Meu improvável romance com o PM machão
O Caíque e eu estávamos ficando há quatro meses. Era o meu primeiro relacionamento homo afetivo, mas o que estava mexendo comigo nos últimos dias era a iminência de perder a virgindade. No último domingo ele tocou no assunto pela primeira vez, assim como quem não quer nada, apenas sondando a minha reação, uma vez que ele era bem mais experiente do que eu. Com ele já havia rolado com garotas e dois carinhas, segundo ele me contou. Ele me atraiu fisicamente desde o instante que coloquei os olhos nele num barzinho onde eu estava com uma galera. Ficamos naquela de olha, dá um sorriso, finge que não sabe se é com você, enquanto o barzinho vai lotando à medida que a noite avança. Assim que a chance surgiu ele deu o bote. Eu fui ao banheiro e estava aliviando a bexiga quando ele encostou no mictório ao lado e, propositalmente, abriu bem a calça para colocar a jeba e o sacão para fora. Virou-se na minha direção com um risinho safado ao notar que eu tinha olhado para seu dote e fez uma observação qualquer, só para começar o papo. Foi minha timidez e o fato de eu ter corado ligeiramente ao olhar para sua rola que o encantou. Conversamos a noite toda num cantinho menos tumultuado do barzinho e acabamos trocando telefones. Novos encontros foram acontecendo e, já a partir do segundo, rolou um beijo e uns amassos que foram ganhando intensidade e tesão nos encontros subsequentes. E, então, no último encontro, surgiu o assunto de aprofundarmos a relação, segundo as palavras dele. O que ele queria, na verdade, era aprofundar a pica em mim e, eu estava tão deslumbrado com ele que topei na hora. Sugeri nosso apartamento no litoral para essa primeira transa, e não falávamos de outra coisa durante os dias que antecederam a descida até o litoral. Cheguei a inventar uma desculpa para o meu chefe para sair mais cedo na sexta-feira, pois ele tinha ficado de me pegar em casa no meio da tarde. Eu já tinha acordado com fogo no rabo, contava as horas para ele chegar, e tinha feito uma mochila para passarmos o final de semana na praia. Ele chegou em sua motocicleta antes do combinado e, pela cara dele, deu para perceber que estava com tanto tesão quanto eu.
Perto do final da tarde estávamos no trecho urbano da rodovia dos Imigrantes, pois queríamos chegar ao litoral antes do anoitecer. De repente, fomos rodeados por mais três motocicletas, todas com o piloto e um garupa, perseguidos por duas viaturas descaracterizadas da polícia. A elas juntou-se uma viatura da polícia rodoviária assim que passamos pelo posto em São Bernardo do Campo. Nós deixamos as três motocicletas seguirem a frente num limite muito acima do permitido para aquele trecho. Um dos carros descaracterizados nos mandou parar no acostamento. O Caíque parou e começou a tirar os documentos da mochila, mas antes disso, um dos policiais me arrancou da garupa e o outro derrubou o Caíque da motocicleta e começou a agredi-lo. Quando fui protestar, levei um soco que veio nem sei de onde e caí sentado no chão. A perseguição às demais motocicletas continuou, pois pude ver mais uma viatura passando por nós a toda velocidade com a sirene ligada.
- Deitados de barriga para baixo e mão na cabeça! – berrou um dos policiais civis, antes de dar um chute em nossas pernas.
- Está havendo um engano! – disse o Caíque. No mesmo instante o policial deu outro chute nas costelas dele, fazendo-o urrar.
Em menos de quinze minutos, chegaram reforços e ficamos cercados por viaturas da polícia civil e militar. Sem nos dar chance de explicações, fomos colocados no camburão e levados para uma delegacia.
- Esses são parte do bando que assaltou a joalheria do shopping, doutor! O restante deve chegar em breve, o pessoal já está na captura dos meliantes. – disse o policial militar que nos deixou algemados num banco de uma sala da delegacia.
- Nós não assaltamos joalheria nenhuma! Vocês nos confundiram com os bandidos! – exclamei.
- Vocês vão ter tempo suficiente para se explicar! Mas, desde já vou te avisar, só abra a boca quando for perguntado, entendeu? E só responda aquilo que lhe for perguntado, não tenho paciência para ouvir ladainha de bandido, estamos entendidos? – disse o delegado.
- Mas os policiais se confundiram! Mandaram-nos parar sem termos feito nada! – retruquei. O bofetão que o delegado me deu deixou meu ouvido zunindo.
- Qual foi a parte do que eu disse que você não entendeu, filho da puta? – rosnou o delegado.
Quase uma hora depois, uma tropa de policiais trouxe o bando de ladrões. Um havia levado um tiro na barriga e segurava uma camiseta ensanguentada enquanto gritava de dor pedindo, pelo amor de Deus, que o levassem até um hospital. Outro levara um tiro na coxa, andava com dificuldade e gemia toda vez que apoiava o pé daquela perna no chão, via-se o sangue dar pequenos jorros conforme ele caminhava, empapando a calça. Os demais tinham hematomas aparecendo onde suas camisetas rasgadas deixavam ver parte dos troncos. Obviamente tinham levado uma bela surra antes de serem levados à presença do delegado, pois nenhum deles conseguia andar direito.
Fomos levados, um a um, à presença do delegado numa sala abafada onde dois ventiladores, caindo aos pedaços, estavam apontados para a mesa do delegado, nela faltavam partes do laminado de madeira por todo lado. Faltavam placas do forro da sala onde, a um canto, viam-se dois suportes de madeira torneada dos quais pendia uma bandeira do Brasil e, uma do estado de São Paulo, completamente encardidas. Os vitrôs no alto da parede atrás da cadeira do delegado estavam abertos e os vidros cobertos por uma grossa camada de poeira que devia estar ali há décadas. Parte das luminárias estava sem as lâmpadas fluorescentes e, algumas delas, ficavam piscando o tempo todo. Fui o primeiro a ser chamado e escoltado por um policial civil, que me apertava o braço enquanto me conduzia até a sala. O delegado era um sujeito gordo, sem pescoço, de ombros estreitos e tronco que terminava numa circunferência enorme na cintura, que depois tornava a se afilar à medida que suas pernas curtas alcançavam os pés. Ao caminhar suas coxas se esfregavam uma na outra. O colarinho da camisa azul desbotada e, pequena demais para acomodar toda aquela banha, estava empapado de suor, bem como as mangas junto ao sovaco. Pelas aberturas junto aos botões viam-se os pelos escuros da barriga quando a gravata num tom de azul mais escuro ficava desalinhada. Os cabelos grisalhos sem corte e uma papada abaixo do queixo conferiam-lhe um aspecto grotesco e asqueroso.
- Qual era a sua função durante o assalto a joalheria? – perguntou o delegado.
- Nenhuma! Eu não participei de nenhum assalto! Só estava indo para... – respondi, ao ser interrompido.
- Cala a boca, seu merda! Eu vou perguntar de novo, filho da puta! Eu já disse que é para você responder apenas aquilo que lhe for perguntado. – berrou ele, antes de refazer a pergunta.
- Nenhuma! – respondi.
- Vai ser mais fácil se você colaborar! Se quiser ir pelo caminho mais difícil, a escolha é sua! – rosnou.
- Será que é tão difícil o senhor entender que os policiais cometeram um engano e nos prenderam sem nenhum motivo? Eu tenho os meus documentos e é só ligar para a minha casa que meus pais podem confirmar o que estou dizendo. – retruquei exasperado.
- Escuta aqui, ó moleque filho da puta, você está querendo bater de frente comigo? – gritou, levantando-se da cadeira e vindo me dar mais um bofetão.
Eu já estava desesperado, não acreditando que aquilo pudesse estar acontecendo comigo. Ao final de todos os ‘interrogatórios’, como denominou o delegado aquelas atrocidades que estava cometendo, fomos todos distribuídos pelas quatro celas já apinhadas da delegacia.
- Olha aí putada! O galeguinho é meu presente para vocês, seus filhos da puta de merda! – disse o delegado ao me empurrar para dentro de uma cela junto com o Caíque, e onde havia, pelo menos, mais doze sujeitos sem camisa, alguns só de cueca, pois fazia um calor infernal dentro das celas mal ventiladas por uma abertura gradeada com não mais do que oitenta por oitenta centímetros.
