Olá a todos!! Tudo bem com vocês???
Em primeiro lugar gostaria de agradecer aos leitores, e principalmente a quem deixa o comentário também, porque ajuda na empolgação para continuar a história. Então, MUITO OBRIGADO! Em segundo lugar, acho que não escrevi isso nas outras partes, mas o faço agora com muito prazer, o Inácio é o “distraído” do titulo. Talvez isso ajude a aceitar um pouco as atitudes dele (kkkkkk).
Respondi os comentários do capítulo 21, não é sempre que consigo fazer isso... Mas sempre, sempre, leio todos os comentários. Fico repetindo nisso, mas imagino que muitos que leem, também escrevem, ou já escreveram e entende essa minha persistência. Valeu mesmo a todos e bora lá!
#Geomateus – Tai uma palavra> incoerente. É isso mesmo (kkkkk) o personagem principal é exatamente assim. OBRIGADO PELOS COMENTÁRIOS.
# Victinho123 – Obrigado, obrigado, obrigado, e obrigado!!!
# Miller – Olá! Inácio é um cara confuso, o “distraído” do titulo (kkkkkkk). OBRIGADÃO PELO COMENTÁRIO!!
#Abduzeedo – Olá, tudo bem com você? Li seu questionamento, MUITO OBRIGADO! Tem coisas que só mesmo olhos externos à história conseguem desnudar, para mim passam despercebidas. Pois bem, você deve ter se referido ao Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Se o personagem demonstra ter os sintomas, bem não foi minha intenção ao escrevê-lo (kkkkkk). Mas o fato de ser um jovem gay, que perdeu os pais, mesmo estes sendo militares. Ter convivido com essas pessoas de caráter rígido durante tantos anos o tenha levado a uma personalidade para quem o confronto incomoda, machuca, atemoriza. E por isso ele quase sempre foge do confronto... Sou o autor da história, então sou suspeito (kkkkkkkkk), mas sim digamos que os espectros do passado o obrigam a tomar algumas atitudes incoerentes. E mais uma vez obrigado pelo comentário!!!
#tiopassivo – Ah obrigado pelos elogios ao enredo e narrativa, agradeço meeeemso!!! Fiquei muito na dúvida se não devia mexer nesse capítulo e mudar tudo (kkkkkk), mas decidi apostar nele mesmo. Obrigado pela paciência! (Kkkkk) e você está certinho, são voltas mesmo, não muitas a partir de agora... OBRIGADO PELOS COMENTÁRIOS!!!
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UMA ÓTIMA LEITURA A TODOS
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A casa de Emerson tem cheiro de lavanda, noto isso assim que entramos. E mais uma vez a mágica das luzes acontecem e elas ascendem. Ele entra pelo corredor, e me chama lá de dentro, fico até com receio de entrar pela casa, molhando tudo. Mas obedeço e o encontro no primeiro quarto, Emerson joga uma toalha para mim. Eu a alcanço ainda no ar.
- Se seque, vista essa roupa limpa e durma um pouco se quiser – ele diz – vou terminar o que comecei na cozinha.
Ele sai, meu celular começa a vibrar. Olho para a tela e vejo o número de Atila, já estou até gravando ele de tanto eu ver. Tiro a roupa, e tento me secar com a toalha, mas o frio me obriga a vestir a peça de roupa deixada por Emerson em cima da cama. Visto e tudo é enorme em mim, sem cueca por baixo da calça de moletom, desbloqueio a tela do celular. As mensagens de voz no aplicativo estão todas com o pontinho azul, ou seja, ainda não as escutei. Decido pela última mensagem, primeiro ouço um silencio e o barulho de chuva batendo no capô de um carro.
“... porque você está fugindo de mim? Eu não consigo entender nada... porra... Não era pra ser assim.” Ouço, ou acho que ouço, porque o barulho da água batendo no carro meio que veda a voz dele. Com o polegar vou passando as mensagens até chegar a primeira, ainda de manhã “Eu estou na sua casa. Vamos conversar? Por favor, te espero aqui.” Ele ainda estaria lá me esperando? Com a toalha enrolada na cabeça, deito na cama, mas com os pés ainda no chão frio.
