Sexo, amor e outras histórias: 4

Um conto erótico de Roger Feliciolli
Categoria: Homossexual
Contém 3601 palavras
Data: 06/01/2019 17:26:13
Última revisão: 03/01/2021 17:44:39

Para Carlos, as festas de fim de ano representaram a sonhada oportunidade para descansar, algo tão importante para ele que se sentia cada vez mais drenado pelo trabalho. Além do mais, e talvez o mais importante de tudo, com a consciência tranquila ele pôde se render ao pecado da gula e comer as delícias que somente dezembro é capaz de propiciar, cuja exceção talvez seja o mês de junho com as festas de São João e suas melhores comidas.

Seus pais insistiram para que ele fosse para Tiradentes passar o réveillon com eles. Carlos ficou bastante tentado, pois muita era a falta que sentia de seus velhos e, também, da cidade que nascera, lugarejo de velhas igrejas e ruazinhas de pedras. Resolveu ficar com os amigos apenas por causa da insistência de Miguel (que já não podia contar com o amor dos pais desde que se assumira gay e fora expulso de casa), prometendo aos seus velhos que lá para fevereiro, quem sabe até um pouco antes, passaria alguns dias com eles.

Pois bem, janeiro chegou e seguiu com o calor intenso e com as chuvas torrenciais que caiam sobre a capital mineira. Para alguns eram portadoras de alegrias e alentos, em contrapartida, para muitos outros, significavam prejuízos e desgraças. Além disso, era o período perfeito para usar bermudas, regatas floridas e alpargatas estilosas. E adotando esse traje, Carlos se viu seguindo pelas ruas de Belo Horizonte, segurando uma garrafa de água quase vazia, sua bolsa carteiro pendurada no ombro entulhada de livros e uma aura de felicidade renovando seu estado de espírito. Entrou no grande edifício envidraçado e cumprimentou os recepcionistas com um sorriso amável, tão característico dele. Enquanto aguardava o elevador, viu alguns homens desmontando a gigantesca árvore de Natal do hall.

Diga-se de passagem, se havia algo que Carlos achava um tremendo desperdício era a remoção da decoração natalina. Pois como a cidade ficava mais viva nesse tempo! As árvores da Avenida Afonso Pena resplandeciam em um tom de dourado, os edifícios públicos cintilavam com aquela iluminação especial, a Praça da Liberdade e sua exuberante decoração parecia até mesmo os jardins de Versalhes, já as igrejas de São José, da Boa Viagem e a Basílica de Lourdes ficavam ainda mais bonitas! Era tudo mesmo muito impressionante, ainda que devessem consumir bastante energia – e disso Carlos entendia bem, já que precisava se desdobrar para manter as contas em dia.

Pouco depois, estava dando suas aulas para um grupo de executivos engravatados com a mesmíssima inspiração desde os tempos de estágio obrigatório na faculdade. Faltavam três semanas para cumprir seu trabalho ali, contudo procurava não pensar nisso, embora o dinheiro recebido ali fosse muito bem-vindo.

É claro que Carlos não podia se esquecer do que havia acontecido alguns dias atrás, quando teve aquela conversa com Bernardo. Seria algo simplesmente impossível de fazer, logo para quem cujos pensamentos costumavam atormentá-lo, sobretudo os que diziam respeito ao fato de ele ter ido para a cama com um homem comprometido. E é evidente que, quando as portas do elevador se abriram, ele torceu para não dar de cara com aquela figura agressiva, imponente e que beirava os dois metros de altura, os olhos azuis mais parecendo duas pedrinhas de safira. Quando caminhou apressado pelos corredores, suspirou de alívio ao ver o escritório consideravelmente mais vazio. E nenhum sinal de Bernardo.

“Merci mon Dieu!”, Carlos pensou agradecido.

Duas horas depois, ele terminou a aula daquele dia e tirou alguns minutos para responder algumas dúvidas sobre tópicos referentes ao processamento morfossintático da língua francesa. Após se despedir de todos, enquanto arrumava suas coisas em sua bolsa, ouviu alguns passos no piso marmóreo se intensificarem e, ao elevar a cabeça, contemplou à sua frente um deus do ébano alto, forte, os lábios grossos e desejosos, um sorriso de cegar estampado no rosto.