Procurei ficar o mais próximo possível do Caíque quando vi todos aqueles olhos me fitando como se eu fosse uma iguaria especial que todos estavam a fim de provar. Só havia uns poucos presos sentados junto às grades, pois mal havia espaço para tanta gente naquele cubículo. Fiz força para não chorar, mas umas lágrimas insistiram em brotar nos meus olhos. Eu as enxuguei o mais rápido possível, pois não queria dar uma de fracote na frente daquela gente. Logo percebi que aqueles que estavam sentados tinham o controle da cela, especialmente um deles, que estava de bermuda e mantinha as pernas bem abertas, roubando um bocado de espaço, o que dificultava ainda mais a circulação dos outros dentro da cela. Ele ficou me encarando por um tempo, não disse nada, sua expressão era tão impassível quanto a de um jogador de pôquer, uma das mãos estava a pica que formava um volume bem visível quando ele a apertava. Desviei o olhar daquela aberração e comecei a sentir o pavor tomar conta de mim. Aquela falta de conversa, mesmo com tanta gente junta num mesmo lugar, os olhares que iam de rosto em rosto, não podiam ser indício de boa coisa.
- Qual seu nome, galeguinho? – perguntou finalmente o sujeito sentado. Eu fingi que não era comigo. Ele repetiu a pergunta, depois de chamar minha atenção com um gesto do braço.
- Felipe. – respondi, sem que minha voz quisesse sair.
- Quantos anos você tem Felipe? – perguntou, esboçando um risinho que a maioria dos outros acompanhou.
- Dezoito. – respondi, depois de pigarrear para ver se a voz sairia mais grave.
- Ao menos não vou juntar o artigo 217 aos que já cometi! – exclamou o sujeito, fazendo com que os risinhos sarcásticos aumentassem. Eu estava tão petrificado que mal podia ficar em pé. – Quer sentar gale... Felipinho? – emendou ele.
- Não, obrigado!
- Além de lindo o garoto é bem educado, sabe até falar obrigado! – os risos tensos ganharam força.
- Vem cá Felipinho, senta no meu colo! – disse o sujeito. O risinho dele havia desaparecido e sua expressão ganhou a mesma severidade da do meu pai quando estava prestes a dar uma carraspana em mim ou nos meus irmãos.
- Estou bem em pé. – devolvi, procurando apoio no olhar do Caíque.
- Você não entendeu moleque! Eu mandei você sentar no meu colo! – disse elevando o tom da voz. Eu estremeci, mas me mantive parado onde estava.
O sujeito olhou na direção de outros dois que estavam encostados numa das paredes e mantinham os braços cruzados adiante do peito. Ambos vieram na minha direção ao mesmo tempo. O primeiro me deu uma rasteira e, só não caí porque me segurei nas grades. O segundo me puxou e me arrancou das grades, enquanto o primeiro me dava uma gravata pelas costas. Eles me puseram sentado no colo do sujeito e a cela inteira caiu na risada.
- Por favor, não faça nada comigo! – supliquei, sem conseguir segurar o choro, pois eu já antevia o que estava para acontecer.
- Calma minha boneca! Ninguém aqui vai te fazer mal! – os risos voltaram a ganhar força.
O sujeito enfiou as mãos por baixo da minha camiseta e a tirou pela cabeça. Houve uma agitação geral quanto fiquei com o tórax nu exposto. Ele apertou meus mamilos e sussurrou na minha nuca que eu ainda tinha cheiro de bebê. Os dois que tinham me colocado no colo dele voltaram a se aproximar e, arrancaram a minha calça; eu esperneava e cheguei a acertar um chute na barriga de um deles. Na mesma hora levei um soco na coxa. Comecei a gritar pedindo socorro.
- Quietinho! Tu está querendo apanhar? Então fica quietinho e seja um bom menino! – disse o cara no colo do qual eu estava sentado.
Senti a pica dura roçando minhas nádegas, minha agitação sobre suas pernas tinha feito a ereção se consumar. Apesar do sujeito não ser muito grande e nem forte, ele conseguiu me levantar e ficar em pé ao mesmo tempo. Prensou-me contra as grades completamente nu. Os caras das celas do outro lado do corredor começaram a fazer uma puta zorra quando me viram nu. Eu me apoiava nas grades fazendo força para me soltar. Olhei para o Caíque, que tinha ficado bem atrás dos caras que nos rodeavam, e pedi ajuda.
- Por favor Caíque, não deixe eles fazerem isso comigo! – ele desviou o olhar para o chão.
- Tô sentindo que rola um climinha entre os dois, estou certo? O banana aí é teu machinho? – questionou o cara que agora tinha abraçado meu tronco e estava me encoxando descaradamente diante de todos. – Você acha que ele é macho suficiente para encarar essa galera? O banana perdeu seu cuzinho, moleque! Já era! – exclamou, no instante em que tornou a me comprimir contra as grades e me penetrar num golpe certeiro. Meu grito ecoou por toda carceragem. Os presos foram ao delírio.
O sujeito tentou tapar a minha boca, mas eu mordi sua mão. Só ouvi o – filho da puta – antes de ele enfiar todo o restante do cacete no meu rabo. Os presos faziam a maior algazarra, se divertindo com a minha situação. Batiam palmas, cantavam trechos adaptados de um funk nojento – eeeuu parado no celão e ele com o popozão, o popozão no chão, o popozão no chão – como se fossem animais irracionais. Não tive dúvidas de que eram a escória da sociedade, o lixo humano que brota nas favelas do país, e emerge para a criminalidade; uma praga que os governantes não conseguem debelar e que vão se multiplicando nos úteros promíscuos das vagabundas que rastejam nos labirintos infectos das favelas. Eu gritava desesperadamente enquanto o animal me fodia. Para poderem me conter com mais eficiência, eles me amarraram os tornozelos juntos as grades com a minha calça e, os punhos com a camiseta. Quando notei que estava irremediavelmente refém daqueles porcos, tive vontade de morrer. O primeiro gozou no meu cu e deu lugar ao segundo, sua rola ainda pingava porra quando acariciou meu rosto com a mão fedendo a mijo. Dos doze que estavam na cela, sete me foderam, rasgaram meu cu e o encheram de porra, alguns por mais de uma vez, talvez por estarem ali há mais tempo e sem sexo. Sangue e porra que já não cabia mais no meu cuzinho escorriam pelas minhas coxas. O Caíque havia se sentado num canto, colocado a cabeça entre as pernas e tapado os ouvidos com as mãos para não ouvir os meus gritos. A baderna já rolava uns vinte minutos, tumultuando toda a carceragem, quando dois carcereiros entraram pela porta que dava acesso ao corredor das celas.
- Que porra está acontecendo aqui? – berrou um deles da porta. Os presos da primeira cela apontaram para onde eu estava amarrado nas grades.
O carcereiro que havia dado o berro mandou que o outro fosse buscar reforço. Instantes depois, reapareceu com o delgado e mais outro carcereiro. Olhando para a cela em frente, eu percebi que a gritaria generalizada não tinha como objetivo único tripudiar sobre a minha situação. Parecia haver uma desavença entre presos das duas celas. O delegado deu ordem aos presos para se afastarem da porta e mandou que um carcereiro me desamarrasse. No instante em que a porta foi aberta, os mesmos dois sujeitos que tinham me obrigado a sentar no colo do chefão, atacaram o carcereiro e tiraram sua arma. Outros partiram para cima do delegado que em sua lerdeza não conseguiu sacar a arma no coldre preso à cintura. Deram-lhe uma gravata que fez seu rosto gorducho ficar mais vermelho que um pimentão e, quando já começava a ficar cianótico, o sujeito que estava aplicando a gravata tinha repentinamente, uma faca na outra mão. Com um golpe seco ele a enterrou na pança do delegado e a puxou até a outra extremidade da barriga, fazendo com que algumas alças intestinais emergissem do corte profundo. Ele segurava seus intestinos e caiu, segundos depois, estrebuchando numa poça de sangue até o corpanzil ficar inerte e seu olhar arregalado e sem vida conferir um aspecto funesto ao seu semblante. Eu continuava gritando, ciente de que ninguém mais controlava a situação e, que minha vida também estava por um fio. Um estampido ecoou na cela e um dos carcereiros caiu morto próximo aos meus pés. Arrancaram-lhe as chaves da cintura e foram abrir as demais celas, uma pancadaria generalizada começou a deixar vítimas caídas pelo chão. Algumas tinham um olhar esbugalhado e seus corpos inertes eram pisoteados enquanto o quebra-quebra continuava. Outros tentavam segurar o sangue que jorrava de ferimentos, gritando e gemendo como porcos num abatedouro. O fedor de suor e sangue quente empesteou o ar da carceragem, eu precisei vomitar e, via tudo começando a ficar obnubilado diante de mim; segundos depois, só havia um breu e não ouvi mais nenhum som. Dali a algum tempo, recobrei lentamente os sentidos ouvindo mais gritos e ordens sendo dadas aos berros. Quando uma imagem voltou a se formar diante dos meus olhos, havia dezenas de policiais militares distribuindo cacetadas a esmo e cães atacando os presos, vez ou outra, ouvi estampidos secos e mais um corpo caindo aqui, e outro acolá. Alguns presos começaram a se render colocando as mãos na cabeça e encostando-se às paredes, mesmo assim alguns ainda foram alvejados, sob qual critério eu fiquei sem entender. Aos poucos, a rebelião foi controlada, já não havia gritos, nem tiros, nem ordens sendo dadas a plenos pulmões. Eu continuava lá nas grades, amarrado feito um animal prestes a ser abatido, sem forças e com a circulação dos membros comprometida pela pressão com que tinham feito os nós. De repente, um tenente da polícia militar se aproximou e constatou minha situação. Ele me encarou por um tempo de modo estranho. Eu também teria estranhado ver um pinto saindo pelas grades e, mais ainda, ao ver seu dono nu atado feito um Cristo na cruz.
