Olá amigos, obrigado a todos pelas leituras!
Percebi lendo os últimos comentários que vocês estão curtindo o conto. Isso me deixa bem animado, mas no último capítulo só três leitores deixaram suas opiniões E OBRIGADÃO!!! então decidi dar uma revisada logo no capítulo 17 para ver se deixei ponta solta, ou coisa mal explicada. Desde já, valeu pela força gente e até amanhã!!!
ESPERO QUE GOSTEM!!!
******* UMA ÓTIMA LITURA A TODOS *********
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- Você vai me pagar – ele disse, sem puxar arma alguma. Meio mancando saiu dali em direção à entrada da empresa, meus joelhos vacilam.
Não tenho culpa de nada, penso aliviado, ele é quem aprontou. Outros colegas de trabalho começam a chegar, enchendo o lugar de ruídos e risos. Sigo cauteloso para frente da empresa também, a fim de pegar o ônibus para o canteiro. No caminho não vejo Fábio, e agradeço a deus por isso. No seu lugar encontro vários homens prontos para seguirem viagem, mas começo a perceber aos poucos certos risos que param quando olho para eles. Alguns se contêm, outros balançam a cabeça, começo a pensar que estão rindo de mim. Finalmente seu Zé chega, e os motoristas abrem as portas dos ônibus, não vejo Atila em lugar nenhum.
Mas Marcos está. Camisa social por dentro da calça também social, óculos pretos da mesma cor da calça, e a barba loura por fazer. Olho para ele, mas não me demoro muito, ouço ao meu lado um sussurro, uma piadinha, mas não entendo e por isso deixo passar.
Escolho uma das cadeiras do lado esquerdo, Marcos se levanta de seu lugar na frente e se acomoda ao meu lado.
- Posso? – diz já se sentando em seguida – você deveria ser mais gentil e educado comigo, Atila não vêm hoje, vi você procurando por ele...
- Eu não estava procurando por ele, não me tire por você – digo enraivecido com a sugestão na fala dele.
Ele sorri e espera os outros homens passarem. O que um engenheiro tanto faz em um canteiro de obras? Deveria estar planejando, ajustando planos. Não no meio dos peões. Olho de esgueira para ele e recordo o vídeo. Assim, vestido desse jeito nem parece que faz as coisas que faz, mas eu não tenho nada haver com isso, me censuro. Cada um faz com sua vida e seu corpo o que bem entende. Volto minha atenção para o lado de fora, e quando finalmente o motorista do ônibus dá partida, Marcos inclina-se um pouco e sussurra entredentes:
- Quero só vê como você se vira sem o Atila por perto – ele sorri de modo debochado, e eu franzo o cenho por não entender o que ele quer dizer com isso. Para o meu prazer ele se cala, mas os homens estão todos muito agitados, conversando, sorrindo e cantarolando.
Fico pensando durante o trajeto na sugesta de Marcos; porque eu deveria me preocupar com a falta de Atila? Sou forte o bastante para me defender sozinho sem precisar da proteção de ninguém. Atila nunca me protegeu de nada, penso certo disso. Os ônibus estacionam um atrás do outro. Antes de eu descer um mundo de homens com o mesmo macacão que o meu passam por mim, eles me olham de modo estranho, e tenho a impressão de que algo está acontecendo.
Marcos passa na minha frente e eu fico obrigado a sair quase no final, me aproximo da porta e antes mesmo de pisar o pé fora do ônibus, seu Zé já está ali com os braços cruzados. O encaro franzindo ainda mais as sobrancelhas. Ele faz um gesto para irmos até mais ou menos o fundo do ônibus onde não tem quase ninguém ao chegarmos lá, seu Zé segura meu ombro e me dá um leve empurrão:
- Escute. Não tenho nada haver com vida de vocês fora daqui. Cada qual cuida do seu cada qual. E cada um sabe as necessidades que tem. Mas no trabalho, não quero essas coisas ai tá oquei? Isso daí não me interessa.
Aparvalhado é como me sinto com todas aquelas palavras sem sentido. Ele larga meu ombro, e segue, demoro a ter uma reação, mas quando consigo vou direto a ele e me sinto no direito de puxa-lo pelo ombro também. Sou direto, tão direto quanto permite meu nervoso e curiosidade:
- O que está acontecendo aqui? – arqueio as sobrancelhas – eu não fui informado de nada. Trabalhei a semana passada normalmente, e agora isso? Não estou entendendo.
