Os Verões Roubados de Nós/CAPÍTULO38

Um conto erótico de D. Marks
Categoria: Homossexual
Contém 4824 palavras
Data: 15/02/2019 19:22:57

Oi, pessoal. Tudo bem com vocês? Espero que sim. Após 3 meses sem postar e nem ler nada da casa, finamente consigo voltar. vou explicar resumidamente o meu "sumiço":

1) perda da minha avó;

2) término da residência, então eu tinha que me dedicar totalmente;

3) mudança de cidade e adaptação.

4) finalmente minhas merecidas férias.

Sei que não é desculpa, mas as coisas foram acontecendo e fui deixando de lado.

Peço perdão a vocês pelo descaso, principalmente aos leitores fiéis do conto. Agora conto com tempo para postar e terminar a história da Gabe e Enzo.

P.S: podem xingar a vontade e "puxar" minha orelha...kkkkk... Estou merecendo.

Segue o capítulo que alguns estavam ansiosos. Mais uma vez peço desculpas pela demora.

Boa leitura.

D.

Os Verões Roubados de Nós

Capítulo 38

Narrado por Enzo

Há cinco dias que estou aqui em Paraty. Sinto o cheiro de café e com certeza Fernando madrugou novamente. Nesses dias juntos firmamos nossa amizade e pudemos nos conhecer melhor. Ele sofre muito com a perda de Vítor e eu gostaria de poder ajuda-lo. Fernando me contou que a própria irmã ajudou seu ex a arrumar a transferência do curso e a mudança de cidade e se recusou a lhe passar qualquer informação, segundo ela, Vítor é um anjo e não o merece. Garota de coragem essa, pelo menos para enfrentar o gigante.

Enrolo mais um pouco na cama sem a menor vontade de me levantar. Olho a hora. São 6h da manhã. Pelo amor de Deus, madruguei novamente. Criei uma rotina nesses dias. Levanto-me cedo e caminho até a prainha dando um tempo e depois volto para ajudar no almoço. Sim, eu ajudo no almoço, não sou mais o “come e dorme” de antes. Nesses momentos em que passo só aproveito para traçar novas metas de vida com um único objetivo: ser feliz. Estudar e trabalhar muito, fazer cursos e viajar. Quero conhecer a Espanha, pois foi a última postagem que respondi ao Gabe quando ele estava excursionando pela Europa. Também estou pensando em voltar para casa dos meus pais, pois sei que será a primeira coisa que minha mãe irá exigir quando eu voltar. Suspiro e resolvo me levantar.

Caminho até a janela e me assusto com o tempo. O sol resolveu aparecer de vez com um céu azul a sua volta. Não há nuvens e parece verão. Estou literalmente de queixo caído porque os últimos 3 dias foi de chuva e frio. Sorrio e respiro fundo. Uma sensação de paz me invade e meu coração aquece pela primeira vez em dias.

— Obrigado, Deus! – agradeço e oro em silencio apreciando vista do meu quarto.

Faço minha higiene rapidamente e desço para ver a cena rotineira por aqui: Zenaide e Fernando cantando moda de viola. Jesus! Kkkk...

— Bom dia, meu povo! – cumprimento-os sorrindo.

Ambos me olham com curiosidade.

— O que foi?! – pergunto devolvendo o olhar – Está sol lá fora e quero aproveitar o dia de hoje!

Enquanto me sirvo um copo de suco, Fernando e Zenaide voltam a cantarolar.

— Fer, vou caminhar e volto em 1 hora, ok? Ou um pouco mais.

Nenhum dos dois tem tempo de falar nada, pois eu saio rapidamente querendo aproveitar o máximo do sol no meu refúgio favorito. Meu coração está leve hoje, aliviado e estou estranhando isso. A paz que me invade é a mesma que me abandonou dias atrás.

— É assim o recomeço? – sussurro a mim mesmo – Sem dor e sem lágrimas? – balanço a cabeça entristecendo – Não há recomeço sem dor.

