Subúrbio — I

Um conto erótico de Feh
Categoria: Homossexual
Contém 1800 palavras
Data: 25/07/2019 16:23:00

Sabe aqueles dias que você está uma fossa? Era esse dia. Estava tudo dando errado, meu contrato não havia sido renovado, o aluguel iria vencer, eu estava na fossa, na pior das ocasiões ainda. Precisava de um jeito na vida. Eu, aos 22 anos de idade, desempregado e sem vontade de fazer algo importante. Estava um pouco descuidado, admito, barba rala por fazer, minha sobrancelha estava quase unido, e minhas pernas voltavam a ter pelos. Eu não era nenhum deus da beleza, mas ok, meros 1,63 de altura e cabelos castanhos, 64 quilos e pau na média brasileira. Mas eu não vim para falar de mim.

Tudo começou na casa da minha amiga, Mel, um moça adorável e loirinha que conheci num curso, ela tinha a mesma idade que eu e me convidou para uma festa em sua casa. Do outro lado da cidade. Eu teria que enfrentar uma hora e meia de ônibus até a Paulista e depois metrô, ou pegar um ônibus até a linha mais próxima, a Amarela. Revirei os olhos mas lá estava eu, caminhando sem medo nas ruas. Eu nunca me considerei alguém vagabundo, mas desde que tinha trocado de emprego, o lugar mais próximo e acessível para morar foi Paraisópolis. Até a ai tudo bem, o problema foi as pessoas que começaram com seus preconceitos. Mas tratei de ignorar. Eu logo voltaria para minha cidade natal. Só que ainda teria muito tempo vivendo em Paraisópolis, eu não me sentia mal, mas as pessoas sempre vinham com papinhos de favela e bla bla bla.

Mel morava na Água Branca, e eu nem sabia onde ficava isso. Apenas me deu o local para descer no metrô e ela me buscaria. Assim fez e lá estava eu, sozinho no metrô esperando Mel. Tive que sair para pegar sinal porque a merda não pega em baixo da terra. Respirei fundo e tentei ser o mais calmo possível.

— Mel você está onde? — Questionei via mensagem.

— Feh? Ai meu deus, esqueci, mil desculpas! — Ela respondeu rapidamente.

— Melissa, sinceramente eu não acredito que estou há uma hora te procurando de cabo a rabo e você não está aqui! Chateado!

— Capaz mana, pega um carro eu pago a corrida, tem mando a localização e você liga quando tiver perto da porta.

Devolvi um ok e chamei o bendito carro.

Assim o fiz, o percurso foi tão rápido que eu poderia ter ido andando. Mas era um bairro diferente, um pouco arborizado e com casas antigas, não era as casas sem reboco do Paraíso, não haviam vielas, apenas ruas largas, era um constraste até bonito. Paramos na frente de um prédio enorme, havia um club ao lado. Liguei para Melissa que saiu com um bikini e uma bermuda jeans que cobria acima do umbigo, ate que combinava.

— Eu não acredito que tu veio de calça moletom para uma festa na piscina! — Melissa censurou assim que eu sai do carro. — Aqui moço!

Ela pagou o uber e ele foi embora.

— O que posso fazer? São Paulo é fria essa época!

— Tá sol e fazendo 25 graus!

— Para mim é frio! Na minha cidade é sol e chuva! 26 graus você vê gente de moletom e cheiro de naftalina!

— Bizarro!

Ambos sorrimos e eu entrei, Melissa me puxava pela mão enquanto cruzávamos o hall pela direita indo em direção. Ela mexia a boca rapidamente e não pude acompanhar. Bem, eu tenho deficiência auditiva, não sou completamente surdo, sei ler lábios e falar, mas certas coisas eu não escuto. Não era sempre assim, acontece que quando eu era criança tive um acidente que infeccionou e causou a perda do tímpano.

— O quê? — Questionei assim que Mel parou do nada e pôs a mão ma cintura.

— Perguntei se você quer beber alguma coisa? — Ela sorriu e gesticulou com as mãos, ainda não sabia Libras mas ela se esforçava e gesticulava o máximo possível.

— Sim! Caipirinha!

— Beleza, vem comigo, vou te apresentar a galera!

Tinha umas 30 pessoas ali! Como entraram, bem; no meu antigo prédio não podia haver tantas pessoas em dias comuns. Mas ela devia ter gasto um dinheiro pagando aquilo.

— Esses são Lucas,Maria, Gabriel, Henrique, Carlos, Ana, Flavia o resto, ai depois eles se apresentam. Galera, esse é o Feh, ele é o professor que havia dito.

— Beleza! — Ele me cumprimentaram, eram novos, nas faixas do 25 aos 30. Todos bem moleques rindo e se divertindo como crianças.

Eu fiquei um pouco isolado. A caipirinha era horrível, muito doce e o limão tinha passado longe. Decidi eu mesmo fazer minha caipirinha. Então lá estava eu ao lado do barmen contratado, ele ria do meu jeito de cortar o limão e preparar.

— Eu gosto de sentir o gosto do limão!

— Já percebi! Cortaste 3!

Dei ombros e ele falou coisas que não entendi, além da musica alta eu não pude ler seus lábios. Preparei minha bebida e um rapaz me olhava com expressão de impaciência.