- Felipinho? É você, Felipe, irmão do Thiago e do Rafael? – questionou o tenente, eu não o reconheci.
- Sim. – balbuciei exaurido. – Você me conhece? Graças a Deus! Eu não estava no roubo da joalheria, foi tudo um engano! Eu tentei explicar para o delegado, mas ele me colocou aqui dentro. – desembestei a falar, mal conseguindo respirar entre uma frase e outra.
- Calma! Vou tirar você daí. Não está se lembrando de mim? Sou o Marcos, Marcos Vinicius, que jogava bola com o Rafael no campinho improvisado na praça perto da sua casa. – esclareceu ele. Só então o reconheci.
O Marcos sempre tinha sido meio parrudinho e enfezado enquanto adolescente, mas agora era um homem cheio de músculos que preenchiam seu uniforme de uma maneira sensual e máscula. Eu quase não tive contato com ele, exceto quando meu irmão do meio vinha em casa e me arrastava a força para o campinho quando faltava alguém para completar o time. O Rafael fazia isso quando nem meus pais e nem meu irmão Thiago estavam em casa para me defender. Tenho uma diferença de seis anos com ele e oito com meu irmão Thiago. O Thiago sempre me dava uma força e ficava do meu lado quando acontecia qualquer coisa, já o Rafael tinha um relacionamento conflitante comigo. Mesmo assim, ele me expunha ao ridículo e me obrigava a preencher o time desfalcado só para me criticar. Ele sabia que eu não gostava de jogar futebol, que não tinha habilidade alguma para a coisa, que aos onze anos era incapaz de driblar os garotos de dezesseis, dezessete e até dezoito anos que faziam as peladas na praça, no entanto, acabava comigo quando eu dava um passe errado ou não conseguia agarrar uma bola quando estava de goleiro.
- Segura essa bola viadinho! Parece que tem medo da bola! Desse jeito os caras vão enfiar uns vinte gols nessa trave. – esbravejava, me dando uns safanões na cabeça. – Chuta essa bola com força, seu merdinha! Parece uma menininha, não consegue fazer um lance chegar aos pés de outro jogador! – irritava-se.
- Quem manda você me botar para jogar? Eu já disse que não quero jogar futebol! – protestava eu.
- Cala essa boca e joga! Depois vamos acertar as contas lá em casa se você botar tudo a perder. – ameaçava. E cumpria, se não houvesse ninguém para me acudir.
Provavelmente era disso que o Marcos se lembrava, pois, de resto, nunca troquei mais do que algumas palavras com ele quando aparecia lá em casa à procura do meu irmão. Talvez também ainda lhe restassem vivas na memória as imagens do meu corpo esguio em transformação e, as falas do Rafael se referindo a mim como um boiola, coisa que, à época, o incomodava bastante. Eu mal conseguia ficar em pé, chegando inclusive a perder o equilíbrio e ter que me apoiar nas grades para não cair, quando ele me libertou das amarras. Em meio aquele tumulto não havia como eu me limpar, precisei vestir a camiseta e a calça mesmo estando com as coxas sujas de sangue e porra.
- Por favor, me ajude a sair daqui. Ajude-me a avisar meus pais. Os presos me rasgaram e eu estou sentindo muita dor. Acho que preciso de ajuda médica. – pedi ao Marcos, sem encará-lo de tanta vergonha.
- Claro! Vou avisar o major que está comandando a operação para tirá-lo daqui. Não vou poder te acompanhar, pois ainda temos muito a fazer antes de termos tudo sob controle.
- Obrigado! – respondi. Não sei o que me deu, mas me atirei em seus braços e comecei a chorar descontroladamente. Ele me apertou contra o peito meio desajeitadamente, pois não espera por essa reação.
Quando meu pai e o Thiago apareceram eu voltei a me sentir mais seguro, sabia que o pesadelo estava acabando. Os próprios policiais civis que tinham participado da minha apreensão explicaram ao major que eu e o Caíque tínhamos sido levados à delegacia por um engano e uma confusão dos policiais que estavam perseguindo os assaltantes da joalheria. O major chegou a alertar meu pai que cabia uma apuração de responsabilidades e que um advogado poderia provar em juízo o abuso de poder do delegado e a arbitrariedade de ter me colocado junto àqueles presos, pondo em risco a minha vida. Foi necessário operar o meu cu dilacerado pelos presos, o que significou mais dois dias longe de casa internado num hospital. O que era para ser um final de semana especial acabou se transformando no maior pesadelo da minha vida. A virgindade eu havia perdido sim, mas da forma mais aviltante e abjeta possível. Já em casa, perguntei-me por onde andaria o Caíque. Ele desaparecera durante a confusão na delegacia, não tinha ido me visitar no hospital, não dera sequer um telefonema para saber como eu estava.
Quem apareceu alguns dias depois foi o Marcos. Nós havíamos nos mudado fazia alguns anos da casa quase vizinha à da família dele e, onde ele havia conhecido meu irmão Rafael e jogava as peladas na adolescência. Através de outro amigo comum ele descobriu nosso novo endereço e resolveu ver como eu estava. O Rafael o monopolizou assim que ele chegou, mas eu notei que seu interesse não estava naquela conversa que meu irmão tentava levar e, sim, em mim.
- Você acredita que os caras fizeram um estrago no cu do moleque? Eu ainda não engoli essa história de ele ter ido para a praia com aquele tal de amiguinho dele. Para mim, meu irmão anda queimando a rosca com aquele filho da puta. Você se lembra como meu irmão era todo cheio de não-me-toques, todo delicadinho quando o pessoal entrava de sola num drible com ele? Aqui em casa ninguém toca no assunto, mas para mim ele virou boiola. – afirmou o Rafael.
- Cara! Você continua o mesmo! Você enchia o saco do garoto! Não dava um minuto de sossego para o seu irmão. Cara, seja lá qual for a dele, é seu irmão, porra! – revidou o Marcos.
- Você fala isso por que não tem um irmão viado. Te conhecendo como conheço, se fosse com você já teria enchido ele de porrada. – retrucou meu irmão.
- Eu era meio marrento na adolescência, não nego! Mas, ter me tornado adulto me ensinou que devemos respeitar os outros, independentemente do que pensam, no que acreditam e como conduzem as suas vidas. Você deveria fazer o mesmo! – sugeriu o Marcos.
- Isso está parecendo os sermões dos meus pais! – revidou meu irmão, ironizando, antes de levar o Marcos até mim.
- Oh, da bunda grande! O Marcos veio ver se ainda sobrou alguma prega no teu cu depois da festa que os malacos fizeram com você. – disse meu irmão, antes de deixar o Marcos diante da porta do meu quarto e sair para o compromisso que tinha e, de eu lhe mostrar o dedo médio em riste, como resposta à sua sutileza.
Embora tenha me visto completamente nu naquela delegacia, o Marcos ficou um pouco desconcertado ao me ver só de short quando bateu na porta do meu quarto, com um sorriso amistoso.
- Oi, atrapalho? Pelo visto, você e o Rafael continuam se estranhando. – perguntou, colocando apenas a cabeça pelo vão da porta.