Comecei a pensar no meu retorno a São Paulo. Ontem à noite li o documento que trouxe comigo e percebi que realmente era uma transferência. Meu tio passou sua parte no restaurante para ele. Chorei de emoção, mas fiquei com a dúvida do porquê ele não ter me contado. Quase liguei o celular ontem, mas sabia que fiaria curioso com as mensagens da minha família e desisti na hora. Amanhã fará 7 dias da morte de Gabe e não quero choro. Pelo menos não agora. Quero me lembrar dele saudável, sorrindo, brincando, mal humorado. Uma lágrima teimosa rola.

Chego a prainha e respiro fundo. A luz do sol na água a deixa transparente. Caminho até a ponta da praia e passo um tempo observando mini piscinas de águas naturais. Tiro meu tênis, sento e molho meus pés nelas. O vento bagunça meus cabelos e fecho meus olhos curtindo a paz do local. Minha mente esvazia-se de pensamentos ruins e tristes e apenas curto a paz que o barulho do mar e dos pássaros me proporcionam.

Abro meus olhos de repente por ter tido a impressão de ouvir meu nome. Agora dei para ouvir coisas. “Pai amado, agora está ficando foda! ”. Fecho meus olhos me recostando novamente.

— Eno! – Caralho! Ouvi mesmo. Abro meus olhos novamente e olho na direção do som.

Meus olhos estão vendo coisas ou eu estou sonhando, só pode!

— Impossível... – sussurro para mim mesmo. Fecho os olhos e os esfrego, mas ao abri-los a visão ainda é a mesma.

Vejo Gabe caminhar com certa dificuldade. Está mais magro, de barba, o braço esquerdo engessado e curativo na cabeça.

— Gabe? – pergunto ainda sem acreditar. Não ouso me levantar, pois minhas pernas tremem demais. Não, na verdade eu estou tremendo todo.

— Eno... – ele chega até mim ofegante.

Eu fico feito um pateta olhando para ele. As lágrimas chegam fartas e quentes.

— Gabe... – eu finalmente me levanto – eu estou sonhando de novo?

Ele chega mais perto e acaricia meu rosto.

— Não, amor... Eu voltei. – ele chora – Desculpa a demora... Eu estava meio quebrado.

Um pranto convulsivo toma conta de mim, mas não consigo me mover. Parece surreal.

— Eno... – ele sussurra e então me agarro a ele.

— Você não está morto! Não está! – eu repito incansável – Eu sabia! Amor... Você voltou para mim... Eu sabia!

Choramos abraçados. Toda dor, toda saudade, todo sofrimento deixaram de existir. Somos nós dois novamente. Como sempre foi. Como deve ser, em nosso refúgio com o sol a nos abençoar. Uma manhã quente de verão em pleno inverno. O que mais eu posso pedir? Agradeço a Deus em silêncio e começo a rir e chorar ao mesmo tempo. Estou histérico. Afasto-me e o olho.

— Eu te amo para sempre, Gabe! – acaricio seu rosto sentindo sua barba.

— E eu te amo para toda eternidade, Eno! – ele fecha os olhos para sentir meu toque.

— Promete nunca mais me deixar? – pergunto com medo. Porra, minha voz está tremendo.

Gabe me abraça forte como pode e eu devolvo, agarrando sua camisa e apertando-o quando ouço um gemido de dor.

— Amor... Desculpa! Onde dói? – estou preocupado.

— Costelas quebradas... Relaxa, amor! Só me abraça de novo... – ele pede e faço com todo cuidado.

Enfim nos beijamos. Que saudade da boca, do seu cheiro, do gosto. Quando nos afastamos digo sorrindo:

— Gostei... – aponto a barba – Faz cócegas!

— Safado, Eno! – ele diz e me beija de novo – Se você quiser eu deixo ela aqui.

Abraço-o e colamos nossas testas.

— Pode deixar, amor! – digo – Quando você estiver melhor, quero provar...

Continuamos com nossas gracinhas até que me toco de algo.

— Como você chegou até aqui?! – fico preocupado novamente.

— A carta... – ele responde – E Diego. – ele faz uma careta.

Dou risada com gosto.

— Tati deve ter ficado muito puta...

— Sim, principalmente porque ela teimou que você não veio para Paraty. – ele me olha – Este é o nosso refúgio, amor... Eu também teria vindo para cá.

Ele vem me abraçar novamente e geme.

— Gabe... – falo preocupado – Vamos para casa, amor! Vou cuidar de você.

