Pessoal, tudo bem com vocês?
Respondendo aos comentários:
"VALTERSÓ" - Eu não dei feedback dos anteriores porque o conto está na reta final e como meu marido diz: eu sou o rei do spoiler, então estou tentando evitar. Quanto ao link que deixei sobre TEPT é para ajudar as pessoas a entenderem um pouco melhor. Ninguém faz "drama" após um trauma a toa, tem muita carga emocional envolvida.
"arrow" - Obrigado pelo comentário! ;)
"OVINGADOR" - Obrigado por ler. Eu escrevo para vocês. Abraços.
"Lebrunn" - é muita culpa mesmo. Imagina uma criança crescendo sob a influencia de uma manipuladora vingativa. Torna-se um psicopata, só que com uma diferença. ELES são mestres na manipulação e invertem o jogo rapidinho... Abraços.
Boa leitura a todos.
abraços.
D.
Os Verões Roubados de Nós
Capítulo 42
Narrado por Diego
Acordei de madrugada com Tati movendo-se bruscamente na cama e saindo apressada do quarto. Então, ouço um chamado em voz alta. Levanto-me e vou atrás dela e percebo que estou apenas de cueca. Rapidamente coloco uma camiseta e o short e na saída dou de cara com Fernando.
— Você também ouviu? – ele pergunta.
— Sim...
Vemos Tati sair e rapidamente descer as escadas e então nos aproximamos. Bato na porta e Enzo nos convida a entrar. Por mais que Gabriel tente disfarçar consigo perceber seu olhar de desespero e medo. Enzo o conforta com o semblante fechado. Fico preocupado, pois já imaginava que algo assim pudesse vir a acontecer e até pesquisei um pouco sobre o assunto. Acho que meu cunhado está com estresse pós trauma, porém como ele havia passado um tempo desacordado acreditei que não se lembraria de nada. Parece que me enganei. O cérebro humano realmente é uma caixinha de surpresas.
Permanecemos com ele até Tati retornar com o chá e tentar acalma-lo com isso. Minutos depois, percebo que eles queriam privacidade, resolvo que é hora de irmos para a cama. Fernando sai primeiro e Tati sai apenas quando Gabriel afirma que está bem.
Assim que entramos no quarto ela declara:
— Ele não está bem.
Eu me deito e a puxo para meu peito acariciando sua cabeça.
— Não. – confirmo – Mas ficará quando receber ajuda adequada, amor.
— Ajuda psicológica, você quer dizer?
— Sim.
— E se não funcionar? – ela se levanta e pergunta preocupada e seu semblante muda para raiva – Tudo isso é culpa daquela bruxa! E daquele desgraçado do Ítalo.
— Shiii... – eu a puxo novamente – Meu amor, vai ficar tudo bem. Vocês estão protegidos.
— Como você sabe? – ela pergunta.
— Porque você tem um segurança particular aqui te protegendo e amando. – dou uma risadinha.
— Protegendo pode ser... – sinto sua mão escorregar – mas amando...
Não deixo ela terminar a frase, pois no instante seguinte estou em cima dela.
*****
Acordo com o barulho do celular vibrando. Tati dorme tranquilamente ao meu lado. O visor indica que é Francisco.
— Alô...
— Bom dia, Diego. – ele me cumprimenta – Está podendo falar?
— Bom dia, posso falar sim. Só um instante. – saio cuidadosamente da cama e vou para o banheiro encostando a porta – Pronto, pode falar.
— Quero que você saiba que Pietro e eu contratamos uma empresa de segurança privada para proteger a todos. – o homem não brinca em serviço mesmo – E quero que você conte apenas ao Gabriel, ok? Eles irão estar pelo condomínio e segui-los a paisana.
— Ok. – sinto um certo alívio pela notícia – Soube de algo mais?
— Ainda não... – ele responde – Ligarei mais tarde para Antônio ou Vargas para ter notícias.
— Sim, eu também entrarei em contato com eles mais tarde.
— Como eles estão? – sua voz demonstra preocupação – Como foi o reencontro deles?
— Eles estão bem, Francisco. – digo – O reencontro foi bem, pode acreditar. Eles estão mais grudados que antes.
— Aaahhh... Que alívio! – ele ri – E Tati? Como ela está?
— Sim. Ela está bem... – agora sorrio e espio pela fresta. Ela ainda dorme – Todos estão bem e seguros. Fique tranquilo.
— Sei que estão e lhe agradeço por isso, Diego. Cuide dos meus filhos. – ele fala – E quando digo filhos estou incluindo Enzo.