– Saudades, professorzinho.

– Ei, Marcos! Como vai?

Antes de responder, Marcos pediu uma das mãos de Carlos e a beijou. Não era a primeira vez que fazia isso, assim como não era a primeira vez que Carlos corava de vergonha com a atitude.

– Maravilhoso – Marcos confessou e piscou um olho. – E você?

– Muito bem.

– Ah, deixa de ser modesto. Você está maravilhoso também! Se me permite dizer, todo gatinho com essa roupa.

Carlos deu um risinho de vergonha.

– Obrigado. Mas você também está bem bonito. Na verdade, acho que elegante é a palavra mais adequada.

– É impossível estar elegante com esse calor, queridão. Queria estar mais como você. Ou pelado, quem sabe – comentou Marcos com um sorriso sádico – Mas infelizmente há protocolos que são difíceis de quebrar.

– Mas você não é um dos chefões daqui? – Questionou Carlos, desafiador. – Deveria poder fazer o que viesse na telha, uai.

– Bem, até poderia. Mas é melhor não desafiar os moralismos da Construtora Moreira Lelas. Sabe, os olhares podem ser cruéis.

– E imagino que os comentários são piores ainda – disse Carlos, embora achasse aquilo tudo uma tremenda besteira.

– Exato! – Concordou Marcos. – Esses te jogam numa fogueira. Parte da Inquisição fez com que burocratas e questionadores ardessem no fogo, acredita?

– Burocratas? – Questionou Carlos sem levar aquilo a sério.

– Trata-se de licença poética, meu caro.

– Acho que não é não. Tá mais pra um anacronismo – disse Carlos e riu.

Gentilmente, Marcos fez a pergunta:

– Quer ajuda com suas coisas?

– Não, não. Obrigado. Já estou de saída mesmo.

– Então perfeito! – Exclamou Marcos ainda sorrindo.

– Perfeito para...?

– Ora, lembra que da última vez que nos vimos comentei que iria te roubar para um almoço? E esse dia é hoje, meu querido. Sorte a sua.

Carlos ficou paralisado por alguns segundos, mas logo contestou:

– Nossa, não sei se posso. Costumo almoçar com meus amigos...

– Então presumo que um diazinho que não fizer isso não te trará transtornos.

– Acho que não... – exprimiu Carlos. Como ele se sentia bobo diante de Marcos.

– Nesse caso, fechou! Vamos?

Carlos, no fim das contas, resolveu aceitar. Não haveria nada de mais, afinal. Ou haveria? Dúvidas como essa causavam-lhe arrepios na espinha, mas decidiu tomar um sopro de coragem e dizer sim. Mandou uma mensagem para os amigos Gil e Miguel, no entanto não quis explicar o motivo. Apenas pessoalmente iria revelar para eles a razão de sua ausência, aceitando carregar a cruz que seriam os julgamentos de Gil e os comentários pervertidos de Miguel. Ao guardar o celular no bolso, colocou sua bolsa no ombro e seguiu ao lado de Marcos pelos corredores daquele andar.

– Gosta de comida italiana? – Questionou Marcos. – Vou te levar no meu restaurante favorito de BH! Escutou bem, né? De BH, porque o melhor do mundo é só na Itália!

Carlos não teve tempo para responder. Assim que cruzou um dos corredores feitos de mesas e divisórias, deparou-se com quem sabia que logo veria tal e qual uma verdade incontestável.

– Ei, maninho! Pensei que não viria hoje.

Bernardo estava de costas. Tão lindo em um terno azul marinho que harmonizava incrivelmente bem com a cor de seus olhos. Conversava com um dos funcionários, encarando com uma expressão séria alguns documentos. Quando se virou ao som da voz de Marcos, seu rosto sério revelou o que aparentaram ser traços de apreensão.

– Pode se retirar, Felipe – e diante da ordem de Bernardo, o homem com quem conversava pegou os papeis, pediu licença e sumiu de vista.

Houve um instante de silêncio até que Bernardo prosseguisse:

– Tenho obrigações a cumprir. Nós temos, sabe bem disso – revelou com sua voz implacavelmente gelada.

– E o que acha que nosso pai irá fazer se matarmos serviço? Puxar nossas orelhas? – Falou Marcos, brincando.