- Oi! Não, claro que não! Entre! Para você ver! Juro que não sei o que foi que eu fiz para o Rafael me tratar desse jeito. Mas, deixe isso para lá, não me incomodo mais. – respondi, retribuindo seu sorriso. – Obrigado por ter vindo e, muito, mas muito obrigado pelo que fez por mim naquele dia. – emendei.
- Não por isso! Lamento não ter podido fazer mais. É que não podia sair de lá e deixar a tropa sem comando. Se não, teria eu mesmo te trazido para casa. – devolveu.
- Eu compreendo! Aquilo foi a coisa mais bizarra que já vi. Primeiro aquele delegado maluco que não nos deixava dar explicações. Depois, quando percebi que os presos só estavam me usando como uma maneira de começar uma rebelião, sabia que ia dar uma confusão daquelas. – esclareci.
- Segundo apuramos, aquele delegado era odiado pelos presos. Aliás, não só por eles, até pelos policias da delegacia e pelos carcereiros, por conta de suas atitudes truculentas. Deu no que deu! – exclamou o Marcos. – Mas, eu não vim aqui para falar de delegado e de presos, eu queria saber como você está? – questionou, desviando ligeiramente o olhar. Meu torso nu e aquele short estavam fazendo com que ele não estivesse entendendo suas próprias sensações. Eu notei como aquilo o perturbava.
- Desculpe eu estar nesses trajes! Vou vestir uma bermuda e uma camiseta e te encontro lá na sala. Talvez você aceite um suco, um refrigerante, uma cerveja já que não está de serviço? – indaguei.
- Não se preocupe com isso! Você está ótimo! – aquilo saiu tão espontaneamente e com tanto entusiasmo que ele logo se apressou em corrigir a afirmação. – Quer dizer, não precisa fazer cerimônia, afinal a gente se conhece faz um tempão. – no fundo ele não queria deixar de admirar aquelas coxas grossas e lisinhas, nem aqueles mamilos deliciosamente protuberantes.
Com o tempo, o Marcos passou a frequentar nossa casa com mais frequência. A princípio com a justificativa de ter reencontrado meu irmão, mas depois havia ficado óbvio que vinha por minha causa.
- Cara, qual a tua? Toda vez que você aparece aqui fica perguntando pelo Felipe, até parece que está interessado nele. Tu é espada ou mudou de time? – questionou meu irmão.
- Qual é, mano! Está me estranhando? É justamente por ser espada que não tem como não reparar no seu irmão. O Felipe tem um puta de um corpo, você não tem como negar! É esse corpo de homem com aquele olho verde, aquela bundinha gostosa e o jeito educado e carinhoso com o qual ele trata todo mundo que faz um contraste do cacete. Nada haver com você um sujeito feio pra caralho! – devolveu o Marcos.
- Tô vendo que você mudou mesmo de time! Tá se derretendo pela bundinha do Felipe. Se gosta da fruta, manda ver! Ele é chegado numa boa piroca! – disse meu irmão.
- Ele falou que é homossexual? – quis saber o Marcos.
- E precisa? Tudo que é coisa de macho o cara não é chegado.
- Você implica com ele desde criança, o Thiago já não trata o Felipe tão mal. – afirmou o Marcos.
- É que o Thiago quer dar uma de bonzinho! Sempre botava o Felipe no colo, bastava o moleque levar um tombo e ralar o joelho, não conseguir fazer alguma coisa que ele logo ia acudir. Resultado, o moleque virou um boiola. – afirmou o Rafael.
- O fato de ele não gostar de futebol, não ficar botando a mão na pica toda hora, não ficar correndo atrás de uma buceta não significa que ele seja viado. – ponderou o Marcos.
- Significa o que, então? Foi o que eu disse, chega nele e confere. Depois você me diz se aquela bunda não é chegada numa piroca.
- Cara, você precisava ver ele naquele dia na delegacia! Ele estava peladinho, aquele tesão de bunda carnuda estava sangrando, tipo como quando se tira o cabaço, as coxonas meladas de porra e ele com aquele olhar triste e doce. Vou te confessar que nunca senti tanto tesão. Ao mesmo tempo, tive vontade de meter uma bala na cabeça de cada um daqueles filhos da puta que ainda estavam vivos, por terem feito aquilo com ele. – afirmou o Marcos.
- Você se amarrou no meu irmão, mano? Do jeito que você fala até parece que está caidinho por ele.
- Essa é a merda! Não sei o que me dá quando estou perto dele. Só sei que preciso me controlar para não ficar de pau duro, para sublimar a vontade de beijar aquela boca sensual, e para não dar um chega mais e botar o cacete naquele cuzinho. – disse o Marcos.
- Caraca! Fodeu, cara! Você já falou isso para ele? – questionou o Rafael.
- Sei que é seu irmão, nem deveria estar te contando uma coisa dessas, mas estou amarrado na dele. Só falta coragem para abrir o jogo.
- Não tem essa de irmão, mano! A gente sempre foi parceiro! Se tu está a fim, chega nele. – o máximo que pode acontecer é ele te mandar a merda.
- Esse é justamente o meu receio! Prefiro ficar nessa de só levar uns papos cabeça com ele do que não poder mais chegar perto dele.
- Vocês que se entendam! Não vou dar nem pitaco! Senão é aí que você não consegue nada com ele. Ah! E tem mais, se eu fosse você levava um lero com o Thiago, pois se ele souber da maneira errada que você está a fim da bundinha do Felipe, pode estar certo que vai dar merda.
- Cara! Você pode achar que pirei, mas estava pensando em falar até com os teus pais. Por isso, preciso saber se o Felipe já abriu para a família que é homossexual. Você podia me dar uma força nessa! – revelou o Marcos.
- Mano, você está apaixonado? Falar com os meus pais? Que papo maluco! – retrucou meu irmão dando uma gargalhada e tirando uma com a cara do Marcos. – Eu sei lá se ele falou alguma coisa? Eu nunca ouvi nada. – retrucou meu irmão.
- Então esse papo de ele ser boiola é pura invenção sua! Se ele nunca abriu o jogo!
- Eu o chamo de viadinho desde moleque, ele nunca reclamou. – afirmou o Rafael.
Quando o Rafael me contou que tinha tido essa conversa com o Marcos, mandei-o à merda. Há tempos eu havia perdido a confiança no Rafael, e tudo que vinha dele tinha alguma intenção escusa por trás. No entanto, algumas semanas depois, não conseguia esquecer essa história. Seria mesmo verdade que o Marcos tinha dito essas coisas? O cara sempre foi grosseirão, tinha sido um aliado do Rafael tirando uma com a minha cara quando adolescente, eu não tinha a menor dúvida que ele me achava um viadinho. Talvez os dois tivessem se aliado novamente para zoar comigo, pensei. Mas as constantes visitas à nossa casa, mesmo quando o Rafael não estava, foram me mostrando que eu podia estar enganado.
Um pouco hesitante e com o pé atrás, aceitei o primeiro convite dele para sairmos. Fomos a um shopping e pegamos uma sessão de cinema. Ele roçava a coxa dele na minha e não parava quieto na poltrona, olhei algumas vezes na direção dele para ver o que estava acontecendo, até que numa das vezes em que me virei para ele, vi sua ereção enorme sem que ele tentasse disfarçá-la. Pensei em sair no meio da sessão, mas a maneira como ele me olhou não tinha nada de acintosa ou debochada, muito pelo contrário, ela parecia querer a minha anuência e a minha compreensão. Dei um leve sorriso para ele e deixei que encaixasse os dedos dele nos meus. Terminamos de assistir ao filme de mãos dadas. No caminho para casa ele tocou no assunto pela primeira vez, disse-se atraído e gostando de mim, queria saber o que eu achava disso.
- Fui pego de surpresa! Não esperava isso de você. – respondi.
- Você ficou ofendido, é isso? Juro que não foi essa a minha intenção. Vamos esquecer o assunto, está bem? Não quero perder sua amizade. – disse ele, tão atrapalhadamente que mal sabia como contornar a situação.
- Não é isso! Estou lisonjeado! É que você era tão diferente quando adolescente. Fiquei confuso. – revelei.
- Eu sei! Nunca fui muito legal com você. Mas, desde aquele dia na delegacia eu não consigo parar de pensar em você. – confessou.
- Ficou com pena de mim, é isso? Aquilo foi horrível, jamais vou me esquecer de cada um daqueles segundos em que fui violentado, mas não quero que sintam pena de mim. Passou e vou levar a vida adiante. – afirmei.