Realmente, esta família é muito unida e leais uns aos outros.
— Pode deixar, sogro. – ouço seu riso.
— Ok, meu genro. Vou desligar, pois tenho um dia cheio hoje.
— Tudo bem, qualquer coisa ligue-me imediatamente, por favor
— Pode deixar. – ele responde.
Conversamos mais um pouco e desligo. Resolvo fazer minha higiene matinal e tomar um banho e assim que entro no chuveiro sinto uma mãozinha me acariciar e seu corpo encosta no meu.
— Bom dia, amor. – ela diz com voz e meu pau reage na hora.
— Bom dia, linda. – e me viro para começarmos bem nosso dia.
**********
O dia está acabando, Fernando foi embora pela manhã e fui dar uma caminhada para observar o trabalho dos seguranças e conversei um pouco com eles.
Liguei para casa e falei com minha filhota e minha mãe e com isso consegui relaxar um pouco depois de falar com elas. Conversei também com Enzo e tive prova de seu amor e lealdade para aqueles que ama. Já com Gabriel foi diferente e mesmo em sua fragilidade emocional ele conseguiu ser teimoso. Que cabeçudo!
Meu celular toca.
— Fala.
— Grosso... – ele diz. Toma velho! – Precisamos que volte para capital e traga Tatiana com você.
— Por quê? – fico apreensivo e ressabiado com a informação – Não quero expô-la ao perigo, Antônio.
— A carta está aí com ela? – ele pergunto e confirmo – Então, idiota, vocês precisam traze-la. Ou você prefere que o meliante continue solto?
— Droga! – resmungo – Quando?
— Amanhã. – ouço ele resmungar com alguém – O quanto antes melhor!
Suspiro e esfrego meus olhos.
— Ok. Vou conversar com ela e iremos o quanto antes. – digo – Vocês tem um plano?
— Sim e diremos quando você chegar. – ele responde.
— Não vai expor minha namorada, não é, Antônio? E nem os meninos?
— Claro que não... – ele responde em voz baixa.
Não gostei da resposta, mas confio nele para não expô-los a um risco desnecessário.
— Tudo bem. Amanhã estaremos aí. – digo, mas ressabiado.
— Ótimo. Até amanhã. – e desliga. Como sempre na minha cara.
— Velho cretino! – xingo e volto para casa, pois preciso conversar com Tati – Deus nos ajude.
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Narrado por Tati.
Após acudir meu irmão de seu pesadelo voltei para o quarto com Diego a contragosto no início, mas depois fizemos amor bem gostoso. Na verdade, meu namorado é gostoso demais e dormi feito um anjo. Acordei mais que disposta e fui encontra-lo banheiro.
Fui pra lá de animada depois encontrar meus outros dois amores.
— Meninos? – bato a porta – Está tudo bem?
Diego me chama, mas xingo e bato novamente.
Enzo abre a porta com tudo fazendo com eu caia de joelhos diante dele.
— Sabia que você era dada ao voyeurismo, Tatiana! – ele fala rindo. – Estava querendo ouvir nossas putarias atrás da porta?
— Aiii, Eno... Seu grosso! – eu me levanto, bato nele e entro – Oi, maninho. Dormiu bem?
Vou para a cama deles e ficamos lá até por volto das 10:30h. Está frio, nuvens carregadas encobrem o céu. Eno vem comigo a contragosto, porém sabemos que Gabe precisa de um tempo. Encontramos Zenaide ajeitando a casa e após cumprimenta-la vamos para a cozinha. Conversamos um pouco até que Diego entra e sai com Eno para conversarem. Fico sabendo que Fernando foi embora. “Como assim? ” penso curiosa. Olho para Zenaide e ela sorri.
— Ele é um bom rapaz. Cuidou do Enzo como um irmão cuida do outro.
Observo pela janela a conversa dos dois.
— Eu achei que ele estivesse afim do Eno. – olho para ela ressabiada – Jura que ele não tentou nada?
— Juro! – ela beija os dedos – Não posso comentar a vida dele, mas eu garanto que pelo menino Enzo é só amizade. – e suspira balançando a cabeça – Tadinho.
E volta a seus afazeres. Estou curiosa para saber a história de Fernando. Gay eu sei que ele é, lindo também, gostoso ao extremo e muito gente boa. Não gosto de ver os meninos sofrerem por nada, o mundo já sabe ser cruel ao extremo com eles somente porque escolheram amar outro homem. Sociedade hipócrita. Olho para Zenaide querendo arrancar mais alguma informação, mas ela conhece o olhar e avisa.