– Talvez apenas nos mostrar um pouco de exemplo.

Silêncio, desta vez repleto de tensão.

– Bom, Carlos e eu estamos indo almoçar – disse Marcos sentindo-se um pouco constrangido com a resposta do irmão. – Logo estou de volta, não se preocupe.

Bernardo não disse nada. Aliás, comprimiu os lábios e parecia até que pretendia falar algo. Mas nada surgiu de sua boca. Encarou Carlos e, quando seus olhares se cruzaram, havia neles um mundo de subentendidos que se acentuaram assim que uma terceira pessoa apareceu e entrou na conversa.

– Estava te procurando – informou uma mulher realmente muito bonita. Loira, os cabelos lisos, os olhos azuis como os de Bernardo, menos intensos. Trajava uma camisa de seda de um tom de rosa claro e uma saia de rendas. Elegantíssima com sua bolsa e sapatos Louboutin. E tão logo surgiu, beijou Bernardo... na boca. – Ei, Marcos. Não se esqueça de sábado ser meu acompanhante na festa da Pri. Já que o marrento aqui detesta essas coisas – ela disse se referindo a Bernardo.

Marcos confirmou.

– Garotos, não sejam mal-educados. Quem é o amigo de vocês? – Ela perguntou.

– Este é o Carlos! – Falaram Marcos e Bernardo ao mesmo tempo.

Assim que percebeu sua inesperada euforia ao falar o nome daquele jovem de cabelos esbraseantes e olhos inundados de mel, foi a vez de Bernardo se sentir constrangido. Conservou-se uma vez mais em seu silêncio tumular.

– Ele está dando umas aulas pro pessoal que vai pra França – comunicou Marcos olhando com certa desconfiança para o irmão.

– Ah, sim! Nesse caso: seja bem-vindo, Carlos! Sou Fernanda, a noiva do Bernardo aqui – ela disse e envolveu seu braço em volta de Bernardo, revelando ainda uma aliança de ouro com um diamante engastado na mão direita. – Agora, se vocês nos dão licença, combinamos de almoçar na casa de papai hoje. Não é mesmo, querido?

Bernardo nada disse, mas balançou a cabeça em sinal de confirmação. Em vista disso, Marcos explicou:

– Também estamos saindo.

– Então vamos descer todos juntos? – Fernanda propôs.

Carlos, que havia ficado calado durante todo aquele tempo, tinha, por outro lado, a mente inundada de pensamentos. É evidente que mais cedo ou mais tarde se encontraria com Bernardo. Disso sabia bem, embora admitisse seus receios diante desse fato. Contudo, jamais passou por sua cabeça a possibilidade de vir a se encontrar com sua noiva. E ao refletir sobre isso, sentiu-se duplamente ingênuo e idiota, de tal modo que a felicidade que o envolveu por toda a manhã se esvaiu no exato instante em que ouviu aquela mulher magérrima e vonita se apresentar. Seu rosto era um verdadeiro espelho de suas emoções e era impossível para ele não se sentir afetado por essas coisas.

Os quatro, então, entraram no elevador. O silêncio uma vez mais se cristalizou, entrecortado apelas pela voz do ascensorista que cumprimentou os chefes. Havia tanto constrangimento no ar, embora Fernanda e Marcos não fossem capazes de apreendê-lo. Assim que as portas se abriram, despediram-se e seguiram por direções opostas. E Carlos ficou absurdamente feliz por Marcos não convidar o irmão para almoçarem e dissuadi-lo da ideia de ir para a casa do futuro sogro com a... noiva. E pensar nessa palavrinha, nesse substantivo que para muitos vinha acompanhado da mais absurda felicidade, causava grande desconforto em seu coração. Ao observar Bernardo se distanciar abraçado com Fernanda, sentiu-se envergonhado com o que tinham feito com ela. Porém, pensando por outro lado, havia gostado tanto do que aconteceu em sua cama naquela noite...

– O restaurante não é longe daqui. Mas podemos ir no meu carro, se quiser.

– Eu amo andar a pé. De verdade – disse Carlos em resposta a fala de Marcos.

– Você é um caixinha de boas surpresas, professorzinho – revelou Marcos sorrindo.

