Olá, tudo bem amigos? Desculpem-me três vezes, primeiro porque não consegui revisar o capítulo. Segundo porque não pude também postar no horário certo. E terceiro pelo tamanho do capítulo, acho que ficou um pouquinho grande. Agradeço de coração todos os comentários e leituras, não sabem qual grato fico. !!Obrigado mesmo!!
Espero que gostem! BOA LEITURA!
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Os olhinhos do meu amigo reluziram, brilharam de uma curiosidade cega. E eu fui obrigado por mim mesmo a contar tudo a ele, desde o inicio, nada assim escabroso. Seu rosto se transformou enquanto eu lhe falava do dia na delegacia, e do último sábado quando tudo aconteceu. Ele relaxou os ombros na cadeira e sua única pergunta balbuciada foi:
- Tem uma foto dele ai? – disse com uma das sobrancelhas arqueadas.
- Curioso – acusei tirando do bolso o celular – a única que eu tenho é a do perfil, mas ele tá muito moleque.
Mostrei a foto para Robson, ele a olhou, ficou com o celular muito tempo diante dos olhos depois sorriu. Bateu o dedo na tela para dar zoom e olhou do celular para mim, já com um olhar um pouco mais sério. Devolveu o aparelho e eu sorri imaginando a brincadeira que partiria disso, ele comeu mais uma parte do sorvete e se voltou para mim:
- Você disse que conheceu esse cara na entrada do morro? – Robson cruzou os braços apoiando os cotovelos encima da mesa. – Quer dizer antes em frente a uma delegacia... E como é nome mesmo dele? Você disse ai... Mas pensando umas coisas, me esqueci.
- Nossa quanta pergunta – arqueei as sobrancelhas, curioso – desembucha você reconheceu alguém nessa foto? Esse bando de garotos. O nome dele é Emerson, esse ai ô. – Apontei na foto.
- É. Um deles é meu irmão com certeza – disse e engoliu outra parte do sorvete – os outros, não conheço esse Emerson mesmo, nunca vi. Esse aqui, - apontou no celular – é meu irmão... Ele... Ele é envolvido com coisas erradas.
O menino que ele apontou na foto tinha cara de travesso, aquele rosto de criança arteira. Dos garotos o mais sério era Emerson, dava para ver a forma como segurava a bola de futebol com o pé. Eu olhei de novo para Robson, e percebi o quanto ele ficou tenso em falar do irmão. “envolvido com coisa errada” repeti para mim mesmo, isso queria dizer envolvido com o trafico de drogas? Não quis perguntar, e já fui mudando de assunto. Afinal esse é um problema social brasileiro, e ele não tinha nada haver com os erros do irmão.
Levantei animado com o copinho de sorvete vazio na mão, peguei o dele também e fui jogar no lixo, quando me voltei Robson também já estava pronto.
- Vamos, se você não se incomodar quero trocar de sapatos também. Vi uma loja enquanto vínhamos para cá – sorri para quebrar o gelo, ele confirmou com a cabeça.
- Que nada, vim para isso mesmo, te ajudar nessa nova empreitada... – ele hesitou um pouco, mas continuou – Inácio me desculpe o jeito, mas meu irmão, sério, hoje em dia ele é bem barra pesada sabe. Então esse tal de Emerson, se for amigo dele... – respirou fundo me levando a fazer o mesmo – só toma cuidado tá?
Assenti sem acreditar muita na possibilidade de um homem tão educado e gentil como Emerson pertencer a uma facção. Eu agarrei o braço de Robson, cruzando-o com o meu e como se fossemos duas comadres saímos pelo shopping. Não nos demoramos muito na loja, saí de lá calçando um mocassim azul marinho. Já passava das onze horas da manhã, o celular de Robson tocou e ele foi atender um pouco afastado. Estávamos voltando para a praça de alimentação.
Pelas minhas contas, eu ainda possuía dinheiro suficiente para dar o sinal ao aluguel de uma quitinete. Talvez até uma casinha mais simples no subúrbio, mesmo assim as chances de achar uma com urgência em cima da hora quase... Olhei na direção em que Robson andava em círculos com uma das mãos na cintura e outra pressionando o celular ao ouvido.
