Os Verões Roubados de Nós/ CAPÍTULO 41

Um conto erótico de D. Marks
Categoria: Homossexual
Contém 3721 palavras
Data: 03/03/2019 20:25:15

Os Verões Roubados de Nós

Capítulo 41

Narrado por Gabriel

Após passarmos a manhã a três na cama (eu, Eno e Tati), os dois descem para dar início ao almoço enquanto eu resolvo tomar um banho. Enzo vai relutante, pois como ele mesmo diz: “Tenho que cuidar do meu homem! ”, porém eu preciso de um tempo só para entender o que está acontecendo comigo. Estou me sentido frágil, com medo da própria sombra e temendo que pudéssemos ter sido seguidos. E fora o pesadelo que tive que me deixou mais apavorado ainda. Enfim, não estou me reconhecendo. Flashes pós acidente estão começando a vir na memória e o fato de eu não ter reagido me faz mal, me faz sentir menos homem.

Não sei se Enzo percebeu porque estou fazendo o máximo para parecer normal, mas as barreiras estão ruindo e sinto que posso desmoronar a qualquer momento. Ainda não consigo acreditar que Ítalo é nosso irmão e que está sendo movido por vingança. E eu nutria por ele um sentimento de irmandade sincero, mesmo sem saber da verdade.

“Meu Deus, que loucura! Ajude-me a ser forte ” peço enquanto a água escorre pelas minhas costas. Termino meu banho e me seco da melhor forma possível. Tiro os plásticos que envolvem meu gesso e vou para o quarto colocar a roupa. Outra dificuldade, pois com o braço e costelas quebrados quase não dá para me movimentar direito e então, decido colocar um blusão e a calça de moletom.

— Droga! – resmungo ao tentar colocar a meia. Estou quase gritando por Enzo quando batem à porta. – Entre.

Diego aparece com uma expressão séria que lhe é muito peculiar. Suspiro.

— Bom dia, dormiu bem? – ele pergunta.

— Sim – respondo – O chá conseguiu me relaxar.

— Que bom! – ele suspira – Podemos conversar em particular? Apenas nós dois?

Fico curioso com o pedido, mas sei que ele tem me observado e sabe o que está acontecendo comigo.

— Claro. – respondo tentando aparentar uma calma que não sinto – Vamos para a praia, pode ser?

— Sim... Acho melhor.

— Ok. Espere eu terminar de me arrumar – digo e penso um instante – Ou melhor, espere no portão de acesso, por favor.

— Ok.

Ele sai e volto a tentar colocar a meia quando a porta se abre novamente.

— Quer ajuda? – Eno oferece sorrindo quando me vê fracassando na tentativa.

— Sim, amor... Por favor. – não devolvo seu sorriso.

— Está tudo bem? – ele pergunta enquanto calça meus tênis. Ele não me olha.

— Está tudo bem. – feito isso me levanto e completo – Apenas com vontade de gritar, descabelar e ficar histérico...

Rimos.

— Ei... Esse sou eu! – ele diz fingindo indignação.

— Mas não parece. – me aproximo colando nossas testas – Quero meu Eno de volta...

Ele suspira e fecha os olhos.

— Eu não sei se isto é possível no momento. – ele me olha e seus olhar é triste – Você não imagina a dor que senti ao receber a notícia do acidente e que você não voltaria para mim... – uma lágrima rola – Eu quis morrer junto...

Eu o abraço apertado e sussurro:

— Mas eu voltei, amor! E sempre vou voltar para você. – engulo o choro – Vamos fazer um trato?

Ele me olha curioso.

— Assim que tudo passar, vamos tirar umas férias. – sorrio – Vamos para Espanha, maassss...

— Maassss???

— Apenas quando voltarmos ao que éramos. – dou um selinho – Eu, o ogro e você a lady da relação?

Ele me olha inseguro e fica calado pensando. Seus olhos parecem gritar o que se passa em sua cabeça.

— E se não conseguirmos? – ele pergunta e sua voz denota medo.

— Não tem fé no que temos, Enzo Maia Mancinni?! – pergunto fingindo choque. Ele ri. Ponto para mim. – Não tem fé no nosso amor?!

— Sim! Eu tenho, Gabe! – ele me abraça – Eu prometo voltar a ser eu mesmo... Você promete também?