De fato, o restaurante não ficava distante de onde partiram. Era um sobrado da década de 1920, estilo neoclássico, e seu alpendre tinha arranjos de flores muito bonitos, para além de algumas mesinhas ocupadas por clientes endinheirados que trabalhavam nos escritórios da região. O atendente questionou se possuíam reservas e, assim que Marcos revelou seu nome e sobrenome, pediu desculpas e os levou até uma mesa no segundo andar do estabelecimento.

– Pelo visto seu nome abre portas... – analisou Carlos ajeitando-se em sua cadeira. – Vou até usá-lo quando eu quiser ter acesso livre nas baladas. Meus amigos vão adorar. Principalmente o Miguel!

– Mas é claro que abre! – Assentiu Marcos. – Vá na Penta House, na Savassi. Lá terá os melhores coquetéis da cidade. E se quiser diversão de verdade, vá na Holy Grail, no Belvedere. Lá tem uma decoração bem temática, com imagens de bardos e trovadores medievais. Acho que é sua cara.

– Tá bem, vou anotar a sugestão...

Com a aprovação de Carlos, Marcos pediu para os dois uma deliciosa tortelli di zucca com molho de manteiga queimada com sálvia. Para beber, uma garrafa de vinho tinto do Porto.

– Agora pode contar sua história – pediu Marcos bebendo de sua taça. – Por que quis ser professor?

– De verdade? – Carlos indagou retoricamente. – Gosto da ideia de trabalhar com a área da Educação, acho que para cumprir minha missão e ajudar a mudar este mundo, mesmo que apenas um pouquinho. Se bem que isso está cada vez mais desafiador... Mas, no fundo, sempre quis ser professor porque é o que gosto de fazer. Não me imagino trabalhando com outra coisa. Vestido de terno, por exemplo, atrás de uma mesa e com relatórios para preencher. Bem, eu preencho planos de aula toda semana, mas até que gosto deles.

– Essa indireta foi uma facada em meu coração – brincou Marcos.

– E sua história? Qual é? – Procurou saber Carlos. Ele não conseguia deixar de encarar o sorriso deslumbrante de Marcos.

– Minha vocação não é tão nobre quanto a sua. Apenas aceitei o cargo que meu pai ofereceu. Certamente em arrependimento pela forma que tratou minha mãe nesses anos todos.

Carlos tinha muitas perguntas a fazer. Mas permitiu apenas que Marcos prosseguisse, desanuviando uma a uma:

– Sou fruto de uma traição de meu pai com a empregada da casa, minha santa mãezinha – Marcos explicou. Aquele assunto pareceu provocar-lhe mais do que desconforto. A bem da verdade, havia nítido ressentimento nas suas palavras que se solidificaram quando ele prosseguiu: – Meu pai assumiu minha criação após minha mãe negar o aborto e morrer ao me ter. Complicações do parto.

– Eu sinto muito, Marcos.

– Não sinta, meu querido. Quem tem que sentir é o meu pai. E a vaca da esposa dele.

– Que é a mãe do Bernardo – Inquiriu Carlos.

– Falando no diabo....

Após algumas garfadas da comida, Carlos decidiu continuar vasculhando aquele território:

– Por isso Bernardo age dessa forma tão... rígida?

– Presumo que não – negou Marcos, enfático. – É apenas o jeito dele. Se bem que, como eu fui criado longe da família Moreira Lelas, não tive que carregar nos ombros o peso dos valores morais sustentados por eles. Meu irmão, coitado, é apenas vítima das imposições de sua mãe.

– Entendo...

– Sei que você gosta de tragédias gregas, professorzinho. Mas podemos mudar de assunto?

– Por mim tudo bem.

Por certo, aquela conversa era um gole intragável para Marcos. Em razão disso, Carlos assentiu e buscou mudar o assunto. Enquanto comiam, falaram um pouco de um tudo. Marcos, por sua vez, estava muito interessado nos gostos de Carlos: sua música favorita, comida que mais gostava, livros e filmes preferidos, até mesmo o bairro que ele mais curtia na cidade. Quando Carlos respondeu que era o Santa Tereza, isso em virtude de seus casarões antigos, de sua vida cultural e por ser onde se formou o Clube da Esquina, Marcos mais uma vez sorriu e garantiu o quão ele era especial.