- Não, não foi pena que eu senti. Foi tesão! – revelou. – Sei que posso parecer um crápula afirmando isso, tendo você passado pelo que passou, mas foi exatamente isso que eu senti. Tesão, muito tesão! – declarou. Eu lhe devolvi um sorriso envergonhado, ele gostou de me ver sorrindo daquele jeito.
A partir daí, havia dias em que ele vinha me esperar na saída da faculdade para me acompanhar até em casa, também aparecia logo pela manhã aos sábados quando estava de folga e acabava ficando o final de semana inteiro, por que àquela altura já tinha conquistado as graças da minha mãe e se tornado um companheiro de papo do meu pai, fora a amizade retomada com os meus irmãos. Enfim, ele já fazia parte da família. Comigo as coisas não andaram tão ligeiras quanto ele desejava. Embora eu adorasse a companhia dele, ficasse mexido quando trocávamos carícias e até uns beijinhos meio sem tempero, ainda me sentia inseguro quanto a começar a ter relações sexuais com ele. Aquela vontade de perder a virgindade com o Caíque deu lugar a um receio sem explicação de sentir novamente uma rola me rasgando depois que aqueles presos me dilaceraram o cu. Também havia ficado marcado pelo descaso do Caíque, que havia me feito crer que ele era o homem com que sempre sonhei e que, no primeiro revés, tinha me abandonado à própria sorte. Fiquei com a impressão que os caras queriam se satisfazer no meu cu, mas não estavam dispostos a me assumir por inteiro.
Aliás, eu tinha ido procurar o Caíque uns dois meses depois do ocorrido, uma vez que ele nunca mais tinha dado as caras. Não queria voltar com ele, cobrar alguma coisa, ou pedir uma justificativa de sua atitude. Eu queria apenas entender o porquê de ele ter agido daquela maneira e, de nunca mais ter me procurado depois daquilo. Ele foi frio e distante ao me receber, como se fossemos completos estranhos. Perguntei como ele estava, relatei o quanto aquilo havia me marcado, mas não cobrei nada. Foi ele quem disse que não dava para retomarmos nossa relação.
- Eu não vim aqui cobrar isso de você. Queria apenas que o que houve entre nós não ficasse pairando no ar sem uma solução. – respondi.
- A solução se deu naquele episódio na cela. Lamento por você, mas não consigo mais me ver tendo alguma coisa com você depois daquilo. Sei que não foi culpa sua, no entanto, seu cu foi usado por um bando de machos. – afirmou.
- O que você está dizendo? Eu fui violentado, Caíque! Nada daquilo foi desejado. Do jeito que você fala até parece que eu gostei do que aconteceu. – devolvi.
- Não me interprete mal, eu não disse que você tenha gostado. O fato é que aqueles caras fizeram a festa no seu rabo. Vai saber que doenças você não pegou, afinal ali tinha de tudo, drogados, pervertidos de toda espécie, provavelmente aidéticos e sifilíticos. Não tenho tesão de meter meu pau num cu que já viu de tudo. – afirmou.
- Estou chocado, para dizer o mínimo! Eu me fodi inteiro, você assistiu a tudo sem mover uma palha, e agora me diz que não sirvo mais porque sou um cara usado. Como eu te disse, não vim cobrar nada, mas diante da sua insensibilidade, preciso de te dizer que você foi um frouxo! Um corno manso que deixou seu namorado ser estuprado e se escondeu feito um rato de esgoto. E pensar que eu estava louco para te sentir dentro de mim, achando que você era macho. Você não passa de um covarde, de um borra-botas, de um corno! – retruquei exaltado.
- O que você queria que eu fizesse, desse uma de herói no meio de uma dúzia de criminosos para salvar sua honra? Eles iam me trucidar! – respondeu.
- Você? Herói? Não me faça rir! Eu jamais queria que você saísse no braço com aqueles caras, é lógico. Contudo, nem chamar os carcereiros pedindo ajuda você foi capaz de fazer. Quando procurei seu olhar em busca de compreensão e apoio, você se esquivou, enfiou a cabeça entre as pernas. Você faz ideia da dor que eu estava sentindo com aquelas picas me machucando? Você faz ideia da dor moral que eu estava sentindo ao ter minha dignidade aviltada daquela maneira? Não! Você não sabe! Não sabe por que é incapaz de ser solidário, não sabe por que não passa de um merda de um corno covarde! – exclamei, com a voz embargada por estar me sentindo sujo, indigno de qualquer homem, não merecedor de alguém idôneo. O Caíque mais uma vez baixou a cabeça e não disse nada. Fiquei com raiva de mim mesmo por ter me envolvido com um cara assim.
- O que foi? Que cara é essa? Está triste? – perguntou o Marcos, naquele mesmo dia quando foi me buscar na faculdade.
- Nada não!
- Por que não me conta? Não confia em mim? Não gosto de te ver triste. – questionou.
- Não é isso! Não vale à pena falarmos disso.
- Tudo que vem de você vale à pena ser dito. Eu gosto de você, quero seu bem.
- Eu sei! Também gosto de você.
- Então me conte.
- Foi o Caíque. Tive uma conversa com ele hoje, e não foi boa.
- Aquele seu ex-namorado, que te largou e fugiu com o rabo entre as pernas! O que ele queria com você? – perguntou indignado.
- Eu o procurei. Queria entender por que ele tinha feito aquilo comigo. – respondi.
- Ora, porque é um filho da puta de um covarde! Não acredito que você tenha corrido atrás dele! – o Marcos ficou zangado.
- Não corri atrás dele, só quis entender a atitude dele. Você tem razão, ele é um covarde, agora consigo ver isso claramente. Um covarde e um preconceituoso! – afirmei.
- Por quê? O que foi que ele te disse?
- Que eu não servia mais para transar com ele por que uma porção de homens tinha entrado no meu cuzinho e, talvez que deixado com alguma doença. Eu tomei uma porção de medicamentos e fiz todos os testes que os médicos mandaram depois da cirurgia para restaurar meu ânus. Todos os testes deram negativo. Agradeço todos os dias por não ter sido contaminado. – desabafei.
- Miserável! Filho da puta! Aqueles caras deviam ter dado uma surra nesse cretino! Eu mesmo vou me encarregar disso se o vir pela frente! – esbravejou o Marcos.
- Deixe isso para lá! O Caíque é passado! Hoje só tenho a agradecer de não ter me entregado a ele, ele não é homem!
- Então não fique assim! Olha para mim e me dá um sorriso! Um pequenininho assim, já tá bom! – exclamou, mostrando um pequeno espaço entre o polegar e o indicador. Eu sorri, ele me dava segurança. Pouco depois, nossas bocas haviam se juntado num beijo lascivo e carinhoso, o sabor do Marcos me excitava.
Embora eu sentisse um tesão danado pelo Marcos, não conseguia deixar que ele avançasse além daquela amizade. Quando me lembrava dele na adolescência, ficava cheio de receios e dúvidas. Ele sempre fora homofóbico, me via como um viadinho fraco que obedecia ao irmão carrasco mesmo que isso significasse expor minha condição e, ficar sujeito às humilhações da molecada. Outra coisa que me enchia de preocupações era o fato de ele ser militar. Nessa condição estava sujeito a qualquer momento se tornar vítima de bandidos, a levar um tiro, a perder a vida combatendo inutilmente uma criminalidade que só aumentava pela negligência dos governantes. Eu não queria me apaixonar por ele e, depois, me ver na condição de viúvo do meu amor, como tantas outras pessoas se encontravam país afora. Eu notava o quanto ele tentava se aproximar mais de mim, mas encontrava essa barreira e, não sabia bem a que atribuí-la.
- Você está dando trela para o Marcos? – perguntou-me certo dia o Thiago.
- Como assim? Eu não estou fazendo nada! – respondi apressado. Eu não queria que ele desse uma incerta no Marcos, conhecendo-o como o conhecia, sempre tentando me proteger de tudo.
- Hum! Essa resposta tão na ponta da língua não me engana. Diga lá o que está rolando entre vocês dois. Você não estava ficando com o Caíque? – insistiu.
- O Caíque já era! Depois daquele incidente, não posso nem ouvir o nome dele. – revidei.
- Tá, e o Marcos? Que explicação você tem para ele estar toda hora por aqui? E esses papinhos entre vocês dois, que tanto assunto tem pra conversar? Vocês mal se conheciam quando morávamos na outra casa. - o Thiago era do tipo que ao encasquetar com alguma coisa, não dava sossego para a gente.