—Sim, vida! Prometo! – eu preciso disso, digo a mim mesmo – E depois vamos para Espanha!

— Por que a Espanha?! – ele pergunta curioso.

— Porque o último postal que você respondeu foi quando eu estava em Madrid... – respondo – E depois não respondeu os outros.

— Eu estava chateado com você. – ele fica vermelho – Achei que tinha perdido meu amigo...

— Você nunca vai me perder... – digo acariciando seu rosto – Nem ouse dizer mais isso.

Ele suspira e me beija.

— Eu te amo pra sempre, Gabe!

— E eu te amo pra toda eternidade, Eno! – enfim nos beijamos com mais intensidade.

— Você precisa descer porque Diego está te esperando para conversar. – ele anuncia e o olho surpreso – Ele me disse quando desceu... – sorri – E também disse que você estava com certa dificuldade em se vestir.

Ele passa a mão pelo meu corpo até chegar no meu pau. Safado!

— Sabia que você estava sem cueca! – ele me olha enciumado – Anda... Pode tirar os tênis e a calça que vou pegar uma... – e sai reclamando procurando por uma cueca – E pode tirar o blusão também! Onde já se viu sair apenas com isso?! Quer pegar uma gripe ou uma pneumonia?!

O velho Enzo está voltando. Dou uma gargalhada.

— Está rindo do quê?! – ele volta e me ajuda com as roupas. Realmente é mais fácil com ajuda.

— Eu te amo, bebê! – digo tentando beija-lo, mas ele se esquiva.

— Aaahhh... Ama sim! Estou vendo! Nem bem voltou e já quer me deixar viúvo de novo... – ele ralha, mas ri – Também te amo, meu loirão gostoso!

Ele termina de me arrumar e descemos.

— Até que enfim voltou! – Tati reclama com Enzo – Nem pense em voltar a ser o come de dorme de antes, palhaço! Anda... Pode vir me ajudar com o almoço!

Naide também está na cozinha e ri.

— Aaafff... Estou indo, demônia! – Eno reclama revirando os olhos – Você me paga, Tatiana! Vou ensinar o Diego a te educar rapidinho... Pode esperar!

E assim os dois continuam discutindo e se juntam com Naide para preparar nosso almoço. Saio em busca de Diego e o encontro na praia. Ainda bem que Eno me ajudou com as roupas, pois um vento frio me atinge assim que piso na areia.

— Detesto inverno! – reclamo me aproximando de Diego.

— Eu nem ligo... – ele responde e ri – Vamos caminhar um pouco? Você consegue?

Reviro os olhos para ele.

— Diego, eu quebrei o braço e não a perna... Vamos caminhar!

Após alguns minutos de silêncio, ele resolve falar.

— Seu pai me ligou mais cedo, enquanto vocês estavam no quarto. – ele começa – Ele contratou seguranças e enviou alguns para cá. Pode ficar tranquilo.

Paro de caminhar e olho para o mar. Resolvo ser sincero com ele:

— Não consigo. – suspiro – Eu não sei o que está acontecendo comigo, Diego, mas eu estou amedrontado, flashes do acidente estão voltando à minha memória. Eu não sou mais o Gabriel de antes, o ogro que bateria e depois perguntaria o que houve. – começo a chorar. – Eu estou com medo. Medo pelo o que Ítalo está planejando, por Enzo, pela Tati, meu pai, meus tios e primos...

Ele me abraça.

— Estamos aqui, Gabriel! – ele diz – Eu vou ficar com vocês porque Ítalo não sabe do meu envolvimento. Eu sou o elemento surpresa que ele não contava.

Choro sentido e suas palavras de alguma forma me fortalecem.

— Quero que ele morra, Diego! Prisão para ele não irá funcionar. – falo com raiva. – Ele é um psicopata e não vai parar até nos matar.

— Podemos pará-lo, sim! Vargas, que é o delegado do caso o quer preso, mas com a nossa justiça em pouco tempo ele estará livre. – seu olhar se torna sombrio – Mas concordo com você, cunhado. Eu o quero morto também por causa da ameaça que ele é para minha mulher e a vocês!

Olhamo-nos em concordância.

— Quero que você saiba que Enzo me pediu uma arma. – ele fala calmo.

— O quê?! – pergunto surpreso – Que porra ele está pensando em fazer com uma arma?!

