fixamente para mim quando acordei na manhã seguinte com seu rosto praticamente colado ao meu. Um sorriso brilhou em seus lábios e seus olhos ao mesmo tempo, como o sol que se infiltrava pelas janelas. Eu levei minha mão até seu rosto e a deslizei contornando suas curvas. Ele a tomou entre a sua e a beijou. Pela primeira vez senti que não precisava falar nada para me comunicar com ele. Aquela troca de olhares era capaz de suprir e exprimir mais do que um milhão de palavras. Um alvoroço nos gramados que cercavam a casa nos tiraram daquele estado de magia. O Mason levantou-se, pelado e de pau duro, e foi até as janelas verificar do que se tratava. Seu semblante estava transfigurado quando se voltou para mim. Ergui-me às pressas e procurei pela calça do meu pijama debaixo das cobertas.
- Há uma porção de soldados confederados da cavalaria nos jardins, cercando a casa. – disse ele.
- Eles vão nos matar! – exclamei aterrorizado. Por uma fração de segundos, eu me vi abraçado à Ayme, debaixo da ponte de pedras diante da minha casa em chamas.
- Acalme-se! Não creio que vão nos fazer algum mal. Pelo que vi, há alguns oficiais bastante graduados entre eles. – revelou, tentando me acalmar.
- Precisamos descer. Daqui a pouco seu pai virá nos chamar. – subitamente, eu não sabia o que estava me apavorando mais, se aquela mancha de sangue que vi tingindo o lençol onde eu estava deitado ou, se a iminência de alguém invadir o quarto. O Mason também a viu e lançou os cobertores sobre ela, ao mesmo tempo em que me lançava um risinho triunfante.
Corri para o meu quarto e me vesti adequadamente para descer, onde encontrei os empregados alvoroçados e o tio Liam e a tia Margareth com as expressões lívidas. O tio Liam foi até a varanda, toda banhada pelo sol da manhã, onde dois oficiais cheios de galões presos às jaquetas atestavam seu status. O Mason foi o último a descer e, sua descontração me espantou. Mal se ouvia do imenso hall de entrada, onde um intrincado encaixe de placas de mármore formava uma espécie de rosácea no chão luminoso, o que se conversava na varanda. O tom equilibrado e monótono da conversa foi me tranquilizando. Se não estavam discutindo, era sinal de que não haveria confusão, pensei comigo mesmo. Convicto disso, tomei as mãos de tia Margareth entre as minhas e a levei até uma poltrona, garantindo-lhe que tudo ia ficar bem. Pouco depois, os oficiais entraram na sala seguindo o tio Liam. Ele nos apresentou, um a um.
- Esta é toda a minha família, como podem ver, senhores! – disse, voltando-se para os oficiais que seguravam seus quepes debaixo do braço, numa atitude respeitosa. Ambos acenaram com a cabeça em nossa direção e tentaram esboçar o que me pareceu ser um sorriso. Partiram em seguida, levando todos s soldados consigo.
Durante o café da manhã, o tio Liam explicou que estavam à procura de desertores e oficiais da União que estariam procurando formar uma resistência junto aos fazendeiros e pessoas influentes da região. Informou ainda, que não tinha deixado claro sua posição de republicano, o que os manteria longe dali. Pelo menos era com o que ele contava. De qualquer maneira, a paz que reinava até então na propriedade ficou abalada.
Foi com essa desculpa, a do que tinha acontecido naquela manhã, que o Mason apareceu no meu quarto após todos terem se recolhido. Ele ainda estava todo vestido, tal qual estava durante o jantar, enquanto eu havia recém saído do banho e vestia apenas uma ceroula, sentado na cama e, estava com a cara mergulhada nas páginas de A Inquilina de Wildfell Hall, escrito por Emilie Brönte sob o pseudônimo de Acton Bell, um romance que havia encomendado junto com outros títulos a uma livraria em Boston no trimestre anterior.
- Lendo mais uma estória mirabolante que depois vai te encher de ideais malucas? – questionou, para puxar conversa.
- Esta é bem legal! É de uma viúva aristocrata que se recusa a ter relações sexuais com o marido alcoólatra e decaído, numa afronta às convenções e leis. Uma feminista, eu diria. Você precisa ler. – respondi.
- Romances? Isso serve para sua cabecinha de vento, para quem vive sonhando com fantasias. – retrucou ele.
- Não tenho cabeça de vento! Se veio aqui para me perturbar, pode ir dando o fora!
- Você acha que os confederados vão começar a nos vigiar e perseguir, depois dessa estranha visita desta manhã? – perguntou, mudando de assunto.
- Foi muito bizarra mesmo. Para que tantos homens, se só queriam o apoio do tio Liam para encontrar desertores ou conspiradores, como alegaram? Aquilo tinha mais cara de intimidação, isso sim. – respondi, colocando o livro de lado.
- Dizem por aí que eles estão agindo cada vez com mais violência. Não duvido que tentem nos expulsar daqui, como fizeram com seus pais. – disse ele. O que mais uma vez reforçou em mim a certeza de que jamais voltaria e ver meus pais. Fiquei triste.
- É possível. Foi assim que vim parar aqui. – balbuciei taciturno.
- Desculpe, não quis te trazer lembranças dolorosas. – lamentou.
Enquanto conversávamos ele foi se despindo até ficar também só com as ceroulas, e veio recostar-se ao meu lado, como se fossemos um casal que fazia esse rito todas as noites. Acabei rindo da situação.
- O que foi? Por que está rindo? Não vejo nada de engraçado nessa guerra estúpida que está devastando o país e até agora já matou muitos inocentes. – ele franziu a testa, sério, quando me inquiriu.
- Não é disso que estou rindo! Como pode pensar isso de mim? – retruquei.
- Então não sei do que está achando graça!
- Da sua cara de pau! O que pensa que está fazendo pelado na minha cama?
- Não estou pelado! Se eu estou pelado, você também está! – afirmou.
- Eu não estou todo esparramado, com as pernas abertas e a braguilha escancarada, exibindo esse troço enorme. – argumentei, embora gostasse de olhar para ele quando estava com o torso musculoso exposto e aquele cacetão moldado rente a sua coxa esquerda.
- Na noite passada você não reclamou dele, até se divertiu um bocado! E foi você quem entrou no meu quarto para me seduzir. – exclamou, risonho.
- Eu não fui lá para te seduzir! Convencido!
- Mas, gostou do que fizemos, não foi? – perguntou presunçoso.
- Você me machucou! – devolvi num muxoxo. – Porém, não vou negar que tenha gostado. Está contente? Era isso que queria ouvir? – respondi.
- Era, era isso que eu queria ouvir. Você sabe que não te machuquei de propósito, não sabe? – questionou.
- Sei. É esse negócio aí que mais parece um tronco de carvalho do que um pênis. – devolvi. Ele riu. – Não deboche!
- Pênis? Só você para ser tão formal. Isso aqui se chama pica, caralho, cacete, rola. Mas, não pênis. – zombou sarcástico.
- Vá se catar!
- Quero catar você! Igualzinho a ontem. Para guardar o meu pênis nesse seu ânus delicioso. – disse saliente, ainda zombando.
- Tarado! – exclamei, enquanto ele fazia a pica emergir pela braguilha.
Ele se atirou sobre mim e começou a me beijar. Eu retribui cada um deles, movendo-me languidamente sob seu peso, e agitando minhas pernas para que ele tirasse minha ceroula. Ao invés disso, ele ajoelhou-se e baixou a dele, deixando o cacetão encorpado e pesado balançando a poucas polegadas do meu rosto. Pincelou-o ao redor da minha boca e me encarava cheio de tesão. Demorei a entender o que ele queria com aquilo e, mesmo sem saber quais eram suas intenções, o aroma almiscarado daquela carne intumescida me instigou a tocá-la e deslizar meus dedos pela cabeçorra que ia se inflando vistosa ao meu toque suave. Não demorei a constatar a aguinha espessa e pegajosa brotando da uretra e, num arroubo ousado, quis provar o sabor daquilo, e coloquei cabeçorra na boca, sugando e sorvendo aquele néctar saboroso. Ele me encarava extasiado e excitado, me estimulando a chupar e lamber sua rola, que engrossava perceptivelmente na minha mão. A mesma curiosidade me levou a mexer com seus bagos. Havia toda uma sensualidade em vê-los assim, tão de perto, por esse ângulo privilegiado, ao invés de tocá-los entre as pernas como fazia com os meus. Dessa forma, dava para senti-los moverem-se dentro do sacão, constatar seu tamanho colossal e acaricia-los vendo o deleite que isso provocava nele.
- Está gostando do brinquedinho novo? – grunhiu, entre gemidos de tesão.
- Estou encantado! Poderia passar a noite toda, tateando por aqui. – respondi, tão tomado pelo tesão quanto ele.
Pouco depois, ele investiu contra os meus glúteos, apartou-os, vasculhou o rego com um dedo libertino, excitou minhas preguinhas que, ao invés do rosado delicado da noite anterior, estavam ligeiramente inchadas e eritematosas, denunciando a sanha com que foram lanhadas. Deixei aflorar aos lábios uma espécie de miado agudo, semelhante ao das gatas no cio, quando o Mason tocou sua língua molhada no meu cu. Eu não acreditei quando percebi o quanto eu conseguia deixa-lo excitado, apenas expondo meu corpo, dando acesso à minha bunda e permitindo que ele vislumbrasse meu cuzinho. A insistência com a qual ele enfiava seu dedo no meu cu demonstrava como estava doido para me foder. Eu me virei de costas, ele colocou minhas pernas sobre os ombros e, nos encarando tomados de desejo, ele meteu o cacetão no meu cu. A dor foi mais intensa e devastadora que na noite anterior, pois eu ainda estava esfolado, mas o prazer sobreveio mais intenso quando o senti dentro de mim, fazendo parte do meu corpo com aquele latejar intenso e cadenciado com as batidas do meu coração.
- Eu te amo, Mason! – gemi mais uma vez.
- Eu te amo, Nathan! – ronronou ele. Meia hora depois, éramos outra vez dois corpos separados e ungidos pelo fluido do amor, exaustos e satisfeitos, se entrelaçando e se beijando, para selar aquele sentimento e aquela união sem nome, mas tão tangível quando a existência do próprio universo.
Na noite seguinte, vendo que ele se demorava a aparecer, fui eu dar em seu quarto. Ele, com os braços estendidos servindo de apoio à cabeça, parecia cochilar na água tépida da banheira. Ao mesmo tempo em que abriu os olhos, me lançou um sorriso safado de quem já esperava que sua demora fosse motivo para eu vir ao seu encalço, à procura de suas habilidades sexuais. Porém, controlou-se para não ser o protagonista da primeira investida, sublimando o desejo que a visão de meu tronco nu, com aqueles peitinhos gorduchos e, minha bunda carnuda prendendo o tecido da ceroula no rego, já começava a exercer sobre sua libido. Como de hábito, a conversa começou versando sobre assuntos triviais, que acabavam servindo de pretexto para o que estava prestes a acontecer. Já nas primeiras frases, eu tomei a felpuda esponja marinha nas mãos, derramei um pouco do sabonete líquido em suas lacunas e comecei a esfregar as costas do Mason. Aquilo era um bom disfarce para eu acariciar seus ombros largos e potentes, sem deixar explícito que agindo assim dava asas ao meu tesão. No entanto, minhas mãos, delicadas e leves, com seus dedos longos e delgados, vagando sobre sua pele eram motivo mais do suficiente para que o dele não pudesse ser disfarçado. Emergindo da superfície da água, como o periscópio de um submarino, surgiu a cabeçorra arroxeada expondo sua ereção. A imponência e desfaçatez com a qual ela veio à tona naquela água coberta de espuma, fez com que meu cuzinho assanhado começasse a se contrair voluntarioso e cheio de desejos. Ele se acomodou na banheira, abrindo bem as pernas, fazendo o sacão e a rola boiarem dentro d’água soltos e sedutores. Puxando pelo braço, ele fez minha mão chegar aos genitais, esperançoso de receber os afagos e as manipulações que o masturbariam. Aos poucos, a pica estava tão dura que eu mal conseguia movê-la. O braço que ele segurava para manter minha mão imersa na água, brincando com seu sexo, foi por onde ele me puxou para dentro da banheira, onde a água já estava arrepiadoramente fria e, o único calor vinha de seu corpão quente tomado pela luxúria. Assim que minhas ceroulas se molharam, o tecido ficou transparente e aderiu à minha pele, que podia ser vista entre a trama do tecido. As nádegas carnudas, não tinham soltado o tecido que sempre ficava aprisionado dentro do meu rego, e o Mason puxou minha ceroula pelo cós para que ele se embrenhasse ainda mais naquele sulco sensual que enchia sua mente de necessidades carnais. Ali mesmo, esparramando água pelo chão, ele me fodeu até que pequenos laivos de sangue brotaram das minhas preguinhas rotas. Meu cu já estava inundado com seu sêmen e, eu já havia gozado há algum tempo entre os gemidos e beijos com os quais cobri seu rosto amoroso e másculo.
Era assim, com esse novo tipo de relacionamento entre nós dois, que os dias se passavam cada vez mais significativos e vivazes para ambos. Não apenas as desavenças entre o Mason e o tio Liam assumiam proporções quase insuperáveis, deixando a já delicada saúde de tia Margareth mais precária devido ao estado de nervos em que ficava ao ver o marido e o filho chegarem ao limite das vias de fato. Como também, a guerra civil em seu segundo ano, que já havia se espalhado por todo estado de Maryland, dando lugar a mais sangrenta batalha já vista na história militar americana, a batalha que ficou conhecida como batalha de Antietam em 17 de setembro de 1862, onde mais decombatentes morreram, se feriram e desapareceram. Vencida pelas tropas da União, comandadas pelo general George McClellan, a batalha foi decisiva para o resultado final da guerra, pois ela foi o começo da consolidação da supremacia da União.
- Enquanto esses jovens morrem dando suas vidas por uma causa, esse vagabundo é incapaz de me ajudar a gerir os negócios. – afirmou tio Liam dando início mais uma discussão com o filho.
- Nada do que eu faço é bom o suficiente para você! Com a mesma hipocrisia de ter dado a liberdade aos escravos, mas que continuam a nos servir pela necessidade de não conseguirem sobreviver com os minguados US$ 13,45 mensais que você paga a eles, você alega que está me dando autonomia para tomar as decisões. Pensa que não estou sabendo que você está não apenas checando tudo o que eu faço como também modificando o que eu fiz. Diante disso, não vejo por que me incumbir de alguma responsabilidade se você mesmo a desautoriza diante dos empregados. – protestou o Mason, deixando o tio Liam mais uma vez fora de si.
- Miserável, imprestável! Você está ouvindo seu filho, Margareth? Mal saiu dos cueiros e quer me ensinar como tocar os negócios.
- Eu vou fazer jus aos seus adjetivos! De agora em diante, não conte mais comigo para nada. – afirmou o Mason.
- Vou deserda-lo, seu vagabundo! – ameaçou tio Liam.
- Enfie seu dinheiro onde bem entender! – revidou o Mason. Tio Liam partiu para cima dele e quis acertar-lhe um bofetão no rosto. O Mason reteve sua mão no ar, torceu seu braço, obrigando-o a se dobrar sobre si mesmo e a girar o corpo para que o braço não quebrasse, nesse movimento perdeu o equilíbrio e o Mason ainda o empurrou fazendo-o cair no chão da biblioteca onde o criado trazendo o café quase foi atingido pelo corpo do tio Liam.
- Suma daqui! Saia dessa casa antes que eu o denuncie como desertor ou coisa pior para esses generais que estão loucos para enforcar traidores. – ameaçou, não conseguindo se levantar sozinho.
Eu não sabia a quem socorrer primeiro. Tia Margareth, sentada em sua poltrona junto à lareira, começou a apresentar uma crise de falta de ar, algo que vinha se repetindo frequentemente nos últimos meses após o rigoroso inverno. Tio Liam, estrebuchava no chão tentando colocar-se de pé, tomado de uma fúria incontrolável que o impedia de executar os movimentos certos. Mason possesso, que deixava a biblioteca com os punhos cerrados para não voltar a desferir outros golpes contra o próprio pai. Finalmente, corri até tia Margareth, pois ela estava lívida e o ar parecia não chegar a seus pulmões. O criado deixou a bandeja que trazia sobre uma mesinha e correu em socorro do tio Liam. Mason desapareceu, solitário com seu infortúnio.