Busco pelo número de Robson, e esse é outro que enche meu celular com mensagens e chamadas perdidas.
- Finalmente! – ele diz assim que eu ligo na primeira chamada já.
- Estou bem... Atila ainda tá ai? – pergunto e ouço Robson fazer um movimento como se descesse as escadas – Robson? – pergunto.
- Ele tá estacionado na porta, - suspira - amigo, me desculpe, mas o que foi que aconteceu hein? O cara tá preocupado com você, de verdade... Olha liga para ele.
- Não posso... – consigo dizer baixo – Eu ainda não posso falar com ele Robson, não consigo... Fala você por mim, por favor? Diz que estou bem, que vou procurar ele... E... – hesito – pede desculpas a ele por mim.
- Ah vá! Inácio nos nós conhecemos a tão pouco tempo e mesmo assim te conheço muito bem, - ele está abrindo o portão do prédio eu ouço o barulho – você está recuando, tá fugindo, você não é assim.
Solto o ar pelo nariz, afasto o celular do ouvido e ele avisa que vai desligar por falta de carga. Então eu mesmo vou lá e aperto no botãozinho ao lado. Robson tem razão, estou hesitante com tudo. Temeroso. E não é só porque eu tenho que sofrer as consequências dos meus atos. Beijei Atila e ele retribuiu. No fundo eu esperava que ele fosse me empurrar ter uma reação mais fatal. E não retribuir o beijo, me fazer sentir aquilo... Deito em posição fetal na cama de Emerson, ou na cama do quarto de hospedes, vai saber. Entregar alguém, alguém que no fundo é semelhante a mim, isso é a ponta da flecha no meu calcanhar. Isso me machuca. Entregar alguém que sente igual a mim, que está onde eu já estive... No armário.
O beijo só me fez pensar ainda mais nisso ao invés de desviar a atenção. Criou uma tensão ainda maior. Idiota!
- Inácio? – diz Emerson da porta – para de se consumir e vem consumir alguma coisa, anda. Bora, bora, não vou te deixar aqui sozinho não. Pensei melhor, e isso é pior quando a gente tá na fossa.
- Eu não estou na fossa – protesto me sentando na cama – só acho... Estou é fugindo mesmo. - Ele caminha até mim, consulta o relógio no pulso. Senta-se ao meu lado e deita na cama como eu estava antes. – O que está fazendo?
- Nada ué, só quero que não fique sozinho pensando que é o pior ser humano da face da terra – arqueja – você sabe que sou traficante. Eu sei que você é filho de uma família de policiais, devíamos estar um fugindo do outro... E, no entanto você correu para pedir a minha ajuda. Então eu só posso imaginar que o que te dar medo é mil vezes pior do que o fato de estar na casa de um bandido confesso.
Olho para ele ao meu lado e deito também ao lado dele, nossos braços ficam a uma mão de distancia. E não rola nada entre a gente, ele está olhando para o teto e eu faço a mesma coisa, respirando pesado.
- Em minha defesa e que meu tio não me ouça, acho que você apesar da sua... Escolha de vida – ele sorri – ainda é uma pessoa mil vezes melhor que gente que veste a farda da policia. Mas me avise se eu tiver que fugir, pelo jeito faço isso bem...
Ele solta o ar dando uma gargalhada forte e avança para cima de mim movendo a ponta dos dedos aos lados da minha barriga, e isso me faz cocegas e começo a sorri. Gargalhadas de cocegas.
- Cara como você está auto piedoso – eu continuo a sentir meu rosto ficar vermelho e a necessidade de sorri, gargalhar forçadamente – para com isso, ninguém deve se sentir assim...
