Olá!!! Tudo bem com vocês?
A TODOS OS LEITORES E TODOS QUE COMENTAM MEU MUITO, MUITO OBRIGADO. Isso que motiva escrever saber que vocês estão lendo.
#Rafaelpfiffer - Oie! Não desse jeito, eles não vão se relacionar da forma amorosa. Pensei nisso, e enquanto escrevia também vi essa possibilidade do tio dele estar sentindo algo, mas afinal. Inácio, como você vai ler (espero kkkk), já tem problema suficiente. E pende num menino distraído.
#Luys - Obrigado pela leitura, li sua pergunta. Mas na correria para postar os capítulos a tempo, não deu para responder antes. Então, o tio e a tia, não tem nome. Eu preferi não dar, por vontade mesmo, mas porque também existem certas pessoas que apesar de próximas, de sabermos quem são (o primo, tio, tia), seus nomes se apagam. E sim, vou tentar melhor isso delinear melhor o personagem, digo o físico. OBRIGADO!
UMA ÓTIMA LEITURA!
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Outro homem bem vestido, mais ou menos da minha altura estava pressionado contra uma das pias, e logo na frente dele. Com a cara cravada no seu pescoço estava o homem que eu julguei ser o marido perfeito. Ao me ouvir ele se virou para mim, mas sem estar nem um pouco com cara de arrependido. Os peguei quase de calças nas mãos, e pelo semblante pelo menos de Fábio, nada parecia lhe incomodar. O outro homem se empertigou como se não estivesse ali quase se agarrando com outro cara naquele lugar.
Esse sujeito passou por mim, sem dizer nada, sorrindo. Meu celular estava intacto em cima do gabinete de uma das pias.
- Você não se meta nisso – disse Fábio finalmente com uma voz transformada – entendeu ou não?
Olhei para ele e dele para o celular, aquele filho de uma mãe, estava mesmo me dizendo aquilo? Eu sorri de volta, sem um pingo de medo dele. Apesar de ter os ombros largos e ser mais robusto que eu, nós dois tínhamos o mesmo sexo a mesma quantidade de hormônios. Cerrei os punhos.
Não disse mais nada, aquele grito anterior foi um impulso, entendi. Um estalo de dedos ao meu ouvido, um tipo de “acorda!” e a cena grotesca, adultério em vias de acontecer ou a caminho disso. Estiquei o braço para pegar o celular ele olhou para minha mão e segurou meu pulso.
- Solte – disse e puxei de volta, ele sorriu – você é um cretino sabia?
- Já me chamaram de coisa bem pior, vai ligar para Robinho? Vai avisar o que viu aqui? Como se já não tivesse feito isso muito antes! Eu sabia... – acusou.
Eu franzi o cenho. Aquele homem era completamente louco, puxei com firmeza meu braço e ele pareceu se surpreender com a força. Mas não desistiu, voo para cima de mim, lá fora o barulho dos ônibus sendo ligados já nos chegava, ele avançou mais uma vez para tomar o celular, e conseguiu arranca-lo de minha mão. O ergueu com um dos braços bem alto, me senti ridículo com aquilo tudo. O larguei, e com as mãos na cintura olhei para ele, sério.
- Estou falando... – ele abriu um dos mictórios – você está louco! – gritei com as duas mãos na cabeça.
- Pensa que não sei? Você me viu no canteiro com aquele peãozinho, você contou seu miserável, você destruiu meu casamento. – Ele lançou o celular lá dentro e deu descarga. Eu só tive tempo de ver o aparelho sumir. Minha raiva se acumulou na minha mão esquerda e nunca consegui na vida desferir um murro tão bem dado, e merecido.
Em compensação na mesma hora senti o pulso reclamar. Não uma dor por completo, mas uma dormência contínua no pulso. Lavei o pulso na agua da pia, Fábio não teve tempo de revidar, porque Atila surgiu na porta com o rosto franzido e o segurou antes que ele avançasse para mim. Depois de lavar o pulso, tive o impulso de voar mais uma vez naquele miserável. Traidor! Destruidor de celulares, meus olhos se encheram de lágrimas. Ainda restavam algumas fotos dos meus pais no aparelho, não contive lágrimas.
- Cara eu te odeio – consegui dizer - pode soltar ele Atila, esse... Esse...
- Ei porra! Se controle ai, segura a onda – disse Atila para Fábio – tá querendo ser demitido? Se o Zé vir aqui vai ser isso que vai acontecer.
Fábio foi se acalmando, ajeitou o zuarte e apontou o indicador podre em minha direção:
- Se ele souber... Você tá frito. – Teve a coragem de dizer e sair com uma parte do olho roxo.
