BOA NOITE!
Tudo bem com vocês? Eu estou muito contente com as leituras e comentários. Obrigado mesmo!
O texto pode conter alguns errinhos, porque não tive como revisar, então me desculpem.
!!!UMA ÓTIMA LEITURA A TODOS!!!
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O final de semana me serviu feito uma luva às minhas medidas, apesar de o costume matutino ter me feito acordar cedinho. A casa reinava em silencio. E meu tio fez o favor de não aparecer. Sem noção, e preconceituoso! Podia muito bem me liberar o dinheiro dos meus pais e vida que segue. Talvez eu até desse alguma coisa a ele para me ver livre logo, pensei deitado na cama. As luzes do dia, ainda amanhecendo entravam no quarto pela janela que dava para o lado de fora. Mais cedo um movimento de carro na rua me fez acordar, mas agora tudo estava tranquilo.
Algumas vezes eu ficava relembrando minha vida antes do canteiro, antes do meu tio. Era tudo mais simples. Apesar de meus pais evangélicos também não terem sido as pessoas mais fáceis do mundo.
Fiz hora para sair do quarto temendo encontrar um dos dois. Mas ao sair notei um silencio ainda maior, sorri sem acreditar. Caminhei pelo corredor, a porta do quarto deles estava aberta. Ninguém nos quartos nem no banheiro, desci a cozinha, sala, quintal, segundo banheiro, ninguém. Voltei até a sala e me joguei no sofá. Um final de semana, talvez só o sábado livre deles.
Aquela sala me fazia lembrar Adelmo do gostoso beijo. Às vezes a minha impressão dos caras é que são todos iguais, principalmente os enrustidos. E eu tenho dedo lotérico para isso, é uma sorte quem dera fosse assim para jogar na loto. Um barulho na porta me fez virar a cabeça, meu tio com uma camisa no ombro e de óculos escuros. Que quadro!
- Eu só volto segunda feira, esqueci umas coisas – disse – vê se não fica sujando nada ai ouviu?
Não fiz o menor esforço de responder nada. Como não sou de ferro, pelo contrário, apesar da alma podre o corpo do titio é uma escultura, olhei deliciado. Ele subiu a escada, e enquanto fazia isso seu torso nu e peludinho movia-se de forma sexy. O rosto dele apesar da cicatriz cortando parte esquerda do rosto atraia olhares. Carinha de macho.
Ele saiu logo depois sem dizer mais nada. Um sábado e um domingo de tranquilidade. Espreguicei os braços deitado.
“O que vai fazer hoje?” me enviou Robson pelo celular.
“Nada. Diga, por favor, que vai me convidar para uma orgia muito louca.” Respondi enviando junto vários sorrisinhos.
Fechei os olhos por alguns minutos esperando pela resposta de Robson, e pensando também em Atila. Esse estava cada vez mais recorrente no meu pensamento por mais que eu não quisesse. O celular me avisou para a mensagem, Robson respondeu com outras carrinhas risonhas, e safadas, seguido de:
“Vamos fazer um churrasquinho aqui em casa, vem para cá, os amigo de Fabinho só falam bobagens”
“Manda teu endereço e o horário” digitei e já fui para o banheiro do quintal. O sol estava tranquilo, e parecia pelo excesso de nuvens no céu que mais tarde a coisa engrossaria. “... quando você chegar ao ponto ai embaixo, porque o ônibus não sobe, você me liga que o Fabinho desce pra te trazer. Não entra sozinho não tá?” arregalei os olhos para a mensagem. Que lugar perigoso era esse?, me perguntei com a toalha na cintura.
Ao sair de cara próximo a hora marcada por Robson, resolvi não pegar ônibus. Chamei por um uber enquanto da porta de casa eu observava movimento nenhum na rua. Se eu fosse de ônibus seria mais uma sardinha na lata de tanta gente, pensei relaxado. Não fazia mal gastar um pouco, pelo menos uma vez. O carro gol, não muito novo, estacionou na porta da minha casa. Mostrei na tela do celular o endereço ao homem, ele franziu o cenho e balançou a cabeça.
- Sei onde fica posso te deixar na entrada – ligou o carro – mas não subo, só com autorização.
