Eu estava distraído, quando o amor me achou - CAPÍTULO 21

Um conto erótico de Lissan
Categoria: Homossexual
Contém 2051 palavras
Data: 03/06/2019 21:51:42
Assuntos: Gay, Homossexual

Olá! Demorei hoje a beça hein? Mas enfim, cá estou com mais um capítulo.

Espero que deixem nos comentários o que acharam e não fiquem com muita raiva, porque o personagem toma certa decisão... Vocês irão ler adiante, beijos a todos, muito obrigado a todos e até amanhã!!!!

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- Olha isso – ele diz enquanto se concentra no sinal – é a gravação do dia em que separei aquela briga entre você e Fábio.

Semicerrei os olhos para a tela, Fábio e Marcos apareciam logo um ao lado do outro. Fabio o cumprimenta com um aperto de mãos e Marcos o puxa para um meio abraço. Conversam algo e entram no banheiro. Demora alguns minutos para eu aparecer no visor, e sinto um calafrio ao assistir a mim mesmo. Atila pausa o vídeo e segue com o veículo, continuo a olhar para a tela mesmo assim. Não sei o que dizer. Não sei se realmente posso fazer isso... Eu devo a Marcos, se não fosse ele... Por outro lado pode muito bem ter sido a mando dele...

Assim distraído com esses pensamentos brotando um a um na minha mente, o cheiro do perfume me faz virar a cabeça em direção ao motorista.

Atila ergue uma das sobrancelhas como se interrogasse sobre o vídeo, mas ele não chega a dizer nada. Meu coração vai a mil, eu olho para ele e sinto bater ainda mais forte cada vez mais, Atila estaciona de novo. Minhas mãos tremem, ele finalmente se vira para mim, e até entreabre a boca para falar algo... Eu seguro sua cabeça e selo nossos lábios. Sinto a mão de Atila, afagar a minha e ele não me rechaça. Seus lábios apertam os meus, o seu cheiro me envolve, sua mão, seu gosto na minha língua.

Todo meu corpo estremece como se vários fogos de artificio se explodissem ao mesmo tempo no meu tórax. Eu sorrio enquanto avanço mais em sua boca, e sinto as duas mãos dele pressionando as minhas.

- ...saiam da frente caralho! – grita alguém do lado de fora do carro, e só então percebo quantas buzinas estão apitando. O homem começa a bater no vidro nos obrigando a nos desgrudar.

Meus lábios ainda formigam quando desgrudo dele, e nossos olhos se ligam, o rosto dele está corado e sinto o meu queimar também. Volto anos luz ao tempo e me recordo da adolescência quando imaginei ser o último dos garotos a beijar. Quando pensei que não sabia fazer isso e depois descobri como era simples e natural.

Atila e eu, ficamos em silencio, pelo menos até ele encostar o carro já próximo ao trabalho. Quando o barulho roncado do motor cessa de vez, e apenas as batidas do coração se tornam possíveis de serem ouvidas... Sinto meu corpo estremecer como se eu estivesse com febre, minhas mãos e pernas se agitam ao mesmo tempo...

- Preciso de ar – eu digo – nos, nos falamos...- abro a porta do carro e saio primeiro em direção a empresa, passo direto para o ponto de ônibus.

Nunca meu coração bateu tanto e tão rápido, nunca meu corpo pediu o de alguém assim e jamais senti meus olhos se encharcarem ao beijar alguém... Idiota! Idiota! Idiota! Repito para mim mesmo, que ideia também! O primeiro ônibus que aparece dou a mão e ele para, entro sem saber para onde vai. Toco mais uma vez meus lábios e sorrio idiota, a cobradora com as sobrancelhas franzidas estende a mãos me achando com cara de louco provavelmente.

Passo pela catraca e me sento em uma das cadeiras, próximo da janela, meu celular começa a tocar. O mesmo número estranho de antes, será que era ele? Paranoia minha! Atendo a chamada, e na mesma hora que ouço a voz, o reconheço. Não é paranoia minha coisa nenhuma, é mesmo o número dele... Afasto um pouco o celular do ouvido, e o ouço entrecortado:

- Alô, alô? Inácio – suspira do outro lado da linha – está me ouvindo? Onde você está hein? Olha... Por favor, só me diz onde você tá agora que eu vou ai... A gente conversa... Ou não... Se você quiser... Alô Inácio?! – pressiono o botão ao lado do celular até aparecer o nome “desligar”, respiro profundamente antes de apertar nele.