— Tati não desgrudou nem um pouco de mim desde que meu pai contou que estou vivo. – ele diz com um sorrisinho provocante.

— Depois conversamos sobre isso. – falo sério – Mas agora... Já pra casa, mocinho! Vou cuidar de você! Para sempre, amor.

Damos um selinho e caminhamos de volta para casa. Conversamos sobre tudo, menos o ocorrido. Ainda não estou pronto para ouvir. Só quero curti-lo e cuidar para que ele fique bem logo.

Abro o portão para que ele entre. À beira da piscina estão Tati, Diego e Fernando conversando.

— ENO! – ela grita e vem ao nosso encontro – Como você faz isso comigo?! Quer me matar de preocupação?! – e enquanto fala me bate.

E então ela me abraça forte. Sorrio e devolvo o abraço.

— Ai, gatão... – e resmunga – Nunca mais faça isso comigo! Promete?

— Prometo... – eu me afasto – Desculpe, mas eu precisava ficar sozinho... – e olho para Fernando – Quase sozinho...

Ouço Gabe rosnar baixo e Tati olha para ele com ar de riso.

— Imagina a cara dele quando viu o Fernando! – ela ri e Gabe rosna mais alto – Para de rosnar, little dog... Já te trouxe para o seu dono! Mas é sério, Eno... Não faça mais isso que meu coração não aguenta, promete?

— Prometo... Se ele prometer também. – e aponto Gabe.

— Eu prometo. – ele responde e nos olhamos sorrindo feitos bobos.

— Ok, viados... Podem parar senão eu vou chorar... – e ela chora – De novo...

Olho para Gabe e ele entende. Abraçamos a única pessoa que esteve sempre ao nosso lado desde o início do namoro: irmã, prima, companheira e melhor amiga.

— Amo vocês! – ela fala chorando – Amo demais.

— Nós também, gata. – respondo.

Ela se afasta e olha para Diego e Fernando que apenas observam sorrindo.

— O que eu disse agora pouco?! – nos aponta – Almas gêmeas! – e aponta Diego – Seja assim comigo!

Caímos na gargalhada, pois ela faz com que Diego fique vermelho.

— O que você achou dele, Gabe? – pergunto – Acha que ele é bom o bastante para Tati?

Juro que Diego foi se encolhendo na cadeira enquanto Fernando ria dele.

— Não sei, amor... Ainda não acertei minhas contas com ele. – e aponta o braço – Mas já sabe, não é?

— Como diria meu irmão... Cuidado conosco, pois somos família de mafiosos italianos! – olho sério para ele arqueando a sobrancelha – Cuidado...

— Mas a família do tio Pietro não é de agricultores? – Tati pergunta debochando.

— Shiii... – resmungo e tapo sua boca – Não corta nosso barato, priminha. Deixa ele ficar aterrorizado um pouco.

Rimos e o clima fica descontraído, mas percebo que Gabe está cansado.

— Amor... Vem! – puxo-o pela mão – Vem descansar um pouco.

— Olha lá o que vocês irão aprontar, hein?! – Tati zoa – Poupem nossos ouvidos...

— Tati... – olho cínico – Você já tem seu homem, então deixa de ser empata foda alheia, ok?

E saio com Gabe, mas ainda ouvimos Diego questiona-la sobre isso. Chegamos ao meu quarto e vou logo ajeitando a cama.

— Quer tomar um banho antes, amor? – ele faz que não – Então deita aqui, vida.

Ajudo-o a tirar sua roupa e a se deitar ajeitando com cuidado seu corpo para que ele fique confortável.

— Eno... – sua voz está pesada de sono – Deita aqui comigo... Quero dormir sentindo seu cheiro, amor...

Sorrimos e tiro minha roupa indo me juntar a ele. Após dias de angústia, noites insones e tristes sem ele, relaxo e durmo em paz e feliz.

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Narrado por Gabe

Diego me “resgatou” da clínica após Antônio ter dado um jeitinho e seguimos para Paraty. Eu quero chegar logo, mas não posso abusar, pois meu corpo ainda está dolorido e sei que Rodovia Presidente Dutra durante a madrugada é tomada por caminhões. Seguimos bem até determinado trecho quando Tati faz Diego parar num posto para que ele possa tomar um café e descansar. Eles discutem, mas no final minha irmã vence.