Aquilo me intrigou um pouco, autorização? Claro do comando no morro em alguns lugares das milícias. O cara não demorou a estacionar em frente a uma rua estreita, mais adiante algumas pessoas sentadas, e uma imensa ladeira. Paguei e desci do veículo com o céu todo nublado. Liguei para Robson, mas ele não atendeu da primeira vez. Olhei para o lado oposto da rua, onde ficava a ladeira e não vi nada demais, ninguém com uma arma na mão ou na cintura, liguei mais uma vez.
- Oi, - disse ele – já chegou? Você está no ponto? – olhei a minha volta.
- Na verdade, estou em uma rua próxima a uma ladeira enorme aqui.
Robson ficou em silencio por um tempo, como se estivesse abafando o fone do celular. Ele passou o celular para Fábio que dividia a atenção com mais alguma coisa, televisão pelo que dava para ouvir:
- E ai Inácio?! Você disse que estava onde? – repetiu ele. Eu também repeti tudo que eu conseguia ver como referencia na rua. – Tem certeza que está na entrada do morro? Se você veio de condução era para está no ponto eles não erram, mas os taxistas se confundem um pouco.
Minha garganta secou na mesma hora, será que eu estava na favela errada? Atravessei a rua com o celular ainda em mãos, decidi chamar o uber mais uma vez. Voltei para o lugar onde estava antes, e no celular chamei o uber. Eu já estava quase roendo as unhas, quando um carro prata passou rua acima, depois deu ré. Como era um veículo um tanto chique, não pensei ser do uber. Mas o vidro desceu, e uma voz nada familiar saiu pela abertura mesmo. Homens saíram do veículo a metros de mim, sorriram uns para os outros e o motorista do carro finalmente saiu também e ele estava falando mesmo comigo:
- Ei você por aqui – disse – não se lembra de mim? Emerson, deixei meu número no seu celular, a dois dias eu acho.
O rosto do sujeito não me era estranho, pensei por um tempo ao analisa-lo: olhos pretos, cabelo baixinho na maquina. Os braços, eram mesmo os braços daquele sujeito. Com algum alivio, me aproximei do carro. Emerson, realmente eu tinha o número dele no celular. Os outros sujeitos, vestidos com bermudas tactel, tênis, e camisas polo já estavam longe.
Estendi a mão para Emerson, e o vi sorri olhando para ela. Ele a apertou e o cheiro do seu perfume inundou meu nariz:
- Desculpe, agora me lembrei, me chamo Inácio – consegui dizer a ele – você é trabalha com uber? – quis saber deduzindo o porque de sua aparição ali.
Emerson sorriu olhou para os sujeitos já um pouco distantes:
- Sim, exatamente vim trazer esses caras você me chamou... Pelo aplicativo?
Eu sorri com os ombros totalmente relaxados, saber que eu estava seguro fez minha euforia retornar. Nunca mais na vida eu iria sozinho para um lugar com essas regras, pensei, isso era loucura. Dentro do carro de Emerson o cheiro de perfume masculino estava no ar.
- Seu carro é muito bom para esse tipo de trabalho – consegui dizer passando o cinto – nunca tinha pegado um Uber com um carro assim.
Ele sorriu e segurou com uma das mãos a marcha e a outra o volante:
- Aproveite então a primeira vez – ele manobrou – para onde você quer ir menino bonito?
Claro que franzi o cenho no mesmo instante, e claro também que junto com isso minhas bochechas queimaram. Emerson tinha um tom de pele jambo ou era o efeito do sol, e uma tatuagem grande que ao que parecia pegava do ombro direito ao pescoço. Decidi sentado ao lado dele, que não estava mais no clima para churrasco, o comentário dele, porém, me travou um pouco a língua. Dei a ele o endereço da casa do meu tio, e enquanto dirigia Emerson ligou o som.
- Naquela noite que você fingiu que me assaltava – disse mordendo o lábio de vergonha, ele se virou para mim – você conseguiu ouvi o que aquele homem tinha me falado?
- Escuta, se ele tivesse engrossado mais – Emerson estacionou diante de um sinal já próximo de casa – eu teria corrido até lá e dando uma bela surra nele, era isso que aquele bosta merecia. Ele é o que seu? Namorado?
