Olá amigos! Tudo bem com todos?
Obrigado pelas leituras, e pelos comentários!!! <3<3
Como já disse podem sempre dizer o que estão achando, isso ajuda bastante.
Uma ótima leitura a todos e até segunda-feira!!
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A presença do professor na sala impedia qualquer diálogo entre mim e Robson. Mesmo através de papelzinho, simplesmente porque a disciplina era mais interessante. Ali o cara estava falando de maneira hipotética na realização de uma loja. Meu sonho, ou uma parte dele. Prestei atenção a toda à palestra do professor, e quando o intervalo teve inicio ai sim. Viramos nossas cadeiras e colocamos o papo em dia, mais bobagens mesmo. Existem dessas necessidades não é? Sentar-se com alguém e falar de nada importante.
Não deixei de notar enquanto estava na sala, a ausência de Heitor. E só o fui flagrar com um grupo no fundo da sala, quando Atila entrou se juntando a eles. Meus olhos magnetizaram-se nele, nos entreolhamos por segundos e logo voltei a fitar o rosto de Robsonmeu irmão não aceita muito bem. – Dizia Robson. – Você ficou meio tenso de repente.
Neguei com a cabeça, e sorri, desconversando:
- Impressão sua, é o sono, trabalhar naquele canteiro cansa, você deve saber – ele sorriu assentindo.
- Sim, tem dia que Fabinho chega acabado em casa – sorriu – mas você ficou assim depois desse cara entrar.
Eu neguei com mais ênfase, até me ergui de onde estava fingindo precisar ir ao banheiro. No fim era mais que verdade, a presença de Atila ali me incomodava. Não só o fato de ele está no mesmo lugar, mais por não ter vindo me provocar como sempre fazia. Eu, eu... Entrei no banheiro, lavei meu rosto. Não podia estar ficando afim desse cara, não dele.
Meu reflexo no espelho assustou-me um pouco, eu estava mesmo pálido. Atila vestia uma camisa preta regata, e sua correntinha - talvez de algum santo - era vista por sobre o pano, prateada, pensei. Ele pode só ser sexy, é isso. Sendo assim, vou esquecer logo e tudo isso não vai ter passado de uma ilusão, briga de gato e rato. Lavei o rosto uma vez mais, saí do banheiro com isso em mente. A noção da minha atração por Atila fez meu corpo todo retesar.
Ao vê-lo então do outro lado do corredor, tive de me segurar para não dar meia volta. Como podia? Ter visto ele durante todo o dia e nada disso me atacou antes, ai agora na faculdade... Atila parou diante de mim.
- Hoje mais cedo me esqueci de te avisar, amanhã você tem que chegar mais cedo, todos na verdade. O dono do prédio vai fazer uma visita, e depois vamos encerrar a obra. Então como faltam algumas coisinhas, tudo bem? – disse.
Engoli em seco, como se estivesse com uma forte dor de cabeça, fechei a palma da minha mão na nuca. Apertei um pouco aquela região. Assenti para tudo o que Atila havia falado, mas era à droga do perfume dele quem me chamava mesmo atenção. Não tinha coragem de olha-lo nos olhos, é errado senti isso. É errado desejar um cara igual a esse, me adverti desligado da realidade. Respirei fundo, e senti a mão dele tocar meu ombro, aquela mão me incomodou de tal forma que a rechacei dali com um gesto.
A única vez em que consegui olha-lo depois de pensar em tudo aquilo, seus olhos estavam perdidos. Tão perdidos quando os meus? Ergui a cabeça, engoli qualquer coisa presa na garganta e disse talvez de forma um pouco ríspida:
- Está sim, está tudo bem. Amanhã nos vemos. – Sai pela tangente sem olhar para trás. Na sala o professor já havia reiniciado a aula, mal olhei para Robson.
Durante o percurso de volta para casa, não deixei de lembrar Atila. Porque só agora me dava conta disso? E porque minha sensação era a de nunca na vida ter sentido algo igual a isso. Ao desejo físico eu já estava bastante acostumado, mas àquilo não. Meneei a cabeça colocando toda a culpa desses pensamentos no sono. Deitei na minha cama ao som dos meus tios discutindo em um dos quartos.
Fechei os olhos e a correntinha dele veio a minha mente, tudo passaria, tive certeza. Adormeci e acordei com a dor de cabeça principiada com aquela dor na nuca. Antes de sair do quarto meu tio já estava na porta, gritando meu nome. Botei apenas a cabeça para fora, para entender o que ele dizia.