— Eu sei que você quer chegar o quanto antes e eu não ligo de dirigir, mas sua irmã é fogo! – ele resmunga sorrindo – Eu não sei dizer não a ela.

Mesmo conhecendo-o pouco admiro o modo como ele olha e trata minha irmã. É o mesmo olhar que tenho quando olho para Enzo, disso eu tenho certeza, pois é aquele olhar bobo apaixonado.

— Eu entendo, Diego... Relaxa. – respondo – Quando ela quer não tem o que se fazer... O único que doma essa fera é Enzo, maaasss... Cuidado, porque esses dois quando se juntam... – reviro os olhos e rio – É tsunami na certa.

Ele me olha surpreso.

— Acho bom você ter umas aulas com ele. – aconselho.

— Pode deixar. – ele diz rindo e sai para comprar café.

— Gabe... – Tati me chama se aproximando com uma garrafa d’água e remédios – Está na hora dos medicamentos.

— Obrigado, maninha. – tomo e agradeço – No final, acho que foi bom pararmos um pouco. – digo – Minhas costelas doem...

— Ai, meu Deus! – ela chega mais perto – Quer voltar?

— Não! – respondo rápido – Estes medicamentos são para as dores... Vai passar... E eu preciso chegar logo.

Ela sorri e acaricia meu rosto barbado.

— Eu sei, maninho... Mas se eu chegar com você todo moído por lá... – ela faz um sinal de corte no pescoço – Minha cabeça irá rolar.

Consigo rir do que ela fala porque sei que Eno faria um escândalo com isso. Ficamos no posto por uma hora até que Diego afirma com todas as letras que está em condições de dirigir e que não a deixaria pegar no volante nem a pau.

— Não sei porque tudo isso... – ela resmunga – Eu dirijo muito bem, ouviu?

— Claro, amor! – ele é todo paciente – Mas não estou discutindo isso e sim que o trafego de caminhões é muito intenso durante a madrugada.

— Sei! – ela ainda resmunga – eu dirijo desde os 18 anos, meu bem! – cínica – Sei conduzir numa estrada.

Diego apenas suspira, mas eu resolvo provocar.

— O que deveria ser proibido! – falo – Ela acha que está numa pista de fórmula 1.

— Olha aqui, Gabe, eu só não te bato porque você já está todo quebrado! – ela ameaça – Mas me aguarde.

Diego e eu rimos e continuamos a provoca-la. Ainda tínhamos mais uma hora e meia de percurso. Olho a hora no visor do carro. São 5:40h. meu coração está batendo mais forte como da primeira vez em que o beijei. Sorrio com a lembrança, pois tanta coisa aconteceu. Coisas boas e ruins. Estou correndo o risco de perder meu restaurante, mas nem ligo! O importante é que estou vivo e a única coisa que mais quero e preciso é estar com Enzo, sentir seu cheiro, seu toque e seus beijos. Quero beijá-lo até ficar sem folego.

Lembro-me de quando ele disse que não queria que eu fosse viajar. Isso tudo seria evitado. Ou não. Nunca mais vou duvidar quando ele disser que não gosta de alguém ou que sua intuição está em alerta. De repente Tânia e Zaion vem à minha memória e um arrepio me percorre. Ela estava certa em tudo o que nos disse.

Desde que acordei venho pensando no futuro e no que vou fazer daqui para a frente, principalmente quando Ítalo for preso. E é com esses pensamentos que acabo dormindo o restante do percurso.

Sinto um toque em meu ombro e vejo que paramos. Olho em volta e estamos no condomínio em frente a casa dos meus tios. Tati já está fora do carro junto com Diego e ambos conversam em voz baixa.

O portão se abre e arregalo os olhos. Fernando! O ciúmes inflama e abro a porta do carro saindo todo desajeitado.

— Que porra é essa?! – pergunto nervoso – O que você está fazendo aqui?!

— Meu Deus!! – Fernando está em choque e fica pálido – Mas...

— Mas nada! O que você está fazendo aqui?!

Fernando não move um milimetro sequer, pois está tão chocado em me ver quanto eu. Ele esfrega os olhos.

— Meu Deus, me belisque, pois eu acho que estou sonhando... – e Tati lhe dá um beliscão – Ai! Ficou doida?

