“É isso mesmo, que farei! Irei pra casa dos seus pais. Arrumarei um emprego, para não mais morar de favores, usarei de muita falsidade para me aproximar bastante do ordinário do meu pai, até arrancar dele todos os podres do canalha do meu tio e assim que eu descobrir qual é o calcanhar de Aquiles do miserável, me mando de lá e volto para cumprir a promessa que O fiz. ACABAR, DESTRUIR, ANIQUILAR SUA VIDA.
Muito decidido e me alimentando de ódio a cada instante, horas depois eu estava em pé de frente ao portão da casa daqueles que há anos me abandonaram.
O fato de ter sido tão inocente e ingênuo ao acreditar nas promessas e no amor do meu tio, atrelada a dor da decepção causada pela sua sordidez, mexeram tanto comigo, que até aquele momento ao invés de lágrimas eu destilava ódio e só pensando em minha vingança não parei nem por cinco segundos em frente ao portão da casa dos meus pais para pensar em como abordá-los depois de 18 anos longe deles, apenas entrei e com sangue nos olhos e muita falsidade, como a primeira pessoa que vi foi meu pai, corri até ele, disse quem eu e era e o abracei.
O ódio que eu estava sentindo pelo meu tio era tão maior, que os péssimos sentimentos que nutri a vida inteira pelo meu pai, ficaram mínimos e abraça-lo e despejar várias lágrimas de crocodilo não me foi nenhum sacrifício. Tudo que desejava era seguir com meus planos de vingança e como precisava da minha ingrata família para conseguir sucesso, em pouquíssimo tempo fiz tanto o coroa e minha mãe, que estava bastante doente ficarem encantadíssimos por mim. O casal há tempos moravam sozinhos, pois dois dos meus irmãos já estavam casados e os outros três que como eu tinham sido adotados, ainda moravam com suas famílias adotivas.
Diferente de mim, todos três não só eram muito bem resolvidos e entendiam muito bem o motivo de suas adoções, como também amavam muito os dois e os visitavam sempre que podiam, o que me deixou bastante surpreso e intrigado. Mas como tudo que me interessava era me vingar do maldito do meu tio, resolvi não me importar com tal fato.
Em poucos dias eu já estava trabalhando e fazia questão de me aproximar mais e mais do “Senhor dos Anéis Márcio”, a fim de descobrir qualquer coisa que me ajudasse a acabar coma vida do desprezível do Tio Marcos, mas uma coisa bem estranha e fora dos meus planos estava acontecendo. Bastante diferente de como eu acreditava que era meu pai, a cada dia ele demonstrava ser um homem bom, inteligente, educado e ótimo chefe de família e muito intrigado com seu comportamento, um dia depis do trabalho resolvi chama-lo para uma conversa em particular e perguntar porque fui doado pro seu irmão gêmeo, poucos dias depois que nasci.
- A sua benção, papai! Como passaram o dia?
- Deus o abençoe, meu filho! Passamos muito bem, obrigado! E você? Como foi seu dia de trabalho?
- Cansativo, mas muito produtivo. Papai, gostaria muito de conversar a sós com o senhor. O senhor conhece lugar onde possamos trocar umas ideias, sem sermos interrompidos?
- Conheço um lugar excelente para isso. E eu também estava prestes a procurá-lo para termos uma conversa. Se não se importar de caminhar um pouco, vou levá-lo a o local onde ganho a vida e que passo a maior parte do dia. Então? O que me diz? Está disposto a fazer uma pequena caminhada com seu pai, Rafael?
- Com certeza. È só o tempo de vestir uma bermuda e caçar um tênis, ok?
- Excelente ideia, garoto. Com o calor que está fazendo, também vou colocar uma roupa mais apropriada ao clima e avisar sua mãe para não nos esperar para o jantar, porque faremos um lanche no meu local de trabalho e como temos muito a conversar, certamente chegaremos bem tarde em casa.
Alguns minutos depois, meu pai já me esperava no portão de casa, para nossa conversa e assim que o vi vestido com uma bermuda jeans, uma camiseta azul clara e de tênis, quase desmaiei. Primeiro porque como papai e o miserável do meu tio Marcos eram gêmeos idênticos, por um instante achei que era ele que estava parado em pé no portão e segundo porque além da beleza de ambos, papai era bem mais sensual que seu irmão. Também possuía uma leveza, um sorriso sincero e uma simpatia que eram só dele e que muito me agradavam. E por um instante me permiti, esquecer o meu ódio e me peguei divagando sobre meu pai.
“ Como papai é lindo! Másculo, peludo e que coxas grossas são aquelas, meu Deus? Que tesão de homem é papai! E ainda por cima o tesudo adora uma rola. Também parece ser bem mais sincero, puro e gente boa que seu maldito irmão gêmeo. Mas..., mas..., mas o que é isso, Sr. Rafael? Seu idiota, seu ridículo. Esqueceu tudo que seu Tio lhe fez e já está querendo cair em outra roubada, é?
Pare com essa besteira de sentimentalismo e pense apenas em seus planos de vingança. Seu pai deve ser tão cretino, quanto seu tio. Quer passar por tudo que passou novamente, seu fracote, seu debiloide? Deixe de ser idiota, respire fundo e esqueça essas bobagens de envolvimentos emocionais e carnais com seu pai. Só use-o para descobrir o que realmente lhe interessa. Concentre-se apenas em destruir aquele que tanto lhe fez mal, que lhe enganou e acabou com sua vida e que por acaso é irmão gêmeo dele.”
Depois de me repreender bastante intimamente, me aproximei do coroa , que logo que me viu, abriu um largo e sincero sorrisão e disse:
- Nossa! Como meu filhão cresceu e ficou bonitão! Sabia que se transformou, num belo homem, Rafael?
- Obrigado, papai! È..., é...., o lugar onde vamos, fica muito distante? Estou perguntando porque amanhã preciso acordar bem cedo para pegar no batente.
Onde é que sua cabecinha está, rapaz. Esqueceu que hoje é sexta-feira e que amanhã o escritório de contabilidade, está fechado? Como liguei pra Nanci, nossa vizinha e ela dormirá aqui para cuidar de sua mãe, se precisar ou quiser podemos conversar a noite toda. Que tal se formos ao bar do Nestor depois de nossa conversa. Tenho andado tão tenso e preocupado com a doença de sua mãe e cuidando tanto dela de alguns meses pra cá, que estou precisando mais que tudo de uma boa companhia pra tomar umas cervejinhas, para relaxar, distrair um pouco e desopilar meu fígado. O que me diz? Hoje a conta é minha.
- Agradeço o convite, mas só darei minha resposta depois da nossa conversa, ok? Vamos?
CONTINUA ...
