Olá amigos, e ai como vai o final de semana de vocês? Espero que muito bem!!!
Perdoem os erros de digitação, como hoje é domingo tive que me apressar um pouquinho.
Obrigado pelos comentários e leituras!!
*********** UMA ÓTIMA LEITURA A TODOS ************
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Cri, cri, cri, é a única coisa que ouço durante o enorme silencio que se estende entre nos dois e a resposta que definitivamente não desejo dar. Emerson está muito a vontade na minha casa nova, penso cansado. Eu ainda não tive esse privilegio... Ficar a vontade na minha casa. Olho para ele, a porta do meu quarto está aberta e às escuras. A do banheiro idem. Tiro os sapatos finalmente tendo alguma reação, semicerro os olhos para ele sem acreditar muito. Emerson sorri cafajeste.
- Por que você está na minha sala? – pergunto de volta. Ele finge não entender e continua parado segurando a tigela perto da boca. – Sou uma péssima companhia hoje...
- Quem são os filhos da puta? – respiro fundo com medo de descontar em quem não tem nada haver com meu dia bosta. Ele se aproxima de mim, e já deixo claro não querer contato hesitando. – Só estou aqui porque Robson e o irmão estão tendo uma conversa e quando terminar... Vou embora.
- Não foi nada demais. Só uns chatos – apoio os cotovelos na mureta que separa a cozinha da sala – e você não tem que se fingir preocupado com isso. Depois de tantos anos a gente se acostuma.
- Mas não devia. E não estou fingindo coisa nenhuma – ele continua sério – na favela a gente não aceita esses tipos de coisa. Na verdade quando algum idiota passa da conta nas brincadeiras...
Ele me encara, mas eu não consigo me conectar a nada nele como naquela noite. Desvio meus olhos para outro lado, Emerson avança e segura um dos meus pulsos. Voltamos a nos encarar mais uma vez, e mesmo assim não sinto aquele calor da noite do baile. Ele olha direto para meus lábios e sinto seu polegar passear por eles, mas não desejo beija-lo como desejei antes. Desvencilho meu pulso da pressão dos seus dedos, tudo o que mais desejo no momento é um banho e cama, penso. Só quero a minha companhia.
Mas ele insiste e seus lábios molhados se abrem sobre os meus, e sinto sua língua procurar pela minha, suas mãos prenderem minha cintura. Eu o afasto o quanto posso, mas ele é mais forte e persiste. Hesito o torso para trás e mesmo assim Emerson me acompanha com uma fome nos lábios e uma pressão nos braços, fora do comum.
- Para Emerson – digo finalmente – por favor, hoje não é um bom dia... Desculpe.
Ele meneia a cabeça, e passa as palmas das mãos no rosto. Não consigo nem olhar para ele. Não dizemos mais nada. Emerson pega suas chaves em cima do braço do sofá, abre a porta e sai. Fico sozinho, assim num passe de mágica... E não me movo de onde estou soterrado por todos os acontecimentos como sempre. Quando vou ter um pouquinho só de paz? Pergunto para ninguém em especial, com a toalha em uma mão entro no banheiro e fecho a porta.
A água quente relaxa meus ombros. As coisas na minha cabeça vão se encaixando e não sei se me sinto feliz, por que: vou começar uma nova fase na vida. Ou se fico preocupado com o clima que está rolando entre mim e Atila. Já não nego para mim mesmo, como aquele irritadinho me atrai e só em pensar nele agora, meu corpo já reage. Faço a concha com as duas mãos unidas e jogo a agua no meu rosto. Me seco e visto no quarto, uso o secador de Robson para meus cabelos, e quando termino só consigo me encolher na cama. E descansar...
- Não acredito que deixou aquele macho escapar – Fefito gargalha escancarando a porta e se lançando ao meu lado – juro que dessa vez fiquei lá embaixo para não atrapalhar o lance. Iná posso te chamar assim né? Aquele homem sabe foder, me desculpe mas não tem outra palavra é uma delicia, ai! Só de lembrar... – suspira caindo na cama de vez.