— Você que pediu! – ela fala – Fernando... Precisamos entrar e conversar.

Ele dá passagem e sigo na frente enquanto minha irmã e Diego explicam por cima o que aconteceu.

— Eno! – grito por ele – Amor?

Rumo para a cozinha e nada dele. Quando vou para o quarto Fernando me para.

— Ele não está em casa...

— Aonde ele foi?! – pergunto enciumado.

— Pergunte ao seu coração... Ele sabe a resposta. – Fernando responde sorrindo amistoso.

— A prainha... – sussurro.

Ele apenas acena. Eu me viro para sair o mais rápido que meu corpo consegue. Abro o portão e ouço sua voz.

— Gabriel? – eu me viro – Por mais que você não acredite, nós somos amigos e eu apenas senti a necessidade de protege-lo daquilo tudo.

Suspiro e aceno com a cabeça num agradecimento mudo e com o coração disparado e passos rápido (dentro do possível) chego até o aceso a prainha. Consigo passar com um pouco de dificuldade, pois choveu esses últimos dias e ainda não estou forte o suficiente para sair pulando entre as pedras e galhos pelo caminho.

Chego a prainha e olho o mar calmo e transparente. Respiro fundo e sorrio elevando meu rosto para sentir o calor do sol sobre a minha pele. Parece verão. Começo a caminhar pela praia quando o avisto. Ele está sentado numa pedra e seu rosto é banhado pelo sol. Lindo. Aposto que seus pés estão dentro de uma das piscinas que se formam com a maré. Conforme vou me aproximando meu coração salta dentro peito. Eno. Meu Eno, meu amor.

— Eno! – chamo e vejo que ele abre os olhos, mas não olha em minha direção. Então, ao me aproximar mais o chamo novamente.

— Eno!

Daí sim, ele olha não acreditando no que vê. Eu me aproximo e paro de andar, pois meu corpo está dolorido pela viagem. Ele me olha. As lágrimas rolam por seu rosto.

— Gabe... – e finalmente ele se levanta e vem até mim – Eu estou sonhando de novo?

Chego mais perto e acaricio seu rosto.

— Eno... – sussurro e então ele se agarra a mim.

— Não, amor... Eu voltei. – digo – Desculpa a demora... Eu estava meio quebrado.

Um pranto convulsivo toma conta dele.

— Você não está morto! Não está! – ele repete – Eu sabia! Amor... você voltou para mim... Eu sabia!

Choramos abraçados. Eu o abraço do jeito que posso, pois o gesso atrapalha. Nunca estive tão bem, tão em paz e feliz. Mesmo que poucos dias longe dele, uma avalanche de acontecimentos havia nos separado drasticamente.

— Eu te amo para sempre, Gabe! – ele acaricia meu rosto barbado.

— E eu te amo para toda eternidade, Eno!

— Promete nunca mais me deixar? – ele pergunta.

Eu o abraço forte e quando ele me abraça de volta sinto dor e solto um gemido.

— Amor... Desculpa! Onde dói? – ele pergunta preocupado.

— Costelas quebradas... Relaxa, amor! Só me abraça de novo... – peço e ele faz com todo carinho.

Enfim nos beijamos. Que saudade da boca, do seu cheiro, do gosto.

— Gostei... – ele aponta a barba e sorri – Faz cócegas!

— Safado, Eno! – o beijo novamente – Se você quiser, eu deixo ela aqui.

Abraço-o e colamos nossas testas.

— Pode deixar, amor! – digo – Quando você estiver melhor, quero provar...

— Como você chegou até aqui?! – ele pergunta todo preocupado.

— A carta... – respondo com uma careta– E Diego.

— Tati deve ter ficado muito puta... – ele ri com gosto.

— Sim, principalmente porque ela teimou que você não veio para Paraty. – eu o olho – Este é o nosso refúgio, amor... Eu também teria vindo para cá.

— Gabe... Vamos para casa, amor! Vou cuidar de você. – ele fala todo preocupado.

— Tati não desgrudou nem um pouco de mim desde que meu pai contou que estou vivo. – eu o provoco sorrindo.

— Depois conversamos sobre isso. – falo sério – Mas agora... Já pra casa, mocinho! Vou cuidar de você! Para sempre, amor.