— Ah... Nem vem que não tem! – e ri – Não vou ficar falando da vida dos outros para ninguém.
— Credo, Naide! Eu só fiquei curiosa... – e faço um olhar pidão – Conta vai...
Ela ri com gosto.
— Esse olhar só funciona com o menino Enzo, portanto você precisa praticar mais... – e sai da cozinha ainda falando – Ou melhor, nem faça porque não combina com você.
— Chata! – digo e ouço mais uma vez sua risada.
Volto minha atenção para fora e Eno está em pé à beira da piscina e Diego está com a mão em seu ombro.
— O que vocês tanto conversam, hein?! – falo e vou para a despensa.
Passado alguns minutos eles entram e me encontram saindo da despensa.
— Ele é um bom homem, gata! Digno de você. – ganho uma piscada e uma bitoca na ponta do meu nariz – Eu aprovo!
— Ok... – digo lentamente – Eu agradeço.
— Beleza... Agora vamos ver o que preparar para o almoço! – ele diz apontando para minha mão cheia de coisas fora as que já estavam cortadas sobre a pia.
— Com certeza, Eno! – vou até a pia – E você pode me contar tudo sobre a partida de Fernando e esta história de ajuda-lo.
Ele revira os olhos.
— Além de empata foda é curiosa! Oooo mulherzinha! – rimos – Eu vou te contar.... Apenas algumas partes.
Ele me conta o que sabe, porém sei que ainda tem mais na história. E assim, meu primo ganha mais uma aliada na saga Fernando e Vítor.
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Não demora muito e vejo meu irmão ir para fora com Diego. Há algo estranho que ninguém está me contando. Eno cismou que quer uma arma e Gabe sai com meu namorado para uma conversa em particular.
Dou uma pancada forte na bancada e destruo o pepino que estou cortando. Quando olho para o lado vejo Enzo apenas me observando com a sobrancelha arqueada.
— O que foi? – pergunto séria.
— Nada... – ele responde calmo – só estou observando você estripar o pobre pepino.
— Vai se ferrar, Eno! – respondo grossa.
— Está de TPM? – sua voz é tão calma e agora um sorrisinho cínico enfeita seus lábios.
— Não!
— Pois parece...
— O Diego está escondendo algo. – respiro fundo – Sabe a sensação de que todos sabem de algo e não te contam?
— Sim... E estou com a mesma sensação. – ele me olha sério agora – Vamos esperar o almoço, ok?
Trocamos olhares. Vamos pegar Diego de jeito.
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Narrado por Enzo.
Eles retornam da conversa com o semblante descontraído, porém sei que conversaram algo mais sério.
Após o almoço ficamos na sala conversando bobeira até que solto:
— E então? – pergunto com voz calma.
— E então o quê, amor? – Gabe me olha confuso.
Ele está com a cabeça em meu colo numa posição confortável para ele.
— O que está rolando que vocês dois – aponto ele e Diego, que fica sem graça – Não querem nos contar?
— Nada, amor... Eu juro. – Gabe me olha – Sabe que não escondo nada de você...
— Escondeu sobre o restaurante! – corto.
— Eu não escondi, ok? – ele revira os olhos – Apenas guardei porque iria falar numa ocasião especial.
Olho sério para os dois.
— Sabemos que algo está acontecendo e... – eu me levanto – se acontecer algo ruim, já sabem, não é? De quem será a culpa...
Diego se encolhe e Gabe me encara irritado. Saio da sala e ouço Tati discutir com os dois. Eu inicio a guerra e ela continua. Sorrio, pois sair da sala dá um ar dramático a situação e, ao invés de subir saio pelos fundos e vou para a praia. O vento gelado bagunça meu cabelo e não demora muito e sinto um abraço por trás e um beijo na nuca.
— Estamos sendo vigiados. – ele diz e quando tento me virar para encara-lo suas mãos me mantém firme no lugar – São seguranças, amor... Nossos pais os contrataram. Meu pai pediu para Diego contar apenas para mim.
— Por que somente para você?
— Para me tranquilizar, eu acho... – sinto seus lábios no meu pescoço e fico excitado.
— E conseguiu? – eu me viro em seus braços e nos encaramos.
— Sim... Em parte. – ele sorri – Vida...
Passo meus braços por seu pescoço e o beijo que se inicia com carinho vai ficando intenso.
— Eno... – ele fala por entre nossos lábios – Eu quero...
— Eu sei, amor. – me afasto um pouco e sorrio – Vamos subir...