— Calma, Gabriel! – ele diz – Eu acho válido e até disse isso para ele, desde que ele tenha porte de arma. Então, pode ficar sossegado... Não darei nada a ele!

Por incrível que pareça ele ri e continua:

— Seu namorado está com sangue nos olhos. – ele me encara – E passe a dar valor a intuição dele. O Enzo é foda e tenho certeza que matará o Ítalo ou quem quer que seja que tente ou pense em lhe fazer mal sem pestanejar. Ele é leal ao extremo e pela minha pequena conversa com ele agora pouco percebi que ele também está com medo. – pausa – e me causa um certo receio também pela segurança dele. Geralmente, pessoas com raiva são imprudentes em suas atitudes.

Esta última informação me surpreende.

— Gabriel, enquanto tudo isso não acabar não teremos paz, mas eu peço a vocês que confiem em mim e na equipe que está trabalhando para pegar o Ítalo. Confie no Vargas e no Antônio. – ele suspira – Vocês precisam se unir e não esconder nada um do outro. Eu não conheci o Enzo antes, mas Tati disse que ele está diferente. Mais sério e introspectivo... – pausa – E você... Atrevo-me a dizer que está sofrendo de transtorno de estresse pós traumático*, acho que é esse e o termo certo e também acho legal você procurar ajuda profissional antes que prejudique seu relacionamento com Enzo e outras pessoas. Eu estou de fora e percebi logo de cara por conta do seu comportamento.

— Eu sei, Diego... Enzo já me disse algo parecido hoje pela manhã. – observo que começo a garoar.

Caminhamos de volta em silêncio e antes de entrarmos Diego diz:

— Seu pai também me disse que precisa da carta.

— Oi?!

— Sua irmã ficou com ela, lembra?

— Verdade. – fico curioso com o motivo – Por que ele quer a carta?

Diego fecha o semblante e diz muito sério:

— Eles acham que podem usar a carta para fazer Vera falar o paradeiro de Ítalo e por conta disso, talvez tenhamos que ir embora antes de vocês.

— Nada disso! – falo exasperado – É perigoso demais! Aquele filho da puta pode estar à espreita esperando para atacar...

— Sabemos disso, Gabriel! – ele me corta – mas eu vou com Tati e a trago de volta. Como tem seguranças para vocês aqui ficamos mais tranquilos.

— Vamos voltar com vocês! – falo

— Nem pensar! – ele retruca – Não podemos facilitar a vida daquele psicopata!

Paro na frente dele e o encaro com raiva:

— Foda-se o que você acha! Eu quero ajudar a pegar aquele filho da puta e eu sei que ele vai aparecer se souber que estamos por lá.

Diego passa a mão pelos cabelos irritado.

— Gabriel...

— Nada de Gabriel... – corto – Vamos juntos, Diego! E não se fala mais nisso.

E caminho para casa pisando duro na medida em consigo.

— Gabriel. – ele me chama e se aproxima – Vou avisar que “se” formos juntos será do nosso jeito, entendeu?!

Ele aponta o dedo para mim. Odeio isso, mas acato:

— Entendi... – digo – mas tente entender também, Diego, se ele souber que estamos lá acho que será mais fácil pega-lo.

— Ou não. – Diego devolve – Você tem que entender uma coisa importante: ele é perigoso e tem motivo. É um psicopata dissimulado e muito... Muito escorregadio, pois escapou do meu detetive. – fico surpreso – Sabemos que seu restaurante e a casa de praia da sua mãe já foram vendidos... Juro, Gabriel, ele tem grana o suficiente para fugir e desaparecer para sempre e talvez até já tenha feito isso, mas...

Ele faz uma pausa.

— Mas? – pergunto.

— Acho que ele tentará levar sua mãe e por isso precisamos da carta. Achamos que ela pode nos ajudar indiretamente já que ela não sabe que você está vivo. Queremos usar o emocional dela para nos ajudar.

Raciocino sobre o que ele diz e admito que está certo.

— Ok, Diego – suspiro concordando – Façamos ao seu modo. Contudo, acho difícil vocês conseguirem apelar para o lado maternal e emocional da Vera porque ela não possui. Simples assim. E outra, iremos com você. Sem discussão quanto a isso.

Ele concorda sem jeito.