- Mande chamar o comandante das tropas estacionadas as margens do rio Potomac, urgente! Diga-lhe que vou lhe entregar um traidor! – berrou para o criado que o ajudava.
- Deus do céu, Liam, você enlouqueceu? Você não pode fazer isso com seu próprio filho! – implorou tia Margareth, quase desfalecendo em meus braços.
- Eu não tenho nenhum filho! Esse miserável não é meu filho! – berrava descontrolado. – Vá, ande! O que ainda faz aqui parado? Eu lhe dei uma ordem e quero que seja cumprida.
- Tio Liam, por favor, não faça isso! Eles o enforcarão! – implorei.
- Pois que façam o que quiserem!
O criado, felizmente, ainda estava perdido com o pedido quando o encontrei na cozinha. Questionou-me se deveria mesmo mandar aquele aviso. Levei um tempo até convencê-lo a não levar adiante essa história, pois temia ser castigado. Acabamos por inventar uma estória plausível que não o comprometeria e nem traria as tropas até a casa. Só então fui procurar pelo Mason, pois sabia que ele estava arrasado com aquilo tudo. Procurei-o em seu quarto, mas este estava imerso na escuridão. Saí pelos arredores, procurando em todos os lugares onde sabia que ele gostava de refugiar quando queria ficar só com seus pensamentos. Não o encontrei em lugar algum e comecei a me desesperar. De repente, lembrei-me da praia. Um criado quis me impedir de ir até lá alegando que ela tinha se transformado num local perigoso à noite, desde que tropas vagavam pela costa na calada da noite. Eu não podia esperar. Meu grande amor perambulava sem rumo em algum lugar e, naquele estado de espírito não se podia confiar em seu discernimento. Acabei por alcança-lo, sentado numa pequena elevação junto à praia, com a cabeça apoiada sobre os braços cruzados sobre as pernas, a mais de três quilômetros de casa.
- Graças a Deus, Mason! Finalmente o encontrei. Você quase me mata do coração. – exclamei, arfando de cansaço pela caminhada apressada.
- Você não deveria ter vindo atrás de mim, é muito perigoso. – exclamou.
- Se é para mim, também é para você. Vamos, vamos voltar para casa. – implorei.
- Eu não tenho mais casa! Você não ouviu o que ele disse? – argumentou.
- Não leve isso em conta, ele estava fora de si. Amanhã tudo voltará ao normal. – ponderei.
- Não haverá amanhã! Não desta vez! Eu vou deixar Calvert e seguir a minha vida, não a que ele quer me impor. – respondeu.
- Não diga bobagem! Seu lugar é aqui.
- Nathan, ouça bem o que vou lhe dizer! Eu vou cuidar da minha vida. Não quero mais ficar nesse lugar, não quero mais viver sobre o mesmo teto desse homem mesquinho e insuportável. – a certeza que brilhava em seu olhar naquele momento me deixou em pânico.
- Você não pode fazer isso! Sua mãe não está bem. Eu não posso ficar sem você.
- Ela vai melhorar assim que não precisar mais assistir a essas brigas. E, você. Bem, você é um garoto, sua vida está apenas começando.
- Mason, eu te amo! Ficar sem você é o mesmo que decretar minha sentença de morte. Você não vai fazer isso comigo, vai? – eu chorava, enquanto sacudia aqueles ombros imensos que mal se moviam.
Ele voltou comigo para casa, levei-o diretamente ao meu quarto e o despi. Ajoelhei-me a seus pés e comecei a chupar sofregamente aquele caralhão. Quando a pica estava tão dura quanto uma barra de ferro, rocei minha bunda nela até ele me agarrar e me atirar sobre a cama, metendo a jeba no meu cuzinho e me possuindo como um garanhão arrebatado. Gani durante todo o coito, só recobrando minha respiração normal e batimentos calmos do meu coração quando já estava todo galado de esperma e sua rola amolecia lentamente nas minhas entranhas. Atirei-me sobre ele e o cobri de beijos, tentando garantir que ele não deixasse a cama enquanto dormíamos. Na manhã seguinte eu estava sozinho entre os lençóis manchados de sangue e eu soube que ele havia partido me deixando para trás. Nem quando vi minha casa em chamas senti tanto medo. Como seria viver de agora em diante, se nem ao menos o paradeiro dele eu sabia.
À mesa do café, tia Margareth abriu uma folha de papel onde o Mason se despedia dela. O papel tremia em suas mãos e as lágrimas desceram copiosas pelo seu rosto cansado. Ela pousou a folha dobrada ao lado do guardanapo e tomou seu café. Ela nunca mais foi a tia Margareth que eu conhecia até então.
- É melhor assim! Talvez possamos viver em paz nesta casa a partir de agora. – afirmou tio Liam, embora dentro dele algo também houvesse mudado.
Tentei durante dias encontrar o Mason em algum lugar dos arredores. Aventurei-me pelas cidades vizinhas à procura dele, ninguém o tinha visto ou sabia dele. Fui ao porto na baía de Chesapeake com um daguerreótipo que havia feito dele alguns meses antes. Um funcionário de uma empresa de vapores o reconheceu e, me disse que ele tinha embarcado num vapor que partira para a Europa dois depois que ele saiu de casa. Devido à guerra, outro funcionário da companhia se recusou a me dizer em que portos europeus o vapor ancoraria. Voltei para casa arrasado. Conhecendo o Mason como eu conhecia, ele faria de tudo para que a influência do pai não o alcançasse, e isso significava nunca mais dar notícias suas a quem quer que fosse.
Nos primeiros meses de 1863, quando o resultado das batalhas já tendia sutilmente em favor da União e, se tornavam mais sangrentas devido ao total desrespeito aos direitos humanos, a mansão em Calvert foi abalada por um fato terrível. A irmã viúva de tio Liam, que residia em Baltimore com o filho Landon, apareceu desesperada, no meio da noite, assolada por uma nevasca fortíssima. O cocheiro que guiava a carruagem que precedia aquela na qual ela viajava, esmurrou a porta por volta da uma hora da manhã. Eu ouvi a movimentação dos criados e, por uns instantes, pensei que fosse o Mason. Desci apressado enrolado num robe, pouco antes do tio Liam aparecer no topo da escada. A carruagem que trazia a irmã do tio Liam parou pouco depois diante da varanda e ela desceu aflita, irrompendo pela porta sem se dar pela minha presença. Ao avistar o irmão, atirou-se em seus braços num choro histérico, e não se compreendia o que estava dizendo.
Eu perguntei ao cocheiro o que estava acontecendo, e ele me levou até a carruagem da qual ela havia descido. No chão, sobre um acolchoado, um homem corpulento, aparentemente sob o efeito de algum tranquilizante, se agitava desconexamente. Ele trajava um uniforme do exército confederado e, mesmo no escuro, pude constatar que havia manchas de sangue na casaca. Num olhar mais atento, guiado pela lanterna que o cocheiro enfiou dentro da carruagem, pude ver que uma bandagem ao redor dos olhos do homem estava tingida de sangue e que, partes de seu rosto estavam chamuscadas. Instei para que o levassem o mais rapidamente para um dos quartos no andar superior, a fim de averiguarmos seu estado e descobrir o que tinha acontecido.
Tio Liam tentava acalmar a irmã para entender o que ela dizia. Aos poucos, foi ficando claro que o Landon havia abraçado a causa dos confederados. Como muitos jovens rebeldes da época, alistara-se apesar dos conselhos da mãe. Num enfrentamento com as tropas da União, foi atingido pela explosão da uma carga de dinamite que, não só o atirou pelos ares, como também o cegou com estilhaços e queimaduras. Os soldados da União empreenderam uma busca pelos feridos para terminar o serviço que não obtiveram no campo de batalha. Ele seria executado caso o encontrassem, o que levou a mãe a fugir de Baltimore na calada da noite.
- Como você me omite o fato de seu filho se aliar a esses rebeldes? Você jamais deveria ter permitido isso. – censurou tio Liam, o que mortificava ainda mais a pobre irmã.
- Você não sabe o que é criar um filho homem sem pai! Eles se acham autossuficientes. Não dão a mínima para conselhos ou pedidos. Landon tornou-se um afrontador de todos os nossos costumes. Não consigo controla-lo. E, agora preciso tentar salvar sua vida e, preciso que você me ajude. Não tenho a quem recorrer sem correr riscos. – desabafou ela.
- A presença dele nessa casa pode nos colocar a todos em risco! Os soldados da União estão por toda parte à procura de traidores. Ademais, ele precisa de cuidados médicos. Ele precisa de um hospital. – sentenciou tio Liam.
- Por tudo que há de mais sagrado, me ajude a salvá-lo! – implorou desesperada.
- Podemos procurar o doutor Scott, acho que ele vai nos ajudar sem fazer muitas perguntas. – sugeri, lembrando-me de um jovem médico cuja irmã mais nova não parava de se insinuar para o Mason.
- Aquilo não é um médico, é um charlatão. É um almofadinha que acha que só por que frequentou a universidade está acima dos demais. – afirmou. Tio Liam, na verdade, tinha desavenças com o pai do doutor Scott, que já se estendiam por anos, sem que nenhum deles se recordasse exatamente a causa que os levou a romperem relações.
- Se o levarmos até o hospital, eles o denunciarão. Eu converso com o doutor Scott, o senhor não precisa se envolver. – argumentei.
- Eu estou envolvido até o pescoço, ele está na minha casa. – retrucou, mas concordou que eu chamasse o médico.
Bryce Scott era um pouco posudo, mas era um sujeito de boa índole. Ele um dia quase flagrou o Mason e eu transando num bosque nos limites da propriedade do tio Liam, numa tarde quente de verão, à beira do riacho. Pela respiração afogueada do Mason e, pela tremedeira que o flagrante desencadeou em mim, ambos tentando subir as ceroulas até a cintura, ele percebeu o que tinha acontecido. Não fez nenhuma observação a respeito, e manteve sua discrição.
Tive que me conter para não desmaiar quanto ele tirou a bandagem improvisada do rosto do Landon. Ao redor dos olhos a carne estava a descoberto. Nas próprias cavidades orbitárias só havia uma massa avermelhada coberta por coágulos enegrecidos. A criada, que trazia os apetrechos para que se pudesse lavar e limpar a região, caiu sobre a peseira da cama assim de largou as coisas sobre uma mesinha que eu havia aproximado da cama.
- Afaste-se se não quiser cair também. – disse o Bryce.
- Eu vou ajuda-lo, é só me dizer o que devo fazer! Não pense que me impressiono por qualquer coisinha. – devolvi. Ele riu, provavelmente, por ver que quase já não havia mais sangue sob a pele do meu rosto.
- Então comece por me passar estas ataduras embebidas nessa solução. – sentenciou, dando início ao tratamento. Eu o supria na mais cautelosa pressa, acompanhando cada movimento de suas mãos.
- Por que ele não grita quando você toca o ferimento?
- Devem ter lhe ministrado algum tranquilizante. Ele está em estado de choque, pode estar inconsciente devido à dor, isso é o que o está mantendo menos agitado. – explicou.
- Teria sido clorofórmio? – perguntei. Ele me encarou surpreso.
- De onde você sabe que se usa clorofórmio para sedar pacientes?
- Eu li que em Londres e, mesmo aqui, estão usando o éter e o clorofórmio para fazer cirurgias sem dor desde a década de 40. – afirmei. Ele riu novamente.
Antes de sair, ele me deixou uma porção de instruções, e disse que voltaria no final do dia para ver como o Landon reagiria. Eu já sabia que nenhum criado, talvez à exceção da senhora Ogden, me ajudaria com o convalescente. Os meses se passaram e acabaram confirmando minha previsão. Era a senhora Ogden quem fazia todos os preparativos para as trocas de curativos, para o banho e cuidados pessoais do doente e instruía as outras criadas enquanto faziam a troca das roupas de cama. Outro que me ajudava toda vez que precisávamos deslocar o paciente era o jovem Eliaj, filho de um dos casais de ex-escravos do tio Liam, uma vez que o corpão musculoso do Landon era tão pesado quanto uma rocha. No mais, era eu quem passava boa parte do dia lidando com os cuidados que ele demandava. Tia Margareth não suportava olhar para aquele rosto de órbitas vazias, assim como a própria mãe do Landon que, apenas a muito custo, conseguia se aproximar do filho e contemplar as sequelas que selaram o futuro de seu único filho. Tio Liam fingia estar acima desses melindres femininos, como costumava dizer, mas também não se sentia confortável diante do que via. Nos três primeiros meses o Landon não deixou o quarto e nem o leito onde se recuperava e onde, muitas noites, ardia em febre e tinha convulsões que lhe exauriam todas as forças. Sua mãe voltou a Baltimore quando o doutor Scott disse que a pior fase havia passado e que, de agora em diante, o restabelecimento do Landon dependeria mais de seu estado psicológico e de sua vontade de continuar a viver. Apesar de poder se deslocar pela casa com a ajuda de alguém, ele não fazia as refeições junto conosco na sala de jantar do andar inferior, por conta das imposições de tia Margareth.
Durante esse período inicial, onde os cuidados com sua recuperação eram constantes, aconteceu um fato insólito que acabou por determinar meu relacionamento com o Landon. O episódio aconteceu durante uma das trocas de bandagens em seus olhos, que costumavam ser muito dolorosas e o deixavam apreensivo. Ele segurou uma das minhas mãos e me pediu para ter cuidado e ir removendo o curativo sujo com muita cautela.
- Claro! Você precisa ter um pouco de paciência, eu sei que deve doer bastante, mas vou fazer a troca bem lentamente. – asseverei.
- Suas mãos são muito suaves e delicadas, você deve ser uma garota muito sensível e carinhosa. – disse, quando terminei o curativo. A senhora Ogden e eu nos entreolhamos sem dizer nada, pensamos que ele talvez estivesse tendo um daqueles ataques febris que o faziam delirar, embora não estivesse suado e, nem apresentasse a pele fria como das outras vezes.
Porém, em outras ocasiões ele voltou a me confundir com uma garota, e eu percebi que ele não estava delirando, que pensava que eu era realmente uma mulher. Meu timbre de voz ainda oscilava bastante e, não era complicado para mim, deixa-lo mais agudo quando falava baixinho. Minhas mãos eram bastante femininas, como o Mason também costumava se referir a elas quando eu o acariciava. Então compreendi de onde vinha a confusão que o Landon estava fazendo com relação a mim. Não sei o que me levou a não desmentir a ideia que fazia da minha pessoa, o fato é que me calei e deixei o tempo correr. Como poucos na casa lidavam com ele e, sabiam que seu juízo estava bastante abalado depois que se cientificou que perdera definitivamente a visão, não lhe davam ouvidos quando resmungava alguma coisa.
À medida que suas condições físicas melhoravam, as psicológicas se tornavam cada vez mais doentias. De ranzinza ele passou a ser agressivo, xingando e recusando-se a fazer determinadas coisas. Depois, começou a mostrar seu lado irônico e debochado, despejando suas frustrações sobre mim. E, por fim, resignou-se e só falava que teria sido melhor ter morrido na explosão do que estar condenado a essa vida sem perspectivas.
- Sabe, eu andei pensando. Você deve ser uma garota horrível, talvez gorda, até estrábica, nenhum homem deve se interessar por você, por isso fica aqui perdendo seu tempo com um cego que não pode ver seus defeitos. – havia sarcasmo em sua voz quando me disse isso.
- Você é um completo idiota! Tinha tudo para ter uma vida plena e pôs tudo a perder alistando-se aos confederados. Sabia que estão perdendo cada vez mais batalhas? Logo terão que se render. De que adiantou você se juntar a eles? – revidei rancoroso.
- Você é uma garota mimada que nasceu em berço de ouro e jamais se preocupou com a escravidão ou com o que quer que seja. Tudo chega às suas mãos sem o menor esforço. Não sabe o que move um homem a querer mudar o mundo. Então, não fale sobre aquilo que não compreende! – devolveu irritado.
- Você já era cego antes da explosão! A cegueira apenas mudou de lugar, migrou do cérebro para os olhos. – afirmei.
- Se você fosse homem eu daria um soco bem no meio da sua cara, para deixa-la ainda mais feia do que deve ser. – ameaçou.
- Ainda bem que não enxerga nem onde está o seu pinto quando precisa mijar, pelo menos não vai conseguir me atingir com essa sua ingratidão.
- Você é a pessoa mais irritante que já conheci. – berrou ele.