Movi, tentei mover meu pulso para um lado e outro. A dor já estava começando, Atila se aproximou de mim e pegou em minha mão. Os dedos dele tocaram minha pele e senti uma estranha energia passando dele para mim, a dor tratou de cortar isso. Ele olhou para mim com as sobrancelhas franzidas.
- Esse cara é agressivo – balbuciou Atila, hesitante – vem, lá em cima tem uma munhequeira vai aliviar isso ai... No meu carro tenho um gel...
Eu não acreditei e nem tempo tive para isso, já estava segurando meu próprio pulso e seguindo ele escada acima. Atila pegou a luva, passou pelo meu pulso e a apertou olhando para minha mão. Depois da tal munhequeira, senti um pouquinho de alívio na mão, porque no peito... Senti um tipo de vazio estranho. Foi com dor externa, interna, que voltei a olhar para a porta do banheiro.
- Obrigado – eu disse antes de nos aproximarmos do ônibus.
Ele parecia estar esperando exatamente isso. Virou-se para mim, e com o olhar muito compenetrado, usando as duas mãos para explicar. Disse em um fôlego só:
- Não somos amigos. Eu sei disso. Mas você não pode admitir isso, ser agredido – eu franzi o cenho – a partir do momento que isso acontece é porque a relação já acabou.
O primeiro ônibus saiu, e nos dois entramos no segundo. Por sorte, Fábio não estava neste. Subimos e como erámos os últimos a chegar, sentamos um ao lado do outro. Só ai com o ônibus em movimento, consegui raciocinar direito e entre riso e gratidão dizer:
- Não tenho nada com Fábio, - senti na hora ele se concertar na cadeira e me fitar – meu amigo, amigão mesmo, é quem tem uma relação... Que até ontem, sem brincadeira julguei ser uma das coisas mais bonitas que já tinha visto.
- Como a gente se engana não é? – ele disse, seus olhos estavam com aquele brilho. Eu me enxergava neles, como já tinha acontecido antes. Nunca me senti tão perto de Atila, quanto ali naqueles minutos no ônibus. Talvez pudéssemos ser amigos, pensei comigo mesmo enquanto seguíamos viagem. As dores na mão foram dando lugar a um desconforto apenas, mesmo assim mantive a luva. Sorridente Atila me explicou que meu trabalho não ia exigir o uso das duas mãos, não ainda. Se eu me sentisse mal podia falar a ele. Não sabia como, nem o porquê, mas daquele Atila eu conseguia não sentir aversão.
No caminho consegui organizar minhas ideias, apesar do pulso, e apesar do incomodo causado pela perda do celular. Fotos, mensagens, senhas, contatos... Tudo perdido neguei com a cabeça algumas vezes. Vida nova, tudo novo, tentei em vão me consolar com isso, o outro ônibus já estava estacionado quando o nosso parou. Erámos os últimos, por isso esperamos no final da fila de peões. Uma mistura esquisita de perfumes e desodorantes masculinos, se não tivesse perdido o celular e descoberto... Coitado do Robson, pensei desconsolado.
Mas como é que eu vou contar uma coisa dessas para ele? Nossa amizade ainda é tão recente. Ele não vai acreditar, não vai...
- Inácio, não vem? – disse Atila, e só então percebi todos já haviam saído. O acompanhei com aqueles pensamentos comendo meu juízo, e como desgraça pouca é bobagem...
A área de serviço era imensa, casas e mais casas todos de estruturas iguais. Um poste comum no passeio uma área espaçosa na frente e atrás. Eu olhava a fileira de casas, pela primeira vez as via assim. Antes apenas por fotos na televisão. O pessoal da obra pesada, (os mão na massa) já havia pegado seu rumo. Restou o grupo do acabamento. Chefiado por Atila, ele estava em frente a uma das casas. Chamou nossa atenção com palmas, e do lado dele estava o homem do banheiro.
-... bem eu sou Marcos engenheiro eletricista responsável pelo projeto que iremos implantar aqui, junto com o Atila... Que está quase para concluir o mesmo curso...
A voz do cara me irritou de tal modo que me afastei do grupo. Eles tiveram coragem de ficar de agarra, agarra ali no banheiro? Perguntei-me mudo, olhando a mão enfaixada. Fiquei dali, afastado ouvindo o restante das orientações. Eu ia montar as caixas para depois à tarde fazer a instalação, para os primeiros testes, na primeira rua. Ainda faltariam outras cinco. Sem contar o rejunte...
Atila estava carregando a sua maleta azul de metal e um chapelão com óculos escuros, nem parecia ele mesmo quando se aproximou com outro chapéu na mão. Ele me ofereceu o chapéu e eu ainda aéreo aceitei.