Voltamos para casa com ele me ajudando e após conversarmos com os outros, ele me puxa para o quarto me ajeitando com todo cuidado e dormimos abraçados.

Acordo um tempo depois e o observo. Oro em agradecimento por estar aqui. Ele dorme grudado em mim, porém apenas seu braço passa pelo meu corpo para não me incomodar. Cara dele fazer isso. Estou com fome, mas vou esperar ele acordar e pela expressão de seu rosto, tenho certeza de que está em um sono profundo.

Levanto com todo cuidado para não acorda-lo, vou ao banheiro e desço para tomar água. Já passa das 13h e algumas nuvens encobrem o sol. Assim que entro na cozinha vejo que Fernando e Zenaide preparam algo juntos.

— Oi...

Eles me olham e Zenaide larga tudo para vir até mim.

— Menino Gabriel! – ela e abraça sem jeito e chora – Que bom que você está vivo e bem, meu filho! O menino Enzo sofreu tanto...

Retribuo seu abraço.

— Obrigado, Naide... – digo emocionado – Estou mais que feliz por estar de volta. Obrigado por cuidar dele...

— Imagina! – ela sorri envergonhada – Eu cuido de vocês porque gosto. Quer comer alguma coisa? – ela pergunta preocupada.

— Vou apenas tomar água...

— Eu pego para você! – e sai apressada me fazendo sorrir.

Fernando apenas observa tudo em silêncio com um sorriso de lado. Ele é mais alto do que eu e tem um braço recoberto por tatuagens. Até que é bonitão, mas não faz o meu tipo.

— Aqui, meu menino! – Zenaide me entrega o copo e bebo em goles como recomendado.

— Obrigado, Naide. – olho para ela com carinho.

Ela apenas assente sorrindo.

— Podemos conversar? – pergunto a Fernando.

— Claro. – ele continua sorrindo. Idiota. – Já estava esperando por isso... – e aponta para praia – Vamos?

Seguimos em silêncio até sair da casa e parar na praia. Ensaio por alguns segundos antes de falar:

— Obrigado.

Fernando me olha com um misto de surpresa e curiosidade.

— O quê?! – ele pergunta.

— Obrigado. – repito e continuo – Por cuidar do Enzo e por mantê-lo seguro.

Ele sorri.

— Estou surpreso, confesso, pois achei que você iria me socar! Mas não foi por obrigação. – ele responde – Somos amigos, Gabriel... – ele faz uma pausa – No dia do seu velório, algo aconteceu e ele me pediu para que o ajudasse a fugir de lá. Eu não pensei, apenas fiz. – ele me olha – Eu vi a dor naqueles olhos e me imaginei no lugar dele... Então... Eu só fiz... E viemos parar aqui.

— Não era para eu estar vivo. – digo me sentindo mal – Fui traído por uma pessoa em quem confiava...

— E agora desconfia de tudo e todos, estou certo? – Fernando é direto.

— Está! – confirmo – Minha irmã contou a você o que houve, não é?

— Sim... E entendo perfeitamente o seu lado, Gabriel. – Fernando responde – Já contou ao Eno?

Eno?! Opaaa... Olha o bichinho do ciúme aí!

— Eno? – sorrio – Ele não deixa qualquer um chama-lo assim.

— Desde que ele me chama de Fer, não vejo problema algum nisso. Você vê? – ele está me provocando. Solto um rosnado baixo. – Sério?! Você está rosnando?

E o filho da puta ri da minha cara.

— Desde que você não tente nada com ele, não vejo problema algum... Fer... – retruco cínico – E eu rosnei sim! E respondendo a sua outra pergunta, ainda não contei.

Ficamos nos encarando e acabamos rindo.

— Ok, macho alfa. – Fernando diz – Eu sei que você não vai com a minha cara e que me acha um pervertido. – fico sem graça porque Eno contou – Mas contem comigo para o que precisarem. Sempre.

— Obrigado. De verdade, Fer... – rimos – E se precisar de algo também, pode contar comigo e com Eno...

— Obrigado, Gabriel...

— Gabe. – digo – Pode me chamar de Gabe. Você é amigo do meu amor, logo é meu também... E eu vou com sua cara sim. Relaxa!

