Nos capítulos anteriores...
Enrique tentou me agarrar quando fui devolver seu celular, mas mesmo fugindo ele veio atrás de mim. E agora iremos passar uma noite a sós em uma chácara.
Menino de Rua 1x05
Estava na estrada rumo à chácara da família ao lado de Enrique, como as mochilas e sacolas lotaram o porta-malas, o resto veio no banco do fundo, restando assim a frente para mim. Desde que saímos de casa Enrique não falou nada comigo, estávamos em silêncio a um bom tempo. Estaria ele com vergonha do que fez? Estaria eu com vergonha de não ter transado com ele? Fechei os olhos e imaginei como as coisas poderiam ter sido se tudo ocorresse de outra forma,
como estaríamos agora se...
*Isso é seu? – Perguntou abrindo para vê se tinha detergente para fazer bolhas.
- É do meu sobrinho, deve ter deixado por aí – Respondi quando uma bolha estourou no meu rosto. Ele deu uma risada inocente. Enrique parecia uma criança naquele momento. Fez mais bolhas do que eu poderia estourar, rimos muito juntos até que seu olhar sobre mim se tornou o olhar de um homem que me desejava.
Uma bolha de sabão circulou no espaço entre nossas bocas, os olhares indo na boca um do outro, até que se colaram
em um beijo.
- Eu sempre quis sentir o gosto do seu beijo – Ele falaria.
- Você pode sentir o quanto quiser Enrique, sou todo seu – Eu diria.
Iríamos nos beijar, deitar na cama sem precisar recorrer ao dinheiro, a fuga do que éramos e nos amaríamos até cansarmos. “Bruno, Bruno” ele diria ainda nos meus ouvidos enquanto seu corpo estaria repousando sobre o meu.
$$$
- Eu... eu te pago – Ele falou. A lembrança real era essa.
$$$O que está pensando, Bruno? – Ele cortou meu universo paralelo que provavelmente estaria com ele agora fazendo um boquete enquanto dirigia como dois namorados safados. Não com meu desejo reprimido por ele ser o meu cunhado.
- Estava pensando em algumas coisas. Err... Ali na frente vire a direita – Eu disse enquanto olhava o anoitecer chegando pela janela do carro. O perfume dele me abraçava em seu lugar. Pude sentir seus olhares e o calor em seus olhos.
*
Quando chegamos o Sr. Raimundo, que cuidava da Chácara, já tinha ido embora, começamos a esvaziar o carro e a levar as coisas para dentro. No meio do calor, ele tirou a camisa revelando todo seu corpo, sua calça era folgada e assim parte da cueca ficava amostra, tentei não olhar muito, mas era impossível quando nos batíamos de frente. Enquanto ele arrumava as coisas na geladeira, eu arrumava as coisas do armário.
- Você poderia me mostrar o local – Ele falou logo após terminarmos de arrumar as coisas. Eu não poderia negar, era a primeira vez dele ali. O local estava bem cuidado e fazia tempos que eu não andava por ali, assim fui mostrando todo o local para ele. Os quartos, o pequeno quarto escondido que ficava em uma espécie de açalpão, era o meu lugar preferido da chácara, depois da piscina.
- É um ótimo lugar – Enrique falou. Apensar de está sem camisa, Enrique estava se comportando. Será que finalmente havia parado de me seduzir?
- Sim, vinha mais aqui quando era mais novo. Eu e a Lia... – Eu disse, mas ele colocou os dedos nos meus lábios para me silenciar, seu corpo estava perto e fiquei ofegante.
- Não vamos falar da Lia, ok? Estou com fome, vou preparar algo para gente comer e beber. – Ele disse e foi em direção da cozinha.
Fiquei olhando aquele corpo indo para longe. A vontade de gritar o quanto era injusto aquela situação foi grande. Fui olhar o meu quarto e arrumar minhas roupas, faria o mesmo com o dele, já que ele estava cozinhando, logicamente em quartos separados. Enquanto tirava suas roupas aproveitei para abraçar uma de suas camisas e tentar sentir o cheiro dele além do amaciante que ele usava, não obtive sucesso. Pare Bruno, não se torture dessa forma. Coloquei as roupas dele de volta na mala e saí. Precisava de um banho.