— Diego... Eu não me importo com o restaurante. – digo enquanto caminhamos – Apenas quero paz. Posso trabalhar com qualquer outra coisa, pois sou jovem e disposto, mas ter um negócio próprio – pausa – Não mais.

— Quem sabe dia, cunhado... – ele bate em meu ombro e sorri – Estaremos aqui para o que precisar.

Sorrio de volta e finamente caminhamos para casa.

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Narrado por Enzo

Deixei Gabe no quarto e desci com Tati para começarmos a preparar o almoço. Eu estava inquieto por tê-lo deixado, mas sei que ele queria um tempo só. Estava em seus olhos.

— Relaxa, Eno... – Tati parece ler meus pensamentos – Ele precisa de alguns momentos sozinho. Fará bem.

— Eu sei, Tati, mas depois do que passei não quero perde-lo de vista, entende? – minha voz treme – Eu também estou com medo.

— Todos nós estamos, gatão e isso é natural, afinal tem um louco varrido atrás dele... Ou de nós. – sua voz fica triste.

— Ele não virá atrás de ninguém e nem chegará perto, amor. – Diego diz entrando na cozinha e abraça Tati – Eu não vou deixar nem ele nem ninguém se aproximar e te fazer mal. E nem aos meninos.

Vejo Tati se agarrar a ele e fico feliz por ela ter alguém para protege-la além de mim e do Gabe. Pensando nisso resolvo conversar com Diego a sós, mas antes pergunto outra coisa:

— Fernando já foi, Diego?

— Sim, Enzo. Faz uns 30 minutos. – ele responde.

— Fernando foi embora? – Tati pergunta surpresa – Por quê?

— Porque ele só veio para me trazer e acabou por ficar fazendo companhia a mim. – respondo triste – Nos tornamos bons amigos e em breve pretendo ajuda-lo.

Tati me olha confusa, mas nada explico.

— Diego, podemos conversar um instante, por favor? – peço.

— Claro, Enzo. – ele beija Tati e sorri terno – Preciso mesmo conversar com você.

Vamos para a área da piscina e nos sentamos nas espreguiçadeiras.

— Quero uma arma! – sou direto e observo sua reação.

Primeiro ele me encara; segundo sorri de forma cínica.

— Ok, Enzo. – ele diz – Responda-me 3 perguntas e se forem satisfatórias eu mesmo treino e lhe dou uma arma. Entendido?

Concordo com um aceno.

— Ótimo. Primeira pergunta: você sabe atirar?

— Não.

— Segunda pergunta: você já pegou numa arma?

— Não.

— Terceira pergunta: você ao menos já viu alguma arma de perto?

— Não.

— Então... Por que você quer uma arma?!

— Para nos defender é óbvio! – reviro os olhos.

— E você acha que eu simplesmente vou entregar uma arma com toda essa sua inexperiência?

— Diego, eu não sei se você sabe, mas o Chatítalo maníaco e psicopata está querendo nos matar! – digo com cinismo e desprezo.

— Chat... O quê?!

— Chatítalo – repito irritado – Eu o apelidei.

Ele solta uma gargalhada.

— Nossa... – seus olhos lacrimejam – Bem que Antônio disse que vocês são fogo!

— O quê?!

— Esquece... – ele faz um gesto com a mão e volta a ficar sério – Sabe quando vou lhe dar uma arma?

— Quando voltarmos? – pergunto ansioso.

— Nunca. – ele responde sério – Pelo menos não nesta vida, Enzo. Armas são utilizadas por quem tem licença e sabe manuseá-las corretamente, o que não é o seu caso.

“Mas que filho da puta! ” penso irritado. E minha irritação fica mais evidente quando num rompante chuto a espreguiçadeira.

— Fica calmo, bad boy! – ele ri – Ou vai acabar quebrando seu pé.

— Vai tomar no cú, Diego! – xingo – E se aquele desgraçado nos pegar desprevenidos hein, espertão?! O que vocês irão fazer?!

Diego levanta e caminha até onde estou e fala calmamente:

— Enzo, vocês estão protegidos. Confie em mim.

Meus olhos ardem e lágrimas grossas descem.