No meu celular apenas uma chamada perdida. Não conhecia o número nem havia nome nenhum, adicionei ao aplicativo de mensagens e apareceu a foto um homem com apoiando a nuca com as duas mãos, enquanto descansava em uma espreguiçadeira. Abri a imagem, e não reconheci logo por causa da barba. Foi a medalhinha com o desenho do guerreiro montado em um cavalo quem me fez lembrar:
- Atila – balbuciei – porque você está me ligando hein? – perguntei inutilmente para a tela, devia ser algum problema na empresa, com o chefe. Robson bateu em meu ombro e começou a dizer ainda com o celular no ouvido:
- Anota ai... – foi me dizendo uma serie de números, um de telefone fixo, outro de celular – é do cara para alugar a casa um colega de Fabinho que passou disse que é gente de confiança, e que apesar do lugar ser pequeno é perto da faculdade e melhor tem um valor bacana.
Fiz um gesto de comemoração, almoçamos depois de tentar umas três vezes contato com os dois números. Ao terminarmos, sentamos em um banco de concreto ali por perto e nada, chamava, chamava e ninguém atendia. Quando fui tentar pela quarta vez, foi um celular quem começou a vibrar, atendi no mesmo instante. O barulho seco de ferramentas, familiares, já me preparou para quem podia ser, olhei na tela antes de a voz dizer alguma coisa, era Atila.
- Oi, tá me ouvindo? – dizia – Alo Inácio?
Engoli em seco e Robson ficou me olhando, levantei e fiz igual a ele me afastei um pouco com o celular pressionado ao ouvido:
- Estou, oi Atila, pode falar – eu disse olhando para o chão.
- Desculpe está te ligando, mas será que você se importaria em trabalhar em outro dia para compensar este? – Franzi o cenho, sem entender. Hesitante, ele explicou – É que assim... Fica melhor para você... E eu vou precisar... Os meninos aqui, não produzem bem... Então?... Teria que ser no final de semana do que vem...
Eu franzi ainda mais o rosto e não, não consegui evitar um riso besta ao final. Porque de todo esse interesse? Quis perguntar, mas ia constrangê-lo e a mim também. Aquele frio na espinha me atacou de repente, senti o fraquejar na minha voz e odiei isso:
- Tá certo – arranhei a garganta – obrigado, vamos ver isso sim, para mim seria bom... Se bem que vou tentar o atestado, mesmo sem muita chance de conseguir... – a linha ficou em silencio por um tempo – Alo, Atila, tá ai ainda?
- Oh sim, estou, então tá, boa sorte com tudo ai viu – disse e desligou. Eu olhei um tempo para o celular, Robson estava a alguns passos com outro sorvete na mão. Fui até ele e o meu sorriso ainda descansava no rosto.
Ficamos perambulando por ali, sem muito que fazer e tentando contato com os números enviados por Fábio, mas nada de atenderem. Notei o quanto Fábio e Robson ficavam separados durante o dia e grande parte da noite por causa da faculdade. Mas ambos pareciam se gostar bastante, é o que importa, pensei comigo mesmo. Pegamos um uber, não o de Emerson, apesar de meu dedo coçar para isso. Eram dez para as três da tarde quando eu e Robson chegamos ao tal escritório.
Eu já o conhecia, tinha vindo exatamente aqui quando cheguei. Meu tio me apresentou a um senhor, seu Morete, advogado. Só agora a fisionomia dele me vinha a mente.
- Você me espera ou tem que ir? – eu disse para Robson.
- Fica tranquilo, enquanto você vai eu ligo para o tal da casa. Vai e boa sorte... – aquele boa sorte me fez lembrar, do de Atila, e sem perceber eu estava respirando fundo.
Pelo nome do advogado e numero da sala, consegui chegar a tempo. Uma secretaria muito bonitinha, parecendo uma boneca me mandou esperar. Sentando assisti a algumas pessoas indo e vindo, meu tio chegou logo em seguida. Vestia-se bem, mas estava de bermudão jeans. Se acha o garotão, só pode, pensei cá comigo. Fingiu não me conhecer e se sentou do outro lado.
Depois de se acomodar, ele ficou um tempo mirando os próprios pés. Levantou e veio se sentar ao meu lado.
- Onde você passou a noite hein? – não respondi – Olha aqui, vou liberar essa encrenca que aceitei, não devia, mas vou vê se não comenta nada sobre seu trabalho hein, se o Morete souber, ai não sai dinheiro nenhum.
- Como assim? – arregalei os olhos – Não estou entendendo nada, o que uma coisa tem haver com a outra?
Um senhor de barba grisalha abriu a porta e com um sorrisse veio até nós nos cumprimentou, depois indicou a sala. Eu fui primeiro e meu tio logo em seguida, sentamos um ao lado do outro, eu olhei para ele esperando por uma resposta.
- Veado é fogo viu – murmurou – escuta, lá fora a gente conversa oquei?