Os primeiros pingos de chuva começam quando o ônibus cruza o centro da cidade, a cada ponto que para, em sinaleira ou ponto, penso em sair. Parar ali mesmo pegar um uber, táxi, ônibus e voltar como um adulto. Voltar e encarar tudo... Mas então o gosto do beijo, as sensações que nunca tinha sentido antes... Empurram meu corpo e não posso, não quero sair da segurança daquele ônibus desconhecido cruzando a cidade de ponto em ponto. Fecho os olhos para receber um pouco do vento com pingos de chuva pela abertura da janela e recordo como foi difícil da última vez.

Anos atrás quando eu ainda não passava de um adolescente, e na companhia de outro adolescente fiz... Fiz o sexo mais gostoso, mais amoroso, mais, mais e do nada tudo se foi, abrindo um vazio enorme em mim.

-... pode fechar a janela por favor – me desperta uma senhorinha, eu assinto empurrando o fecho da janela. – Obrigada.

Meu rosto está molhado, mas não sei se é das gotas de fora ou das de dentro de mim. Sorrio por tudo aquilo do passado ter permanecido lá, e hoje ser apenas uma cicatriz. E eu pensei que estava mais forte, me inclino na cadeira e abaixo um pouco a cabeça. Cicatrizes não são símbolos de força, sim uma página de história, para nos lembrar a não cometer o mesmo erro, penso nisso por um tempo. A senhorinha ao meu lado se ergue, e eu vou atrás dela.

Desço não sei bem onde, e ainda chuvisca. Fico ali embaixo do toldo que guarda o banco de espera pelas conduções. Tiro do bolso o celular... Meus olhos ainda estão molhados, noto ao toca-los... E por isso sujo a tela do celular, as mensagens, chamadas, avultam logo, várias, seguidas, não dou atenção a elas ligo direto para Robson. Como se estivesse esperando por isso ele atende de imediato.

- Maluco onde você se meteu? Escuta o Atila tá aqui louco atrás de você! E eu também agora estou preocupado...

Um balde de agua fria, isso é o que eu sinto ao ouvir Robson. Encerro a chamada, abro o aplicativo do uber.

- Que ponto é esse? – pergunto a um rapaz de mochila ao meu lado, e enquanto ele responde já passo a localização pelo aplicativo mesmo para o motorista. – Obrigado...

Não sei para onde ir... Ou melhor, acho que sei, mas tenho medo disso também, envolver mais gente na história, em uma coisa tão boba... Basta eu ir para casa e ter uma conversa séria... O beijo me vem à mente, sorrio mais uma vez ao pensar nele, em nos. Nego com a cabeça. Só vou me arrebentar nessa história isso sim, o final vai ser mais um buraco enorme em mim. Mais uma cicatriz enorme, eu não vou suportar, já bastou ser traído da última vez, sentir aquilo de novo? Engulo em seco e nego, não para o beijo que foi tão... Nego para evitar me iludir nessa aventura... Se fosse só mais um beijo, só um normal... Volto a me lembrar do que senti na hora e tenho certeza, não foi só um beijo...

- Moço, o senhor tá passando mal? – me pergunta o rapaz ainda ao meu lado.

- Não, - digo – não fisicamente pelo menos... – sussurro mais para mim. Um carro estaciona, me aproximo e abro a porta. – Por favor, toca para... – penso bem no que dizer ao homem, engulo em seco... Talvez eu faça a maior burrada da minha vida.

O carro não demora a atravessar parte da cidade e logo estamos diante do meu destino. Procuro pelo número de celular de Emerson, e quando o encontro o motorista já está com a cara avermelhada de raiva pela minha demora. Entrego a ele o valor da corrida, começo a ouvir as chamadas, uma atrás da outra.

Saio do carro e não conheço ninguém, ali e sei que sem um conhecido não posso subir. Continuo tentando falar com Emerson, o carro dá macha ré e saí. Sento ali no passeio e pressiono o celular no ouvido, está apenas garoando, mas já sinto minha cabeça úmida. Finalmente ele atende, fica em silencio, pelo barulho de talheres e pratos, parece estar em casa.

- Então? Liga e não fala nada – diz finalmente – aconteceu alguma coisa com você? – hesito em responder.

- Emerson, - digo já um pouco choroso – pode descer e me buscar aqui na entrada da comunidade. Não posso ir para casa. Não sabia mais para onde ir.

- Não diga mais nada, estou indo – é tudo o que diz. Basta para um alivio florescer no meu peito, por mais que eu saiba meu erro em buscar a ajuda de alguém que espera algo de mim.