— Eu estou com medo. – minha voz embarga – Você não tem ideia do olhar de medo dele quando o despertei do pesadelo. Eu me senti impotente, menos homem. Meu amor foi machucado, Diego... Não apenas física, mas também emocional e psicologicamente e eu estou impotente porque não sei como lidar com isto. – eu o olho – Eu tenho apenas 18 anos. – ri sem humor – E achei que a vida seria leve e fácil de conduzir... Contudo, o que aconteceu me mostrou que não se pode controlar o destino e não se pode confiar em todos. Por isso sigo minha intuição... – pausa longa – Onde está o manual de “como lidar com as tragédias da vida? ”

Ele ri e me abraça pelos ombros:

— Não há nenhum manual, cunhado! Mas, se serve de consolo, siga sua intuição. – ele me olha – Você sabe que pode confiar nela.

— Minha intuição diz que você deve me dar uma arma. – E faço minha melhor carinha de pidão. Sempre funciona.

Diego arqueia as sobrancelhas.

— Esta sua carinha de pidão funciona com seu namorado e com Tati. – ele zomba – Nem vem...

— Aaafff... Chato! – e rimos.

— Acho que o Gabriel pode estar sofrendo algum estresse pós trauma* - ele fica sério – Ajude-o... Siga seu coração porque você o conhece melhor do que ninguém – pausa – Seja firme e forte. E demonstre isto, não apenas com palavras, mas também com atitudes. Ele espera por isto.

Olho para ele surpreso. Jamais imaginei ver Diego falando assim.

— O quê? – ele pergunta – Eu sei ser sensível também, sabia?

Sorrio.

— Sabe... Antes disso tudo acontecer eu era o histérico, chorão, barraqueiro e infantil. – ele apenas me olha – e ele o ogro, o resmungão, o racional e adulto. Sinto que após saber da “morte” dele, aquele Enzo morreu e outro nasceu daquela dor intensa. Acho que é por isso que me sinto impotente, Diego. Porque este novo Enzo não soube reagir ao primeiro sinal de fragilidade dele. Eu fui frio, sabe? – confesso e me sinto incomodado com isso.

Ele olha para frente analisando minhas palavras e diz:

— O velho Enzo está aí escondido. É só você procurar e deixa-lo sair. Assim como o velho Gabriel está lá também. Vocês estão apenas sofrendo pelo que aconteceu e criando expectativas por coisas que nem aconteceram. – ele torna a me olhar – Não sofra por antecipação, ok? – e suspira – Vou subir para falar com ele um instante, tudo bem? Preciso esclarecer umas coisas.

— Tudo bem. – respondo – Eu serei forte porque ele precisa de mim... Ou melhor, ele precisa de nós. – caminhamos para a cozinha e ele segue para o quarto – Diego, veja se ele precisa de ajuda e me chame, por favor?

Ele assente e eu agradeço. Nisso, Tati sai da despensa e fica surpresa quando falo:

— Ele é um bom homem, gata! Digno de você. – dou uma piscada e uma bitoca na ponta do seu nariz – Eu aprovo!

— Ok... – ela diz lentamente – Eu agradeço.

— Beleza... Agora vamos ver o que preparar para o almoço! – digo apontando para sua mão cheia de coisas fora as que Naide já estava cortando sobre a pia.

— Com certeza, Eno! – ela vai até a pia – E você pode me contar tudo sobre a partida de Fernando e esta história de ajuda-lo.

Reviro os olhos.

— Além de empata foda é curiosa! Oooo mulherzinha! – rimos – eu vou te contar.... Apenas algumas partes.

E assim, conto o que acho relevante ela saber e ganho mais uma aliada na saga Fernando e Vítor.

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Narrado por Antônio

Chegamos a casa de Vera sob uma forte garoa e somos atendidos pela empregada chamada Judite. E enquanto ela vai chamar a patroa, Vargas e eu observamos todo o ambiente procurando por algum sinal de que Ítalo estivesse ou tenha passado por lá. Ficamos esperando por quase meia hora até que sons de salto ecoam pelo piso.

Ela adentra a sala com um ar cansado e de choro e com certeza está alcoolizada. Sinto pena porque é uma mulher bonita se degradando dentro da própria armadilha que criou.

— Sra. Vera, boa tarde. – Vargas a cumprimenta – Sou o delegado Saulo Vargas e este é o detetive Antônio. Tudo bem?

Ela nos olha meio aturdida e tenta manter a pose.