- Preciso falar com você, à noite passo no canteiro eu vou te buscar hoje – consultou seu relógio de pulso – tenho que ir agora, mas a noite sem falta falamos.
Assenti na esperança de que a conversa fosse sobre ele liberar meu dinheiro, e eu poder finalmente começar minha vida do jeito que eu quisesse. Não fiz todas as coisas da manhã com o mesmo prazer dos outros dias, Atila estaria no canteiro e meu medo era sentir tudo mais uma vez. Ele estaria tão perto de mim, duas vezes me neguei a aceitar isso. Não podia ser verdade. Atila não, ele não. Eu tentava me convencer com os olhos no espelho a minha frente.
No caminho para o canteiro, o ônibus atrasou um pouco e quando cheguei todos já estavam prontos. Entrei me vesti e Atila me encontrou para meu alivio, completo alivio nada daquilo de antes me assaltou. Consegui olha-lo como antes. Consegui sentir por ele aquele estarrecimento ao ouvi-lo me dar ordens. Eu não estava apaixonado pelo brucutu, graças!
Percebi durante as primeiras horas da manhã, com toda a correria para organizar tudo e revisar tudo, o distanciamento de Atila. Não direi como isso me afetou, mas devo confessar, senti um pouco de falta das suas idiotices. Da rabugenta presença dele sempre por perto.
Os donos da construção apertaram as mãos de todos nos, ofereceu bebidas a todos. Não alcoólicas e durante a tarde tivemos uma maresia completa com final do serviço. Um tipo de folga, antes do horário seu Zé nos liberou. Ainda era cedo, mesmo assim liguei para meu tio avisando da minha saída mais cedo, do jeito delicado dele me mandou esperar por ele na frente do prédio recém-construído.
Pluguei meus fones aos ouvidos, e recostei-me ao tablado de madeira do canteiro. Os carros iam passando e meus colegas também, Fábio apenas acenou de longe. Seu Zé e Atila foram os últimos a sair.
Ambos falaram comigo, mas Atila foi além permaneceu ao meu lado e com a petulância conhecida, retirou um dos meus fones. Foi só eu por os olhos na bendita correntinha para meu coração palpitar no peito, não entendi como minhas bochechas queimaram tão rápido.
Atila estava com as mãos nos bolsos da calça. E seu rosto também estava com uma coloração estranha. Suspirei sem perceber como, meu estomago se contraiu um pouco. Ele moveu-se de maneira esquisita se inclinando um pouquinho para frente, e mais murmurou que falou:
- Hoje você aceita a carona que me negou ontem? – aquele tom de voz cadenciado e vermelhão abaixo dos olhos, me intrigaram e seduziram a ir com ele imediatamente.
Passou pela minha cabeça nesses instantes que ele também pudesse estar sentindo algo diferente. Passou pela minha cabeça as possibilidades entre nos dois, como é estranho confessar. Tudo se passou em fração de segundos, mais imaginação que realidade. Despertei a tempo de menear a cabeça, isso nunca poderia dar certo. Trabalhávamos juntos e pronto nada mais. Hesitei alguns passos, dele e avistei a chegada do outro lado da rua do carro de meu tio.
Louco do jeito que sempre foi começou a buzinar adoidado e como não bastasse também gritou a plenos pulmões:
- Inácio! Inácio anda logo! Inácio tá ouvindo não?! – eu semicerrei os olhos ao vê-lo do outro lado.
- A claro! – bufou Atila.
E não consegui entender o motivo do muxoxo zangado, nem procurei as motivações dei um tchau a ele e atravessei a rua. Tive a impressão de perceber em Atila uma irritação por eu pela segunda vez ter me recusado a sua carona. Senti meu peito apertar um pouquinho, o tempo de meu tio arrancar com o carro enquanto imprudente mexia no celular. Passei o cinto de seguranças por meu peito, e deixei minhas costas descansarem.
- Vou ter de passar na bosta de uma delegacia – disse meu tio – mas vai ser rápido só para relatar um caso da noite passada. Vagabundo tem é ousadia nesse país, isso sim.
Chegava a ser assustador como meu tio era igual ao meu pai. Até nessas falas idiotas, sem muita vontade respondi:
- Espero que nossa conversa seja sobre aquele assunto. – Meu tio sabia exatamente do que eu estava falando, o motivo maior por eu ainda estar morando no hospício dele.