Ele move o ombro de modo brusco empurrando minha mão. Ergue o indicador em riste, mas desiste resfolegando. Segura um pouco seu pacote entre as pernas como se com isso me metesse medo ou respeito... Está rolando algum fuxico com meu nome, percebo sem que ele precise dizer uma palavra sequer, mas diz:
- Você trabalha no setor das últimas ruas hoje, onde estamos construindo o muro, talvez que com trabalho duro... – meneia a cabeça – e se falar assim comigo mais uma vez...
O deixo falando sozinho dando de ombros e seguindo para onde ele havia me dito. Só por castigo ele vai me colocar para revirar cimento. Marcos deve ter algum dedo nisso, ou a mão inteira, penso, enquanto sigo para lá. No caminho encontro pouca gente, e conforme vou me aproximando do muro que ainda está apenas no alicerce em uma parte e uma metade dele já construído, percebo a quantidade de homens ali. Não sei a quem me reportar, mas não demora um homem se aproxima.
Ele me olha de cima a baixo como se me avaliando, é um desdentado com ombros musculosos e barba malfeita. No macacão desbotado tem um nome, talvez seja Jakson, tento ler.
- Zara te mandou foi? – diz ele cuspindo em seguida, nojento, penso. Mas assinto para ele. – Oh Carco Doido! Tá precisando de um vira bosta ai?! – ele grita, e tem a coragem de sorri mesmo banguela na frente, que horror, digo a mim mesmo. – Fica lá com Carco Doido... é cada uma que me aparece... – ouço o dizer enquanto sigo para o outro lado.
Enquanto passo, alguns peões deixam seus serviços para sorri de modo debochado a minha passagem, ou negar com a cabeça. Minha vontade é esmurrar um a um, antes eu nem era notado... Claro que está acontecendo alguma coisa, o tal Carco Doido tem uns dois metros de altura, gordo, banguela e careca. E parece suar por esporte, ele me olha de forma duvidosa, mas me entrega uma enxada. Aponta o serviço e isso é tudo que tenho a fazer, virar bosta como o outro disse. Ficar com a enxada fazendo massa de cimento na força do braço.
Um ótimo exercício para arrebentar a coluna, penso de forma negativa, mas logo vejo a lado bom nisso tudo, é mais um motivo para me animar a não permanecer no trabalho além do mais foi meu tio que quis, não eu. Só tenho que aguentar mais um pouco, só mais um poucosó não quero saber de negócio de veado olhando pra mim... – ouço um boçal dizer perto de onde estou, e outros boçais gargalharem disso.
Sou tolerante e não dou bola à chuva de comentários iguais a esses ditos por mais gente do que sou capaz de numerar. Um ou outro fica na minha mente, por adotar a moda dos banguelas, coisa em alto por ali. Quase todos os homens estão em falta com os dentes, e ouvir me chamarem pelas costas de veado, é um elogio. A foto de qualquer um deles assombraria pernilongos por um ano, sorrio ao meu pensamento. Só tenho dó de umas meninas novinhas que percebo se aproximando da construção, vez ou outra, passando por ali entre tantos brucutus abusados.
Foco em areia, cimento, agua e enxada, para preparar o cimento. Carco Doido é calado e faz o serviço com afinco, então eu e mais outros dois homens terminamos rápido com o cimento enquanto mais outros dois o ajudam com o muro. Esses são engraçadinhos como os outros, e tão feios quanto eles.
- Vamo cambada to numa fome lascada – diz o tal Carco Doido – e tu vai pega agua pra deixar aqui... A que tem tá no fim.
Olho pra ele sem acreditar no que acabo de ouvir... Os tanques com agua reservada à obra ficam no outro extremo do conjunto. Finjo resignação e confirmo com a cabeça, como se realmente fosse fazer aquilo. Os outros peões sorriem se achando os caras por terem alguma vantagem sobre mim. Vou até os dois carrinhos separados para pegar a agua e os levo até uma das ruas do conjunto onde há agua nas torneiras. Sei disso porque Atila e eu já havíamos concluído ali a parte elétrica, e é mais próxima de onde estou.