— Hmmm... Vai rolar um abraço? – ele me provoca – Ou um selinho também? – e pisca para mim.

— Tenta a sorte, bobo! – retruco rindo e paro – Espera aí... Selinho também? Como assim?!

Fernando começa a caminhar de volta para casa e o sigo portão adentro.

— Você beijou o Enzo?!

— O quê?! – ele pergunta cínico e ri – Oi?!

Ele entra rindo e não responde.

— Filho da puta! – resmungo quando vejo sumir dentro da despensa.

Sigo para o quarto entrando o mais silenciosamente possível e ele ainda dorme na mesma posição em que deixei. Ajeito-me ao seu lado com o máximo de cuidado para não acorda-lo e para não doer minhas costelas.

— Onde você estava? – ele pergunta com voz rouca e mantém o olhos fechados.

— Fui tomar água, amor... – beijo seu rosto.

— Demorou, Gabe... – ele abre os olhos e me encara. Lindo. – Está com dor?

— Agora não mais... – eu o puxo para mim – Você está aqui comigo, então a dor some.

— Você conversou com o Fer? – ele pergunta e ri quando rosno – Sem drama ou ciúmes, amor... Ele me ajudou e acreditou em mim quando todos estavam me achando um maluco suicida em potencial.

E Eno conta tudo sobre os sonhos, a raiva e tristeza que passou, o encontro com minha mãe e a discussão com meu pai que culminou com sua fuga do velório. Ele também fala sobre Ítalo e neste momento resolvo falar.

— Amor... Precisamos conversar sobre o acidente...

— Não, Gabe! Agora não... – ele me abraça – Por favor...

— Eno! – chamo com firmeza – Por favor, digo eu! Eu ainda corro risco de vida!

Ele se senta bruscamente na cama e me encara. Sua expressão é de medo total.

— Certo... – ele fala lentamente – Agora podemos conversar.

— Bom... – digo e começo a relatar tudo o que aconteceu nos mínimos detalhes, não poupando-o em nada. Ele precisa saber com quem estamos lidando. Não escondo minha raiva, frustração e mágoa por ter sido enganado. Já Enzo está irado. Ele se levanta e caminha de um lado para o outro no quarto.

— Eu sabia! Meu Deus... Eu falei para você que não gostava dele! – ele soca a própria mão – Aquele filho da puta enganou a todos vocês. Não é à toa que eu sentia um calafrio todas as vezes em que ele chegava perto... Mas o que mais me choca é a frieza com que ele planejou tudo isso. E o fato dele ser seu irmão, Gabe?! Meu Deus... Que loucura!

— E não acaba aí, amor... – eu continuo – Ele enganou Tati e roubou todas as pastas com documentos do restaurante.

Ele me encara por um tempo confuso, mas seu olhar muda e sei exatamente o que está pensando.

— Todos menos um! – ele caminha até o criado mudo e de lá tira uma pasta e me entrega – Ela caiu no chão no dia em que arrumei minhas coisas e eu li por cima. A curiosidade me fez trazer quando li que era uma transferência.

— Eu sabia que estava com você! – digo sorrindo.

— Eu sou curioso, você sabe disso, né? – ele fica tímido – E quis ler... Por que você não me contou?

— Porque seria surpresa. – dou uma risada – Eu não tinha assinado ainda e queria fazer isto com você... Amor... Eu acho que Ítalo irá tentar vender o restaurante. Ou já o fez... Eu não sei...

Vejo meu namorado ficar estático e o olhar perdido.

— Eno! – levanto-me da cama com cuidado – Amor... Fala comigo, Eno... Enzo!

— Ele virá atrás de nós! – ele me olha – Não acabou para ele... Ítalo não vai parar até nos destruir.

— Não vai acontecer, amor! – eu o abraço.

— Vai sim! – ele afirma – Alguém vai morrer... Eu sinto.

— Não seremos nós, amor! – eu o beijo – Vamos pega-lo antes!

— Por que ele quer vender o restaurante? – Enzo pergunta – Não é somente por vingança ou grana... Tem algo a mais por trás disso. Eu sinto...

— Eu não sei e nem quero saber! – tenho minhas suspeitas, porém resolvo não falar nada ainda – A polícia e os amigos de Diego estão caçando-o.