Vamos direto para o quarto. Tati e Diego sumiram. Adentramos nosso quarto e enquanto ele tranca a porta falo:
— Quero cavalgar em você! – ouço eu rosnado.
Ele vem até mim e nos beijamos. Começo a tirar sua roupa e o deito na cama com cuidado.
— Sua barba está maior. – digo esfregando meu rosto nela – E estou adorando, amor...
Fico em pé e tiro minha roupa. Ele está tão duro, tão lindo, tão gostoso.
— Enooo...
— Oi, meu amor... – observo o modo como ele masturba seu pau.
— Vem me chupar... Olha como ele está duro por você...
Sorrio e me aproximo da cama engatinhando até nossos paus se encostarem e me esfrego nele arrancando gemidos e rosnados.
— Sabe o que eu gostei, bebê? – sussurro em seu ouvido.
— O quê? – sua voz está rouca.
— Quando a Tati te chamo de “little dog”... Hmmm... Meu cachorrinho... Meu cachorrão...
Enquanto vou falando vou beijando e mordiscando seus mamilos, seu peito, sua barriga até chegar ao seu pau. Ajoelho-me e nos encaramos, então começo a lamber a cabeça e vou engolindo aos poucos. É tão bom ouvi-lo gemer. Faz tudo parecer real, tão certo. Chupo seu pau até senti-lo quase gozar em minha boca.
— Eno... Amor... Não quero gozar assim... Paraaa...
Eu paro e o encaro.
— Vem... – ele está ofegante – Quero chupar você.
Dou mais duas chupadas e subo lentamente até beijar sua boca.
— Quero seu pau... E sua bunda na minha boca... – ele fala – Agora...
Sorrimos.
— Safado, Gabe...
Faço o que ele manda e sinto sua mão puxar meu pau até engoli-lo. Que tesão. Ele chupa vorazmente meu pau enquanto me penetra com o dedo.
— Puta que pariu... Gabe... Aaahhh...
Ele me puxa e sinto sua língua e a barba na minha bunda. Fecho os olhos e me entrego as sensações que são incríveis. Saio de cima dele e desço rapidamente encaixando seu pau na minha entrada e simplesmente vou me empalando até senti-lo todo dentro de mim.
— Caralho, amor! – ele fala ofegante – Cavalga em mim!
— Então me come gostoso, cachorrão! – empino a bunda e começo a me movimentar.
Somos tão sincronizados. Os movimentos aumentam e seus rosnados ficam mais altos. O rosto dele, os olhos semicerrados, seu suor. Ele é tão lindo que me emociona. Abaixo-me e beijo sua boca e conforme meu pau vai esfregando em sua barriga sinto meu orgasmo chegar e gozo. As contrações em seu pau o faz gozar quase em seguida.
Ficamos ofegantes, suados e tremendo. Nossos olhos estão grudados um no outro.
— Eu te amo. – digo.
— Está errado... – ele faz uma careta – De novo.
— Eu te amo para sempre, Gabe.
— E eu te amo para toda eternidade, Eno. – entrelaçamos nossas mãos e me deito com cuidado em seu peito.
— Meu loirão gostoso! – sussurro.
Sinto um vazio ao sentir seu pau sair de dentro de mim.
— Eno...
— Oi, meu amor... – sussurro, pois o sono está chegando.
— Quero casar com você!
— Eu também, Gabe... – fecho os olhos e sorrio – Pode ser depois que descansarmos?
Ele ri ao ouvir meu bocejo.
— Claro, vida... – ele beija minha cabeça – Dorme tranquilo que estou aqui.
— Eu sei...
O sono vem e durmo ouvindo as batidas do seu coração.
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Narrado por Ítalo
Faz 3 dias que estou esperando minha mãe ligar e nada.
— Droga! – resmungo olhando para o teto.
Preciso agilizar minha fuga, contudo essa falta comunicação está me deixando raivoso ao extremo e temo que minha fuga pode ser comprometida. E o que eu não quero, terá que ser só.
Levanto-me e verifico meus documentos falsos. Primeiro irei para a Argentina e da lá tomarei um voo direto para o Reino Unido, porém preciso resolver urgente essa questão com minha mãe. Tomo um banho rápido e tento disfarçar minha aparência ao máximo. Entro num táxi e enquanto percorremos as ruas de São Paulo tento puxar pela memória para onde Gabriel pode ter ido. Bento invadira os locais mais prováveis que indiquei e nenhum sinal dele, da minha irmã ou de Enzo.