- Marcos é incrível não é – oh se é, eu pensei em dizer – gênio mesmo ele vai compor a minha banca quando eu apresentar meu trabalho de conclusão de curso.
Era a primeira vez que Atila tocava naquele assunto comigo, e gostei de ouvi-lo falar com tanta empolgação. Mesmo que como sempre fosse sobre elétrica, coisa mais nada haver para mim. Nós caminhamos para a primeira das casas, e eu fiquei me perguntando se devia comentar alguma coisa sobre o Marcos e o Fábio. Não tinha por quê, afinal ele era apenas um engenheiro. Não, não tinha mesmo porque ficar expondo a vida alheia. Mesmo eles mesmos fazendo isso.
- Eu... – disse do nada para Atila – consegui fazer tudo ontem, mas me esqueci completamente de atestado. Hoje com essa confusão toda ainda não vi o seu Zé.
- Fica tranquilo... Eu aviso que você vai compensar no final de semana.
Continuamos com o serviço, sem trocar muitas palavras além do que exigia o trabalho. Já próximo ao horário de almoço, vi de relance Fábio passar. Se ele fosse meu tio ou Adelmo, ambos com porte de armas, eu teria estremecido de medo. Mas consegui não sentir absolutamente nada além de repugnância. Como pude me enganar tanto com alguém? E se eu me enganei, imagina só o Robson coitado, fiquei martelando em minha cabeça esse assunto e ainda não me decidira.
Se fosse eu, gostaria que alguém me falasse. Ainda mais uma amigo, mesmo assim ele poderia não acreditar... “quando a agressividade começa o relacionamento acaba” consegui lembrar por alto de uma campanha antiga contra relação abusiva. Meneei a cabeça.
- Atila... – falei, ele não estava. Mais adiante o vi conversando com o tal Marcos. Os dois pareciam muito amigos, esse mesmo sujeito veio até mim sozinho.
Não levantei os olhos daquilo que estava fazendo, ele continuou próximo observando meu trabalho manual. Quem nos visse de longe poderia achar que estávamos conversando, mas nenhum dizia coisa alguma.
- Quanto você quer pra ficar de bico fechado? – disse sorrindo como se tivesse acabado de contar uma piada. – Você não viu nada... Acha que viu eu não tenho nada com aquele peão, fomos amigos de colégio e só... Anos atrás – o silêncio no momento certo é uma arma e tanto, pensei ainda abaixado – olha nos somos do mesmo time não é. Que isso você também já deve... Ham, só diga quanto.
Eu o olhei pela primeira vez com atenção. Seu rosto era branco, suas sobrancelhas amarelas e cabelos dourados, só os olhos castanhos. Barba cerrada, douradinha. Tão diferente do meu amigo. Pensei em dizer um texto de coisas, pensei em sermões, pensei até em dar um susto nele, mas foi Atila quem me deu a resposta:
- Ainda aqui! – disse expansivo – minha irmã ligou para mim querendo falar com você. É sobre o casamento.
As palavras do meu “parceiro” de trabalho me acertaram em cheio. Voltei a prestar atenção no serviço, mas não resisti quando o tal Marcos se afastou:
- Ele é seu cunhado então? – arqueei as sobrancelhas.
Atila afirmou com um gesto de cabeça, enquanto Marcos ao celular se afastava de nos. Ele não me dirigiu mais a palavra, já Atila falou um pouco do casamento da irmã, mas nada demais. Eu estava em uma encrenca sem tamanho... “O casamento”, me disse Atila, seria dali a algumas semanas. Só o tempo de um vestido especialmente feito por costureiras maranhenses ficar pronto. Sua família pelo que pude notar tinha uma condição boa.
Minha tarde apesar da mão; celular; e Fábio, Marcos, foi produtiva. Consegui junto com Atila terminar duas ruas. Ao voltarmos para a empresa, um cansaço dominava meus ombros um peso, sorri estafado, quando coisas boas acontecem em cascata... As ruins descem pelas paredes.
Eu segui para o ponto de ônibus a alguns metros dali, o carro de Fábio passou por mim, adoidado. Esperei no ponto minutos a fio. Sem meu celular não sabia as horas nem se Rosbon ainda estava no prédio. Apenas um ônibus foi preciso para chegar a rua da quitinete, o porteiro tinha meu nome anotado, e junto um envelope amarelo.
Eu subi para meu apartamento, sem a emoção com a qual imaginei que faria. Bati na porta e Robson abriu risonho. Eu abri a boca para falar, para contar tudo, não saiu ouvi um barulho vindo de dentro da casa. Fábio estava ali, descamisado e com uma latinha de coca-cola em uma das mãos. Cocei a cabeça sem conseguir expressar reação nenhuma.