- Para, - peço sentindo meu estomago contrair – para Emerson! – finalmente quando ele encerra a sessão de cocegas, consigo respirar livremente. Fecho os olhos curtindo o ar entrando e saindo por meu nariz, abro os olhos e ele ainda está em cima de mim. Nos nós olhamos, ele por bem mais tempo. – Estou mesmo... Meio para baixo hoje, com o que fiz com o que tenho que fazer, é uma mistura...
Ele dá um salto e fica de pé. Oferece a mão, para mim e faz uma reverencia como se fosse um palhaço diante de sua plateia. Eu nego com a cabeça para o jeito imbecil com o qual olha para mim.
- Nada melhor do que meu risoto para ressuscitar seu mau humor – diz segurando minha mão a força e mais a força ainda me fazendo ficar de pé – vamos, vamos, hoje eu não volto ao trabalho mais. E quando, daqui a – ele consulta o relógio – daqui a algumas horas, você já estiver estabelecido, eu mesmo vou te levar para casa.
- Risoto... – penso na palavra que na minha mente não se liga a comida nenhuma – acho que nunca comi... – digo tentando melhorar minha carga dramática sem sentido. Até porque nenhum deles sabe sobre meu passado. Ninguém sabe, porque eu nunca quis contar. – Obrigado senhor... – faço uma reverencia também entrando na brincadeira. E sentando no banco/cadeira que ele puxou para mim.
Dou a primeira garfada e como da última vez o gosto me impressiona, há no final um sabor de queijo misturado a algo doce. O arroz bem temperado e molinho dá a sensação de estar comendo arroz doce, mas com um sabor diferente e mais para salgado. Saboreio a comida por um tempo na boca.
- Conhece a receita – ele pergunta e eu nego – eu tirei a cebola, o pimentão vermelho e no lugar coloquei um tipo de cogumelo ressecado e pimenta. Mas é incrível não dá para sentir o ardor da pimenta.
- Cogumelo? – questiono depois de mastigar e engolir – não vou ficar chapadão depois não, né?
Ele não me responde fazendo um suspense bobo e nega com a cabeça. Também se rendendo ao próprio prato.
- Então, o que achou? – ele pergunta orgulhoso de si mesmo.
- Achei que você já dá para abrir seu próprio restaurante, estava uma delicia – elogio sem exageros – me deixa adivinhar, você aprendeu a fazer na internet também? – pergunto.
- Não. – Ele nega. – Foi minha falecida esposa quem me ensinou. – Emerson se levanta e junto consigo leva os pratos para a pia. – Foi logo que nos casamos, ela sempre fazia, gostava bastante... De todo jeito, trocava os ingredientes... Você seca?
- Sinto muito por ter...
- Bobagem, não falo muito sobre ela porque já tem muito anos. Mas não tenho problema nenhum em falar sobre ela. Eu lavo e você seca, tudo bem? – pergunta e eu assinto.
- Também perdi meus pais, mas faz pouco tempo... Ele era policial aposentado e ela foi escrituraria de delegacia também quando jovem. – Pego o primeiro prato e seco com a ajuda de um pano, colocando no escorredor ao lado. Recordar meus pais para mim não é nada animador, penso, mas acho que mereço por fazê-lo se lembrar da esposa. – E depois dela você nunca mais?
- Não. Nunca, viver junto não. – Sorriu ainda com uns talheres melados de detergente na mão. – Tive um rolo com Felipe... Chamam ele de Fefito. Aqui todo mundo tem apelido... Felipe é muito criança, depois de um tempo cansa. Ele se cansa e quem está com ele também... Mas é um bom soldado.
Sorrio para isso tudo enquanto seco o prato. Fefito então é apelido para Felipe, não entendo nada, mas sorrio disso mesmo assim.
- Felipe. Nossa nunca pensei que o nome dele fosse esse. – Digo colocando o segundo prato no escorredor. – E depois dele então, mais ninguém? – Ele nega. – Relacionamentos são complicados...
- Nem é, vivi com minha esposa durante anos, anos... E são até hoje os melhores anos da minha vida. – Ele estrala os dedos. – Vai ficar de mau humor de novo se eu te perguntar uma coisa?