A chuva chega enquanto Emerson não. Fico ali esperando, assistindo as pessoas com sacolas e guarda-chuvas subindo para suas casas. Fecho os olhos e deixo a agua levar de mim todas as tensões e pensamentos confusos, deixo toda aquela agua me encharcar. Mesmo assim continuo com as mesmas aflições de antes. Dois rapazes armados param com a moto perto de mim, eles não dizem nada ficam ali perto como se me sondando. Até um deles se aproximar com o cabo da arma aparecendo, imagino que irei ser assaltado então já fico pronto para entregar meu celular. Depois da chuva não sei o que será dele.

- Bora chispando daqui – diz ele segurando o cabo da arma – não ouviu porra?! Vaza logo ou quer receber uma bala de presente?

Olho para o moro às costas do rapaz, e me viro, obedecendo-o. Penso se foi Emerson quem mandou esses sujeitos, e não chego à conclusão nenhuma enquanto caminho. Mas não vou longe, o carro dele estaciona próximo a mim, rente ao passeio. Eu vou até ele que abaixa o vidro.

- Estou encharcado - digo.

- Entra – ele responde, abro a porta dos fundos – meu deus, vai acabar pegando um resfriado...

- Desculpe por ter trado você daquele jeito ontem – digo.

- Inácio se você continuar a falar desse jeito, eu vou achar que deveria te levar a um hospital, não a minha casa – ele diz – então?

- Tá legal, vou tentar ser menos... desculpista – sorrio, e ele devolve gargalhando também.

Manobra o carro e sobe o moro. Mais uma vez me surpreendo pelos caminhos que toma, porque para quem chega, por ali, por aquela entrada da comunidade, não parece ser possível um carro transitar por algumas vielas, mas Emerson me mostra o quanto estou errado. O carro dele chega a dividir a rua com os pedestres, enquanto seguimos, ele me fala sobre o que estava fazendo quando eu liguei e porque demorou. Na verdade nem precisaria me dizer o porquê, dava para sentir. O cheiro do perfume ou desodorante masculino domina o interior do carro. Eu olho para ele ali, sentado com as mãos no volante.

- ...pra sua sorte fiz uma comida hoje...

- Atrapalhei algum encontro? – ele balança a cabeça. Estaciona o carro em frente a sua casa. – Não vai trabalhar mais hoje? – pergunto.

- Não – ele diz – nesse meu negócio, tenho uma liberdade... – sorri pelo retrovisor. Ainda está garoando do lado de fora. Meu celular começa a vibrar mostrando que ainda funciona. – É o motivo de você está aqui agora?

Olho para o celular, o número na tela, o número de Atila... Fico pensando em mais cedo, no beijo, naquele homem agora ali a minha frente, em Atila antes e como os dois estão em níveis tão diferentes dentro de mim. Olho para Emerson, ele não compete com Atila. Eu sei disso, digo isso a mim mesmo. Como é uma loucura estar aqui diante desse homem, mesmo assim, temo em voltar a ver Atila.

- Não vou resistir – repito em voz alta.

- Saiu sem querer não foi? – ele diz compreensivo, eu assinto – se você quiser, pode ficar aqui em casa o tempo que quiser... Não vou forçar nada. Eu vi ontem, você tá a fim de outro cara não é? – ele pergunta e nem preciso responder – vamos entrar, se quiser depois me conta, tá bom?

Eu assinto, e sinto que fiz a escolha certe em vir para cá. Pelo menos para colocar a cabeça no lugar. Organizar melhor as ideias...

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Comentários

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Me diz uma coisa: Seu personagem tem TDA? Ele apresenta vários sintomas! Eu acho um pouco irritante como ele é estranhamente disperso e desinteressado com o que acontece a volta dele. O dia da festa no morro, por exemplo. Ele não perguntava nada pra ninguém só parecia um mero espectador. Impulsividade e mudanças bruscas de assunto. Esse beijo no Atila mesmo. Eu fiquei tipo: "Mas o que deu nele?! Não tinha clima nenhum e ele simplesmente beija o cara?" O Inácio não é o personagem mais esquisito que ja li em contos aqui, mas entra na lista dos dez mais. Eu poderia jurar que ele está em algum tipo espectro!

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Então, o dez é pela qualidade da narrativa e pelo enredo competente. É claro que eu estava torcendo para que Inácio levasse adiante o que começou com Átila. Mas, a gente sabe que os romances não são tão simples assim de acontecer nas histórias. Não sei quantas voltas ainda daremos para chegar lá, mas sou paciente. Toque aí sua história que eu assisto.

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Eu achei q o Atila foi maravilhoso! Não negou o beijo!

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