O fato de eles dois já terem tido relação não me espanta. E me surpreendo por não estar nem um pouquinho espantado com isso... Inspiro o ar de desinfetante do quarto. Semicerro os olhos para observar tudo arrumadinho e percebo que eles limparam a casa. Grato, deixo minha raiva da entrada abrupta de Fefito passar, ele cantarola uma música desconhecida.
- Você e ele então? – pergunto curioso.
- Ah depois que a mulher dele morreu, eu era primo dela... Ih uma história longuíssima. Depois dela, ele só fica com homens, quer dizer assim iguais a gente. Até onde eu saiba quero dizer.
Soergo meu corpo. Agora sim, um bocado surpreso nos não temos nada em comum! Além da sexualidade... Quer dizer... Também o fato de nossos rostos serem limpos de barba. Mas, voz, porte físico, jeito de agir. Definitivamente somos pessoas homossexuais totalmente diferenciados.
Meneio a cabeça para ele me recostando na cabeceira da cama.
- A gente? Para nos não temos nada em comum. – Argumento certo disso. – A não ser a falta de barba...
- Bicha cega! Vou explicar – ele se ajoelha na cama – você olhando para mim assim, sente atraído? – não entendo sua pergunta. – Eu sou homem, gosto de homem, você é homem e Robinho também, mas não me atraem, entende? Porque são parecidos demais comigo, quer dizer com algumas diferenças aqui... Mas somos todos... Como vou dizer...
Robson chega à sala e nos dois nós viramos para a porta. Acho que entendo o que Fefito tenta dizer. E apesar de parecer muito segregacionista e pouco racional, acho justo. Sinto prazer em ser o passivo no sexo, apesar de não demostrar isso fora dele... Eu acho... E talvez, pondero comigo mesmo, esse seja o nosso maior ponto de ligação, gostamos de estar na mesma posição. Ele ainda pensa em algo para me dizer quando eu assinto sorrindo.
- Não precisa explicar nada Fefis, posso te chamar assim? - digo antes de Robson entrar no quarto. – Demorou hein? Emerson saiu daqui agora a pouco.
- Eu sei, quando meu irmão o chamou eu ainda estava lá – Robson também se lança na cama. - E você já pode voltar para a comunidade se quiser... – completa Robson.
- Ai que noticia maravilhosa! – Fefito dá um grito saltitante – vou tomar um banho, acho que subo hoje mesmo.
Fefis sai do quarto batendo palmas, ululante. Robson fecha os olhos e eu penso se devo ou não contar a ele sobre a ameaça de Fábio. Não demoramos muito tempo em silencio, ele vira a cabeça para mim:
- Meu irmão disse para eu nunca mais colocar os pés lá – arranha a garganta – naquela noite quando eu fiz o vídeo... Um dos caras viu e puxou a arma pra mim, ai Fefis pra me proteger acabou atirando primeiro no cara... Antes de o sujeito me acertar... E hoje meu irmão me obrigou a apagar o vídeo.
Eu engulo em seco. Então é isso, sem vídeo, sem prova definitiva de Marcos. A irmã de Atila vai fazer um péssimo casamento... Imagino Atila vendo a irmã passar por tudo que certamente vai passar com um marido enrustido. E pensar nisso estranhamente me incomoda, mais até do que posso quantificar. Robson, segura minha mão, e a aperta com força.
- O vi hoje – digo sem saber bem o por que. – Esse menino doido que saiu aqui agora atirou em outra pessoa? Esse Fefis? – nego com a cabeça.
- Esse menino é terrível meu filho, sabe muito bem se defender – diz rápido e sem me encarar – isso te assusta? Quer dizer ele ter atirado em alguém?
Movo os ombros. Nada mais me assusta! Não depois de viver com meu tio, e também a morte dos meus pais... Ficamos quietos por mais um tempo. Mesmo assim me nego a acreditar que Fefis... Fefito teria coragem, ou teria? Ele entra no quarto com a toalha na cintura e fala sobre condicionador de cabelo, sobre produtos de limpeza pessoal. Fala de hidratação de cabelo, e simplesmente não acredito que essa pessoa possa... Fefito assim como Robson não tem vergonha nenhuma em se mostrar despido. Nem tem porque se sentir envergonhado. Tem um corpo torneado.