- E você, é o sujeito mais imbecil que já conheci! Fique aí com seu mau humor e vá se danar. – respondi, deixando-o só, remoendo seu ódio.
- Espere! Preciso mijar, leve-me até o banheiro.
- Vire-se! Mije nas calças! Mije aonde quiser! Mije nessa sua cabeça dura! – exclamei, deixando o quarto e batendo ruidosamente a porta.
Quando a senhora Ogden deixou o almoço do Landon no quarto, voltou e me disse que ele estava perguntando por mim.
- Ele que fique sozinho, talvez aprenda a ser mais agradecido. – respondi. Só fui dar uma espiada após o jantar, para ver se ele tinha conseguido ir para a cama, sozinho.
As cortinas das janelas ainda estavam abertas, assim como uma folha das vidraças, por onde entrava uma brisa morna. Ele estava sentado junto à janela, na escuridão. Foi curioso constatar que isso não fazia nenhuma diferença para ele. Para o Landon a escuridão seria eterna, não importando quantas luzes estivessem a sua volta. Senti remorsos pelo que lhe disse naquela manhã.
- Já é tarde, não vai dormir? – perguntei, tirando-o de seus pensamentos.
- Estou sem sono! O que quer aqui? Tripudiar sobre o meu destino?
- Talvez, se você continuar a me dar motivos para isso.
- Me sinto perdido quando você não está por perto, parece que a cegueira aumenta.
- Você precisa aprender a se adaptar a essa nova realidade. Vai acabar encontrando jeitos de fazer o que fazia antes, só que de modo diferente. Isso vai te dar mais confiança em si mesmo. – ponderei.
- É, acho que sim.
- Venha, eu te ajudo a ir para a cama. Se continuar aí em frente à janela, sem camisa, logo teremos que tratar de uma pneumonia. – ele se deixou conduzir até a cama sem resistência.
Desde que as feridas nos olhos haviam cicatrizado, e ele saído da restrição do leito, eu, às vezes, me sentia embaraçado ao tocar em seu tronco vigoroso e aproximar-me de seus genitais durante o banho ou, como agora, cingi-lo com meus braços para guia-lo até algum lugar. O calor que emanava dele me trazia recordações do Mason, de quando eu o esfregava na banheira, de quando eu brincava com a ponta dos dedos entre os pelos sensualmente distribuídos por aquele torso viril, de quando eu o beijava após ele ejacular seu sumo másculo e quente no meu cuzinho. Toda vez que eu me recordava desses momentos, sentia uma tristeza enorme me invadir. Ficava imaginando por onde o Mason andaria. Se já teria se esquecido de mim, se tinha encontrado alguém com quem estivesse fazendo amor com a mesma intensidade que nós fazíamos e, se um dia voltaria a vê-lo.
- Por que ficou triste? – perguntou o Landon.
- Não estou triste. – garanti.
- Está sim! Posso não enxergar, mas a cada dia consigo ver com mais clareza o que se passa com as pessoas. Pelo menos a cegueira tem alguma vantagem. – proferiu ele.
- Você deve estar delirando!
- É um namorado. Ele também está na guerra? – suspeitou.
- Não tenho namorado! Sou jovem demais para isso. – devolvi.
- Quer ficar para titia? Quantos anos você tem?
- Não é da sua conta! Se você fosse um cavalheiro, jamais perguntaria a idade de uma donzela. – argumentei.
- E você, é uma donzela? – ele me reteve junto dele quando se recostou na cabeceira da cama, sem me soltar.
- Também não é da sua conta!
- Deite-se aqui comigo. Faz uma eternidade que não transo. Podemos resolver nossas carências essa noite. – afirmou, julgando que eu fosse uma mulher.
Fiquei apavorado quando ele não me largou, imaginando como seria quando ele descobrisse como havia se enganado a meu respeito. Ao mesmo tempo, meu cuzinho clamava por uma rola e, a do Landon era generosamente dotada e, estava sedenta para voltar a lhe conferir os prazeres do sexo. Ele me puxou de lado com tanta força que acabei caindo sobre a cama e ele se atirou imediatamente sobre mim. Tateando os dedos pelo rosto, beijou minha boca assim que a identificou pelo tato. Sôfrego e cheio de tesão ele meteu a língua nela enquanto me beijava comprimindo intensamente seus lábios contra os meus e, os mordiscando a cada mudança de posição. Suas mãos entraram por debaixo da minha camisa e deslizaram até meus peitinhos. Ele os amassou com a mão vigorosa até me fazer gemer. Atrapalhado, tentou desabotoar minha camisa num frenesi que não atendia à sua urgência, por isso agarrou-a entre os dedos e a abriu, arrancando os botões que voaram pelo ar. Guiou novamente as mãos sobre meu torso nu, deslizando-as desde o ventre até os peitos onde voltou a agarra-los e começou a chupa-los numa sanha voraz. Não demorei a sentir suas mãos entrando na minha calça e se aprofundando em direção às minhas nádegas. Pouco depois de ele puxar minhas calças para baixo, eu me agitei e saí debaixo dele. Mais alguns toques ao redor das minhas coxas e ele descobriria que todo aquele tesão não vinha da necessidade de copular com uma fêmea, que estava prestes a ter uma relação sexual com outro homem.
- O que foi? O que aconteceu? – perguntou excitado, quando lhe escapuli das mãos.
- Não posso fazer isso! Você não sabe o que está fazendo! – exclamei ofegante.
- Eu sei que te desejo. Eu sei que quero te comer. Eu sei que quero trepar com você. – garantiu, tateando ao redor para ver se conseguia me agarrar novamente. – E você também quer, eu sinto que quer tanto quanto eu. – afirmou. O pior é que ele tinha razão, meu cuzinho se contraía de desejo.
- Mas, não de frente! Só concordo se você me pegar por de trás. – sugeri.
- A única vez que peguei alguém por trás, foi uma vadiazinha! Ela era mais apertada atrás do que na frente, onde já devia estar bem usada. – murmurou ele. Aquilo me deixou tão excitado que me pus ao alcance de suas mãos.
Quando tirei suas calças a benga já saltou dura e molhada para fora. Eu a coloquei na boca e comecei a chupar, lamber e mordiscar cada milímetro daquela carne suculenta e quente. O Landon gemia com a suavidade dos meus toques em seu falo carente. Toda sua sensibilidade desceu para a virilha, onde agora havia uma boca macia masturbando seu caralho com sugadas libidinosas que o enchiam de prazer. Ele agarrou minha cabeleira e socava minha cabeça contra sua virilha, fazendo com que a pica grossa se entalasse na minha garganta, quase me sufocando. Eu precisava, a todo o momento, empurrar suas coxas peludas para longe para conseguir respirar sem aquele cacetão na minha goela. Numa dessas vezes, quando a pica recuava lentamente e meus lábios se comprimiam sobre as veias latejantes dela, os jatos de porra começaram a encher minha boca. Eu os engolia me lambuzando todo com aquele néctar másculo de sabor acentuado e cheiro almiscarado. Ele grunhia contorcendo-se de prazer, sentindo seu esperma sendo sugado diretamente da fonte.
- Você sabe como satisfazer um homem, como ninguém. – rosnou, deixando os jatos de porra jorrar, desopressores, na minha boca.
Pouco depois, eu estava de bruços, ele encaixado nas curvas da minha bunda e enfiado no meu cu. Enquanto o vaivém me torturava e me enchia de prazer, ele acariciava meus mamilos e chupava meu pescoço, intensificando as estocadas que atingiam minha próstata como os golpes de um pugilista e, me obrigavam a ganir no silêncio da noite alta. Lambuzei o lençol com meu gozo, enquanto meu cu levava suas estocadas. Saí de mansinho do quarto, com o cuzinho inundado de esperma, escorrendo pelo rego através das pregas feridas, quando ele cochilava regozijado no prazer que acabara de sentir. Ao chegar ao meu quarto eu ainda sentia os espasmos contraindo meus músculos numa tremedeira excitada. Também sentia uma estranha sensação de remorso, como se o que acabara de acontecer no quarto ao lado fosse uma traição ao Mason. Chorei pensando nele, sentado na banheira de água quente, enquanto lavava o sêmen do Landon do meu cuzinho. Eu nunca tinha feito isso antes. Sempre cultuava aquela umidade que o Mason deixava impregnada em mim como se fosse um talismã de valor inestimável.
- Está na hora de deixar este quarto! Você já está embolorado de tanto ficar aqui dentro! Vamos dar uma volta nos jardins, tomar sol e aspirar ar puro! – exclamei, ao irromper no quarto do Mason, na manhã seguinte, enquanto ele terminava de tomar seu café.
- Eu não sei se você se lembra, mas eu estou convalescendo. Sou um homem doente. Não posso mais perambular por aí como fazia antigamente. – retrucou ele, fazendo cara de coitado.
- Bem! Não me parece que você esteja mais doente. Pelo que você fez ontem à noite, estou convicto de que já recuperou todas as suas forças. – devolvi. Ele riu.
- Não tenha tanta certeza disso! Você vai saber quando eu estiver totalmente recuperado. – afirmou safado.
- Se a safadeza voltou é por que também voltou a ser o velho e audacioso Landon. Não o conheci naqueles tempos, mas da sua fama já ouvi muita coisa. E, pouco recomendável, diga-se de passagem! – revelei.
- São intrigas! – respondeu sorrindo. Estranhei novamente aquela expressão. Sua boca sorria, mas a falta dos olhos deixava aquele sorriso menos expressivo. Sem dúvida, olhos falam, pensei comigo mesmo. São eles que dão refinamento às emoções que expressamos.
Todos se espantaram quando nos viram descendo as escadas. Afora a cara estupefata do tio Liam e, a de preocupação e de repelência de tia Margareth, os criados esboçavam um discreto sorriso de contentamento, como se as nuvens escuras que pairavam sobre a casa tivessem se dissipado. Foram eles que, solícitos, vieram em nosso amparo, prontificando-se a me ajudar a leva-lo para os jardins. Era uma bonita manhã de primavera e, logo o sol esquentou. O Landon tirou o casaco e a camisa, expondo a pele branca aos raios luminosos e quentes. Ele era um homem bonito e viril. Provavelmente, muitas garotas o tinham desejado. Fiquei um tempo, em silêncio, admirando seu porte físico e não me conformei com essa beleza e essa virilidade toda sendo desperdiçada. No fundo, torci para que algum dia uma garota conseguisse enxergá-lo para além da cegueira e, o fizesse feliz.
- Por que está tão calado? – perguntou, notando que eu mal me movia na poltrona de vime ao lado da sua.
- Estava prestando atenção ao canto dos passarinhos. Preste atenção! – respondi, omitindo a verdade.
- São realmente sons muito belos. Você é uma garota muito romântica! Deve ter lido centenas de romances e se colocado no lugar das moças virgens e sonhadoras. – afirmou.
- O que o faz pensar assim? – perguntei curioso com aquela observação.
- Pela maneira como você tremia em meus braços ontem, ao ter minha pica dentro de você. – respondeu seguro. – Parecia uma avezinha assustada.
- Pois você está muito engado! Não sou nenhuma virgenzinha assustada. – assegurei, indignado.
- Se não é numa virgem, aposto que tem o dedo do meu primo, ou melhor, o cacete dele envolvido nessa história. – ponderou, curioso. – Pensando bem, aquele boquete não é coisa de principiante. Gozei um bocado na sua boca, não foi?
- É esse o seu único assunto? Se for, eu vou te deixar aqui falando bobagens e vou procurar coisa melhor para fazer. – respondi, esquivo.
- Quando vamos repetir aquilo? – inquiriu, a tempo do criado que veio trazer uma jarra de limonada ouvir o final da conversa.
- Contente agora? Em breve toda Calvert estará a par de suas safadezas. – retruquei zangado.
- Só as minhas? – ambos rimos.
Por duas vezes passamos por um susto danado, quando grupamentos da cavalaria da União passaram pela propriedade fingindo uma visita de cortesia. Por via das dúvidas, escondi o Landon numa reentrância entre duas colunas no corredor de acesso aos quartos que estava camuflada por um painel de madeira móvel, quando os militares chegaram. Desci com a maior cara lavada para fazer sala aos visitantes, pois eles sabiam quantas pessoas havia na casa. Felizmente, a testa suada do tio Liam pode ser atribuída ao calor.
- Deus do céu! Essa foi por pouco! – exclamou tia Margareth, assim que eles partiram.
- Vocês precisam agir com mais naturalidade. Afinal, estão apenas hospedando um sobrinho. – sugeri.
- Um sobrinho que aderiu a causa dos confederados, que estava envolvido na explosão de uma estação ferroviária e, que também é considerado um desertor pelos confederados. O que mais será preciso para estarmos enrascados até o pescoço? – argumentou tio Liam.
- E você culpava seu filho por tudo o que acontecia por aqui. Espero que esteja contente agora que pode ser implicado nas confusões do filho de sua irmã. – tia Margareth perdera muito da doçura e da paciência que tinha com o marido, desde que se viu privada da companhia do Mason e, o responsabilizava por toda sua tristeza.
Alguns meses depois, o Landon já encontrava o caminho para o meu quarto por conta própria. Assustei-me uma noite quando senti sua mão agarrando meus glúteos através da ceroula. Eu ficava cada vez mais aflito com a possibilidade de ele descobrir meu segredo. Muitas vezes cheguei a ensaiar um jeito de lhe contar a verdade, mas ao pensar nas consequências, perdia a coragem. Também me surpreendia com o fato de nunca, naqueles meses todos, alguém ter feito um comentário que o permitisse descobrir a verdade. Uma hora qualquer alguém vai cometer um ato falho e ele vai descobrir, pensava eu. O que será de mim quando isso acontecer? Serei execrado e acusado de abusar de um cego para dar vazão as minhas perversidades sexuais. Todas as vezes que esses pensamentos me invadiam a mente eu ficava angustiado.
Antes de transarmos, ou depois, quando terminávamos; algumas vezes o Landon me perguntou o que se passava comigo. Ele desconfiava que alguma coisa não se encaixava como deveria na minha história, mas sentia-se tão plenamente satisfeito quando despejava sua gala em mim, que não perdia tempo com detalhes que poderiam lhe privar desse prazer.
- Você tem medo de engravidar de mim? – perguntou um dia, enquanto eu o beijava abaixo da mandíbula, após ele ter tirado o cacetão esporrado do meu cuzinho.
- Que conversa é essa, agora?
- Por que você não deixa eu meter na sua bucetinha? Há algo de errado com ela, ou você apenas teme que eu lhe plante um filho no ventre? O filho de um cego. – questionou.
- Landon, que coisa horrível de se dizer. Por que você acha que uma mulher não ficaria feliz em ter um filho seu crescendo em seu ventre? – indaguei.
- Por que não sou mais um homem completo! Veja você, nós já fizemos amor tantas vezes e você não me deixa entrar na sua vagina. Não quer ter um filho de um homem que depende dos outros para qualquer coisa. – conjecturou.
- Não é nada disso! Você não sabe o que está dizendo. – respondi.
- Então me diga o que é! Por que não me deixa tocar seu sexo? Por que não me recebe na sua vagina? – insistiu.
- Chega, Landon! Você está me torturando com essas perguntas. – eu precisava contar a verdade, mas só consegui chorar.
Eu só consegui adiar o inevitável por mais duas semanas. Aquela discussão parecia ter ficado no passado, mas quando ele estava me fodendo, debaixo de um gazebo numa tarde ensolarada do verão de 1864, já pleno de suas forças devido aos exercícios de musculação que praticava por duas horas do dia com a ajuda de um instrutor, ele enfiou suas mãos na minha virilha tentando alcançar o que imaginava ser minha buceta, mas deparou-se com uma lâmina adesiva delgada de borracha vulcanizada que cobria meu pinto. Ao arrancá-la a fraude foi descoberta. O caralhão dele brochou no mesmo instante dentro do meu cuzinho. Ele me virou de costas e, a despeito da minha luta para manter as pernas fechadas, ele conseguiu agarrar minha pica. Quase a decepou ao torcê-la com fúria.
-Ai, Landon! Ai, ai, ai. Pare, Landon! Pare. – gritei desesperado.
- Você é um maldito de um pederasta! Você me enganou durante todo esse tempo! Seu ser desprezível, aproveitando das minhas limitações para conseguir essa imundice! Depravado! Eu vou te esganar. – berrava ele, possesso e fora de controle.
Só consegui me livrar de seus socos e bordoadas dando uma joelhada em seus genitais. Ele urrou e se contorceu, enquanto eu saía do alcance de seus golpes.