- Sei lá! Ele vem conversar com o Rafael, você sabe que eles são amigos. E eu não estou de papinho com ele. – tentei explicar.
- Sei! Me engana que eu gosto! Ele está vindo aqui por sua causa. Já conversei com o Rafael e até ele está estranhando a presença constante do Marcos. – afirmou.
- Ah, Thiago! Sei lá! Pergunte a ele! – respondi.
- Eu ainda não engoli aquela história de você e o Caíque terem descido para a casa de praia sozinhos, na surdina. Por que você não disse para onde estava indo?
- Eu já disse que o Caíque é passado! Que saco! O que você quer que eu diga?
- A verdade! Ele estava te levando para lá para te enrabar, não foi?
- Que saco, Thiago! Você é pior que o pai e a mãe juntos!
- Eu me preocupo com você. Não quero saber de alguém se aproveitando de você, moleque.
- Não sou moleque! Tenho mais de dezoito anos e não gosto quando você fica me vigiando feito um leão. – protestei. Embora a proteção dele sempre tenha sido útil para mim, eu agora me via acuado por sua vigilância.
- Você sempre confiou em mim. O que está acontecendo agora? – perguntou. Ele era o único para quem eu tinha confessado ser homossexual.
- Eu confio! Mas não está acontecendo nada e você fica me pressionando.
- É para o seu bem! Será que você não enxerga isso?
- Tá! Eu acho, veja bem o que estou dizendo, eu acho que o Marcos está interessado em mim. Mas não rolou nada! Vou logo avisando para você não se meter. – afirmei.
- Bem, isso está na cara. Não precisava que você me dissesse isso. O cara só falta babar diante de você. – retrucou ele.
- Então por que você perguntou?
- Por que já surpreendi o Marcos com a rola dura quando falava com você. Vocês já transaram?
- Não! Eu não disse que não rolou nada!
- Por que não? Da parte dele você já estaria com o cuzinho arregaçado. – afirmou ele.
- Isso é jeito da falar? Dá um tempo! Não quero mais falar sobre isso!
- Você gosta dele? – insistiu, não se dando por vencido.
- Não sei!
- Como não sabe, se fica todo derretido quando ele está por aqui?
- Tenho receio de um namoro entre nós acabar por ele sofrer algum mal como policial militar. Tenho dúvidas se ele realmente gosta de mim. Lembra como ele era quando vocês jogavam bola naquele campinho da praça perto da outra casa? Ele ficava tirando o sarro da minha cara. – sentenciei.
- Isso foi há muito tempo! Ele não é mais um adolescente cheio de preconceitos. Hoje ele baba pela sua bundinha, essa é a verdade! Quanto a ele ser militar, não há o que fazer, se você gosta dele precisa aceitar o trabalho dele. – ponderou o Thiago.
- E se machucarem ele? E se ele morrer como anda acontecendo com tantos outros, o que vai ser de mim? – questionei.
- Isso você precisa resolver consigo mesmo e, talvez, conversando abertamente com ele.
- Não quero dar esperanças para ele e, depois, chegar à conclusão que não vou conseguir lidar com essa situação.
- Só não se esqueça de que você pode estar perdendo a melhor parte da sua vida, um grande amor, se não tentar. – aconselhou.
Alguns dias depois o Marcos veio conversar comigo exatamente sobre esse ponto. Não havia dúvida de que o Thiago tinha dado um toque nele. O pior foi que ele conseguiu me levar no bico. Aquela fala mansa, com a voz grave parecendo o cara mais sereno e ajuizado desse mundo, me dando uma porção de argumentos favoráveis e me enchendo de lisonjas, acabou por me fazer ceder. Naquele mesmo final de semana, quando todos tinham ido para a praia e, eu tinha ficado por conta de um trabalho da faculdade o Marcos apareceu repentinamente sem nenhum aviso.
- Ué! Você não estava de serviço esse final de semana? – questionei.
- Houve uma alteração na escala! – respondeu lacônico, provavelmente omitindo que essa alteração se devia a uma interferência dele. – Não gostou de me ver?
- Não é isso! Você sabe que eu gosto quando você aparece, mas é que estou sozinho em casa.
- É por uma oportunidade dessas que eu esperava há tempos! – exclamou, vindo me abraçar.
- Você armou isso, não foi?
- E se fosse? Quero ficar a sós com você! Quero essa bundinha! – sussurrou, junto a minha nuca, fazendo com que uma sensação arrepiante, como se uma pedra de gelo fosse guiada ao longo da minha espinha até o inicio do meu reguinho, chegasse até meu cuzinho fazendo-o contorcer-se de tesão.
Era impossível resistir à tentação daquela voz grave sussurrando cheia de desejo no meu ouvido e aquele corpão irradiando energia e tesão tão próximo de mim. Eu estava gostando do Marcos, mas, ao mesmo tempo, tinha tantas incertezas e um receio de entrar numa fria que ficava completamente bloqueado. Quando a encoxada certeira e a ereção dele se fizeram sentir na minha bunda, dei um passo à frente escapulindo de seus braços. Meu corpo tremia, meu cuzinho se contorcia e eu me perguntava de onde vinha todo aquele medo de me entregar. Ele tinha vindo determinado a me enrabar, e não desistiu apenas por eu ter dado uma escapulida, voltando a se aproximar de mim e a me puxar para junto dele. Desta vez, ele o fez com mais vigor, não seria um passo ou um simples movimento que me libertaria de seus braços, seu olhar confirmava isso. Diante da minha incerteza ele começou a me bolinar, sem me dar chance de optar por outro caminho que não fosse o da entrega total aos seus desejos. Entre longos e saborosos beijos, logo me vi completamente despido, as nádegas sendo exploradas por suas mãos potentes, os lábios sendo chupados ou mordidos com avidez, a boca sendo devassada por sua língua habilidosa. Minhas mãos tateavam seu peito largo e os dedos vagavam por entre os pelos sensuais, mais por uma reação instintiva do que por um desejo voluntário. Independente da minha intenção, aquilo o excitava ainda mais. Encarando-me libidinosamente, ele levou uma das minhas mãos até a enorme ereção que havia se formado dentro de seu jeans.
- Liberte-o! – exclamou num misto de pedido e ordem.
Obedeci, abrindo sua braguilha e tirando a caceta gigantesca que pulsava entre meus dedos feito um animal encurralado. Ele abriu um sorriso. Eu não me atrevi a encarar a carne quente que continuava a se distender na minha mão. Abraçando-me por trás, ele a esfregou nas minhas coxas, arfando, excitado, cobiçoso. Isso me fez travar de vez. Por uma fração de segundos, vi-me amarrado às grades daquela cela e aquele bando de machos exalando a mesma voluptuosidade que estava sentindo agora. Toda a situação era diferente, mas minha mente parecia não conseguir processar essa diferença. Eu estava apavorado. Os braços do Marcos estavam ao meu redor, meu mamilo esquerdo na sua mão esquerda, meu ventre era acariciado pela direita, minha bunda encaixada na sua virilha, aquela rola impaciente aninhada no meu rego apertado e, sua boca beijando a minha. De repente, senti que ele tentava enfiar a pica no meu cuzinho, com a ajuda da mão direita que guiou a cabeçorra diretamente para o meu orifício anal. Uma contração abrupta e forte estirou toda a musculatura da minha pelve, causando uma dor lancinante, como a de uma forte cólica, travando os esfíncteres anais. O Marcos tentou insistentemente meter a rola em mim, mas o buraquinho havia desaparecido completamente, deixando apenas um ponto diminuto e rosado cercado por preguinhas contraídas e trêmulas. Ele logo percebeu que seria impossível entrar ali sem usar de muita força, o que o levaria a me arregaçar e dilacerar o que estivesse no seu caminho.
- Abre! – sussurrou, enquanto o pinto babão molhava meu rego de pré-gozo.
- Não consigo! – respondi, com a voz tão trêmula quando o restante do meu corpo.
- Não quero te machucar! Você precisa se abrir para mim, ou vai sentir muita dor. Eu quero você todinho para mim. – afirmou.
- Eu sei, Marcos! Mas não consigo, é mais forte do que eu. – devolvi choroso.