Ele se solta e caminha até a janela pensativo.

— Só há um jeito de pega-lo. – sua voz é tão fria e desprovida de emoção que me assusta.

— Como? – pergunto tentando demonstrar calma.

— Sua mãe. – ele se vira e me encara – Isso tudo é culpa dela. Desde o início... E se houver um meio de pegar Ítalo, esse meio é ela. – seus olhos estão vidrados – O jogo mudou e Ítalo fez suas próprias regras. Quem garante que ele não tentará matar Tati? Se você morresse ela se tornaria herdeira de tudo, então ele só tem que mata-la e depois ao tio... E depois a própria mãe.

Eu realmente me assusto com sua linha de raciocínio, mas ele está certo porque eu mesmo já havia pensado nisso.

— Você acha que ele quer o máximo de dinheiro que conseguir? É isso que eu entendi? – pergunto.

— Sim... E aposto 100 contra 1 que ele irá fugir do país... Sozinho. – ele diz frio – Vera se tornou um peso morto para ele, ainda mais que está bebendo além da conta.

Trocamos olhares pensativos.

— Gabe, temos que voltar para São Paulo o quanto antes. Temos que estar a frente dele. – ele está muito sério – Ele está só e é perigoso... E com certeza não vai conseguir falsificar sua assinatura, então ele irá surtar.

Eu me aproximo dele para abraça-lo e permanecemos assim por um tempo.

— Nós vamos voltar, amor... – eu o beijo – Vamos conversar com Diego antes, ok? Eu quero fazer amor...- sussurro em seu ouvido.

Enzo me encara sério.

— É sério?! – ele me pergunta – Você está todo machucado e quer fazer sexo?

— Sexo não! Amor... – beijo seu pescoço e ele geme – Eu juro que não faço força, amor... Por favor, bebê... Hmmm... – vou gemendo e acariciando-o e percebo que ele fica todo mole – Podemos fazer em pé... Ou você me cavalga... Ou fica de quatro... Ou eu sento...

Enquanto vou falando vou masturbando-o por cima do short.

— Aiiii... Caralhooo... – ele geme e me agarra – Banheiro agora!

Solto uma risadinha e o sigo para o banheiro para começarmos a tirar nosso atraso

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Comentários

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Olá Didi... Olha, pesquisei toda semana pra saber se você havia publicado novos capítulos...

Bom... Não vou negar... Esculhambei você algumas vezes!

Rsrsrs!

Mas que bom que voltastes!

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Meu presente de aniversário a volta desse clássico. Gratidão, Marks. Sinta-se abraçado pela perda de tua avó. Conte-nos mais sobre Gabe e Enzo. Cheiros no cangote.

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Gnt do céu que felicidade quando eu abrir o site e vi que tinha um capítulo novo dessa história linda. Pensei que vc estivesse desistido da história, mas eu compreendo os motivos que levaram vc ficar afastado aqui da casa. Seja bem vindo novamente.

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LEIA-SE 'É O QUE VALE' ONDE SE LÊ 'É OQ UE VALE'.

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NOSSA, QUE SAUDADE DESSE CONTO! AINDA BEM QUE VOCÊ RETORNOU DOS SEUS AFAZERES. FOI JUSTA A SUA AUSÊNCIA. MAS NOS SENTIMOS ÓRFÃOS. ESPERO QU NADA MAIS LHE ACONTEÇA E QUE DÊ UM RUMO A ESSE CONTO MAGNÍFICO. BOM, DE FATO CREIO QUE GABE E ENZO AINDA CORREM RISCO DE MORTE. POXA, MESMO TODO QUEBRADO GABE AINDA TEM DISPOSIÇÃO PRA FAZER AMOR. ISSO É LINDO. É OQ UE VALE. POBRE FERNANDO, ACHO QUE PERDEU A CHANCE. RSSSSSSSSSSSSSSSSS QUANTO A VENDER O RESTAURANTE NÃO CREIO SER POSSÍVEL POIS ELE NÃO TEM OS DOCUMENTOS NECESSÁRIOS. MAS VEREMOS O QUE VAI OCORRER DAQUI PRA FRENTE. SEJA BEM VINDO DE NOVO A CDC.

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