- Eu quis te contar a verdade, eu juro! Muitas e muitas vezes. Mas temia exatamente esse momento. Por favor, Landon, tente me ouvir. – implorei, sem sucesso.
- Você deve ter se divertido muito as minhas custas! Aquele cego não vai desconfiar nunca, não é? Não foi isso que você pensou, depravado?
- Não Landon. Eu juro que nunca pensei isso. Eu não fiz nada intencionalmente. Foi você que achou que eu era uma garota, lembra-se? Eu apenas não desmenti. Eu não sei por que fiz isso, me perdoe. Por favor, perdoe-me Landon! Eu te imploro. – supliquei agoniado.
- Não me peça o impossível! O que você fez é imperdoável! Você é a criatura mais desprezível que já conheci. – ele continuava furioso. Eu me mantinha numa distância segura, pois se me alcançasse voltaria a me bater.
- Então, tente apenas me entender. Eu juro que não fiz nada por mal, ou para te humilhar. Você precisa acreditar em mim. Eu vi o quão carente você estava e só quis te trazer um pouco de carinho. Eu sei como você se sentia, pois eu mesmo estava sentindo isso quando fizemos amor pela primeira vez. – argumentei.
- Nós não fizemos amor! Eu fodi seu rabo. Eu fodi seu cu como se fode uma cadela! Foi isso que eu fiz. – berrou, tentando explicar sua fraqueza.
- Está bem, você apenas me fodeu. Eu só te peço, por tudo que há de mais sagrado, não revele isso a ninguém. Por favor, Landon. Vamos esquecer o que houve. Você nunca mais precisa falar comigo. Mas, não diga nada a ninguém. – supliquei.
- Você deveria ser enforcado por pederastia! Eu mesmo faria isso se pudesse. Mas, não se preocupe. Eu não vou contar nada para o tio Liam, ele te mataria ou, no mínimo, te expulsaria daqui e você teria que viver dando seu rabo para conseguir sobreviver. – alegou, sem conhecer minhas origens e meu passado.
- Obrigado, Landon! Perdão pelo que te causei. – desculpei-me, deixando-o com sua raiva e suas lembranças do que aconteceu entre nós.
Em abril de 1865, já na primavera, o general Lee se viu cercado pelas tropas do general Grant, a desvantagem de 50 mil soldados contra os 120 mil da União o fizeram ver que a guerra estava finalmente perdida. Apesar de o presidente Lincoln ter sido assassinado por um extremista sulista, isso não afetou o resultado da guerra. Ninguém mais procurava por desertores ou traidores, a União só debelou mais alguns conflitos até que em junho daquele ano as últimas tropas confederadas se renderam pondo fim à guerra civil.
Quando todos estavam certos de que mais nada poderia acontecer ao Landon, ele insistiu para voltar a Baltimore. Tia Margareth sentiu-se aliviada, por não ter mais que encarar aquelas cavidades orbitárias vazias. Tio Liam começava a me tratar como a um filho, dedicando seu afeto como uma forma de compensar o que negou ao próprio filho. Eu e o Landon já não nos falávamos há meses. Mas, pouco antes de entrar na carruagem, aonde a mãe que viera busca-lo já o esperava, ele veio ter comigo.
- Eu vim me despedir! – disse ele, apoiado na bengala que lhe servia de guia.
- Adeus, Landon! Sei que você talvez nunca consiga me perdoar, mas, mesmo assim, vou te pedir perdão mais uma vez. – retorqui.
- Esses meses todos eu tentei entender o que aconteceu. Não te culpo mais por nada. Prefiro encarar isso como uma cilada que o destino nos preparou. Não há culpados, não há vítimas. – eu o ouvia em silêncio, deixando as lágrimas caírem.
- Também penso assim! E, te agradeço por não ter revelado nada a ninguém.
- É algo que só diz respeito a nós dois. Não há motivo para que outros fiquem sabendo. Você cuidou de mim como ninguém mais se prontificou a fazer. Até minha mãe não conseguia olhar para mim após o acidente.
- Eu fiz o que precisava ser feito. O destino nos põe diante das pessoas para que aprendamos alguma coisa com elas, mesmo as que aparentemente nos fazem mal ou das quais não gostamos. – aleguei
- Essa foi a maior provação da minha vida e, sem dúvida, foi a sua presença e seu cuidado para comigo que a tornaram menos dolorosa e traumática. Adeus, Nathan!
- Adeus, Landon! Espero, sinceramente, que você encontre a felicidade que merece. – desejei.
- Você também, Nathan! – eu notei que aquela raiva, que ele demonstrou ao descobrir que eu não era uma garota a lhe entregar seu cuzinho para aplacar suas necessidades primais, havia desaparecido ou, pelo menos, de alguma forma sido sublimada pelos meus cuidados com sua recuperação e pelos prazerosos afagos que minhas preguinhas apertadas proporcionaram ao seu falo.
De repente, com a partida do Landon, parecia que a casa toda tinha entrado num estado modorrento. Minhas horas quase sempre tão atarefadas com os cuidados que ele demandava, passaram a ficar longas e entediantes. A nossa volta tudo ainda fervilhava com o fim da guerra de secessão. A escravidão foi oficialmente abolida, mas a segregação entre brancos e negros ganhou novo impulso. Em muitos estados persistiam grupos de resistência e de perseguição aos negros, que continuavam majoritariamente a trabalhar na agricultura e nos serviços domésticos. O país se viu envolvido na reintegração dos onze estados sulistas que formavam a confederação, uma tarefa que não se mostrou tão promissora quanto parecia antes do fim oficial da guerra quando os estados da União já contavam com a vitória. Eu fui me vendo cercado da falta de expectativas, enquanto crescia dentro de mim a vontade de deixar tudo aquilo para trás, como se não houvesse uma possibilidade de futuro se eu continuasse ali.
- Estou pensando em cursar medicina em Londres. Cuidar do Landon me fez ver o quão gratificante é poder fazer algo pelo bem estar dos outros. – mencionei certa manhã durante o desjejum para o tio Liam e a tia Margareth.
- Você foi mesmo muito corajoso e dedicado à recuperação dele. Não fosse você talvez não estivesse vivo hoje. – observou tia Margareth. – Mas, eu não gostaria que você se mudasse daqui. Já estamos tão sozinhos sem o Mason. – emendou, demonstrando mais uma vez sua mágoa com o marido pela ausência do filho.
- Não há como você fazer seus estudos sem nos abandonar? – perguntou tio Liam, àquela altura bastante arrependido pela maneira como tratava o filho.
- Não há faculdades de medicina descentes por aqui. A universidade da Pensilvânia é apenas um projeto de faculdade de medicina. Lá professores dão palestras muito bem remuneradas e que lhes rendem um bom dinheiro. Contudo, não existem aulas práticas e laboratoriais. Ainda existe a proibição de dissecações por estudantes. Os dois anos de estudos nessas condições não preparam ninguém para a prática médica, apenas fornecem um diploma que confere um status para cometer absurdos. Pelo menos em Londres são quatro anos de estudos e muita vivência clínica. Eu andei conversando muito com o Bryce, digo, doutor Scott, nessas últimas semanas e, ele me explicou as diferenças em se tornar médico por aqui e em Londres, onde ele próprio estudou. – argumentei.
- Não simpatizo muito com ele, mas tenho que admitir que ele fez um bom trabalho com o Landon – ponderou tio Liam.
- Só estou preocupado com os custos. Eu tenho direito a alguma coisa da nossa fazenda no Kentucky, não tenho tio? – expus, sem nunca antes ter mencionado algo sobre os bens que meus pais me deixaram.
- Claro! Tudo que eles tinham é seu. Durante todos esses anos eu investi seus bens nos meus negócios e hoje você tem um patrimônio considerável, muito superior ao que eles te deixaram. Na verdade, você não precisa se preocupar com o seu futuro ou de seus filhos, quando os tiver. Por isso, acho desnecessário que saia por aí procurando uma profissão. Você não precisa disso, Nathan. – explicou ele.
- Eu vejo os estudos como uma realização pessoal, não gostaria de abrir mão disso.
- Você é quem sabe! Não serão os custos que te impedirão de fazer o que quiser. – respondeu ele, muito mais condescendente do que sempre fora com o próprio filho.
No inverno de 1886, aos vinte anos, embarquei no vapor rumo a Londres. No convés do navio, durante as longas semanas de travessia do Atlântico, admirando aquele horizonte tão amplo e que parecia nunca ter fim, eu pensava em tudo aquilo que estava deixando para trás. Das minhas grandes perdas, meus pais e minha casa, meu primeiro e único amor, o Mason. Quando a refrescante brisa marítima no deque do tombadilho começava a se transformar numa ventania carregada de uma neblina úmida e fria, eu fechava minha leitura e me dirigia até minha cabine. Pouco me interessei pela vida social a bordo, tão absorto estava com meus pensamentos e dores que carregava no peito.
- Um pote de outro em troca de seus pensamentos! – exclamou uma voz grossa atrás de mim, quando estava com os braços apoiados sobre a amurada da popa observando o rastro de espuma branca que as hélices do navio deixavam sulcadas na superfície do mar. – Posso apostar que está deixando muitas lembranças dolorosas atrás de si. – continuou, convicta.
- O que lhe dá essa certeza? Por acaso é um adivinho? – retruquei, assustado por ter sido afastado de meus pensamentos não abruptamente.
- Não! Apenas um observador atento. Nenhum jovem tão bonito quanto você passa os dias mergulhado em leituras, se esquiva das pessoas e das diversões a bordo, e fica por horas contemplando o horizonte, sem que esteja fugindo de seu passado. – respondeu, também se debruçando sobre a murada ao meu lado.
- Não estou fugindo de nada! Pelo contrário, estou à procura de novidades. – devolvi, pouco impressionado com o porte atlético e o bronzeado do meu interlocutor.
- Então, quem sabe, eu possa ser uma dessas novidades que você procura. Doherty, Adam Doherty, muito prazer. – disse, estendendo-me uma mão musculosa, em cujos dedos grossos cresciam tufinhos peludos sobre as falanges.
- Nathan McCoy! – respondi, hesitando um pouco em colocar minha mão dentro da dele.
Nos dias que se seguiram, descobri que se tratava de um dos filhos de um banqueiro de Nova Iorque. Uma espécie de ovelha negra da família, que tinha pouca afinidade com os negócios da família e, por isso, era mantido afastado desses assuntos. Também não colaborava seu jeito direto de dizer as coisas, mesmo que fossem desagradáveis, o que logo pude constatar depois de algumas horas de conversa. Mas, ele não escondia esse seu lado sombrio. Pelo contrário, parecia ter certo orgulho dele, o que o fazia ser um pouco irritante, às vezes.
- Cansado da minha companhia? – perguntou, numa noite em que insistiu para que o acompanhasse no jantar. Coisa que eu evitava fazer pedindo minha janta na cabine.
- Não. Só estou um pouco cansado, acho que peguei muito sol hoje. – respondi, mentindo.
- Desde o primeiro dia em que te vi caminhando pelo convés, não consigo deixar de imaginar como seria gratificante apalpar essa sua bunda carnuda e arrebitada. Eu gostaria muito de partilhar minha cama por uma noite inteira com você. – despejou ousado e impudico.
- E, o que te faz pensar que eu aceitaria uma proposta absurda dessas? – revidei.
- A saudade que está sentindo de uma rola entre as nádegas. Posso jurar que uma pica muito significativa para você ficou perdida nalgum lugar do seu passado. E, que esse passado não é tão longínquo assim. – afirmou, safado.
- Talvez você tenha razão! No entanto, se você estiver certo, eu não tenho motivo para procurar outra, não nesse momento. – asseverei.
- É uma pena! Eu teria o maior prazer em colocar um sorriso nesse seu rosto angelical. Acho que te deixaria ainda mais atraente. – revidou, ousado. Ele continuou tentando nos dias seguintes, inclusive até o último momento, quando nos despedimos no porto de Southhampton, e ele me pedia um endereço para um futuro contato.
A regulamentação da prática médica através da criação em 1856 da Associação Britânica de Medicina, aliada aos avanços da descoberta de Pasteur e, os projetos sanitários para combater a epidemia de cólera de 1854, e a recente publicação de Lister sobre cirurgias assépticas serviram de impulso para o ensino médico nas escolas vinculadas aos hospitais londrinos. Eu havia chegado, portanto, no momento exato de participar do boom de formação de novos médicos, com regras e disciplinas mais objetivas e práticas. Toda essa efervescência, junto com a vida cosmopolita de Londres, me fizeram despertar daquele estado de desânimo no qual estava imerso desde a partida do Mason. Por ter vivido sempre no campo longe de grandes centros urbanos, Londres se mostrou um mundo novo a ser explorado. Em poucos meses, eu estava adaptado à nova vida e, juntamente com os amigos da escola de medicina, fizemos valer cada dia de nossas vidas. Como outros estudantes oriundos de outros países também afluíram para Londres, logo passei a ser convidado a viajar para outros países do continente. Ao final do primeiro semestre de 1867 fui convidado por um dos meus melhores amigos para passar uns dias com sua família em Paris e, visitarmos a Exposição Universal de Arte e Indústria que reunia 41 países e, que estava agitando toda Paris naquele ano. O pavilhão especialmente construído para a Exposição a mando de Napoleão III no Campo de Marte estava lotado no sábado ao final da manhã quando o Jules e eu circulávamos entre os expositores. Fazia um dia ensolarado em Paris naquela manhã e eu estava curiosíssimo com as novas técnicas de fotografia que estavam expostas. O Jules me ouvia entusiasmado contando como eu tinha feito meus primeiros daguerreótipos e, me estimulava a ingressar nesse campo.
- Poderíamos começar a fotografar as peças anatômicas dissecadas no laboratório e agrupá-las num livro sobre o assunto, o que acha? – questionou, vislumbrando um futuro menos árduo no ensino daquela disciplina. – Ei, ei, Nathan! Você está no mundo da lua? Ouviu o que eu disse? – insistiu, sacudindo meu ombro.
- Hein? Como? Ah! Não entendi o que você disse. – respondi balbuciando, olhando para um ponto distante além da multidão.
- O que foi? Parece que viu um fantasma! – disse ele.
- É, acho que vi! – respondi gaguejando.
- Como assim? Você não está falando coisa com coisa!
Eu podia jurar que tinha visto o Mason, por uma fração de segundos, no meio daquela multidão. Não consegui revelar minha suspeita ao Jules, pois isso significaria dizer quem era o Mason, e por que a simples imaginação de tê-lo visto me causou um abalo tão forte. Fiquei dias com aquilo na cabeça, até me convencer de que aquele homem bem e formalmente vestido não podia ser o meu Mason. O Mason não adepto a formalidades, o Mason que andava por toda Calvert com o colarinho da camisa aberto, exibindo seu torso másculo, o Mason que tirava as ceroulas para se enfiar comigo no riacho que cortava a fazenda e com isso poder meter no meu cuzinho mais facilmente. A chaga reaberta levou algumas semanas para se curar. E, o episódio foi virando passado com o correr do tempo.
Quando terminei minha formação médica, diplomando-me pelo Royal College of Physicians intentava continuar vivendo em Londres. Essa ideia havia se concretizado quando certa tarde, o Jules e eu, estávamos num café na Fulham Road em Kensington e vimos um homem sendo atropelado por uma carruagem cujo cocheiro havia perdido o controle sobre a parelha. Gravemente ferido, tentamos leva-lo ao hospital mais próximo, mas fomos impedidos pelo diretor. Ele alegou que o hospital não atendia aquele tipo de gente, referindo-se ao status social do ferido. Depois de muito corrermos com ele, conseguimos que fosse aceito no Saint Mary’s onde, contudo, praticamente não havia médicos. Acabamos nós mesmos fazendo o atendimento e, isso nos motivou a recrutar outros colegas que haviam estudado conosco a fazer, voluntariamente, sua contribuição, dedicando algumas horas ou um dia para aquela população. Estávamos tão envolvidos nesse nosso projeto que já sonhávamos criar nosso próprio hospital com as doações de milionários ingleses que faziam fortuna na Índia e outras colônias britânicas mundo afora.