Ele afastou um pouco a pica e quis meter um dedo no meu cu, nem isso funcionou. Decidido a não abrir mão da foda, ele ficou roçando a ponta do dedo na entrada do meu cuzinho. Em seguida, passou a enfiar o dedo no meu orifício, fazendo-o rodopiar ao redor dos esfíncteres procurando laceá-los. Ao meter um segundo dedo com muita dificuldade, ouviu meus ganidos temerosos, mas continuou forçando até se dar por convencido de que só conseguiria abrir aquele buraquinho na marra, usando da brutalidade. Aquilo era torturantemente maravilhoso, me fazia arfar e gemer de tesão, mas não abria meu cu. Ele acabou mudando de tática. Pincelou a rola no meu rosto para que eu sentisse seu cheiro e, quem sabe, afrouxasse o cu. O cheiro másculo do Marcos era delicioso e, quando ele me mandou abocanhar a caceta eu obedeci. O pré-gozo fluía abundante diretamente na minha boca e eu comecei a chupar e sorver aquele líquido levemente salgado e gelatinoso. O Marcos gemeu quando meus lábios se fecharam ao redor da cabeçorra sensível. Subitamente, lembrei-me que era a primeira vez que chupava uma verga. Tudo nela era delicioso, a textura, a temperatura, as pulsações que dava quando chegava um fluxo de sangue, o sabor daquele sumo e o cheiro viril. Eu segurava aquela jeba pesada enquanto a lambia e chupava, movendo-a conforme ia avançando em direção aos testículos visíveis sob a pele flácida do imenso escroto. O Marcos gania e agarrava a minha cabeça com força, forçando-a contra a virilha e metendo a pica na minha goela. Ele achou que eu estava distraído com o boquete e que meu cu talvez já estivesse relaxado. Por isso, voltou a me explorar com seu dedo pérfido. Desta vez ele conseguiu enfiá-lo no buraquinho, mas logo sentiu como a musculatura anal o aprisionou dentro de mim. Eu gemi e, nesse exato momento, o Marcos gozou na minha boca, pois a minha língua roçando deliberadamente sua glande era demais para ele suportar. Sem saber bem o que fazer com todo aquele creme que estava na minha boca, engoli-o, jato após jato, saboreando-os antes de degluti-los. O Marcos urrava e procurava enfiar mais um dedo no meu cu. Eu gania enquanto ele me abria à força, expondo, a muito custo, a mucosa úmida e rosada do meu buraquinho, sem conseguir enfiar mais do que alguns míseros centímetros dos dedos em mim. Intrigado e ao mesmo tempo frustrado com o que estava acontecendo, ele resolveu não me torturar mais. Não estava totalmente satisfeito com aquele gozo, mas ao menos tinha aliviado um pouco daquele tesão que o atormentava. Não tive coragem de encará-lo quando guardou a rola novamente no jeans, me sentia culpado e responsável por não tê-lo satisfeito como merecia.
- Perdão! Não fique zangado comigo, por favor, Marcos! Talvez daqui a pouco eu consiga. Juro que fiz força para tudo dar certo, mas não sei por que não consegui. – desculpei-me desapontado.
- Não pense mais nisso! Acho que fui afobado demais, pensei que você também me quisesse tanto quanto eu te quero. – respondeu.
- Eu quero você! Não é isso! Eu só não sei o que deu em mim. Perdão! – supliquei, abraçando-o e colando minha boca à dele.
- Acho que já vou indo, a gente se fala. – disse, depois do beijo que não retribuiu.
- Não, Marcos, por favor, fique. Eu te amo! – pedi. Ele cedeu e ficou, mas evitou minhas carícias toda vez que uma ereção começava a se formar.
- É uma tortura o que você está fazendo comigo, sabia? Sou louco por você, por essa bundinha. Quero você, quero entrar em você! – afirmou.
- Promete que vai ter paciência comigo? Eu também te quero, e quero muito. Não sei explicar o que aconteceu.
O pior que nas tentativas seguintes as coisas rolaram mais ou menos no mesmo estilo. Ele me dedando, forçando a entrada, e eu ganindo sem conseguir abrir meu cu para recebê-lo por inteiro. A cada tentativa frustrada ele se mostrava mais desesperançado, e se convencia de que eu não o deixaria entrar em mim. Quando ele partia desiludido e contrariado comigo eu me punha a chorar, sabendo que nesse caminho não demoraria a perdê-lo de vez. Sem saber o que fazer, recorri ao Thiago, o único que julguei capaz de entender meu sofrimento e poder me ajudar, mas ele não ficou nada contente de saber que eu estava querendo dar o cu para o Marcos. Além de zangar-se comigo, argumentou que era cedo demais para eu me entrar a um homem que, ele não tinha certeza de ser a melhor opção para mim.
- Por que você diz isso, eu amo o Marcos! – afirmei.
- Você está empolgado por ele ser atencioso, até carinhoso com você, mas isso não significa que exista amor no que ele está fazendo. – argumentou.
- Eu sei que existe! Ele me ama, eu sinto isso!
- Ademais, a profissão dele não dá futuro a ninguém, como você mesmo já reconheceu. Imagine você se envolvendo com ele e, de repente, acontece alguma coisa do tipo ele levar um tiro e morrer, ficar paralítico, ou sabe-se lá o que pode acontecer com um policial em serviço. Você está cansado de ver isso nos noticiários. Quer fazer parte dessas estatísticas, dos que ficam lamentando a perda de seus entes queridos? – questionou o Thiago.
- Eu já pensei nisso. Mas, o que sinto por ele é maior do que tudo isso. Vou deixar de viver esse amor, pensando no que pode eventualmente acontecer? Há um tempo atrás você me instigou a dar uma chance para ele, não estou entendendo essa sua mudança de atitude. – retruquei.
- Bem! Agora o cara está prestes a te foder e você está todo empolgando com isso. Agora penso ser precipitado da sua parte. Você pediu minha opinião, é essa!
- Vai entender essa sua cabeça! Uma hora sugere uma coisa, depois sugere outra. Então, você não vai me ajudar ou não?
- Não vejo no que posso te ajudar, a não ser te dando um conselho de irmão que te ama. – devolveu.
- Só que isso não resolve o meu problema! – exclamei.
- Quando for o momento certo pode ter certeza que seu cuzinho vai se abrir para quem realmente o merece! – afirmou.
O Marcos tinha se afastado um pouco. Vinha com menos regularidade e, geralmente era eu quem ligava para ele para nos encontrarmos. Quando não estava de serviço, tinha algum compromisso familiar ou outro assunto para resolver. Era a minha insistência e os meus carinhos quando ele vinha que não o deixavam desistir.
- Estive pensando numa coisa, não sei se você vai topar. – comecei, cobrindo-o de beijos e acariciando sua ereção.
- Que conversa é essa? Ainda mais acompanhada de todo esse chamego?
- Pensei em procurar um médico para nos ajudar a entender o que está acontecendo, e queria que você fosse comigo. – sentenciei.
- Um médico? Não vejo onde ele possa te ajudar a abrir seu cuzinho para mim. – devolveu ele.
- Sei lá! Podíamos tentar, o que há a perder? – argumentei.
- Não sei, não! Não vejo nada de errado, anatomicamente falando, com o seu cuzinho. Está tudo lá, gostosinho, apertado, rosadinho, enfim, uma tentação sem limites. Só que você não o libera! – retorquiu.
- Eu não faço isso intencionalmente! Você precisa acreditar em mim. O que mais desejo é ter você dentro de mim, juro!
- Então vamos para a cama, e deixa eu meter nesse rabinho, é simples assim. – disse, prático e resoluto.
- Não consigo! Na hora não consigo, Marcos.
- É por que você não quer!
Depois de algumas lágrimas ele cedeu aos meus argumentos e aceitou me acompanhar numa consulta com o médico que havia operado meu cuzinho logo após a violência que sofri na cela daquela delegacia.
- Clínica e anatomicamente não existe nada de errado com você. É certo que houve uma retração cicatricial que deixou seu orifício anal bem menor e menos elástico, mas isso não seria um problema, a princípio, para você ter relações sexuais. Talvez as primeiras sejam bastante dolorosas, pois dependendo do pênis haverá dilacerações. Mas, com o tempo sua musculatura anal vai se adaptar e o intercurso será menos sofrido. O fator psicológico é que está interferindo nessa sua decisão. Você tem receio de sofrer como sofreu quando foi abusado, e desenvolveu algo semelhante ao que nas mulheres se chama vaginismo, ou seja, uma contração involuntária e muito potente dos músculos que oblitera a entrada de qualquer elemento no seu introito anal. No seu caso, está ligado a um fator psicossomático, devido a sua experiência negativa anterior. É um ciclo, medo da dor, ansiedade, contração e dor real quando algo é enfiado em você. – proclamou o médico.