As aparências enganam mesmo, penso observando toda a delicadeza de Fefis, quero dizer em algumas partes do corpo. Axilas, coxas, abdômen, rosto...
Solto a mão de Robson, fecho meus olhos penso em Atila na biblioteca, penso no que passei no inicio da tarde. Se eu contar sobre os caras de mais cedo, pode haver até uma tragédia... Respiro fundo, e ao invés do ar sair pelo nariz digo:
- Estou apaixonado por Atila – em voz alta o suficiente para os meninos pararem imediatamente o que estão fazendo e se virarem para mim. – Não sei por que fui falar isso justo agora...
- É assim mesmo ficamos meio bestas quando gostamos de alguém – diz Robson tranquilo – e ele corresponde?
- Que seja um homem melhor que Jogador, porque aquele tem registro de fábrica se é que me entende... – se pronuncia Fefito, todo assanhado para o lado de Emerson.
Nenhum dos dois é conselheiro confiável percebo tão logo eles começam a falar, sobre seus relacionamentos. Desisto de qualquer interação sobre o que passei mais cedo, depois de ouvi-los falar sobre “machos”, “fodas sensacionais”, começo a pensar que eles teriam gostado do que os homens de mais cedo queriam comigo. Censuro esses meus pensamentos por ser imbecis, mas não consigo evitar. Fefito se despede de mim, agradecendo por tudo e prometendo voltar logo.
Eu e Robson o deixamos na portaria do prédio, Robson me para na escada enquanto estamos voltando para casa:
- Eu mandei o vídeo para teu Gmail – ele diz cara a cara comigo – meu irmão queria que eu esquecesse tudo... Assim, disse que o vídeo podia complicar ele com os homens dele lá no moro.
- E você enviou para mim? – consigo perguntar depois de digerir. – Você esperou o Fefis sair... Sério enviou para mim? – tá de brincadeira!? O mundo não gira capota, penso.
Seguimos para casa e Robson me deixa a par de sua dúvida sobre o que fazer com o vídeo, mas enquanto não sabe o confia a mim. Sorrio para mais uma ironia em tão pouco tempo. Marcos estava na palma da minha mão, calculo, poderia se quisesse... Mudamos de assunto, e começamos a falar em homens.
- Se eu fosse você fugia enquanto é tempo, nem o doido do Jogador, nem esse cara ai...
Robson até tentou coitado, mas uma pessoa que acaba de terminar um relacionamento de anos é incapaz de aconselhar. Pelo menos neste mesmo assunto. Ele resolve dormir comigo na cama, e não ligo para isso.
Pela manhã, levanto mais cedo, para fazer algumas coisas da faculdade. E também para ver o tal vídeo, não resisto e abro o gmail. Abro o vídeo sem áudio, e quando os primeiros segundos iniciam, duas buzinadas me fazem dar um pulo. O carro de Atila está estacionado ali, na minha frente. Olho para a tela na minha mão e para o carro dele... Fecho o play. Até me desespero em guardar o aparelho.
- Vamos vim te buscar – ele arreganha a boca num sorriso gigante – só assim para você aceitar uma carona minha hein? – diz assim que abro a porta do carro.
- Quem disse que eu aceitei? – digo erguendo uma das sobrancelhas. Mas abro a porta de vez e sento ao seu lado, o cheiro de perfume amadeirado predomina no carro. – Devo se importante na empresa mesmo para você vir pessoalmente me buscar...
Procuro pelo cinto de seguranças, o prendo, e ele liga o carro, antes de arrancar olha para mim e diz:
- Não vá se achando demais – olho para ele de esgueira enquanto pisa no acelerador – mas você nem imagina o quanto vai fazer falta.
Sinto meu coração dá duas batidas fortíssimas e não sei, sinceramente não sei se é por causa do carro em alta velocidade ou se é por que definitivamente estou afinzaço desse cara ao meu lado. Só consigo olhar para frente e me segurar no banco. Estou em uma montanha russa, penso comigo mesmo, ele vai estacionando na primeira sinaleira do caminho, e enquanto faz isso mexe em um tablet no painel. A voz dele ainda ressoa na minha mente “você nem imagina o quanto vai fazer falta”...