Não conversamos muito no caminho além da fala dele, meio esquisita e enviesada. A respeito de Adelmo, soltou:
- Cabo Adelmo disse muito bem de você – sorriu – vocês se deram bem não foi?
Eu não respondi apenas o olhei de canto, meu tio parou o carro em frente a delegacia. Desceu e me mandou esperar na porta da delegacia, a alguns metros dali, um homem alto magro, mas com belos braços bem desenhados fumava recostado a um poste. Fiquei olhando esse sujeito por um tempo até meu tio voltar e bater na porta do carro, no vidro. Abaixei o vidro, e ele me chamou para fora:
- Eu tenho faculdade daqui a pouco tio – disse não antes de olhar para a direção do cara logo ali perto.
- A nossa conversa vai ser rápida, porque a bagunça nessa delegacia ai vai demorar mais do que eu pensava. É o seguinte moleque, não quero saber de você se oferecendo pra meus colegas de trabalho, quando te coloquei naquela obra foi justamente para te concertar. Não tenho que suportar suas viadagens não ouviu?
Eu encostei-me na porta do carro, e olhei bem para aquele dedo na minha cara imaginando quantos revolveres ele já tinha acionado com aquilo. Um tosco mesmo, Adelmo devia ter falado alguma coisa, fui direto sem emoções:
- Não. Não é mesmo. Quem tinha obrigação comigo já morreu, meu pai e minha mãe. Então o senhor faz o favor de liberar meu dinheiro, e pronto não vamos mais ter de conviver até eu completar os vinte e um.
Ele não respondeu alguém o chamou lá atrás. Se não fosse com certeza ele ia voar para cima de mim. Desejei falar mais coisas, despejar logo tudo, mas me controlei. Certas pessoas não merecem o desgaste. Com aquilo não tinha clima para voltar com meu tio, olhei para os lados, aquela delegacia era desconhecida para mim. Segui na direção do cara recostado ao poste.
Os braços dele me atraíram os olhos e se não estivesse com Atila na cabeça e com meu tio nos ouvidos, teria prestado mais atenção ao homem. Passei por ele, e senti o cheiro incomodo de cigarro uma coisa a mais para me afastar, pensei.
- Ei – disse o sujeito, sua voz era rouca – espera ai.
Parei sem entender o porque ninguém ia me assaltar em frente a uma delegacia, ou ia? Ergui as sobrancelhas ao me voltar para ele:
- Desculpe, te conheço? – consegui dizer, ele já estava bem perto de mim.
O cara sorriu com uma expressão divertida no rosto, não entendi do que ele sorria:
- Isso é um assalto, - disse, eu respirei fundo, e tirei o celular do bolso.
- Só estou com isso – disse a ele, o cara tomou meu celular, mas segurou meu ombro me impedindo de sair.
- Já serve, coloca a senha – mandou. Eu liberei a tela, ele colocou na tela do teclado e digitou um numero, depois o salvou com o nome Emerson – eu que peço desculpas pela brincadeira de mau gosto, me chamo Emerson. Da próxima vez que algum idiota falar daquela forma com você, pode me ligar.
Tudo aconteceu em uma sequencia tão rápida, sem interrupções de uma para outra coisa que quando dei por mim já estava a metros de distancia. Eu parei um pouco olhei para trás e não vi mais, nem o cara nem a delegacia. Mas o número de telefone com o nome Emerson estava no meu celular. Era só o que me faltava fui pensando, na tentativa de achar um ponto de ônibus. Quando o encontrei, pude pensar em tudo com mais calma, o ônibus demorou quase uma hora. Desci próximo da casa do meu tio, segui a pé até lá, minha tia estava com a mãe dela, e por isso mais controlada.
Entrei em casa e saí rápido, mas o suficiente para tomar uma decisão. Assim que eu visse Atila mais uma vez, iria esclarecer todas as coisas. O esperei dentro do estacionamento da universidade, sentado em um dos banquinhos de concreto por ali. Olhei para o número de Emerson na agenda, devia excluir pensei comigo mesmo, o carro vermelho adentrou o estacionamento com ele quase vazio.
Eu me ergui, Atila saiu do veiculo, e do outro lado no lugar do passageiro uma moça saiu junto. Estaquei onde estava, ela e ele pegaram um na mão do outro, e ela deu um beijinho nos lábios dele um toque apenas. Deixei meus ombros caírem, sem saber se devia continuar a fazer o que estava pensando.