- E, como podemos tratar esse problema? – questionou o Marcos, visivelmente perturbado por ter me culpado de não querer dar para ele e, percebendo agora que eu ainda não tinha superado o abuso sofrido na cela da delegacia. Eu apertei a mão dele entre as minhas e mal consegui segurar uma lágrima que descia pelo meu rosto.
- O primeiro passo vocês já deram, ao vir aqui. Conversar abertamente entre vocês dois é a melhor forma de você voltar a adquirir autoestima e segurança. Também é importante você entender que precisará deixar de lado o pseudo conforto e segurança da dor já conhecida e enfrentar uma parte oculta e desconhecida. – afirmou o médico.
- O que o senhor quer dizer com isso é que preciso aguentar a dor e me deixar rasgar até me acostumar com um homem dentro de mim. – ponderei.
- Dito de forma sucinta e um tanto direta, é mais ou menos isso. Vai ser no afeto e no carinho do seu parceiro que você vai superar essa dificuldade, e a dor passará a ser algo secundário durante a relação. – quando ele disse isso eu pensei, não é o seu cu que vai sofrer na rola de um macho, pois disso eu entendia muito bem.
- Mais confiante agora? – questionou o Marcos, quando deixamos o consultório.
- Confiante ou conformado? – retruquei.
- Como assim?
- Eu vou ter que me conformar pelo que o médico disse. Aguentar e sublimar a dor e o medo será a única terapia a ser aplicada. – devolvi.
- Você está disposto a fazer isso por nós? – perguntou o Marcos.
- Prometo que vou, se você tiver paciência comigo.
- Eu só quero você! Prometo ser cuidadoso e não te machucar. – garantiu o Marcos, com um sorriso que era só esperança.
- Com essa estrovenga gigantesca e intrépida isso é difícil de acreditar! – exclamei, beijando sua bochecha para que não se distraísse ao volante. Ele abriu um sorriso safado.
- Amo você, sabia?
- Também amo você! E vou te provar o quanto, juro!
O Marcos não desgrudou de mim o dia todo, a ponto da minha mãe me questionar sobre a presença dele em plena sexta-feira. A família toda já desconfiava há tempos dessas visitas que pareciam não ter hora para terminar, exceto pelo Thiago e pelo Rafael que sabiam exatamente o que elas significavam. Meus pais nutriam uma estima profunda por ele, e eu me perguntava se isso continuaria assim depois de descobrirem o que rolava entre nós. Dando-se conta de que dificilmente conseguiria ficar a sós comigo, o Marcos propôs que fossemos passar o final de semana na praia. Apesar dos protestos da minha mãe, que nos questionou sobre essa ida repentina ao litoral quando o clima prometia um fim de semana nublado e chuvoso, partimos pouco depois do jantar para a casa de praia. Mal havíamos descarregado o carro quando o Marcos me envolveu pela cintura e me deu uns chupões no pescoço. Havia pelo menos uma meia hora que o pauzão dele estava duro, obrigando-o a ajeitá-lo constantemente na calça.
- Sabe que eu fiquei louco de tesão esta tarde quando o médico fez desaparecer aquele espéculo no meio dessa bundona carnuda! – exclamou, enfiando as mãos por baixo da minha camiseta e acariciando meus mamilos.
- Nem me fale! Aquele troço imenso doeu muito.
- Era tão pequeno que praticamente sumiu entre as nádegas, você é exagerado demais!
- Não era no seu cu que ele estava enfiando aquilo, seu insensível!
- De qualquer forma, foi uma delícia vê-lo enfiando em você. Aposto que debaixo daquele jaleco até ele ficou de pau duro vendo você se contorcer e dar aquele gemidinho sensual. O tesão estava na sua vulnerabilidade, ali deitado todo aberto, se submetendo ao exame. E também, quando você apertou minha mão no instante que o espéculo entrou no seu cuzinho. Fiquei maluco com a sua reação, pois percebi que no seu subconsciente você já me considera seu macho, se sente seguro e aparado por mim. – aludiu satisfeito.
- Tudo isso você concluiu por conta daquele exame constrangedor? – questionei.
- Ele confirmou o que eu já suspeitava, só isso! Agora só falta você seguir as orientações do médico e liberar esse rabinho para mim. – sussurrou, cheio de safadeza.
- Você gostou dessa parte, não foi, seu tarado?
- Óbvio que sim! E você vai gostar também. – profetizou, deslizando a mão para dentro da minha bermuda e agarrando minha nádega.
Seus beijos intensos e consecutivos me distraíram o suficiente para ele me por nu junto à cama. Eu percebi que ele não queria me dar tempo de pensar no que estava para acontecer, abrindo chance para eu me contrair como das vezes anteriores e ele não conseguir consumar o coito. Entre suas carícias e beijos, só notei que estava para ser enrabado quando a cabeçorra úmida dele já forçava meu buraquinho. O mesmo desespero de sempre se apoderou do meu corpo que tremia todo e experimentava ondas consecutivas de espasmos. Antes de eles atingirem minha pelve, como das outras vezes, travando meus esfíncteres anais, ele meteu o caralhão no meu cu. O espasmo que o travou com aquele pauzão dentro veio intenso junto com meu grito agoniado. O Marcos quase enlouqueceu de tesão ao sentir minha carne apertando seu falo. Eu mal conseguia me mexer debaixo do corpo pesado dele que, propositalmente, cerceava meus movimentos impedindo-me de escapar de sua pega. Antes que meu agite pudesse expulsar sua rola do meu cu ele a socou para dentro, me fazendo gritar e ganir, enquanto me rasgava a carne úmida e quente, num prazer pelo qual ele ansiava há tempos.
- Ai meu cu, Marcos! Eu imploro, tira isso de mim, está doendo muito. – gani desesperado.
- Lembra-se do que o médico te disse? As palavras dele foram - deixar de lado o pseudo conforto e segurança da dor já conhecida e enfrentar uma parte oculta e desconhecida – é isso que você precisa fazer agora, amor. – sussurrou, soltando o ar entre os dentes cerrados de tanto tesão.
- Mas então vai devagar, por favor!
- E quem é que está com pressa de sair desse cuzinho? Eu queria que o tempo parasse agora, só para poder ficar eternamente alojado aqui dentro, comendo esse cuzinho gostoso e apertado.
Ele foi metendo a jeba em mim em estocadas firmes, fazendo a pica se atolar nas minhas entranhas, antes de iniciar as bombadas. Eu gozei entre gemidos assim que senti o sacão dele batendo contra meu rego devassado. Ele levou mais tempo para gozar, protelando o gozo assim que o percebia na iminência de explodir. Depois, retomava a empreitada, sussurrando sacanagens nos meus ouvidos e me elogiando por ser tão gostoso e deliciosamente apertado. Ele acabou gozando entre um urro gutural de prazer, ejaculando feito um touro dentro da minha mucosa esfolada e acolhedora. O coito foi bastante dolorido, apesar do carinho extremado do Marcos. Eu me conformei com a minha sina. Sabia que teria que ser assim, que eu precisava aprender a conviver com meus espasmos dolorosos para ter a pica do meu macho em mim. Essa sujeição foi mais um fator que encantou o Marcos, pois ele sabia que eu me entregava a ele apesar da dor. Estranhamente, fui descobrindo o prazer aos poucos, em meio às pregas rasgadas e ensanguentadas. Era ao final do coito, quando ele me abrigava em seu peito com o cu todo arregaçado e inundado com sua porra espessa e pegajosa, meu corpo ainda trêmulo, que eu me conscientizava do amor que sentíamos um pelo outro. Talvez eu nunca deixasse de sentir dor, mas ela era sublimada em prol do prazer de estar com meu macho. E, isso não tinha preço. Muito antes do que eu havia imaginado, o Marcos e eu estávamos vivendo juntos. Nem o estranhamento dos meus pais, nem o caminho de superação que ambos precisaram fazer foi empecilho para vivermos nosso amor. Ele superando um preconceito antigo quanto a ter qualquer envolvimento com um homossexual. E eu, superando meus receios e minhas contrações pélvicas involuntárias. Dessa improbabilidade floresceu o mais puro e verdadeiro amor, que só fazia nos unir cada vez mais à medida que o tempo passou.