“Onde eles podem ter se escondido? ” penso irritado. De repente me lembro de uma conversa com minha mãe logo após a viagem de férias de Gabriel em janeiro quando contratei o serviço do detetive particular para vigia-lo.
— É claro! – falo em voz alta – Ele foi para Paraty!
E rio da descoberta.
— Está tudo bem, senhor? – o taxista me olha pelo espelho retrovisor.
— Sim... Agora está tudo ótimo, meu amigo! – pego meu celular – Bento... Preciso que vá a um lugar para mim. – pausa – Eu sei que você está ocupado, mas largue tudo e faça o que eu peço! – outra pausa – Quero que vá para Paraty. – ouço seu resmungo – Não me interessa, Bento. Você vai e pronto! – pausa para mais reclamações – Já falei para largar isso e voltar para o hotel. Eu te pago muito bem para fiar ouvindo reclamações. Vá e pronto. Conversaremos lá. – e desligo.
Após 40 minutos de percurso, o taxista para um quarteirão antes da casa de minha mãe, mas antes disso o fiz dar duas voltas pelo quarteirão para me certificar de que não havia ninguém vigiando.
— Obrigado, amigo. – dou o dinheiro – Fique com o troco.
Saio e caminho até uma entrada lateral da casa utilizadas apenas pelos empregados, segundo minha mãe. Não há ninguém na rua, então entro sem problemas. Olho por toda casa procurando pelos empregados e nada. Vou até a biblioteca e não a encontro. Com isso vou até seu quarto e nada também.
— Onde ela se meteu? – sussurro.
Minha mãe está começando a me enervar. Estou prestes a ir embora quando ouço um barulho vindo do antigo quarto do meu irmão. Aproximo-me lentamente e olho pela porta entreaberta e a vejo deitada na cama com um porta-retrato sob o peito.
— Mãezinha?
Ela abre os olhos e me encara.
— Ítalo?
— Sim, sou eu, mãezinha. – respondo e me aproximo – A senhora não me ligou.
— Ah... É-é-é... Estive ocupada. – ela tenta se sentar.
Sua aparência é horrível. Cabelo desgrenhado, roupas amassadas, sem maquiagem. Está tão diferente da imagem da Vera a qual estou habituado. Seu cheiro também não é dos melhores.
— Mãe... Quando foi a última vez que tomou banho? – pergunto – Já se alimentou?
Ela apenas me olha e lágrimas escorrem.
— Ainda... Não... – ela sussurra – Estou esperando Gabriel voltar do colégio.
Suspiro.
— Mãe, o Gabriel está morto! – digo frio – Ele não vai voltar.
Ela me olha horrorizada.
— Não diga isso! – ela derruba o porta retrato na cama – Ele é um bom menino, ouviu? Ele já vai chegar...
Resolvo entrar na paranoia dela.
— Ok, mãezinha, então a senhora deve se arrumar para espera-lo, certo?
Ela se levanta e cambaleia. Passa as mãos pelo cabelo e tenta desamassar a roupa.
— É verdade... – e por incrível que pareça ela sorri – Vou tomar um banho e mandar Judite fazer a torta preferida dele. Vai jantar conosco, filho?
Eu pretendia conversar com ela, porém diante desta fuga da realidade resolvo que não é um bom momento.
— Não posso, mãezinha. Vou ter que trabalhar. – empurro-a gentilmente em direção ao seu quarto – Vá, tome seu banho que eu volto quando estiver melhor, ok?
— Certo, meu amor! – sua voz se torna suave e ela acaricia meu rosto – Ligarei em breve.
Beijo sua testa e me despeço. Saio sorrateiramente por onde entrei e caminho até a avenida tomando outro táxi. Tenho outros assuntos urgentes para tratar.
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Narrado por Vera
Vejo Ítalo ir embora e ele não percebe minha encenação. Descobri que ele negociou esta casa e com sua venda teremos que ir embora. Ele roubou o próprio irmão causando um acidente que culminou com sua morte. Será que é verdade que realmente só damos valor quando perdemos algo? Ou alguém?
Culpa me invade o peito. Já em meu quarto tomo um banho e começo a tecer meu plano. A dúvida ainda me consome, porém tudo deve ser feito com discrição. Ligarei para o delegado e contarei tudo. Prefiro ver meu filho preso do que mais um morto.
Mesmo estando ainda sob efeito do álcool estou pensando numa maneira. Após o banho desço para fazer um lanche e aumentar meu estado de sobriedade. Preciso estar totalmente sóbria e lúcida para o que vou fazer.