Porém, no outono de 1872, recebi uma carta de tia Margareth dando conta da piora do estado de saúde do tio Liam. Sua letra, sempre pomposa e bem distribuída pelas pautas do papel timbrado, estava bastante inclinada e dava a impressão de ter sido escrita num avançado estado de ansiedade e preocupação. Ela relatava as constantes perdas de consciência, às vezes até três num mesmo dia, que tio Liam sofria sem nenhuma causa aparente. Ele se recusava a ficar de repouso como o doutor Scott recomendara, alegando que não podia deixar os negócios acéfalos. Eu bem conhecia a teimosia dele e, ela só vinha aumentando com a idade. Eu devia muito aos dois e me sensibilizei com o rumo que o destino deles estava tomando. Acabei por decidir que era hora de voltar a Calvert, mesmo pondo em risco meu futuro.
Eles me receberam muito mais efusivamente do que naquela época em que perdi meus pais. A velhice tinha temperado seus sentimentos e, eles já não se importavam em demonstrar publicamente suas emoções. Tio Liam tinha abrandado um pouco sua rotina, continuava saindo cedo para o trabalho, mas voltava no início da tarde, bastante fatigado e com os passos cambaleantes. Disse que com o meu regresso não precisava mais do doutor Scott e, quis dispensá-lo logo de cara. Nunca entendi o porquê de ele implicar tanto com o Bryce, pois eu o achava um bom sujeito. Fui vê-lo logo no dia seguinte ao meu retorno em seu consultório, sem me fazer anunciar.
- Ora, ora! Quem temos de volta. Vou ver minha clientela minguar com esse novo doutor cheio de charme e esbanjando beleza. – disse sorrindo, ao vir me abraçar logo após a saída de um paciente de seu consultório.
- Olá doutor Scott! É um prazer revê-lo. – respondi encabulado com a observação dele.
- Bryce! Apenas Bryce! Afinal somos colegas de profissão agora, não somos? – devolveu, ainda abraçado a mim.
- Sim, claro!
- Quem deve ter gostado do seu retorno foi seu tio, não é mesmo? Ele estava doido para se livrar de mim. – disse, espontâneo.
- Tio Liam é um sujeito difícil! Mas, confia muito no seu trabalho. Afinal, ele tem motivos para isso. – ponderei.
- Certamente, certamente! Mas, sente-se, conte-me como foram seus estudos em Londres.
Ficamos boa parte da tarde conversando, pois ele não tinha pacientes agendados. E, por fim, acabamos falando sobre o estado do tio Liam e, ambos concordamos que ele devia estar hipertenso, o que lhe provocava os desmaios repetidos. Pouco antes de me despedir dele, à porta da clínica, ele me perguntou sobre o Mason. Fiquei um pouco constrangido, pois ele havia nos flagrado naquela tarde quente de verão no riacho logo após o Mason e eu termos transado nas águas frescas e, certamente, o motivo de sua pergunta estava relacionado a esse fato. Fui sincero e disse que nunca mais obtivemos notícias dele. Não revelei minha suspeita de tê-lo visto na Exposição Internacional de Paris, pois nem mesmo eu sabia se aquilo tinha sido pura fantasia minha. Convidei-o para jantar conosco naquela semana, pois queria me envolver no atendimento dos pacientes sem melindrá-lo, talvez trabalhando em conjunto.
Pouco mais de um mês depois da minha chegada, tio Liam teve um acidente vascular cerebral que paralisou praticamente todo o lado esquerdo de seu corpo. A notícia foi manchete dos jornais por alguns dias, pois ele tinha se tornado um dos mais prósperos e respeitados empresários do ramo naval e ferroviário de Maryland e, seus negócios há muito tinham se expandido para ultramar. Sua recuperação foi lenta, levou quase um ano para voltar a dar alguns passos titubeantes com a ajuda de um cuidador. Suas funções cognitivas estavam bastante preservadas o que dificultava para qualquer um que quisesse ajuda-lo, pois ele insistia em dizer que não precisava de ajuda. Incrivelmente, ele dava ouvidos às minhas broncas e às minhas orientações, cedendo a tudo que eu lhe indicava. Embora sua fala tivesse ficado muito comprometida, a ponto de quase não se entender o que ele dizia, ele havia adquirido o hábito de segurar a minha mão e me encarar com os olhos marejados, toda vez que brigava com os cuidadores ou se recusava a fazer o que eles determinavam. Era seu jeito de se desculpar por ter desobedecido minhas recomendações. Tia Margareth parecia ter envelhecido dez anos naquele ano após o ataque que acometera o tio Liam. Com tudo isso, ambos se apegaram tanto a mim como se eu fosse sua única taboa de salvação.
No outono seguinte à instalação da doença do tio Liam, os ventos gelados vindos do norte apressaram a mudança de tons das folhas nas árvores. Chovia mais amiúde e a restrição de ficar um pouco ao ar livre também começara mais cedo. Os invernos sempre me traziam certa melancolia. Acho que o fato de nos interiorizarmos fazia com que refletíssemos e vivenciássemos com mais intensidade aquilo que estava escondido em nossa alma. Naquele primeiro sábado de novembro chovia como em todos os dias daquela semana. O gramado ao redor da casa mais parecia um charco e, das folhas amarronzadas das árvores pendia sempre uma gota d’água. Apesar de passado um pouco das sete e meia da noite, quase todos já haviam se recolhido. Eu ainda ouvia o tilintar de panelas, tigelas e pratos na cozinha, sinalizando que a senhora Ogden continuava dando conta de suas tarefas. Outro criado entrou na biblioteca, onde eu lia sentado diante da lareira acessa, perguntando se deveria fechar as cortinas. Dispensei-o e pedi que fosse verificar se a senhora Ogden precisava de ajuda. Meia hora depois, a casa estava imersa no silêncio. Eu havia chegado às paginas onde o texto começava a abordar a doutrina dos contrários de Heráclito. A mudança que acontece em todas as coisas é sempre uma alternância de contrários, coisas secas umedecem, coisas úmidas secam, coisas frias esquentam, coisas quentes esfriam. A realidade, portanto, não está numa das alternativas, já que ambas são parte de mesma realidade, mas na mudança, no alternar das coisas. É por isso que a tristeza faz com que a alegria seja uma coisa boa. Se não existisse a tristeza, não daríamos tanto valor à alegria. Eu conhecia muito bem esses extremos. Sabia que minha infância tinha sido boa por que com tenra idade soube que perder meus pais e minha casa foi ruim. Sabia que tinha vivido o mais belo amor da juventude porque senti a dor de perdê-lo. A aldrava batendo na sólida porta de carvalho, fazendo suas batidas ecoar pela casa silenciosa, me afastou essas lembranças. Que desatino bater na porta de alguém há essas horas e com essa chuva despencando do céu, pensei comigo mesmo. Logo em seguida senti um frio na barriga, podia ser alguma notícia catastrófica. Apressei-me a abrir a porta e, diante de um fundo negro, onde os relâmpagos formavam como que raízes de uma planta nos céus, vi o rosto encharcado do Mason sendo iluminado pela claridade das três enormes arandelas que pendiam do teto da varanda. Precisei me segurar na porta para continuar me mantendo em pé.
- Não havia nenhuma boa alma que pudesse me buscar na estação? – perguntou com um sorriso largo e os braços abertos.
- Não sabíamos de sua chegada! – revelei, espantado com o que meus olhos viam.
- Enviei um telegrama há cinco dias quando cheguei à Nova Iorque. – afirmou ele.
- Não recebemos nada! Mas, você vai ficar parado aí? Entre, você está encharcado.
- Até que enfim! Será que posso te dar um abraço? – disse ele, após tirar o sobretudo molhado. E, mesmo sem esperar pela resposta, me apertou contra o peito.
Foi estranha aquela formalidade toda. O Mason que vivia nas minhas lembranças era aquele Mason que me agarrava assim que surgisse uma pequena brecha, era aquele Mason que entrava no meu quarto à noite e se esgueirava nu para debaixo das minhas cobertas, era aquele Mason que me despertava nas madrugadas enfiando lentamente seu cacetão duro no meu cuzinho. Quem era esse Mason que me perguntava se podia me abraçar? Por uns instantes tive vontade de chorar, mas eu também não era mais aquele jovem a que tudo intimidava, aquele jovem que nunca se sentia em casa em lugar algum, aquele jovem que mendigava por um simples sorriso ou um breve elogio.
Fomos à cozinha, pois ele disse que estava varado de fome. Enquanto requentei um pouco do assado do jantar, ele foi me relatando como haviam sido os anos desde que partira de Calvert. Não havia nenhum remorso em sua explanação e, enquanto ele falava, eu tive a impressão de nunca ter conhecido esse sujeito que estava diante de mim. Ao deixar Calvert, ele embarcou num vapor para a Inglaterra. Não havia planejado nada, apenas embarcado no primeiro navio ancorado no porto. Iniciou um pequeno negócio com o pouco dinheiro que levara consigo. Viu-o se multiplicar ao atrelar seu negócio a um importador na Austrália, de quem adquiriu todos os negócios dois anos depois, após a morte do sócio. Ficou uns tempos vivendo na Austrália antes de regressar à Europa, já um homem dono de um bom patrimônio. Só há alguns meses é que ficou sabendo, pelo comentário de um industrial americano, com quem mantem acordos comerciais, que seu pai tinha deixado de encabeçar os negócios devido à doença. Por isso tinha resolvido ver como estavam os pais.
- Creio tê-lo visto, em 67, na Exposição Internacional de Artes e Indústria em Paris. – comentei, enquanto ele se deliciava com o assado da senhora Ogden.
- Como assim? Você esteve em Paris? O que fazia lá? – aquilo tinha o deixado tão surpreso que, por uns instantes, parou de comer.
- Eu estava passando uns dias na casa de um amigo, e resolvemos visitar o pavilhão de exposições. – expliquei.
- Por que não veio ao meu encontro? Quem é esse seu amigo? – havia um tom recriminatório em sua última pergunta.
- Jules, um colega da faculdade de medicina. – esclareci.
- Então você agora é um doutor? Nunca imaginei que você pudesse se interessar pela medicina. – declarou surpreso.
Subitamente, conversar com ele sobre essas banalidades me deixou puto. Nenhuma explicação por ter me deixado sem se despedir, nenhuma palavra sobre o que sentíamos um pelo outro. Se ele não fosse o filho do tio Liam e da tia Margareth eu o teria enxotado naquele momento. Será que ele nunca pensou em como tinha me machucado? Será que ele não sabia que tinha destruído todos os meus sonhos, ignorado meu coração esfacelado quando me deixou, sem nenhuma explicação?
- Quer que eu avise seus pais da sua chegada? Eles vão ficar eufóricos. – propus.
- Amanhã! Preciso de uma boa noite de sono antes de encarar o velho Liam. Minha paciência já não é mais a mesma, e não quero entrar em conflito com ele logo na minha chegada. – argumentou.
- Tudo bem! Posso te pedir uma coisa?
- Sim, claro! Se estiver ao meu alcance.
- Seu pai mudou muito nesses anos. A doença também o fragilizou. Procure se entender com ele. Vai fazer bem a ambos e, à tia Margareth.
- Vou tentar!
Vou tentar. Isso é resposta que se dê, depois de ficar anos sem dar notícias, sem se dar ao trabalho de saber como estão os próprios pais? Quem é esse homem que está diante de mim? Eu não conseguia parar de me fazer essa pergunta.
Embora o Mason não tenha feito nenhuma menção ao nosso passado, eu mal conseguia olhar para aqueles olhos cor de âmbar, aqueles ombros largos configurando um torso triangular muito musculoso e, aquele volume em suas calças, sem sentir um calor brotando em meu peito, uma comichão nas pregas anais e um desejo quase doentio de beijar aqueles lábios. Eu nunca senti por homem algum o que sentia por ele. Eu o amava com todas as minhas forças, essa era a verdade. Mesmo essa indiferença e os anos afastados não conseguiram desmantelar o que eu sentia por ele. Bem que os romancistas não se cansam de afirmar que o amor machuca, corrói e dói.
Ele seguiu para seu antigo quarto, ao lado do meu, quando fomos nos recolher. Ao lhe desejar uma boa noite diante da porta do meu quarto, tive a esperança de ele entrar comigo e me confessar que estava cheio de saudades. Mas, ele seguiu até a porta seguinte. Não tranquei minha porta, a noite estava apenas começando. Entrei na banheira e me lavei como quem limpa a casa antes de receber uma visita importante. As madrugadas já ficavam bastante frias naquele outono com cara de inverno, mesmo assim, deitei-me apenas com uma camiseta, sem nada da cintura para baixo. Ele podia querer entrar na cama junto comigo e, ao me encontrar com a bundinha nua, saberia o quanto eu esperei pela volta dele. O silêncio que se abateu sobre a casa foi me deixando apreensivo. Nenhum estalar de taboas indicando que alguém caminhava no quarto ao lado, nenhuma porta rangendo suas dobradiças, nada de alguém se aproximar da minha porta. Eu não conseguia pegar no sono, tão atento estava à espera de algum sinal de sua presença. Ouvia o vento lá fora agitando as folhas nas copas das árvores, ouvia o sibilo dele passando pelas frestas das venezianas, ouvia a água da chuva escorrendo pelas calhas do telhado. O tique-taque do relógio na mesa de cabeceira sempre teve o poder de embalar meu sono, mas nem ele estava conseguindo isso hoje. E, se ele estivesse esperando por mim em seu quarto, manipulando o pau debaixo dos cobertores só para me pedir para continuar a masturba-lo quando entrasse na cama, como fez tantas vezes, exibindo sua ereção potente só para me seduzir? Eu queria sentir seu cheiro, sua pele, seu rosto com aquela barba por fazer, sua língua dentro da minha boca, ele todo, imenso e bruto, latejando dentro de mim. Eu me revolvia nos travesseiros e a agonia não passava, as horas não passavam, ele não vinha. Eu tinha ido até as janelas, aberto as venezianas, tentando encontrar na escuridão da noite a paz que me foi roubada no momento em que ele bateu naquela aldrava. Um tom azulado começou a se erguer no horizonte e eu soube que ia amanhecer. Afundei o rosto nos travesseiros e chorei. Havia anos que não chorava. Havia anos que não me sentia tão frágil e desprotegido.
Tia Margareth quase teve uma síncope quando encontrou o Mason sentado à mesa do café. As emoções do tio Liam sempre foram difíceis de identificar em suas expressões e, tinham piorado depois do AVC. Porém, após ter a certeza de que era o Mason que estava diante dele, segurou firme a mão do filho entre as suas, balbuciou seu nome com dificuldade, e deixou que duas lágrimas brotadas nos cantos dos olhos, rolassem pela face. O Mason me encarou sem saber o que fazer. Acho que ele nunca tinha ouvido o pai lhe dizer o quanto o amava, e essas lágrimas estavam dizendo exatamente isso. Um clima de festa iluminou aquela casa, como há muito não se via. Estávamos novamente juntos. No meio de toda aquela alegria, não consegui afastar uma dúvida repentina. Por quanto tempo estaríamos juntos? Pelo pouco que havia conversado na noite anterior com o Mason, parecia que seus planos não incluíam um retorno definitivo para aquela casa, talvez nem mesmo para Calvert ou os Estados Unidos.
A chuva amainou no meio da manhã, restando apenas uma umidade baixa que podia ser vista ao longe sob a forma de um nevoeiro. Repentinamente eu precisava de ar, tinha que sair de dentro de casa, precisava de espaços maiores. Caminhei até a praia com o vento espalhando meus cabelos até encontrar o pequeno rochedo junto à praia que podia ser escalado quando a maré estava baixa. Fiquei olhando o mar e, demorei a perceber que a umidade que estava constantemente tirando da frente dos olhos não era fruto da condensação do ar úmido trazido pelo vento, mas do meu mais completo estado de solidão. Assim como demorei a notar que havia alguém próximo a mim.
- Você ainda vem aqui quando está triste. – sentenciou a voz tranquila do Mason, antes de se sentar tão junto a mim que nossos braços se resvalaram.
- Sou apegado a certas coisas, não consigo evitar! – respondi, com os olhos vermelhos de tanto chorar. Ele sabia o que eu queria dizer.
- Isso nem sempre é bom. As coisas mudam.
- Infelizmente sim! Mas, gosto de pensar que apesar das mudanças, algumas coisas podem ser eternas.
- Para o bem e para o mal!
- O que quer dizer com isso? Especialmente depois do que aconteceu há pouco quando você teve a confirmação de que apesar das mudanças, o amor do seu pai por você é eterno. – retruquei.
- Será mesmo amor, ou apenas a constatação de que sua vida está chegando ao fim e, que pode vir a precisar de mim. – argumentou.
