Nasci preto, pobre e periférico. Isso no país onde moramos, quer dizer que temos menores oportunidades. As coisas são mais difíceis, não impossíveis. Porém difíceis,como uma trilha ,virgem, com todo tipo de empecilho. Em vez de reclamar e se submeter a realidade , famoso se vitimizar, eu escolhi percorrer o caminho para uma mudança de realidade, de vida. Estudar. Não foi fácil, porque a luta para a Universidade é injusta . Muito, e tem pessoas que reclamam de contas. Mas chega de falar sobre isso. Vamos a história.
Como eu disse a cima, nasci na roça, filho do Sr José Carlos e da D. Geiza, onde no mínimo que se estudava era o fundamental 1. Meu pai realizava frente , mudanças essas coisas, então as vezes ele fazia frente para fazendeiros , e lá ele conseguia revista da turma da Mônica, e umas de economia. Trazia para mim, e aquilo era como se fosse outra realidade, outra vida. Comecei a vê, que tinha mais além da rocinha da minha família.
Eu não tinha amigos, sempre fui quietinho. Preferia ficar relembrando as histórias em quadrinhos que eu lia. Minha vida era escola pela manhã, trabalhando com pai a tarde e a noite dormia. Literalmente, sem fazer nada divertido. Mas, nao era infeliz, não podia sentir falta do que não conhecia,ne?
Com uns 12 anos, passei a reparar muito naqueles caubóis que aparecia nas revista de gado, nos empresários de terno , percebi que não era lá muito normal, porém não tinha referência , não existia gays onde morava, devia ter um monte , mais minha mente de criança não me permitia identificar..Não tinha gaydar ainda kkkk.
Minha realidade mudou quando minha mãe recebeu uma encomenda bem grande de balinhas de coco, aquelas que embrulha em papel crepon e ninguém gosta kkkk, mas a de mamãe era maravilhosa, e uma encomenda de um bolo de aniversário, gente nessa época a moda era aquelas bolinhas prateadas dura igual uma pedra kkk, era para o aniversário de 17 anos de um filho dos fazendeiros da região . Ajudei minha mãe a preparar as balas, não aguentava puxar a bala, porém cortar e embalar era comigo mesmo, o bolo eu só me metia pra pedir pra lamber a vasilha da massa e mexer o recheio. No dia da festa meu pai nos levou , tinha que entregar o bolo e as balas, gente, juro, eu nunca tinha visto uma festa tão luxuosa. Porém, hoje quando lembro ,vejo que era super cafona kkk. Resumindo, a dona da casa amou o bolo, e perguntou se mãe sabia cozinhar comida de sal também, arroz , feijão essas coisas, vocês me entenderam kkk. E modéstia a parte , minha mãe era cozinheira de mãos cheias. A pança do papai que o diga, kkk.
Minha mãe começou a trabalhar na casa de dessa mulher, Dona Nilda, como papai já fazia fretes frequentes pro marido dela, sempre estava perto deles. E acabei me afeicoando a eles, e eles a mim. Tinha acesso às revistinhas do Luís, menino de 17 anos, e a revista Veja e mais algumas outras . Luís tinha ido estudar em uma faculdade de Direito na capital, umas 4 horas de onde morávamos . Nem sabia que tinha esse negócio de faculdade, pensava que os doutores só eram assim porque eram ricos, o que não deixava de ser verdade. Foi ai que começou a nascer um desejo de fazer uma faculdade também, de ser alguém . De ter mais sabe.
Falei isso com D. Nilza, e ela falou que quando terminasse o ensino médio iria fazer. Meus pais me apoiaramwje dizeram que iriam começar a guardar dinheiro . Tá muito grande isso , então vou adiantar . Quando completei 17 anos , queria entrar para uma faculdade. Não queria Direito, nem engenharias. Quis enfermagem, gostei, quando fui internado quando adolescente, quem cuidou de mim foi eles, com todo a atencao. Queria realizar esse mesmo feito, com outras pessoas .. Ninguém questionou minha escolja. O negócio era onde morar , D.Nilza falou que poderia morar com o irmão dela .. E assim aconteceu, e foi na cidade grande , na faculdade, de favor na casa de pessoas de classe diferente, de cor diferente que minha história mudou. Que sofri a pior dor da vida, que fui traído,que me decepcionei , que me apaixonei,que me tornei um enfermeiro do Centro cirúrgico e que encontrei meu marido . Posso contar minha história para vocês?