Neguei com a cabeça, se meu tio ouvisse uma coisa dessas, pensei. Não consegui evitar uma expressa gargalhada, ele também começou a sorri, usava aparelho dentário, percebi então. Minha má sorte para homens fez minha mente começar a me alertar para esse também. As perguntas dele, o seu jeito comigo e o telefone dele no meu celular da forma como foi... Ele estacionou diante de minha casa, eu ainda não tinha dito, aproveitei:
- Aquele cara é meu tio – sorri – um bosta mesmo tenho que confessar. Namorados são difíceis de encontrar, e na verdade não estou procurando por um.
- Talvez tenha encontrado mesmo assim – disse faceiro. – Então você pega ou foge?
Sabe aquele frio subindo a espinha dorsal em um misto de nervosismo, excitação e medo? E sabe aquela voz avisando que algo não está normal? Pois tudo isso passou por minhas costas como uma manada de cavalos em disputa. Respirei fundo e deixei meus ombros caírem, gays bem resolvidos, são difíceis de achar. Gays bem resolvidos, dispostos a uma “relação” que não seja apenas sexo, também é muito difícil, ponderei.
- Não se brinca com essas coisas Emerson – eu disse – nem te conheço direito, nem você me conhece.
Ele se concertou no banco, virando-se para mim, deixei que sua mão pousasse em meu rosto, descendo em um leve gesto para meu pescoço. Duvidei da realidade, essas coisas não acontecem assim. Eu tenho o dedo da falsa lotérica, sempre que acho que ganhei vem o destino e puxa meu tapete. O meu alerta interno estava tocando a mão dele também estava me tocando, carinhosamente:
- Eu sou homem o suficiente para saber que com sentimentos não se brinca – aproximou deu rosto do meu, seu hálito quente veio direto para meu rosto – coloquei meu numero no seu celular, agora quero que você coloque o seu no meu. – Eu abri os olhos para encara-lo. – Vamos marcar alguma coisa, sem compromisso.
Fiz as contas na minha cabeça há quanto tempo não saio com um homem assim? Ih, desde o ensino médio. Apesar da idade alguns moleques são mais homens que certos coroas, sim faz muito tempo, devaneei. Aquela era uma oportunidade mesmo meu aviso interno acusando problema, era neurose minha apenas neurose como estava neurótico com Atila. Digitei no celular dele o meu número e salvei. Pronto à sorte está lançada, abri a porta do carro.
Ele pegou o celular das minhas mãos, digitou alguma coisa e meu bolso o meu vibrou. Emerson sorriu depois de tirar os olhos da tela do aparelho em suas mãos:
- Qual o valor da corrida mesmo? – eu disse.
Ele meneou a cabeça:
- Você quebrou o clima – sorriu me fazendo corar – não se preocupe com isso.
- Que isso, é seu trabalho... – tentei argumentar.
- Olha a mensagem, e me responde tá? Vou esperar. – Ele ligou o carro e arrancou.
Fiquei parado ali na porta de com alguns pinguinhos de chuva começando a cair, sem acreditar direito em tudo aquilo. A rua não estava deserta como mais cedo, alguns vizinhos sentados na porta de casa bebiam, peguei o celular maquinalmente. Nele além da mensagem de Emerson a primeira, havia outras de Robson. Só então me dei conta de que eles poderiam estar preocupados comigo, enviei “Estou em casa, o churrasco pra mim melou.” Não esperei pela resposta. No chat de Emerson a sua foto de perfil no alto da tela, mostrava um grupo de garotos reunidos.
“Eu escolho o lugar, faço questão. Você me diz o dia e a hora”, estava escrito na mensagem. Eu suspirei, minhas mãos suaram e meu estomago se contraiu um pouco. Olhei mais uma vez a foto no perfil como se através dela, pudesse saber mais sobre ele. Os garotos deviam ter por volta dos dez, doze anos. E um dele, tinha o rostinho muito parecido com o de Emerson. Se fosse em um aplicativo de relacionamentos, eu acharia um tanto estranho, pensei.
“Tudo bem... Que tal no sábado da próxima semana?”, respondi rápido. Deixei o celular no bolso e entrei para casa.
E lá estava eu mais uma vez jogado no sofá, pensando em alguém. Atila pairava ao enquanto Emerson surgia também, era imprudência sair com alguém tão pouco conhecido? Mas se fosse em um aplicativo, até sexo casual podia rolar. Besteira vai ser apenas um encontro, pode não dar em nada... pode.