- Estou te desconhecendo! Tio Liam sempre te amou! Pode não ter sido brilhante em demonstrar isso, mas essa realidade nunca mudou. Até o fato de viver implicando com você era uma prova desse amor.
- Talvez você tenha razão! Porém, essa forma de amar sempre me machucou muito mais do que me trouxe momentos de felicidade. Ele sempre deixou claro que eu não tinha competência para nada.
- Pois eu acho que ele sempre acreditou em você. Só queria se certificar que você se transformaria no homem capaz de levar adiante o que construiu com muito esforço.
- Não precisei dele para chegar aonde cheguei. Que prova melhor do que essa pode haver?
- Ele não sabe disso! Talvez fosse oportuno dizer isso a ele. Tenho certeza que sentirá orgulho do filho que tem.
- E você, sente orgulho de mim? – foi a primeira vez que ele me encarou desde que se sentou ao meu lado.
- Eu sempre tive orgulho de você! Não sei por que me faz essa pergunta. Sempre senti por você muito mais do que apenas orgulho, você deveria saber disso. – afirmei.
- Será mesmo? – questionou, fazendo com que uma fúria repentina se apossasse de mim.
- Não sei de onde vem tanto cinismo! Você me abandona sem dizer sequer um adeus, um até breve. Passa anos sem me dar notícias suas, sabendo que a dúvida de não saber se você estava bem, se não estava doente, se tinha lhe acontecido alguma coisa, se estava vivo era suficiente para me deixar desesperado. E, quando volta, me trata como se eu fosse um desconhecido, como se nunca tivesse te acolhido nas minhas entranhas, como se nunca tivesse confessado meu amor por você. – despejei revoltado.
- Se todo esse amor que você diz que sentia por mim fosse real, talvez você demoraria um pouco mais, para se deitar na cama com outro homem, assim que eu parti para tentar conquistar minha independência e ser digno de voltar para te buscar. – argumentou, apertando meu braço com tanta força que precisei me desvencilhar dele. – Eu casualmente encontrei o Landon e tia Francis quando cheguei à Nova Iorque e ficamos hospedados no mesmo hotel. Enquanto tia Francis não poupou elogios à sua dedicação para a recuperação do Landon, ele me segredou que viveu a melhor experiência de sua vida junto com você, mesmo tendo descoberto que você não era quem ele pensava. Curioso, não? Você se passando por mulher para conseguir a pica de um cego. – seus olhos injetados carregavam uma raiva prestes a explodir.
- Não fui eu quem induziu o Landon a se confundir. Isso aconteceu num momento crítico do estado de saúde dele. Eu apenas não tive coragem de desmenti-lo naquele momento e, quando o tempo passou, tanto ele quanto eu caímos na armadilha da carência. Eu ensaiei inúmeras vezes como dizer a ele que estava enganado a meu respeito, mas não só temia sua reação, como o escândalo que isso ia provocar. – respondi.
- Então resolveu aproveitar a rola que ele estava louco para enfiar no seu cu! – exclamou possesso.
- Eu nunca me aproveitei dele, nem tão pouco ele. Ambos estávamos arrasados, nossas vidas não faziam mais sentido. Aquilo era tudo que nos mantinha vivos. É tão difícil de entender isso? – questionei.
- É muito difícil, sim! É muito difícil descobrir que a única pessoa que você já amou nessa vida se entregou para outro, enquanto você buscava desesperadamente se transformar numa pessoa capaz de reivindicar esse amor para sustentá-lo, protegê-lo e guarda-lo junto a si. – respondeu.
- Eu sempre te amei acima de tudo. Nunca me importei se você era isso ou aquilo. Eu te amei por que você era você, isso sempre me bastou. – revidei.
Eu estava tão furioso com ele que mal podia olhar na cara dele. Eu não significava nada para ele. Meu amor não significava nada para ele. Será que um dia ele chegou a me amar? Alguém que desaparece sem sequer um adeus, que jamais se preocupou em mandar um simples cartão postal e que, ao retornar, só se sentiu incomodado por que o primo também comeu meu cuzinho. Nem mesmo um abraço cordial me foi concedido após anos de ausência. Além do que, conhecendo-o como eu o conhecia, sabia que ele também não tinha sido nenhum santo enquanto estivemos afastados, pois uma das coisas mais difíceis para ele era manter aquele cacetão sossegado dentro das calças. Sua quase compulsão pelo sexo certamente não seria controlada só porque tinha cruzado o Atlântico. Aliás, eu duvidava que tivesse chegado do outro lado sem ter alojado aquele monstro intrépido numa vagina oferecida ou num cu assedentado por algo tão descomunal como seu falo.
Não nos falamos por três semanas. Eu evitava ficar no mesmo ambiente em que ele estava. Fazia meus passeios pela propriedade ou ia caminhar na praia quando o clima permitia. Encontrei-me com o Bryce algumas vezes no bar do cais do porto, o único que permanecia aberto até um pouco mais tarde. Tomávamos uma sopa de mexilhões com pão e vinho enquanto dávamos corpo à nossa ideia de trabalharmos juntos no projeto de um hospital filantrópico aos moldes daquele que concebi com o Jules.
O Mason não me procurou em meu quarto em nenhuma noite. Nos primeiros dias após nossa discussão na praia eu ainda esperei que ele entrasse pela porta, que propositalmente eu nunca tranquei, e me pedisse desculpas pelo que me disse. Mas, nem ele, nem as desculpas vieram e, eu desisti de esperar por ele. Ele e tio Liam pareciam ter superado um pouco aqueles obstáculos que sempre os impediram de ter uma conversa civilizada. O Mason foi até a empresa aonde a construção das locomotivas a vapor ia de vento em popa, e também, até o estaleiro que já pertencia praticamente todo ao tio Liam, à exceção de alguns sócios minoritários. Inteirou-se da situação das empresas, assim como da fazenda da qual tio Liam tinha descuidado um pouco diante do excesso de demandas dos negócios. Eu os encontrava conversando na biblioteca ou na varanda quando o sol tímido da tarde a iluminava com seus raios outonais alaranjados. Assim que o tio Liam me via, acenava para que me juntasse a eles.
- Finalmente tenho meu filho ao meu lado e tomando pé dos negócios. Quero que você também participe, Nathan! Afinal, você também é nosso filho. Como já lhe expliquei, todo seu patrimônio está investido nas empresas, você também é dono de tudo que temos. Eu sei que vocês dois vão estar sempre juntos, como era antes de o Mason se estabelecer na Inglaterra, quando sua tia e eu não estivermos mais aqui. – reiterava, feliz com aquele arranjo que para ele nunca tinha corrido nenhum risco.
- Sou um médico, tio Liam! Não entendo nada de negócios, bancos, fazendas. O Mason saberá cuidar disso para o senhor melhor do que eu.
- Você é um excelente médico! Se ainda estou aqui é por que você é um ótimo profissional. Mas, não é disso que estou falando. Meu desejo é que vocês dois construam suas vidas juntos, não apenas para os negócios, mas para que possam sempre contar um com o outro. – o Mason e eu nos entreolhamos como há tempos não fazíamos. Será que tio Liam sabia do que havia acontecido entre nós dois? Se ele sabia de alguma coisa, por que nunca nos questionou? Conservador e reservado como ele era, não seria de esperar que fosse condescendente com uma ligação tão estreita entre o único filho e o sobrinho. Levei essa suspeita para o meu quarto naquela noite.
Eu ainda lia, lutando contra o sono, tentando vencer as últimas cinquenta e oito páginas que faltavam para eu terminar o suspense policial que havia iniciado três dias atrás quando ouvi o ringir da fechadura e a vi movimentar-se na tentativa de abrir a porta trancada. Meu coração deu um sobressalto, ele finalmente veio me procurar. Hesitei se deveria abrir a porta e deixa-lo entrar. Os passos percorreram o corredor e, pouco depois, ouvi a porta do quarto dele se fechando. Ele havia desistido, assim como havia desistido do nosso amor. Não tive mais cabeça para continuar a leitura. Quando nos entreolhamos naquela tarde na presença do tio Liam, seus olhos tinham o mesmo brilho de quando ele segurava meu rosto entre as mãos enquanto estava dentro de mim.
Ao amanhecer, a mesma indiferença com a qual voltara da Europa estava presente durante o café da manhã. Tia Margareth era a mais tagarela à mesa, tinha ficado assim após o regresso do Mason. Como o dia estava excepcionalmente lindo naquela manhã ela propôs um passeio de veleiro até o farol de Pooles Island, percorrendo quase um terço do comprimento da baía de Chesapeake. Eu logo me lembrei da primeira vez que o Mason tinha me levado até lá. Nenhum de nós tinha identificado ainda o que era aquele sentimento que nutríamos um pelo outro. Até então, só sabíamos que era muito prazeroso estarmos juntos. Tínhamos muito o quê falar um com o outro, a cada instante descobríamos algo de novo no outro, uma expressão, um jeito de sorrir, uma maneira de caminhar. Cada pequeno gesto parecia aumentar aquele encantamento que sentíamos um pelo outro. Naquele dia eu disse, aos pés do farol, que tinha vontade de pintar ou registrar a imagem do farol e seus arredores de alguma maneira com aquela mesma luz que o fazia se destacar na paisagem.
- Tenho vontade de realizar todos os seus sonhos! – exclamou o Mason naquele dia, olhando para mim com uma expressão boba, mas que nunca mais saiu da minha mente.
Tempos depois, ele me levou novamente lá, e foi quando fiz as imagens com o daguerreótipo com as quais venci o concurso quando estava no colégio. Quando as imagens ficaram prontas ele me disse que estava feliz por ter realizado aquele sonho junto comigo. Na hora eu não atinei com a profundidade daquela declaração, mas lembro-me de ter lhe dado o primeiro beijo, muito contido e no canto da boca e, imediatamente, corado diante da maneira como ele olhou para mim. Agora, isso tudo me parecia ter ficado num passado tão distante que seria difícil de recuperar.
A tripulação de quatro homens tinha posto o veleiro em rota numa boa velocidade. O céu estava limpo e o vento nordeste enfunava o conjunto de velas produzindo um deslocamento de quarenta nós. Tia Margareth estava sentada numa espreguiçadeira no convés com um lenço amarrado à cabeça para que seus cabelos não ficassem esvoaçando. Eu tive a impressão de que ela havia pegado no sono. O Mason ficou um bom tempo conversando com o capitão, antes de se aproximar de mim, debruçado sobre a amurada e apreciando a vista das plantações de tabaco e da minúscula Stevensville ao passarmos ao largo da Kent Island. Ele ficou um bom tempo em silêncio. Antigamente nós nunca tivemos aqueles longos silêncios entre nós, desconfortáveis e inquietantes.
- Está um belo dia! Foi bom termos saído um pouco antes de o inverno chegar. – disse, finalmente interrompendo aquela agonia silenciosa.
- Está! – devolvi, sem olhar para ele.
- Você gosta de vir ao farol de Polles Island, não é? – continuou, procurando como que um fio que não se rompesse e, de alguma forma, nos conectasse.
- Gosto! – respondi lacônico.
- Eu me lembrava muito dele quando estive fora. Acho que era um jeito de me sentir mais perto dos teus sorrisos. Você sempre sorri quando vem para cá. – revelou.
- Gosto da luz desse lugar, gosto de saber que mesmo nas noites mais escuras ele espalha sua energia e não permite que os navegantes se percam.
- Eu ainda te amo como na primeira vez em que te trouxe para cá! Eu nunca deixei de te amar. – confessou, colocando a mão sobre a minha.
- Você está tão diferente! Quase não o reconheço. – aleguei, sentindo que o calor de sua mão subia pelo meu braço fluindo como as águas de um córrego.
- Aprendi a duras penas que não se pode confiar nas pessoas como eu sempre fazia antes de sair de Calvert, talvez isso tenha me tornado um homem mais cético. – argumentou.
- E, entre essas pessoas você me incluiu!
- Não suportei a ideia de o Landon ter tido acesso a você! Ele e eu nunca fomos muito chegados. Quando crianças nossos encontros nunca terminavam sem algumas brigas. E, ao voltar por sua causa, ele me joga na cara que teve você na mais íntima das relações. Foi como se ele tivesse profanado o que eu tinha de mais sagrado. Tive vontade de esmurra-lo, mas me contive por conta da cegueira. Seria injusto bater num homem que nem ao menos sabe de onde vêm os golpes. – afirmou.
- Você teria sido um canalha se fizesse isso!
- Naquele momento eu desejei ser um, só para me livrar daquela dor que sentia no peito.
- Nunca houve um segundo sequer de carinho ou afeto entre ele e eu, só um desejo carnal que, uma vez satisfeito, não deixava marcas. – revelei. Também quis revelar que nunca deixava o esperma do Landon dentro de mim, mais do que o necessário, mas achei que falar desse detalhe o deixaria mais irritado.
- Não quero ouvir nada a esse respeito! Estou lutando para aplacar meus demônios e, conhecer qualquer detalhe dessa devassidão não vai colaborar em nada. – disse ele, como que adivinhando meus pensamentos.
- Nunca me senti um devasso quando estava com ele. Para mim era como se fosse mais um medicamento que estava administrando a ele e, a mim próprio, já que também precisava de alguma poção milagrosa que aplacasse minha solidão.
Ficamos caminhando ao redor do farol enquanto dois dos tripulantes que nos trouxeram do veleiro num bote distribuíam nosso almoço sobre uma coberta esticada na relva. Tia Margareth ficou dando as instruções e ralhava com eles pela falta de jeito deles em lidar com as louças. Não conversamos muito mais, apenas fazíamos observações sobre algo banal, um bando de pelicanos que voava em círculos no céu, o cheiro da cal recém aplicada às paredes do farol, o inclinar das hastes do capim alto por uma ou outra rajada de vento que parecia estar alisando aquele tapete amarelado de capim. Num dado momento, ao passarmos pelo lado oposto de onde tia Margareth e os marujos estavam, atrás do farol, o Mason me agarrou e me prensou com força contra a parede caiada. Colou sua boca na minha com fúria e perversão, enfiando sua língua em mim e procurando pela minha. Eu que durante semanas ansiava por um beijo acalorado e cheio de amor, tive vontade de repelí-lo ante aquela invasão depravada. No entanto, meu corpo todo já tremia em seus braços e, daquela brutalidade eu fui transformando nosso beijo num bálsamo doce e suave. A pegada dele continuava forte, mas já não tinha mais aquela raiva, aquele ressentimento, aquela opressão que me assustava. Suas mãos desceram pelo meu corpo e agarraram minha bunda. Comecei a recear que ele me rasgasse as calças para se apossar do que queria.
Passava das oito da noite quando chegamos em casa. O céu estava carregado indicando que teríamos mais chuva nas próximas horas. Tio Liam já havia jantado, mas juntou-se a nós para saber como tinha sido o passeio. Lembrei-me de nunca tê-lo visto nos acompanhando em nenhuma viagem de férias ou mesmo um simples passeio como aquele. Ele era o tipo de pessoa que não precisa de áreas muito vastas para se locomover, seu mundo físico se resumia a alguns poucos quilômetros a sua volta. Também foi estranho constatar, mesmo o olhar do Mason estando constantemente a me procurar do lado oposto da mesa, que aquele beijo no farol não tinha feito eu perdoá-lo. Eu acho que ele entendeu isso quando eu retribuía seus olhares como faria com qualquer outro interlocutor.
- Não sei quanto a vocês, mas eu estou exausta! Foi um dia maravilhoso. Porém, na minha idade, esses passeios são bastante cansativos. Boa noite! – disse tia Margareth, pousando elegantemente o guardanapo que estava em seu colo sobre a mesa e retirando-se apenas dirigindo um olhar para a senhora Ogden. Em tantos anos elas já não precisavam mais de palavras ou instruções para se comunicarem.
- Você toma um conhaque comigo na biblioteca? Não estou com sono e acho que vou demorar a dormir esta noite. Você me excitou muito hoje! – afirmou o Mason.
- Tomo sim. Talvez o conhaque me ajude a dormir mais cedo hoje. Terminei de ler os meus livros e, os que encomendei ainda não vieram. – respondi, fingindo ignorar completamente sua última afirmação.