Assenti sem muita certeza. Miserável estava me escondendo alguma coisa. Esperei o advogado se sentar a nossa frente, explicar algumas coisas e entregar uns documentos, um deles dizia que eu estava liberando vinte mil reais para meu tio, vinte mil! Olhei aquilo e só pude sorri. Como quem não quer nada me aproximei do seu Morete, e lhe disse tomando para mim a atenção do meu tio:
- Da última vez que eu vim aqui seu Morete, lembro que o senhor me explicou toda a situação mas agora já não tenho fresca na mente, o senhor se importaria de me explicar mais uma vez? – ele assentiu, sem problemas, continuei – no contrato testamento, meus pais diziam alguma coisa sobre eu poder trabalhar?
O velho advogado sorriu para mim, e antes de se voltar completamente para me responder consultou os papeis.
- Esse é o montante do seu patrimônio acumulado, - olhei e engoli em seco – seus pais não queriam que você trabalhasse, até que conseguisse concluir os estudos, nível superior inclusive. Por quê?
Eu arqueei as sobrancelhas e me virei para meu tio. Minha vontade era a de gritar na cara do meu tio, aquele idiota tinha me dito que eu precisava trabalhar para continuar na casa dele. Seu queixo estava colado ao peito com a cara baixa, apontei para o seu Morete o valor naquele papel:
- Isso aqui tá errado, meu tio – olhei para ele – não vai querer esse dinheiro não, hein tio? – perguntei.
Ele resfolegou como se tivesse recebido um golpe. Olhou para mim e para o seu Morete depois contrafeito ele mordeu o lábio inferior, resmungando aceitou outro documento sem aquele valor. Já do lado de fora do escritório, eu mesmo fui até ele.
- Que foi hein? Já não conseguiu o que quis? Agora me deixa em paz.
- O senhor... Não se preocupe apesar de não merecer eu vou lhe dar algum dinheiro pelo tempo que fiquei na sua casa, até nunca mais titio.
Voltei para dentro do escritório onde Robson ainda esperava. Ele estava com um sorriso no rosto e isso me animou só coisas boas, uma maré de coisas boas. Afinal fomos ver duas quitinetes, bem próximas uma da outra. O valor não era lá o mais camarada, mesmo assim valia a pena pela localização. Eu estava em um estado de graça tão grande que se não fosse Robson, eu teria escolhido qualquer coisa por qualquer valor. O sentimento de liberdade...
A quitinete, a segunda, tinha como o nome diz uma sala-cozinha, um quarto pequeno, banheiro-área de serviço. As torneiras funcionando, luz também. Era com esse que eu queria ficar, disse a mim mesmo.
- É esse Robson – disse a ele.
- Calma, vamos...
- Não, é esse mesmo – respirei fundo – já decidi, aqui vou começar minha vida de verdade.
O responsável pelo imóvel sorriu contentíssimo. Conversamos sobre o sinal, sobre contrato e tudo o mais. Ele deixaria com o sindico do prédio devido minha falta de tempo durante o dia. Eu fiquei babando mais um tempo pelo apartamento, e já imaginava como ia decorar tudo, o que comprar. Assim em nuvens descemos para pegar um uber, se dependesse de mim eu ficaria ali mesmo. Robson me convenceu do contrário. Seguimos para a casa dele, eu não parava de pensar em tudo acontecendo ao mesmo tempo.
- Ei, acorda amigo, você ficou babando pelo apê mesmo hein?
- Sim, não vou mentir, gostei mesmo se pudesse me mudava hoje – sorri para ele.
Chegamos a casa do Robson, e Fábio não tinha chegado ainda. Quando chegou estava com o rosto cansado, sem dizer muita coisa. Abriu a parte de cima do macacão e ficou assim pela casa por um tempo. Eu ainda pensava no meu apartamento, nas coisas que ia comprar e nem percebi quando a voz do meu amigo saiu um pouco alterada. Os dois estavam tendo uma pequena DR, me afastei o máximo possível. Era eu o motivo? Perguntei a mim mesmo, mas logo descobri.
- Ele não gostou de saber que eu saí sozinho com você – franzi o cenho na hora quando ouvi isso saindo da boca de Robson – coisa de ciumento sabe como é né?
- Bobagem, quer que eu fale com ele? – perguntei, fiz menção de ir até o quarto onde Fábio havia se trancado.
- Não. Deixa. Eu o conheço bem, aconteceu alguma coisa que deixou ele assim... No trabalho provavelmente, eu já estou pronto, hoje vamos de ônibus. Fabinho... – Ele disse.
