Bom dia,
Espero que tenham gostado do primeiro capítulo que foi um prólogo pra vocês.
Esse aqui é o segundo, não desistam, pois serão dois narradores por enquanto. Esse capítulo é narrado pela Isis, uma das protagonistas.
Agradeço.
————
Está tão frio. Não consigo me mexer. A casa é velha, e as luzes queimadas fazem com que esteja tudo escuro. Os quadros na parede parecem estar querendo dizer alguma coisa, mas não tenho tempo pra tentar entendê-los agora. Com certa dificuldade, me levanto e à passos cansados tento ir até onde acredito que seja a porta, enquanto me seguro nos móveis empoeirados. Ponho a mão na maçaneta e a porta range mais alto do que eu pretendia. Droga. Respiro fundo e desço as escadas saindo direto no asfalto, quando vejo um rapaz há poucos metros de mim. Ele é alto, e sua jaqueta preta condiz com o capacete que ele segura na mão esquerda.
- Ei, estranho! - Chamo, enquanto ele se vira para olhar pra mim. Ele é bonito. Ele para e me analisa por alguns segundos, até que se vira e continua andando.
- Eu preciso de ajuda. Não sei onde estou! - Falo, enquanto ponho a mão na parte inferior do meu abdômen, percebendo que estou sangrando. Ele me ignora e continua andando, e quando finalmente avista sua moto, sinto uma mão em meu ombro, e quando me viro, ele está bem ali. Droga, ele não. Tento correr na direção do motoqueiro misterioso, mas ele puxa meu braço. Lágrimas começam à escorrer pelo meu rosto, e, quando ele me vira pra ele, um grito agudo e ensurdecedor toma conta de mim, e então eu acordo.
Me levanto num súbito e percebo que estou atrasada para a aula. Tomo um banho e me arrumo correndo, pego minha bolsa e as chaves do carro, e em poucos minutos chego na Universidade. Arthur está parado na escada me esperando, com um copo de café.
- Você está atrasada. Parece que virou costume das sextas-feiras.
- Parece que sim. - Sorrio pra ele, sabendo que ele já sabe o que significa.
- O mesmo sonho de novo? É sempre no mesmo dia, Ísis. - Ele parece preocupado.
- Eu estou bem, é só coincidência. - Enquanto subimos as escadas, me pergunto que coincidência acontece por 6 semanas seguidas. O dia passa rápido, e eu estou distraída. Percebo que Arthur fica corado quando passamos por Kevin e seu grupinho do time de futebol no corredor. Kevin sorri pra nós, e Arthur segura meu braço.
- Acho que você precisa aprender a disfarçar, qualquer hora ele vai perceber. - Digo sorrindo, enquanto recebo um tapa no braço.
- Eu não sei do que você está falando. - Ele sorri, mas para logo em seguida quando vê que sua tia está parada conversando com Joanna, a reitora da universidade.
- Mas que porra ela tá fazendo aqui? Não acredito que ela ainda não superou isso. - Ele diz, se referindo ao pequeno incidente do mês passado. - Me espera no refeitório, chego lá em 1 minuto. - Completa enquanto vai em direção à Laura, que me dá um aceno acompanhado de um sorriso. Retribuo enquanto sigo pelo corredor.
Parada no meu armário, me assusto quando Kevin põe a mão em meu ombro.
- Ei, calma! - Ele sorri. - O que você acha de ir à uma festa hoje à noite? Meu irmão chegou ontem da Espanha, quero comemorar.
- Hmmm, talvez. - Sorrio pra ele.
- Às 20h, ok? Ele diz enquanto se afasta. - Chama aquele amigo seu, acho que seria legal se ele fosse. - Ele inclina a cabeça e pula nas costas de Pedro, que está logo em frente, me encarando. Não que isso seja novidade. Algumas coisas nunca mudam.
---
Pego um suco e me sento junto de Júlia e Tiago, que estão entusiasmados conversando sobre algo que não faço idéia.
- Cadê o Arthur? Nós vamos no seu carro ou no do Tiago na festa hoje? - Júlia parece animada.
- Hmm, tanto faz. Mas eu só vou se o Arthur for também. Não tô muito no clima de festa.
- Todos os nossos amigos vão, nós vamos, você e ele também vão! Fim de papo! - Tiago me repreende enquanto tenta não olhar para Mari, irmã de Kevin e também minha amiga. Ele é apaixonado por ela desde o ensino médio.
Arthur chega e se senta ao meu lado, enquanto explica que Laura foi para procurá-lo para poderem falar sobre a herança da avó dele. Ele estava prestes à ficar rico, dinheiro que na verdade ele nunca quis.
--
Assim que termino de fazer o babyliss, ainda de toalha penso em que roupa devo vestir. Opto por um vestido preto e um par de scarpins de mesma cor. Não quero pensar muito.
passo um perfume e escuto a buzina, anunciando que Tiago chegou. Todos já estão no carro, e parecem muito animados.
- Uau! Parece até que vai à um encontro. Talvez seja hoje que o Arthur pegue alguém e o Tiago a Mari. Acho que só nós duas vamos ficar na pista hoje. - Júlia ri enquanto Arthur e Tiago reviram os olhos.
Em alguns minutos, chegamos na casa de Kevin. Não tem tanta gente como achei que teria, a festa parece fraca. Entramos e Júlia puxa Tiago para acompanhá-la até o bar mais próximo que ela encontra. Essa não perde um bom drink. Avistamos Kev de longe, conversando com Pedro e mais alguns meninos.