Ele não insistiu. Sabia que eu continuava bravo com ele, e não o tinha perdoado. Verbalizar um pedido de desculpas estava fora de cogitação. Teria que haver outra maneira de deixar isso implícito nalguma atitude mais contundente a ser tomada, uma vez que o beijo daquela tarde não tinha surtido o efeito desejado. Conversamos longamente por meio de metáforas. Eu sabia onde ele queria chegar com aquilo e, ele sabia que eu sabia disso. Ele me estudava da poltrona onde estava sentado através do líquido dourado que estava em sua taça e, no qual, bebericava sem pressa, apenas umedecendo os lábios no conhaque. Eu até podia adivinhar o que se passava em sua mente.
Ele cresceu. Embora eu ainda não tivesse a oportunidade de ver seu corpo nu, ele seguramente está mais sedutor do que antes. Não que eu não o cobiçasse naquela época, prova disso era que meu pau estava sempre melado quando o imaginava pelado diante de mim. Aquela ingenuidade de garoto se transformou em algo muito mais irresistível, algo como uma áurea de mistério. Era fácil ler seus pensamentos naqueles dias, bastava encará-lo para que se parecesse com um livro aberto. Agora, quando esses olhos verdes se movem cautelosa e estudadamente não sei se está concordando ou discordando do que eu falo. É encantador, porém frustrante ao mesmo tempo. Queria saber se ele vai me deixar entrar nele e me acolher em seu cuzinho apertado como fazia antigamente ou, se vai contestar minhas intenções. Sei que ele ainda me quer, seu desejo por mim é quase palpável. Contudo, ele está sabendo jogar. Aprendeu direitinho quando avançar e quando recuar, quando usar estratégias para confundir seu oponente. Sinto um tesão da porra ao notar que ele está jogando comigo.
- Preciso ter esse cuzinho de volta!
- O que foi que você disse? – perguntei, pois não consegui ouvir aquele murmúrio, depois do longo silêncio que havia se formado. As palavras tinham lhe escapado da boca ao final daquele pensamento que o manteve calado por mais de um quarto de hora. E, ele inventou um pretexto qualquer para reiniciar a conversa.
Deixei-o depois da meia-noite. O fogo na lareira estava quase extinto e eu começava a sentir frio. Ele ficou, alegando que terminaria o conhaque que ainda estava em sua taça e subiria a seguir. Pouco depois de ouvir seus passos no corredor, vi que a maçaneta da minha porta se moveu. Esbocei um sorriso malicioso e, afofando o travesseiro de plumas debaixo da minha cabeça, adormeci como um anjo. O Mason me queria, mais alguns dias e ele ia perder a cabeça. Eu sabia que seria o tesão que ele sentia por mim que ia fazer aquele cabeça dura reconhecer o quão injusto tinha sido comigo.
Tia Margareth estava abrindo as correspondências na varanda numa manhã ensolarada dois dias depois. Era ela que se incumbia disso, pois quase todas as correspondências que chegavam a casa tinham-na como destinatária. Tio Liam cochilava numa poltrona de vime próximo a ela. O Mason e eu voltávamos de uma caminhada pela praia.
- Quem é Miles Trevor, Mason? Você pode me explicar como alguém pode escrever uma carta dessas? – ela abanava duas folhas de papel no ar com uma expressão indignada no rosto. No mesmo instante percebi o constrangimento do Mason.
- Quem? – indagou, procurando ganhar tempo para uma explicação plausível.
- Miles Trevor! Segundo estes parágrafos, ele pressente que vai morrer se você não retornar logo a Londres e cobrir seu corpo com o seu.... Eu nem tenho coragem de pronunciar o que está escrito aqui! Você estava se deitando com outro homem, Mason? É isso? – ela se descontrolou enquanto falava.
- Vou tomar um banho antes do almoço! Deem-me licença, por favor! – afirmei, deixando-os para não dificultar as coisas para o Mason. E, também, por que fiquei puto ao ter a confirmação de que ele não tinha realmente conseguido manter aquela pica dentro das calças. Agora, eu tinha um rival. Um rival, com o ridículo nome de Miles Trevor.
Quase arranquei minha pele com a esponja durante o banho pensando em como seria esse Miles. Certamente uma bunda imensa, pois o Mason não se controlava diante da minha. Que idade teria esse sujeito? Mais novo do que eu, provavelmente não, o Mason sentia tesão num joguinho de gato e rato, de palavras bem colocadas antes de subjugar sua vitima sobre uma cama e meter-lhe o caralhão nas entranhas, exibindo sua dominância como um troféu. Que qualidades esse camarada podia ter que despertaram os instintos do Mason? Será que ele é bem mais bonito do que eu? Eu tinha noção de quão atraente eu era, apesar de sempre ser muito modesto quanto a isso. Será que o que havia entre eles era apenas um desejo primal, como entre o Landon e eu, ou será que eles se amavam verdadeiramente? Comecei a chorar. Queria parar, mas não conseguia.
Tia Margareth estava carrancuda à mesa do almoço. Tio Liam perguntou algumas vezes por que estavam discutindo, nenhum deles lhe deu uma resposta a contento. Independente do que tivessem discutido, parecia que tia Margareth não aceitou os argumentos do Mason. Almocei com uma cara de ar blasé, como se fosse superior àquelas mesquinharias que discutiam, embora minha vontade fosse a de estrangular o Mason, agora que ele estava diante de mim sem a empáfia com a qual veio cobrar satisfações minhas, a respeito do que havia acontecido entre o Landon e eu.
- Quero falar com você! – disse ele, retendo-me pelo braço quando eu subia para o meu quarto após o almoço.
- Não tenho nada para conversar com você! Dê suas explicações à sua mãe! – revidei.
- Eu já esclareci tudo o que ela precisava saber! Não devo mais explicações sobre a minha vida a ela, não com essa idade! – retrucou ele, mantendo seus dedos apertados contra o meu braço.
- E, a mim você não deve explicação alguma! Largue-me!
- Você vai me ouvir nem que eu tenha que lhe dar uns safanões! – exclamou irritado.
- Isso, faça isso! Mostre-me como você é macho! Mostre-me como eu tenho que aceitar seu julgamento como sendo um depravado, enquanto você vai ter uma explicação muito lógica por ter enfiado esse pauzão sabe-se lá onde! – revidei, sem paciência.
- Foi a sua falta que me levou ao desespero e, a perder a cabeça na primeira bunda carnuda que estava dando sopa. – explicou.
- Ora, ora! Se não temos alguém tão depravado quanto eu! Uma bunda carnuda deu mole e você foi lá deixar seu selo de aprovação! – exclamei.
- Não é hora de fazer ironias! Foi exatamente o que aconteceu. Você não deu suas explicações? Pois eu estou dando as minhas! Acho que devemos isso um ao outro. Devemos isso ao nosso amor. – sentenciou ele.
- Mas, você duvidou das minhas explicações! Por que eu deveria acreditar nas suas?
- Porque é a verdade, caralho! Eu conheci o Miles no navio para a Europa e quando o reencontrei quase um ano depois em Londres, carente e distante do seu cuzinho, eu acabei fodendo o dele. Só não esperava que ele fosse se transformar numa sombra que não quer se desgrudar de mim. Já tive umas discussões com ele por causa disso. Achei que estava tudo resolvido. Mas, essa carta sem propósito está me fazendo crer que não. – embora angustiado pelo resultado de suas explicações, ele acreditou que a verdade nua e crua naquele momento seria a única maneira de me convencer da sua inocência.
- Pois bem! Você se explicou, eu entendi. Assunto terminado! Agora, deixe-me ir.
- Não! Diga que entende minha posição.
- Tenho vontade de te esganar! Nesse momento é a única coisa que eu entendo.
Cerca de um mês depois, o Mason anunciou que estava voltando para Londres. Apenas tia Margareth e eu ficamos surpresos com a notícia. Talvez tio Liam não tivesse atinado com a informação, talvez simplesmente a ignorou ou, talvez já o soubesse por meio daquelas conversas prolongadas entre os dois na biblioteca. Desde nossa última discussão, não entrávamos em pormenores de nossas vidas. O que, no entanto, não impedia que todas as noites ele movesse a fechadura da minha porta, na esperança de encontra-la aberta. Eu até então desconhecia essa minha capacidade de resistir aos meus desejos mais íntimos e profundos. Muitas noites pensei estar sendo duro demais com ele. Afinal, todos temos nossas fraquezas e isso não significa que sejamos possuidores de um caráter questionável. Ele provavelmente sucumbiu diante de uma dessas fraquezas, com o tal Miles, assim como eu com o Landon. E, eu já começava a achar que deveríamos superar essa questão à bem de nossa felicidade. Muitas vezes fiquei tentado a deixar a porta do meu quarto destrancada e, simplesmente, deixa-lo entrar, permitir que viesse para debaixo dos meus cobertores, deixar que ele mete-se em mim e dizer o quando eu o amava. Mas, eu não era mais aquele meninão capaz de resolver seus problemas de forma singela. Eu havia me tornado um adulto e, como tal, havia perdido essa capacidade de resolver as questões de forma simples.
- Venha até meu quarto! – disse ele, quando suas malas já estavam na carruagem e, ele já havia se despedido dos pais.
- Não tenho nada para fazer lá! Se quiser me dizer alguma coisa faça-o aqui mesmo. – devolvi.
- Não me tire do sério! Ou você sobe por bem, ou não hesitarei em usar meus próprios métodos. – ameaçou. Resolvi obedecer, pois aquela cara sugeria que as coisas poderiam ficar mal paradas caso eu teimasse em não seguir sua vontade.
- Bem, sou todo ouvidos! Seja breve! – eu tinha que mostrar de alguma forma que ele não podia me tratar como se eu ainda fosse uma criança.
- Estou regressando a Londres para transferir o comando dos meus negócios para cá. Creio que em um ano tudo estará concluído. – ele usava um tom professoral para me comunicar suas intenções, mas, subitamente, mudou a entonação da voz e a própria postura. – Quero te pedir que espere por mim. Sei que não estamos vivendo nossos melhores dias, mas eu te amo e quero construir uma vida junto com você quando retornar. – ele se aproximou perigosamente de mim. Precisei esquecer que minhas pernas tremiam e que um desejo de pular em seu pescoço para cobrir sua boca de beijos estava ganhando força dentro de mim.
- Isso, obviamente, se o tal do Miles não fizer você mudar de planos! – exclamei, com uma petulância invulgar e, da qual logo me arrependi, assim que ouvi as minhas próprias palavras.
- Seu cabeça oca! Você não ouviu nada do que eu disse, não é? Talvez isso te faça raciocinar mais claramente! – exclamou, partindo para cima de mim, jogando-me sobre a cama e beijando minha boca com violência, voracidade e tão libidinosamente que o tremor das minhas pernas se apossou de todo meu corpo.
Sua língua estava na minha boca quando rasgou minhas calças usando a potência viril que havia em suas mãos ágeis. Ele amassou minhas nádegas como a senhora Ogden amassava a massa dos pães. Os botões da minha camisa voaram para todos os lados quando ele a abriu à força. Aquela investida descontrolada me assustou e eu comecei a arfar, meu peito subia e descia agitado pela respiração acelerada. Os peitinhos nus, formando dois pequenos montículos revestidos por uma pele muito alva, se destacavam pelos mamilos ligeiramente acastanhados, onde os biquinhos enrijecidos se projetavam como duas minúsculas ereções, sedutoras e tão pecaminosas quanto os pensamentos dele. Ele começou por beijar delicadamente um dos mamilos, mas a gana, a irritação pelo que eu havia acabado de dizer e, a saudade que sentia daqueles peitinhos fê-lo, inicialmente, chupar o mamilo e seu biquinho rijo e, depois, mordê-lo com uma sanha voluptuosa e possessiva. Eu me retorcia, gemia com a dor de seus dentes cravados na minha pele e, quase convulsionei quando seu dedo entrou no meu cuzinho tão devasso e sem paciência que parecia que estava sendo estuprado por ele.
- Droga! Vou ser obrigado a trocar essa calça. – disse ele, ao se levantar de cima do meu corpo e constatar que havia uma rodela úmida onde a ereção descomunal ainda se fazia presente. Eu também me levantei, com os farrapos das minhas roupas penduradas aleatoriamente sobre o corpo seminu, puxei-o de volta e colei meus lábios aos dele. Aquilo era uma promessa e, ele sabia que ambos a cumpririam.
Haviam se passado uns quatro meses desde a partida do Mason. O Bryce e eu tínhamos avançado bastante em nosso projeto. Graças à influência de tio Liam, que havia juntado uns eminentes empresários num jantar que trouxe novamente todo o esplendor e requinte para a casa de Calvert, conseguimos patrocínio para a construção de um hospital. O edifício já começara a ser erguido e, ambos, procurávamos pessoas para integrar uma equipe que viabilizasse nosso projeto.
Certa tarde da primavera eu regressava da estufa a uma centena de metros da casa, empurrando a cadeira de rodas de tio Liam, onde o havia ido buscar para o chá que costumávamos tomar na varanda todos os dias àquela hora. Ele agora passava horas na estufa dedicando-se ao cuidado com centenas de orquídeas que cultivava com a paciência e dedicação de um monge. Da alameda sinuosa ladeada de bordos eu avistei um homem na varanda com a tia Margareth e, ela estava tão agitada em pé gesticulando seus braços finos no ar que pensei que ia agredir o sujeito. Apressei-me a chegar à varanda quando o homem se apresentou.
- Boa tarde, sou Miles Trevor, e estou à procura do senhor Mason Thornberg. Não sei o que se passa com essa senhora que parece tomada por um demônio! – exclamou, desviando rapidamente o rosto que quase foi atingido pela mão de tia Margareth.
- É ele, esse é o desclassificado da carta. Aquela carta cheia de indecências que ele escreveu para o Mason. Ponha-o para fora daqui, Nathan! Ponha-o para fora antes que eu mande chamar os empregados para darem um jeito nesse pederasta. – gritava tia Margareth.
- O que quer aqui? O Mason não está! – intervi, grosseiro.
- Eu sei que ele mora aqui. Fui informado no hotel, todos na cidade conhecem os Thornberg. Por isso, não adianta negar. Pode me fazer o favor de chama-lo? – a petulância dele chegava à desfaçatez.
- O Mason não está, como eu já disse. Lamento o descontrole de minha tia, mas vou pedir que se retire, e não volte mais aqui. – eu apoiei uma mão no ombro do tio Liam, pois ele acabara de perguntar o que é que estava acontecendo.
- Você deve ser o Nathan! Olhando bem para você não tenho dúvida, você é o Nathan! – exclamou o Miles.
- Não importa quem eu seja! Vou lhe pedir pela última vez, vá embora!
- Agora consigo entender porque o Mason balbuciava o seu nome quando estava comigo na cama. Então era desse corpo que ele sentia saudades! Não o culpo, você deve mesmo mexer com as convicções e brios de muitos homens. – ele era desaforado demais.
- Do que ele está falando? Que absurdos são esses? – perguntou tia Margareth, que já havia acenado para um empregado que passava pelo gramado em frente a casa.
- Não é nada titia! Acalme-se ele já está de partida. – garanti.
- Então você e o Mason conseguiram manter seu segredinho bem debaixo das fuças dos teus tios sem que descobrissem nada até hoje! – continuou o Miles, com um risinho sarcástico.
Meus punhos já estavam fechados há algum tempo e eu os comprimia cheio de fúria. Aquele risinho debochado foi a última coisa que suportei. Minha mão direita foi direto para a cara do Miles com toda a energia que consegui concentrar nela. Ouvi uns estalos e, pela dor que senti no nó dos dedos, achei que os tinha quebrado. Ele perdeu o equilíbrio e quase caiu sobre a mesa onde estava disposto o chá. Sacudiu ligeiramente a cabeça, como que tentando identificar o que havia acontecido e voltar a tomar pé da situação. Antes que pudesse tirar o lenço do bolso, o sangue que pingava de seu nariz manchou a camisa e o ridículo paletó xadrez que usava.
- Eu o preveni! Devia ter seguido meu conselho. – afirmei, contemplando o desespero do sujeito. Ao mesmo tempo, pedi que o empregado levasse o Miles até os limites da propriedade e se assegurasse de sua partida.
- Que sujeito horroroso! Ele me afirmou categoricamente que ele e o Mason tinham um caso amoroso. Veja se isso é possível, um disparate desses! – tia Margareth havia se deixado cair sobre uma das poltronas de vime e se abanava para afastar o calor da discussão.
- Não se preocupe! Creio que ele não voltará a nos importunar. – afirmei.
- Ele disse que você e o Mason... Não, não pode ser! Ele deve ter dito isso para me enlouquecer. – resmungava ela, até me encarar inquisitiva. – É verdade o que ele disse?