– Um dia ainda compro um daqueles casarões do Santa Tereza. Mas tem que ser um daqueles bem antigos e com assoalhos. Vou pintar de azul e plantar um ipê amarelo na frente – garantiu Carlos ao passo que bebia do vinho.

– E encher de livros, eu imagino – Marcos pressupôs.

– Com a mais absoluta certeza – e dizendo isso, Carlos ergueu sua taça e solicitou um brinde a Marcos.

– E um amor para passar o resto dos dias – acrescentou Marcos.

– Isso se eu tiver essa sorte.

Os dois terminaram o almoço com uma delicada sobremesa chamada panna cotta, feita com a fava da baunilha e não com a essência. Como autênticos mineiros, tomaram um cafezinho e ainda continuaram os dedos de prosa. Mas o relógio era implacável e anunciou que Marcos precisava retornar. Quando se levantaram, havia um pouco de creme nas bordas dos lábios de Carlos.

– Com todo respeito...

E dizendo isso, Marcos se aproximou, envolveu seus braços vigorosos na cintura de Carlos e o beijou. Por sua vez, bastante espantado, Carlos arregalou os olhos, mas deixou-se ser tomado pela força daquele homem e pela doçura de seus beijos. E, porra, como ele beijava bem! Em sua mente um turbilhão de pensamentos se projetava, mas ele se deixou ser dominado por aqueles braços fortes e não quis se render à complicada verdade inegável que era o parentesco de Marcos com Bernardo.

– Queria só limpar o creme.

– E vou tentar acreditar nisso... – expôs Carlos, sorrindo.

Os dois voltaram a se beijar. Ali, naquele restaurante italiano chique, repleto de pessoas em volta, algumas certamente com expressões incomodadas publicadas nos rostos, Carlos e Marcos se beijaram com a vontade que rogavam seus corpos. Beijaram-se como dois amantes que anseiam pelo sabor dos lábios um do outro.

– Como eu vinha querendo fazer isso... – revelou Marcos baixinho, uma mão tocando no rosto de Carlos e a outra esforçando-se para se controlar e não agarrar naquela bunda apetitosa que vinha desejando desde o primeiro dia que a viu.

– Mas é melhor pararmos. Temos plateia aqui.

– Só se prometer que vai me deixar continuar depois. Tudo bem?

– Absolument! – Afirmou Carlos.

Os dois ainda se encararam por mais algum tempo. Marcos era um homem absurdamente bonito. Carlos também. E aqueles dois corpos unidos construía um belo quadro de uma idílica Grécia em que os homens podiam se amar sem os juízos de valores que assolam os nossos tempos. Eram como Aquiles e Pátroclo, resguardadas as diferenças físicas, embora os destinos destes, manipulados pelo “fatum” grego, fosse algo terrível de se imaginar.

– Eita que fiquei de pau duro – anunciou Marcos. – E você vai ter que resolver isso depois.

Carlos olhou sutilmente para baixo e viu o generoso volume pulsante nas pernas de Marcos. Resistiu muito para não o tocar.

– Pode ter a certeza que sim – ele garantiu já se sentindo governado por ondas de tesão.

Antes que alguém os denunciasse por um atentado violento ao pudor, Marcos e Carlos se retiraram e seguiram até o prédio em que se localizava a sede da Construtora Moreira Lelas. Despediram-se com outro beijo empolgante e Marcos asseverou que não deixaria Carlos fugir.

– Ninguém mandou cair na minha rede, professorzinho – disse Marcos se retirando, antes beijando uma mão de Carlos na sua eterna postura cavalheiresca.

Graças a Deus a escola em que Carlos lecionava estava de férias e ele pôde retornar para o prédio em que vivia. Pensava desse jeito, tomado por contentamento, haja vista que não conseguiria trabalhar tendo em mente tudo o que havia acontecido naquele dia. Precisava deitar em sua cama e, com um sorriso bobo no rosto traçado de orelha a orelha, refletir acerca dos toques daquele homem extraordinariamente magnético. Consequentemente, ele retornou para seu apartamento quase flutuando, dominado por uma alegria extrema. É muito evidente que suspeitava do interesse de Marcos por ele logo no dia em que se conheceram, contudo jamais poderia especular que essa atração seria tamanha ao ponto de puxá-lo para um beijo sem se importar com a presença de outras pessoas como testemunhas. Marcos era, sem dúvida, um homem de atos surpreendentes, cuja opinião pública costumava lançar ao âmbito da completa irrelevância.