— Boa tarde, senhores. Eu estou bem. – ela diz – Sentem-se, por favor.

Enquanto nos acomodamos Vargas observa todos os seus movimentos. Não demora muito e a empregada volta com café para todos. Esperamos ela nos servir e somente quando ela sai Vargas fala:

— Sra. Vera, precisamos conversar a respeito de Gabriel. – a voz dele é calma e indutiva.

— O que vocês precisam saber? – ela pergunta calma, mas seu olhar revela confusão.

— Se ele possuía algum inimigo, se teve alguma desavença com algum amigo, cliente nos últimos tempos? – ele estreita os olhos e ela estremece visivelmente.

— Ah.. E-e-eu não sei, senhor. – ela parece confusa – Foi tudo um engano...

Sua voz sai apenas num sussurro e Vargas aproveita:

— O que foi um engano?

— O acidente. – ela fala sem pensar com os olhos fixados em algum ponto da parede. – Mas eu vou consertar isso... Juro...

E as lágrimas começam a rolar. Fico com pena, mas precisamos aperta-la.

— A senhora sabe onde Ítalo está? – pergunto descaradamente.

— Não. – ela responde e toma um gole do café – Ele não me disse.

Bingo! Melhor que isso, só se ela estivesse muito mais bêbada.

— Ele matou o Gabriel? – pergunto e as lágrimas correm ainda mais.

— Não! Fui eu... – e solta a xícara fazendo-a espatifar no chão – Eu fui uma péssima mãe e Deus está me castigando.

Seu choro se torna convulsivo e Vargas me olha feio.

— Senhora? – a empregada entra na sala.

— Judite... – ela chama chorando – Chama o Gabriel para eles... Por favor...

Seu olhar está vidrado agora. Céus, ela está insana.

— O Gabriel... Meu Deus! Meu filho... – ela chora e a empregada nos olha séria.

— Senhores... Por favor! Ela não está em condições.

Vargas me olha irritado. Ok, fui muito direto, mas eu sou assim. Odeio enrolação.

— Tudo bem, senhora. – Vargas diz conciliador – voltamos quando a senhora estive melhor e conversamos, ok?

— Pode ser, mas agora não. – a empregada responde.

Saímos da casa e Vargas me olha irritado:

— O que deu em você? Quer estragar tudo? – ele pergunta

— Ah... você mesmo viu que ela está alcoolizada... Nem vem! – respondo seco.

Ele me olha e apenas acena.

— Sabe o que isto significa, não é? – ele pergunta muito sério.

— Sim. Plano em ação.

Concordamos com um gesto e vamos embora. Agora vai começar.

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Nota*:

Estresse pós traumático: *na verdade, o termo correto é Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT) que Diego cita de forma sucinta porque ele não domina o assunto e pela data em que se passa o conto (década de 90) pode haver perguntas quanto a citação do termo, então deixo um artigo para quem tenha interesse em saber quando o termo teve sua introdução na área médica/psicológica: http://www.scielo.br/pdf/rbp/v25s1/a03v25s1.pdf

Boa noite, pessoal. Segue mais um capítulo!

Não vou responder aos comentários anteriores porque o conto está quase entrando na reta final. ainda tem muita água para rolar por debaixo da ponte, então aguentem firmes, rapazes!

abraços

D.

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Comentários

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Maravilhoso, estória fluindo perfeitamente, demonstra que com amor, paciência e aceitação tudo se vence. Parabéns, você é perfeito.

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Ah, Vera, quanta culpa, heim!? Só você pode acabar com essa loucura de uma vingança que não existe a não ser na cabeça doente de Ítalo.

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APESAR DA FALTA DE FEEDBACK DOS CAPÍTULOS ANTERIORES O CAPÍTULO FOI SENSACIONAL. GOSTEI DO APARTE SOBRE O TRAUMA DE GABRIEL NO FINAL DO CAPÍTULO. É ESCLARECEDOR. NÃO É DE SE ADMIRAR QUE APÓS UM TRAUMA COMO ESSE SE MUDE A FORMA DE VER E VIVENCIAR A VIDA.

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P.S: desculpem por usar a palavra rapazes no final da postagem. Não foi por machismo, ok? Até porque sei que há mulheres que lêem o conto. Juro que não foi minha intensão. Abraços. D.

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