- Não é o momento de falarmos sobre isso agora. A senhora vai ter tempo para tirar suas próprias conclusões no devido tempo. – respondi evasivo.
Ao colocar a cabeça no travesseiro naquela noite tive vontade de provocar o Mason, lambendo meus lábios sensualmente enquanto conversávamos como sempre fazia quando queria fazer sexo com ele, e lamentei que ele estivesse do outro lado do Atlântico. Caso contrário, abriria sua braguilha lentamente e insinuaria minha mão pela fenda até encontrar seu caralhão e, com a paixão explodindo através de um olhar libidinoso, o tiraria das calças e o chuparia por inteiro até que ele despejasse seu néctar másculo na minha boca. Ter a certeza de que o Miles não estava com ele naquele momento e, talvez nunca mais, me fez amar o Mason com mais intensidade.
O telegrama vindo de Nova Iorque dava conta que o Mason estava há três dias na cidade tratando de alguns assuntos bancários. Estávamos em julho, pleno verão, um calor úmido e abrasador que me deixava ainda mais irrequieto do que a notícia estampada naquelas duas linhas breves do telegrama. Eu já o havia relido uma dúzia de vezes e, sempre o recolocava novamente na bandeja de prata que ficava numa das mesinhas laterais junto às poltronas da biblioteca. Nos últimos meses eu havia empreendido uma pequena reforma no andar superior da casa, juntando o quarto do Mason com o meu, ampliando a sacada que só se estendia na frente das venezianas do quarto dele até o meu e, suprimindo um dos banheiros enquanto ampliava o outro. Tio Liam não questionou aquele empreendimento, como já não questionava quase mais nada. Tia Margareth se mostrou um pouco melindrada de início, sabia que estava perdendo as rédeas da casa que, conscientemente, sabia que não conseguia mais administrar. Durante as primeiras semanas da reforma ela achou que eu estava apenas modernizando os dois ambientes, até que numa manhã viu a parede que separava os ambientes vir abaixo. Nessa época ela já havia feito um retrospecto da minha relação com o filho desde quando vim morar com eles e, concluído que as palavras tão despropositadamente proferidas pelo Miles naquela sua visita eram a mais pura verdade. Mesmo assim, ela fingiu como se ignorasse nosso relacionamento e me questionou sobre a razão daquela reforma.
- Não vejo motivo para o Mason e eu continuarmos separados após o regresso dele. Amores jamais deveriam ser separados, não acha titia? – respondi. Ela ignorou minhas palavras, e nunca mais tocou no assunto.
O Mason chegou em casa na véspera do dia de Ação de Graças, muito diferente do que da última vez. Estava feliz por estar de volta, estava feliz por me reencontrar. Tomou-me nos braços e rodopiou comigo no ar tão logo corremos um de encontro ao outro. Beijou-me descarada e desavergonhadamente, sem se importar com o cocheiro, o criado que veio pegar suas bagagens e o olho espichado de uma criada novinha que tinha anunciado a sua chegada e aberto a porta. E, só me colocou no chão novamente depois que sua boca já tinha o gosto da minha. Tia Margareth veio ao nosso encontro no hall e fingiu não ter presenciado parte da cena, abraçou-o e beijou-o com o desvelo de uma mãe saudosa. Tio Liam saiu de seu gabinete, ele próprio empurrando sua cadeira de rodas, para dar as boas vindas e questionar como tinham transcorrido as negociações para que a transferência definitiva do Mason se concluísse.
- Ora homem! Espere ao menos que seu filho adentre a casa para começar esse aborrecido assunto sobre negócios! – censurou-o tia Margareth.
Ao longo do dia e, durante as refeições, o Mason nos colocou a par de tudo que havia feito naquele ano de ausência. Indagou sobre tudo que se passou na propriedade e nas empresas, o que permitiu que tio Liam falasse por tanto tempo como há muito não fazia. A todo o momento o Mason procurava o meu olhar, e eu sabia o que aquilo significava. Era sua pressa de estar a sós comigo e ter meu corpo a sua mercê. Meus sorrisos para ele, a maneira doce como o tinha recepcionado, aquelas trocas de olhares, as correspondências que havíamos trocado durante aquele ano, a reforma dos quartos, tudo lhe indicava que eu o havia perdoado, que nós havíamos nos perdoado e, que ele finalmente voltaria a ter acesso à minha rosquinha apertada e aos meus afagos sensuais.
- Gostei desse arranjo! Nada de paredes. Uma só porta destrancada. A vista esplendida dos arredores da propriedade que esta sacada ampliou. Uma única cama para nós dois. Você não poderia me fazer mais feliz. – afirmou, abraçando minha cintura e beijando minha nuca, após termos subido para dormir.
- E eu estou feliz por você estar de volta! Por ter voltado para mim! – exclamei, acariciando seus braços peludos.
- Mamãe me contou que o Miles esteve aqui e, de como você e ele se deram bem. – disse, irônico.
- Para você ver a que ponto decadente eu cheguei! Atracando-me com outro sujeito por conta do meu homem. – ele riu.
- Quer dizer que eu sou seu homem? Então todo esse imbróglio valeu à pena. É a primeira vez, desde que nos conhecemos, que você me diz que eu sou seu homem. – ele não cabia em si de contentamento com essa revelação.
- Você é meu homem desde a primeira vez que o senti dentro de mim. Naquele dia eu soube que jamais queria outra pessoa que não fosse você. – afirmei.
- E eu, naquele mesmo dia, soube que nunca seria feliz se não te tivesse por inteiro, se não sentisse seu cuzinho se contraindo ao redor da minha pica, se fosse privado de seus beijos carinhosos. – confessou.
Ele foi me despindo aos poucos, beijava demoradamente cada pedaço da minha pele que ficava exposto. Eu sentia meu corpo sendo inundado por um calor reconfortante e, ao mesmo tempo, incendiário de devastador. Quando eu estava completamente pelado ele me puxou para junto dele e me beijou, enfiando sua língua gulosa na minha boca. Suas mãos, após percorrerem minhas costas, desceram até a minha bunda. Por uns instantes ele interrompeu o beijo e, olhando bem dentro dos meus olhos, agarrou minhas nádegas, apertando-as numa luxúria desenfreada, e sua expressão parecia querer dizer, tudo isso aqui é meu. Então eu reiniciei o beijo, com suavidade, a princípio, deixando que ele ganhasse ímpeto à medida que o tesão de ambos crescia. Comecei a despi-lo, tão vagarosa e sensualmente quanto ele havia feito comigo. Seu olhar ganhava um brilho pecaminoso a cada peça que eu removia e, a cada beijo, propositalmente úmido, que depositava sobre sua pele. Ele já sabia como aquilo ia terminar, e isso o excitava, fazendo com que o cacetão entre suas pernas se avolumasse a olhos vistos. Para tirar sua ceroula tive certa dificuldade, pois ela ficou engatada naquela tora de carne dura e empinada. Ele apenas sorria observando como eu contornava o falo para arriar a ceroula. Havia alguns anos que eu não colocava meus olhos sobre aquela jeba descomunal. Era impressão minha ou a pica dele estava maior e, principalmente, mais grossa do que eu me recordava? Com certeza, sim. A rola dos agora trinta anos não era a mesma dos vinte. Tal como o Mason, ela havia ganho maturidade e encorpado, mas ainda tinha aquele mesmo cheiro almiscarado que eu tanto apreciava. Acariciei-a sem pressa, examinando-a como um perito para verificar onde se deram as transformações. Aquela demora pareceu-lhe uma tortura, por isso, ele pegou na pica e a pincelou no meu rosto. Eu ergui meu olhar em direção ao dele. Ele parecia suplicar para que eu a abocanhasse. Havia mais um detalhe que eu queria conferir antes de satisfazer seu desejo, examinar o sacão pentelhudo e sentir a consistência daqueles bagos indiscretamente globosos. Eles continuavam lindos e potencialmente tão férteis quanto eu me lembrava, o que os fez merecer um beijo e uma lambida. O Mason gemeu e, do orifício uretral saiu o primeiro fluxo do líquido pré-ejaculatório, fresco e cheiroso, viscoso e saboroso.
- Você acaba comigo fazendo isso! – exclamou, num murmúrio que mal se podia compreender.
Se ele se sentia dono da minha bunda, eu me sentia dono daquele caralhão. Nem eu aguentava mais aquela espera e, comecei a colocar a cabeçorra na boca, sorvendo cada gota do pré-gozo que ia fluindo cada vez mais abundante. Ele me agarrou pelos cabelos, firmou minha cabeça e meteu a rola na minha garganta até me ouvir ganir sufocado. Ele só pensava em enfiar seu membro em mim, onde e, de que maneira, pouco importava àquela altura de seu tesão incontrolado, ele o queria dentro de mim. Cada uma das minhas mãos se segurava em suas pernas peludas, tentando frear seu ímpeto de enfiar aquilo tão profundamente na minha goela. Eu apenas queria lamber e chupar a pica, no meu tempo e na minha necessidade, mas aquilo parecia não ser o suficiente para ele. E, eu então percebi que não seria naquele momento que eu ia saborear sua porra, da qual eu tanto me recordava. Ele me conduziu até a cama e começou a mordiscar meus glúteos. Ia os abrindo com as mãos espalmadas sobre a pele branca e macia, pois queria apreciar o objeto de seu desejo, tão profunda e pudicamente resguardado no meu rego estreito. O cuzinho diminuto estava lá, cercado pelas preguinhas rosadas, se abrindo e se fechando, excitado e pronto para recebê-lo como ele se lembrava. Aquela constatação de que nada havia mudado, deixou-o imensamente feliz. Nem a sombra tenebrosa da presença do Landon naquela parte do meu corpo tinha qualquer importância agora. Aquele cuzinho estava piscando cheio de tesão por ele, só por ele e, era só isso que ele precisava para ser feliz. A barba por fazer do Mason parecia uma lixa entre as minhas nádegas quando ele começou a me lamber as preguinhas com sua língua molhada. Não dava mais para me controlar, eu havia chegado ao meu limite, de alguma maneira eu precisava extravasar aquele tesão que ele me fazia sentir. Eu gemia alucinado cada vez que a ponta de sua língua tocava minha rosquinha.
- Ai Mason, ai como eu sinto sua falta. – gani
Ele me cobriu com seu corpo, esfregou sua ereção na minha bunda e chupou minha nuca. A pica se movia dentro do meu rego me lambuzando com sua excitação. Eu empinava a bunda trazendo-a para dentro da virilha dele, como uma fêmea animal desejosa de ser coberta pelo macho. Ele apenas levou a mão até o cacetão e o firmou. Quando a bunda se comprimiu novamente contra ele, apontou-o contra o meu buraquinho excitado e forçou, a cabeçorra rasgou as pregas e entrou no meu cu. Ao ouvir meu grito ele girou meu rosto em direção ao dele e colou sua boca na minha. Era assim que ele me precisava, era assim que ele vinha sonhando e contando regressivamente os dias que faltavam para me ter, agora era só mover a pelve ativamente e ir enfiando seu cacete no meu casulo receptivo e, ouvir aqueles ganidos sublimes que pareciam os acordes de uma sinfonia arrebatadora. O cacetão dele nem estava totalmente atolado em mim quando senti a porra saindo do meu pinto, tanta era a minha carência e a minha necessidade dele.
- Ai Mason, eu te amo! – balbuciei entre os gemidos.
- Você me deixa maluco quando se entrega dessa maneira, meu passivinho tesudo e cheio de amor. – grunhiu ele, metendo a pica no meu cu num vaivém cadenciadamente doloroso e prazeroso.
Meu cuzinho ardia como uma brasa na lareira. As estocadas daquela jeba imensa contra a minha próstata espalhavam uma dor lancinante por todo meu baixo ventre, me obrigando a gemer. Os pelos do peito do Mason estavam úmidos de suor e eu os sentia colados nas minhas costas. Eu virei meu rosto na direção do dele intentando dizer mais uma vez que o amava, mas sua boca me beijou antes que eu pudesse expressar qualquer palavra. Não me importei, o beijo que retribuí cheio de carinho se incumbiria da função. E, ele o fez tão magnificamente que ele começou a urrar e a despejar sua porra no meu cuzinho. Os jatos se espalhavam mornos e pegajosos pela minha mucosa anal, trazendo o mesmo alívio que uma água gelada descendo pela garganta seca.
Na manhã seguinte perdemos o horário do desjejum, pois quase não havíamos dormido. Eu mal podia caminhar e havia sangue no meu rego quando me lavei. Ele estava fazendo a barba enquanto eu me lavava.
- Você não faz ideia do tesão que me dá quando vejo esse cuzinho sangrando depois de eu te comer! – exclamou, vindo me abraçar e me lambuzando com a espuma de barba.
- Você faz isso comigo desde a primeira vez, lembra? – retruquei.
- É isso que te torna tão especial para mim, tão único, tão meu. – ronronou ele no meu ouvido.
Eu nunca me importei com aquilo, pois para mim ele também era único. Aquilo nunca aconteceu com o Landon, que estava longe de ter uma pica pequena, mas o Mason não só era imenso, como predava um cuzinho deixando sua marca e, um prazer inesquecível.
Na primavera seguinte nos mudamos para Annapolis, um pouco ao norte de Calvert, pois o Mason havia instalado a sede de sua empresa naquela cidade que crescia vertiginosamente desde o fim da guerra de secessão. Também havia concentrado os negócios da família no mesmo edifício do centro, junto a uma praça que via ano após ano erguerem-se construções nas cercanias. Tio Liam nos deixou no final da estação. Adormeceu em sua cadeira na varanda banhada pelo sol fresco e luminoso de uma manhã, enquanto observava a floração dos bordos vermelhos espalhados pelo extenso gramado na frente da casa. Ninguém se deu conta até sua cabeça se inclinar demasiadamente para um lado, depois de ele não ter dito mais nada há quase meia hora. Seus silêncios já eram comuns e, ninguém mais se espantava quando ele cochilava depois de algum tempo conversando. Mas, naquela manhã, soubemos que o silêncio seria eterno. Tia Margareth não quis se mudar conosco para Annapolis. Sua primeira desculpa foi a de que a casa era muito barulhenta devido ao tráfego que passava constantemente diante dela. Não eram mais do que vinte ou trinta carruagens por dia, mas aquilo já era demais para ela. Depois, alegou que a propriedade em Calvert não podia ficar sem vigilância, e desconsiderou toda a capacidade que seus antigos e fiéis empregados tinham para gerir a casa. No entanto, tanto o Mason quanto eu, soubemos que ela não se sentia a vontade com a intimidade de nossa relação. Deixamos que se isolasse entre as paredes que tinham assistido a toda sua glória e, se permitisse a ter a vida que havia escolhido para si.
O nome Thornberg sempre teve muita influência em Maryland e, a gestão do Mason deu novo impulso e dinâmica ao estado. Por isso o convidaram para assumir uma vaga no senado federal, o que agitou nossas vidas por quatro anos atribulados. No entanto, nosso relacionamento também serviu de especulação e escárnio por parte dos adversários políticos. Insatisfeito de ter sua vida privada esmiuçada por estranhos, o Mason desistiu de tudo.
- Essa sociedade hipócrita não está apta a entender nosso amor. E, não serei eu a erguer uma bandeira em favor da liberdade de escolha. – disse ele, quando me participou de que estava desistindo da política.
- Você pode fazer a diferença! Talvez seja melhor mantermos mais discrição do que já vimos tendo. – argumentei.
- Não é o que eu quero para mim. Eu nunca quis o poder, eu nunca quis destaque. Eu quero viver a minha a seu lado, quero poder fazer o que gosto. E, jamais vou abrir mão de um só segundo ao seu lado por qualquer outra causa. Eu te amo, Nathan! – disse ele, vindo me abraçar pela cintura.
- Eu também te amo Mason! Te amo com todas as minhas forças. E, para mim você sempre foi o homem mais completo que eu conheci, mesmo quando brigava com seu pai por ele não acreditar no seu potencial. – afirmei, beijando-o.
Uma grossa tempestade de verão caía lá fora. Dava para ver o vento sacudindo as árvores do jardim e jogando a chuva com fúria contra as vidraças do pequeno escritório anexo a sala principal de nossa casa. Ficamos ambos parados abraçados olhando a chuva. Eu encostei minha cabeça no ombro dele, e sabia que, tal qual o telhado que nos abrigava daquele temporal, o peito do Mason era o lugar mais seguro e maravilhoso para eu estar.