Levo os dois carrinhos já quase vazios. Encho um, depois o outro e em menos de meia hora já está tudo concluído. Lavo minhas mãos e rosto na agua mesmo, e sigo para pegar minha marmita. Idiotas, são todos uns idiotas! No morro os soldados do tráfico tem mais educação, penso revoltadooia o viadinho... – ouço de esgueira. Pego o pratinho e me afasto o mais longe possível de todos.
Sento na área coberta de uma das casas, penso na comida de Fefito, do dia anterior e chego a salivar de vontade. Essa, no entanto quebra o galho da fome. À sombra e com tempo deito um pouco ali, estico minhas pernas. Diferente dos troncos em forma de peões eu não transpiro tanto, e isso me faz sentir bem mais a vontade com meu cheiro. É o barulho de uma torneirinha, uma torneira aberta com líquido grosso batendo em terra que me faz estranhar.
Abro os olhos e um palhaço está com a braguilha aberta e o pinto meio duro pra fora da calça, mijando pertinho de onde eu estou.
O cheiro de suor e urina é nauseante me ego rápido antes que ele me acerte uma mijada na cara.
- Abre a boca que prometo que só mijo nela – sorri, é um dos banguelas. Cerro os punhos na mesma hora. Ele continua com o órgão genital pra fora da calça. – Tu é desse tipo de veado que curte beber mijo de macho?
O encaro sem medo, mas próximo a nós se aproximam mais três sujeitos do mesmo tipo. Um deles é o tal do Jakson, ergo os punhos cerrados para próximo do meu rosto para me defender se preciso. O com a rola de fora finalmente fecha a braguilha e sorri fazendo um gesto para outro. O tal do Jakson, ou seja lá qual for o seu nome, ergue a palma da mão aberta.
- Nois não gosta de bichinha assim igual tu no meio de nois – ele cospe como da outra vez – pra mim, meu pai sempre disse que ser veado é falta de surra. Eu sou da opinião que ocêis queria ser muié, mas não conseguiram... – ele e os outros sorriem disso.
- Enrustido desgraçado... – vocifero.
Os peões estralam os dedos das mãos, e se aproximam mais de mim, estou sem palavras e tremulo. O cara que tentou me mijar se aproxima de mim e eu o empurro com toda a força e saio em disparada correndo, eles veem atrás de mim. Corro mais rápido e me escondo atrás de uma casa, dali não consigo enxergar os ônibus. Engulo em seco com o coração batendo a mil. Meu corpo todo está elétrico e desejo mais do que nunca ter alguém conhecido por perto.
- Achei! – grita um deles – agora você me paga aquele rejunte que Atila jogou em mim seu veadinho!
Ele avança para cima de mim com tudo, eu me esquivo dele e faço o que sei fazer de melhor o empurro com toda a força. Reinicio a corrida mais uma vez em direção aos ônibus, vejo um dos sujeitos se aproximando de mim, e aumento as passadas. Chego à rua dos ônibus, mas não tem ninguém, apenas fios enormes estendidos no chão. Além dos postes deitados ali por perto, não os vejo mais correr atrás de mim, sinto meu coração dá uma aliviada. Quando uma mão se fecha no colarinho do meu zuarte, e então meu coração volta a bater fortemente.
- Agora você não escapa – diz o cara que minutos antes estava querendo me mijar. Tento reagir mais outro chega e ajuda a me segurar, mesmo assim luto. – Pra uma bichinha você tá resistindo muito.
Dou uma cusparada na cara dele e recebo de volta um tabefe na minha. Eles olham para um lado e outro, depois certos de que estamos sozinhos. Eu não consigo gritar por ajuda, não consigo, parece uma coisa dentro de mim que me faz reagir. Mover os ombros as pernas os braços, eles finalmente me largam no chão. Eles param olhando para a direção de onde eu vim correndo, eu também olho na mesma direção.
Ele está com um capacete amarelo de segurança na cabeça, e agradeço miseravelmente por ser a única pessoa que pode me ajudar nesse momento. Os caras se afastam eu relaxo os ombros, caído ali no chão. Desisto desse emprego maldito, desisto!