Entrei no chuveiro, a água estava quentinha, não precisava regular. Talvez tenha sido o choque com o calor do meu corpo. Fechei os olhos para sentir a água me purificar. Senti Enrique me abraçando por trás, sua barba roçando em meu pescoço, enquanto seu pau ereto tentava se encaixar por dentro da minha bunda.
- O que você está fazendo? – Sussurrei.
- Estou dando o que você quer. – Ele disse e agarrou meu pau para me masturbar.
Seu braço me prendia pelo pescoço, enquanto ele entrava fundo, dei um breve gemido, sua força era tanta que as veias em seu braço pulsavam. Eu só queria que ele entrasse mais e mais.
- Não vai sair do banho? – A voz dele do outro lado da porta me trouxe para a realidade. Minha mão estava no meu pau e não a dele.
- Já estou acabando. – Respondi começando a me ensaboar. Por que eu estava pensando nessas coisas? Por que você não é meu, Enrique? Não sabia mais o que era água ou lágrimas nos meus olhos. Saindo do chuveiro percebei que eu havia esquecido a toalha.
- Enrique? Está ai fora ainda? – Perguntei com voz de interesseiro.
- Estou – Poderia até imaginar ele sorrindo.
- Você pode pegar minha toalha lá no quarto?
- Claro.
Enrique voltou com a toalha e também pelado, entrou no banheiro sem nenhum pudor. Rapidamente me enxuguei e saí enquanto ele tomava banho. Vesti a cueca ainda excitado. Pelo menos assim eu tinha a certeza que eu deveria tomar cuidado, ele ainda estava tentando me seduzir.
*
Na beira da piscina ele montou uma mesa com alguns petiscos que preparou e o baú de cerveja do lado. Em outra situação aquilo seria um romance de cinema, não sabia se eu deveria aceitar aquilo que ele estava fazendo, mas era um lado dele que eu não conhecia até então. O que você está tentando provar para mim, Enrique?
- Já começou sem mim?- Ele falou percebendo meu copo já cheio. Estava de sunga, volume completamente marcado. Os cabelos ainda molhados e o sorriso do tamanho do mundo.
- Demorou no banho – Eu disse me servindo de mais um gole. Ele se juntou a mim do outro lado da mesa.
Conversamos muitas besteiras da época de escola, sobre o que aconteceu com cada colega, falávamos dos professores que mais gostamos e mais odiamos, comíamos e bebíamos como dois velhos amigos. Enrique se jogou na piscina.
- Vem, Bruno. A água está maravilhosa – Ele disse dando um mergulho. Eu não queria entrar, estava melhor ali vendo ele mergulhando. Seus braços pareciam ainda mais largos dentro d’água. Como ele era lindo. A noite foi passando e as bebidas cada vez mais ingeridas. Estávamos bêbados.
- Bruno... – Enrique começou.
- Sim?!
- Desculpa – Ele falou rodando o dedo na borda do copo, aquele sorriso de antes não estava mais no seu corpo. Seu olhar estava distante.
- Por?
- Nossa história ser assim...
- Se abra para mim – Eu disse e vi lágrimas escorrem dos olhos de Enrique.
- Eu não me aproximei da sua irmã a toa, Bruno. Um dia levei o Bolha para clínica e ela estava com uma foto aberta no celular, eram vocês dois. Eu não sabia como voltar para você depois daquele dia, não sabia como me aproximar de você. Então arranjei a forma mais desumana possível porque é o que eu sou.
- Você... – Ele me interrompeu mais uma vez com o dedo na minha boca, dessa vez alisando meus lábios.
- Você já viu alguém sendo assassinado, Bruno? – Sua voz estava seca, ele bebeu mais um copo inteiro.
- Não.
- Eu tinha um amigo de infância, Igor. Éramos melhores amigos, corríamos por toda a cidade, passava o dia na casa dele. Um dia estávamos em uma brincadeira inocente, não tinha maldade, nem pensávamos nisso. Era coisa de menino, um tentando bater na bunda do outro por zoeira. O pai dele nos pegou, me expulsou da casa dele e da vida do Igor. Foi o primeiro momento que perdi parte da minha vida por causa do que sinto, não, por causa do medo de que eu me tornasse isso. Eu sabia que era algo errado que eu fiz, fiquei com medo do meu pai descobrir. E ele descobriu, o pai do Igor contou o ocorrido. Apanhei como nunca havia apanhado. “ Homem gosta de buceta, garoto” meu pai dizia enquanto me batia com um pedaço de madeira. Lembro da minha mãe intervindo e apanhando dele também. “Estou ensinando ele a virar homem, não se meta mulher” Ainda estávamos morando no interior.