- Claro que não, – tento sorri e brinco – acho até que o que me fez vir aqui foi a fome... – ele sorri de volta.
- Quando você me ligou, eu pensei que tivesse vindo para terminar o que começamos na noite do baile porra louca. – Prendo o ar na hora. – Não precisa ficar com essa cara, depois que te vi lá embaixo entendi que você estava precisando de um amigo... Pode contar comigo. Mas se tiver outro cara nessa confusão toda ai... Não me conta tá?
Deixo o ar sair e assinto para ele. Ficamos mais um tempo falando das coisas relacionadas à comunidade. E eu lhe conto que estou querendo abrir um negócio logo, logo. Conversar essas coisas vai fazendo os meus receios de antes se dissiparem por completo. E eu sou grato a ele, grato por tudo que está fazendo por mim sem mesmo perceber. Por isso me sinto mal por ter tratado ele de forma tão... Fria no outro dia. Para falar a verdade, penso comigo enquanto o ouço falar das escolinhas comunitárias, eu também pensei que ia chegar aqui e transar e esquecer tudo.
Ainda bem que não fizemos isso, sorrio para mim mesmo, e para o plano que ele diz ter sobre aumentar o posto de saúde da favela. Com o apoio dos políticos que de cota em cota aparecem para pedir votos, e financiamento.
- Isto é o máximo Emerson – digo olhando o projeto desenhado em um papel. – Quer dizer não deveria ser assim né, mas – vejo as horas no relógio de pulso dele – se não tem outro jeito. No país em que vivemos...
- É, e antes essas coisas não eram pensadas – ele sorri – com a comunidade toda arrumadinha, sem violência, sem gente doente, eles não sobem. Entendeu? – ergo as sobrancelhas para isso. – Tudo bem um porque né.
- É tudo tem – assinto pensando que logo, logo, não terei mais escapatória vou ter que ir para casa, me arrumar e ir para a faculdade.
- O que houve? Seu rosto mudou de repente. – Emerson para de mexer em vários papeis em cima da estranha mesa de pedaço de tronco no centro da sala.
- Lembrei que tenho que voltar para casa – digo e ele não esconde o descontentamento – e tem também a faculdade.
- Puxa vida, o tempo passou rápido – o vejo pegar a chave em cima do sofá – eu te levo até em casa.
- Não precisa que isso, eu já te abusei demais por hoje. E vou ficar te devendo pro resto da vida...
Mas não teve jeito, entramos no carro dele, e saímos pelo mesmo caminho de antes. Chegamos tudo ainda estava claro, agora o dia já ia embora. Do alto do morro o sol morria de forma poética, aquele amarelão quase febril, quase laranja. Fiquei olhando para ele, e nem percebi que já estávamos descendo. E conforme nos aproximávamos do primeiro sinal, senti meu ar faltar. Eu não teria mais para onde fugir, tinha que ter uma conversa definitiva com Atila. Dessa vez sobre tudo. Sobre nos, sobre a sua irmã e seu cunhado.
- Está entregue – duas motos com dois caras em cima nos seguiram até ali – eles são gente minha, me acompanham para onde vou. – Me tranquilizou Emerson ao notar que eu tinha percebido.
- Emerson nem sei como te agradecer – digo oferecendo minha mão a ele – sério mesmo, foi muito bom poder ficar na tua casa essas horas. Essa tarde.
Ele segura minha mão e me puxa para um abraço. Sinto o cheiro de seu perfume dessa vez mais fraco de que quando o encontrei na entrada do morro. Abro a porta do carro dele. Olho para os lados e não vejo sinal de Atila, fiz bem em deixar para vir agora. Fecho a porta, mas então me lembro da roupa que deixei na casa de Emerson e por isso me abaixo próximo ao vidro.
- Inácio! – meu coração estronda no peito com a voz de Atila. – Inácio...! – ele diz. Eu me viro e o vejo vindo em minha direção ainda com a roupa da manhã.