Em seu apartamento, Carlos tentou ler um livro, mas era deliciosamente atormentado pela imagem de Marcos em sua mente: alto, forte, sorridente, os cabelos black com um corte undercut, uma pegada que fez o pau em sua cueca endurecer e babar instantaneamente. E ao pensar nele, outra vez seu pau se animou de tesão e Carlos precisou bater uma punheta para frear toda aquela libido que o levava à loucura. Gozou como poucas vezes o fizera.

Já saciado, algum tempo depois Carlos resolveu abrir a janela e, recostado nela, observou a Rua da Bahia lá embaixo, as pessoas torrando nas calçadas à procura de sombra debaixo das marquises e árvores. Naquele horário havia poucos carros, mas logo a rua seria tomada por uma infinidade de veículos e pelos vórtices de fumaças tóxicas que viriam de seus escapamentos e iriam espiralar até o céu.

Carlos colocou para tocar um álbum da Nina Simone e resolveu tomar um banho para se refrescar. Outra vez tentou ler um livro, só que dessa vez o que o impossibilitou foi o sono que pesou suas pálpebras. Rendeu-se, então, a um cochilo, cujos sonhos foram inegavelmente modelados pela presença de Marcos. O cochilo atravessou as horas e, quando ele acordou, constatou que ficaria sem sono no decorrer da noite, uma vez que havia dormido pela tarde inteira. Em vista disso, tomou outro banho para limpar a película de suor que se esparramava por seu corpo e decidiu ir até algum barzinho tomar uma cerveja gelada. Quando trocou de roupa e desceu para o hall de seu prédio, avistou na portaria Bernardo lhe encarando.

– Mas o que você está fazendo aqui? – Carlos questionou apreensivo, sem acreditar que, outra vez mais, Bernardo insistia em lhe procurar.

Bernardo avançou na direção dele como um soldado em marcha. Chegou rápido, autoritário. E rapidamente o tomou para um beijo faminto. Carlos não teve forças para resistir. Além do mais, nem mesmo conseguiu entender o que estava acontecendo. A cena se sucedeu muito rápida.

– Estou aqui já faz algumas horas te esperando descer.

Dizendo somente isso, Bernardo voltou a beijar Carlos com a imensa fome que vinha lhe atormentando. Preso em seus braços, inclinou aquele jovem delicioso e, vários minutos depois, quando abriu os olhos e desgrudou seus lábios dos dele, teve a consciência de que não poderia perdê-lo. Como ele desejava aquele rapaz, mais do que qualquer pessoa!

– Você é meu!

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Comentários

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Bem vindo de volta e espero que tenha aproveitado bem a sua viagem... Não sei o que pensar quanto a estes fatos ocorridos... Sem conhecer bem os personagens fica difícil de emitir uma opinião... Douglas me parece ser mais sincero e aberto pára o mundo enquanto Bernardo com esse jeito frio está envolvido em um vulcão de emoções e sentimentos nunca vividos. Será que Douglas realmente está interessado Kauê ou simplesmente percebeu o envolvimento dele com Bernardo e resolveu agir para atingir o irmão? E Bernardo, agora que sentiu que não pode ficar sem Kauê, vai ter coragem de terminar o noivado para viver esse amor ou vai querer um romance escondido? Ainda não consigo chegar a uma conclusão sobre eles...

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Que bom que postou, achava que seria mais um ótimo conto que seria abandonado. Mudando para o conteúdo, achei a atitude de Douglas um pouco leviana, mas a de Bernardo.mais ainda, parece, não sei, mas que.ambos irão competir por Kauê.

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Que ótimo você ter postado mais um capítulo. Estou aguardando os próximos.

Abraço.

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Ainda bem que vc voltou a postar! E confesso que fiquei com medo de abandonar o conto rss Já é o meu favorito daqui. Sobre Douglas e Bernado, essa relação promete muito! Tô ansioso pela próxima parte!

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