- Eu pensei que seus pais eram arquitetos – Comentei lembrando do primeiro dia que ele esteve no meu quarto.
- Menti, não gosto que saibam dos meus pais. Meu pai estava transtornado, tinha virado um monstro. Na cidade, vivia uma travesti, era famosa, conhecida de todos. Meu pai e o pai de Igor culparam o comportamento daquela pessoa. Era noite quando meu pai me tirou da cara pelos braços e me levou até um matagal, Igor e o pai estavam lá. Igor chorava e eu não entendia o que estava acontecendo. Era a travesti que estava jogada o chão, um dos olhos para fora da órbita. Vomitei. – Enrique estava chorando, assim como eu. Ele parou um pouco de falar e eu peguei em suas mãos – “ O que vocês estavam fazendo é um passo para se tornar uma coisa igual a... essa” meu pai falou. Tempos depois a policia descobriu e os dois foram presos, mas o estrago estava feito. Igor se matou quando completou 16 anos. A imagem do que eu poderia me tornar me amedronta até hoje, mas essa natureza nunca me deixou.
- Enrique... Eu...Eu – Eu sentia muito, eu não conhecia ele, não conhecia o homem por trás daquela casca sexual que usava do que sentia para se aliviar, Mas ele tinha seu passado.
Enrique começou a chorar mais do que antes, levantei rapidamente para abraçá-lo. Eu sei que a bebida facilitou para que ele se revelasse para mim, mas não significava que a dor dele não era real. Eu não me aceitava, mas não tinha motivos tão fortes quanto ele tinha. Enrique viu cara a cara a pior forma que um humano pode ser, isso me machucava tanto quanto a ele. Ele começou a vomitar diante de mim.
- Vem, vou te dar um banho – Apensar de está tão tonto quanto ele, eu estava em melhores condições de fazer algo.
Retirei a sunga dele e a minha roupa e o coloquei embaixo do chuveiro, ele caiu no chão e não queria se levantar, mas seus braços ainda apoiados em meu pescoço. Sua voz já estava mais embolada do que antes. Poucas coisas eu conseguia entender depois de muito esforço para escutar.
- Não me julbe bor ser assim, eu queria ser cabaz de...de... – Dessa vez foi a minha vez de colocar o dedo em seus lábios. Não só os dedos, mas também os meus lábios. Eu o beijei, um leve beijo para acalmá-lo. Acalmar a nós dois. Era a primeira vez que eu o beijava depois de cinco anos.
- Obrigado.
Depois do banho, eu enxuguei todo o seu corpo e o levei para o quarto dele. Assim que o coloquei sentado na cama, ele virou para o lado e deitou. Não daria para vesti-lo. Dei um beijo em sua testa e ia saindo do quarto para me vestir e deitar, eu já esta com a mão na maçaneta da porta quando ouvi sua voz.
- Não vá, dorme comigo, pelo menos uma vez – Ele pediu.
Eu não tinha como negar seu pedido depois de tudo o que ele me revelou hoje. Desliguei as luzes e deitei ao seu lado. Eu o abracei e ele se encolheu para o meu abraço, colei minha cabeça na sua, nossos corpos pelados se encontravam juntos pela primeira vez sem sexo. Adormecemos juntos em nossos perfumes.
Acordei no dia seguinte primeiro que o Enrique, eu ainda estava abraçado com ele. Ele ainda estava encolhido, dessa vez com um sorriso no rosto. Fiquei admirando ele por um bom tempo até que olhei em volta do quarto, do lado de fora mais dois carros estavam estacionados. E uma dúvida surgiu em minha cabeça: por que a porta do quarto estava aberta se eu havia fechado?
Continua...
Mas um capítulo postado galera, espero que gostem.
Bjs bjs e abraços.
P.s: Foi difícil escrever esse capítulo.