- Eu acho que vou pegar uma bebida também, você quer?
- Por favor, senhor. - Arthur balança a cabeça enquanto vai até o bar, quando vejo Pedro vindo em minha direção. Agora não.
- É... você está... uau! - Ele põe a mão atrás da cabeça. - Antes que você diga algo, só queria dizer que eu sinto muito, por... você sabe. Eu nunca quis magoar você.
- Tá, de boa. Já passou, esquece isso. - Digo, não tendo tanta certeza do que eu disse. Kev grita meu nome, mostrando que já bebeu mais que o suficiente.
- Tá bonita, gostei. - Ele diz, rindo, enquanto vira um copo na boca. - Você conhece o Samuel? Acho que não, né? BROTHER, CHEGA AÍ!
Franzindo o cenho pra ele, percebo alguém se aproximando, e quando olho tenho a impressão de que já o conheço.
- E aí? - Diz Samuel. - Ele é alto e loiro. Ah, e bonito. Definitivamente bonito.
- Sou a Ísis. - Sorrio pra ele, que retribui. Sou tirada de meu devaneio quando Arthur chega, junto com Tiago e Júlia, que já abre um sorriso enorme para Samuel. Típico. Kevin chama para que sigamos ele até a outra área, onde tem comida e o resto do pessoal. Samuel me dá um olhar meio constrangido, enquanto Júlia começa à se apresentar, se aproximando dele.
Ficamos bastante tempo conversando, e enquanto o tempo passava, mas eu percebia o quanto Samuel era interesse e o quanto Arthur estava nervoso. Estranhei.
- Ei, não estou me sentindo muito bem, pode ir até ali comigo? - Afirmo, enquanto vamos até um canto vazio no jardim.
- Eu acho que estou apaixonado pelo Kevin. - Ele solta, me pegando de surpresa.
- O que? Como assim?
- Estamos trocando mensagens. Eu ia te contar, mas não conseguia estar a sós contigo por muito tempo, e não quero que mais ninguém saiba. Eu não sei o que fazer. Você conhece ele melhor que eu, me ajuda!
- E-eu não sei, Thur. Mas se estão conversando, ele tá afim. Ele é um cara legal, talvez devesse tentar.
- Ele é melhor amigo do Pedro. Desculpa, mas você sabe...
Não consigo ouvir o resto quando vejo Pedro levando uma garota para um dos quartos da casa. Acho que é nesse momento que deveria saber se ligo ou não, mas resolvo apenas ignorar. Ficamos ali por alguns minutos, quando ele me contava detalhes de como tudo começou, o mais inesperado é que foi pelo Tinder. Somos interrompidos por Kevin e Samuel.
- Tudo bem, pessoal? É... Arthur, me disseram que você é bom nessas coisas, pode dar uma olhada no meu vídeo game? Acho que deu bug. - Kevin está claramente envergonhado, mas acho que seu irmão não percebe. Aperto a mão de Arthur, que olha pra mim e segue Kev pela casa.
- Você está bem? - Samuel me pergunta enquanto caminhamos pelo jardim - Está meio pálida.
- Ah, sim. Estou sim - Sorrio pra ele, enquanto Julia passa por nós rindo pra mim, agarrada com um dos amigos de Mari.
- Então, Kev me disse que você faz medicina, eu acabei de começar a residência.
- Sim, faço. Apesar dos surtos diários, é o que eu quero fazer. - Sorrio, e ele retribui.
- Sabe, eu não queria dar uma festa, mas ainda bem que concordei com meu irmão - Ele diz, erguendo o olhar pra mim, e não sei porque, mas não fico envergonhada
- Acho que não dá pra negar que está bem ruim. - Olho pra ele, imaginando se está tudo ok com Kev e Thur lá em cima.
- É, mas aqui não. - Ele para, e se vira pra mim. - O que você acha?
Droga. Eu não sei o que eu acho, então apenas olho pra ele. Talvez seja um erro, mas não posso negar que esse eu gostaria de cometer. Ele estende a mão, e quando eu estico meu braço para atendê-lo, ele me puxa. Mas só me abraça, e acho que sou grata por isso, apesar de não entender bem o motivo. Um tempo depois ele me solta, e só então me beija. Não nego que foi diferente. Diferente de qualquer um depois de Pedro. Tento me prender naquele momento da melhor maneira possível. Eu não entendo, acabei de conhece-lo. Amor à primeira vista não existe. Quando me solta, acho que ele estava prestes à dizer alguma coisa quando ouço a voz estridente de Pedro, gritando " MAS QUE PORRA É ESSA, CARA?" Droga! MAS QUE DROGA! Samuel me olha confuso enquanto eu corro para a porta do jardim, que sai na sala. Subo a escada correndo enquanto algumas pessoas ficam sem entender o que está acontecendo. Quando chego no andar de cima, vejo a garota que estava com Pedro saindo do quarto de Mari, fechando o vestido. Ela me olha envergonhada e confusa enquanto passa por mim para ter acesso às escadas. Quando sigo pelo corredor vejo um Pedro sem camisa e com a calça aberta, completamente chocado com a cena que todos estavam prestes à ver. Kevin estava só de cueca, em cima da cama completamente apavorado, enquanto Arthur, que estava ao seu lado, também semi nu olhava para Pedro sem nenhuma reação. É quando ouço Mari chamando por Kevin e Samuel chamando por Pedro, com seus passos na escada cada vez mais perto.
MERDA, PEDRO, MERDA!
________
Espero que tenham gostado, não esqueçam de avaliar e comentar. Obrigado!