Eu assenti e achei até uma boa ideia, precisava mesmo dar uma caminhada por ai, ver gente. Se não fosse o encontro com Emerson, iria amar ir a essa festa deles nos morro, pensei enquanto descíamos. Estávamos no meio do caminho para sair da comunidade, quando o carro de Fábio parou ao nosso lado. Eles conversaram, Robson disse para eu entrar no carro com ele e nós três fomos o caminho todo em silencio.
O clima estava tão tenso que quando saí do carro, já na frente da faculdade os dois continuaram lá dentro. Não dava para ouvir, mas a coisa parecia séria e pensei muito antes de decidir deixa-los se resolverem a sós.
Ele veio cabisbaixo. Sentou-se perto de mim, mas não disse nada. Eu também não quis perguntar. No intervalo conversamos bem por cima, generalizado.
- Olha se for por minha causa, eu nem volto lá hoje...
- Nada disso! – ele protestou – Até porque você não tem nada haver com esse ataque dele. Sabe, o Fabinho é assim mesmo. Passa tempos sem se expressar, sem dizer o que tá sentindo, e ele não gosta mesmo... Sinto até vergonha em admitir, mas ele não gosta que eu saia assim sabe... Lá na comunidade todos nos conhecem, então tudo que acontece ele fica sabendo... Não me julgue Inácio, ele não é assim sempre.
Quem vai julgar logo eu? Disse para mim mesmo. Jamais! Tentei ao máximo conforta-lo. As brincadeirinhas de Heitor me deixaram enraivecido, mas fizeram Robson sorri e por isso não disse nada. Pelo menos para isso serve, pensei. De fato quando voltamos para a casa deles, Fábio não me olhou com raiva nem nada do tipo até conversou amenidades do dia de trabalho, o primeiro dia.
Todo casal tem seus probleminhas não é? O deles não era diferente. Meus pensamentos estavam mesmo era no apartamento. Nos próximos dias, na minha vida por começar. Aquela briguinha deles era bobagem. Sonhei durante a noite toda com a quitinete, e acordei com isso fervilhando no meu pensamento. Fábio e Robson pareciam ter feito às pazes percebi pela forma como se olhavam. E me senti feliz por isso, por eles. No carro Fábio, confessou:
- Eu me descontrolo às vezes – disse rápido – desculpe por ontem Inácio não tinha nada haver com você tá, é só... Meu ciúme idiota, só isso.
- Vocês são lindos juntos – eu falei eufórico – não tem porque disso. Olha você não tem motivo nenhum para ficar com ciúme, Robson nem dá bola para outros caras... – depois mais a noitinha eu estaria na minha própria casa.
- É que ele insiste em usar umas roupas...
- Mas é o estilo dele, normal, quando ele dança nas festas. Funk e samba você não acha o máximo? – perguntei despretensioso, com os olhos na rua.
Fábio parou o carro firme em frente à sinaleira. Seu rosto se transformou um pouco, eu o olhei para ver se identificava alguma coisa em seu rosto. Ele estava com a mandíbula cerrada, pensei no que tinha dito e não encontrei nada demais. Fábio então continuou com o carro manobrou para a vaga, próxima a empresa. Os ônibus para o novo canteiro já estavam nos esperando.
- É... Acho... Escuta, - disse – ontem Robinho, - era a primeira vez que o via chamar Robson assim – ele estava vestindo um short jeans curtinho assim... Fui eu que dei sabe. Quando ele dança, hoje em dia costuma usar esse short.
Eu tentei me lembrar da roupa de ontem, a voz de Fábio estava controlada. Pensei em mentir, dizer que não, mas... Qual era o problema?... Engoli em seco, e acho que demorei demais em responder, mas fiz o que minha consciência mandou, menti:
- Não. Ele estava normal, calça, camisa comum... – fechei a porta do carro e com segui para a empresa.
Senti que estava prendendo a respiração. Deixei o ar sair, vesti meu macacão e mandei uma mensagem para Robson, tínhamos combinado que ele ia me fazer o favor de levar um colchão e cobertores para a casa recém-alugada. Não ia mais ficar no meio deles, os dois podiam muito bem dizer que eu não era o motivo da briga, mas...
Saí do banheiro, sem encontrar conhecidos. Eu já estava indo para um dos ônibus, Atila até estava nele. Mas a falta do meu celular me fez voltar para o banheiro. Abri a porta de vez e encontrei a coisa mais absurda do mundo. Sabe aquela sensação que dá na gente quando vemos um personagem de filme, livro, novela, HQ, mangá, ir para fazer uma coisa idiota, e queremos entrar na história e mudar tudo, pois bem foi isso que moveu a entrar de vez no banheiro e gritar:
- Não faz isso Fabinho – meus olhos estavam arregalados.