- Eu estava transtornado. Chego em casa e vou direito para o banho. Tudo que envolvia Guilherme era algo difícil de se lidar, parecia que o universo tentava nos afastar de todas as maneiras, parecia que não era certo nós dois estarmos juntos. No banho, sentado no chão do banheiro eu chorei que não percebi, eu estava lembrando das muitas coisas das quais eu e ele já havíamos passado. Coisas essas das quais eu havia bloqueado da minha memoria depois que nos separamos. Eu não queria ter a possibilidade de sofrer, eu não queria me sentir frágil, eu não queria ser um peão de minha própria dor. Sempre fomos homens distintos um do outro. Guilherme era emoção, impulsividade, ação. Já eu era a razão e o pensamento critico. Por algum motivo louco, nos apaixonamos, mesmo sendo pessoas diferentes. Eu e o Gui tínhamos algo parecido, a forma de ver o mundo. Tínhamos um sentimento de justiça e empatia muito grande pelo próximo, pelo outro. E tínhamos uma gana insaciável pelos nossos sonhos, nossos objetivos de vida, não os colocávamos nada na frente deles. Eu estava na minha vida profissional e ele na dele, e estávamos completamente empenhados nisso, no nosso crescimento profissional, no galgar, no agregar conhecimentos cada vez mais. Esse era o problema, eu tinha uma vida em São Paulo e ele em Maringá.
- Saio do banho e coloco apenas uma cueca para dormir, estava sendo uma noite quente. Deitado na cama, pego o celular e percebo que havia ligações não atendidas e mensagens de; Duan,Nick, Guilherme e até da Michelle. Não abri mais nenhuma delas, resolvi passar a noite com meus pensamentos. Apesar do sentimento confuso que eu estava passando, eu estava sofrendo por alguém que eu já não estava junto há 2 anos. Como pode isso ?. Pensei comigo mesmo aquela noite; “ Porque você não deixou ele escolher ? só assim você acabaria de vez com essa tortura. Se ele escolhesse o Otto, você iria sofrer, mas sofreria consciente de um fato e não de uma dúvida. Se ele me escolhesse, você iria sofrer do mesmo jeito, porém pela distancia, do não poder sentir, tocar, beijar.”
- Eu estava muito convicto que o Guilherme escolheria o Otto pelo fator distancia. Ou estaria eu subestimando o amor/paixão do Gui pelo Otto ? Não, claro que não. Ninguém poderia amar tanto alguém em 3 meses. Impossível. Eu estava caindo em minha própria rede, claro que não era impossível. Eu conheci o Guilherme no primeiro dia que cheguei em Maringá, e, mesmo sendo heterossexual naquele momento, eu senti algo pelo Guilherme no primeiro momento em que vi ele saindo pela porta de sua casa, quando foi para me dar uma carona na sua moto até a padaria. Eu hoje percebo que isso foi paixão a primeira vista. Meus pensamentos estavam aflorados. Consegui dormir.
- Batidas na Porta...
Mãe: Igor, acorda meu filho.
- Eram por volta das 12:30. Eu não havia lembrado a quanto tempo eu não acordo a esse horário. Saio da cama cambaleando, ainda cansado mentalmente de ontem.
Eu: Oi Mãe.
- Ela estava com um aspecto sério.
Mãe: Desça meu filho. Troque de roupe.
Eu: O que foi ?
Mãe: Desça Igor.
- Mas que merda estava acontecendo ? troquei de roupa rápido e desci para a sala, onde meus pais estavam na sala me esperando.
Eu: O que foi que houve ? Alguém morreu ?
- Isso nunca tinha acontecido antes, de meus pais me reunirem na sala para contar algo, alguma coisa muito séria havia acontecido.
Pai: Onde você estava ontem a noite ?
Eu: Estava em uma festa com uns conhecidos...
- Aquilo tudo estava muito estranho...
Pai: Que horas você chegou ?
Eu: Não sei, acho que por volta de 00:00
- Nessa hora minha mãe que estava sentada se levantou e tocou no meu ombro, e disse:
Mãe: Você estava com o Guilherme e o namorado dele ?
- Quando ela se levantou tocou no meu ombro e me perguntou sobre isso, eu senti minha pulsação ficar fraca, e fiquei desesperado, eu comecei a chorar, porque eu sabia que algo tinha acontecido, eu estava sentindo isso e era muito forte.
Eu: Mãe, aconteceu alguma coisa com o Guilherme ? ( falei chorando como se fosse um bebê )
Mãe: Igor, ele estava no carro dele com o namorado, acho que Otto é o nome do menino, e mais uma amiga, dentro do carro. O carro caiu em uma vala, não sabemos ainda como isso ocorreu. A Michelle veio aqui em casa, nos avisar, você não atendia o celular...
- Parece que eu tinha perdido o chão. Se a dor insuportável que eu senti ontem, pelo fato de achar que o Guilherme escolheu o Otto era grande, é porque eu ainda não havia passado pela dor e sensação que estava sentindo no exato momento que minha mãe diz: “ O carro caiu em uma vala “
- Parece que tudo estava se encaixando, minha briga com o Guilherme na festa, o fato de que eu não atendi as ligações dele, “ Meu Deus, porque eu não atendi as ligações dele!!!” Eu não sabia o que pensar, eu não sabia como agir, eu não sabia o que fazer... até que houve a resposta para a minha pergunta.
Eu: Mãe, o Guilherme tá bem ?
- Meu pai se levantou da poltrona no exato momento que eu faço essa pergunta, ele estava com um copo de água na mão. Minhas pernas tremem, eu não consigo ficar em pé. Estou fora de mim, eu nunca havia passado por algo tão descomunal em minha vida. Até que minha mãe fala:
CONTINUA...