— Eu estou há horas pedindo para você não colocar açúcar e você simplesmente coloca açúcar e bebe! Você é surdo por acaso? — Ele falou tão rápido que eu mal pude entender, mas fiz um esforço para ouvir a voz, era um tanto grossa!

— Perdão eu não sou o barmen, e sim! Eu sou surdo!

Ele vestia uma camisa xadrez aberta e uma bermuda de tectel preta, usava sandálias e tinha pulseiras em seu braço, sua pele era parda, um pouco bronzeados nos braços e tinha um corpo definido, não musculoso apenas definido. Um pouco alto, talvez uns 1,80 de altura.

Dei costas e fui até a borda da piscina, Mel estava dentro da Água com varias pessoas, eu sorri e ela acenou de volta. Fazendo um gesto de “tudo bem”, apenas assenti e continuei a beber.

O homem sentou ao meu lado, fiquei um pouco incomodado e me afastei um pouco. Ele cutucou meu ombro e olhei de relance.

— ...? — Ele apontou para a boca.

— Pode falar devagar? Eu não consigo acompanhar! — Ditei bebendo a caipirinha e olhei em seus olhos, eram castanhos claros, uma cor âmbar.

— Consegue ler lábios? — Ele movimentou devagar demais mas deu para entender. Dei um sorriso e ele ficou com uma cara de sem noção.

— Consigo, pode falar normal. Se falar devagar demais eu não entendo.

— Meu nome é Marcelo! Você é amigo da Mel? — Ele apontou para Melissa que estava nos ombros de um cara qualquer numa briga de galo.

— Sou sim!

— Desculpe por antes! Eu não sabia que você era surdo! — Ele desviou o olhar para um ponto qualquer.

— Sem problemas! Na verdade eu consigo ouvir um pouco, mas a música é alta então eu não consigo escutar as vozes direito!

— Ah você consegue ouvir?

— Um pouco, eu tenho perda auditiva parcial do lado direito! E do outro eu consigo entender, mas é como se fosse distante!

— Ah, saquei! Consegue ouvir minha voz? — Ele apontou novamente para a boca.

— Aqui não! Muito ruído!

Ele ficou quieto. E não conversamos mais. O vi indo até o bar de novo e ele ficou conversando com as meninas sobre academia, desviei o olhar para não ficar lendo a conversa alheia. Então saiu da piscina o marombado, meu coração deu uma leve batida, eu conhecia aquele rosto.

— Diego?

— Oi Feh! — Ele gesticulou e sorriu. — Quanto tempo.

Diego me puxou e me deu um abraço forte. Eu ja o conhecia, por um intercâmbio, ele cursou Libras na mesma sala que eu, era péssimo, mas vi que aprendeu algo mais. Conheci Diego quando era magro, mas estava musculoso, fazia mais ou menos um ano que não o via. Desde o intercâmbio, nossa amizade se resumiu a Facebook.

— Você sumiu! Eu tentei te encontrar! — Eu senti que todos nos olhavam, bem devia ser algo novo duas pessoas conversando em Libras no meio da festa, ao lado da piscina.

— Coisas da vida! Trabalho! Frio!

Diego sorriu e tocou em meu rosto.

— Quer uma bebida? Eu vou ali no bar! — Dessa vez ele perguntou oralmente, dei um sorriso e assenti que sim.

Diego caminhou e cumprimentou as pessoas, Marcelo apenas deu um aceno com a cabeça e olhou para mim. Diego voltou e conversamos bastante, conversávamos falando e usando libras, ele ainda errava alguns sinais, e soava outra coisa, dei uma risada alta. E ele parou, me encarando.

— Você acabou de perguntar se eu quero transar com você sabia? — Diego ficou vermelho, e desviou o olhar. — Relaxa, você não pratica desde a turma não é?

Ele deu um sorrisinho baixo.

— Bah, eu não pratico nada desde a turma!

Dessa vez fui eu quem fiquei corado. Era duplo sentido ali. Ele era sem vergonha, do tipo que andar pelado na frente das pessoas, uma vez ele fez isso. Mas ignorei.

— Eu vou pegar mais uma bebida, você quer algo? — Perguntei, ele disse que não, procurei Mel na piscina mas ela havia sumido, devia ter ido para o quarto com algum menino ou menina, nunca se sabe, Melissa como dizia ela mesma, ficava com os dois.

Eu estava apertado para ir ao banheiro. Procurei rapidamente, e encontrei. Era do outro lado, perto da sauna. Caminhei até lá e acendi a luz, ficava ao lado da porta, era bem escuro e grande, tinha uns 8 box e um grande espelho.

Finalmente pude mijar em paz e quieto. Puxei a descarga e quando estava abrindo a porta, a luz apagou.

— Haha, muito engraçado! Tem gente aqui sabia?

Tentei ver, havia apenas uma pequena luz pela fresta da porta, quem quer que seja tinha feito de maldade. Fui seguindo a luz e de repente.

Meu coração gelou, fui puxado bruscamente e uma boca acertou minha bochecha, era desesperado, a mão tocou em meu queixo e a boca, tentei força a pessoa mas era forte, ele apertou minha mandíbula e abri a boca, sentia língua invadir, o gosto de morango invadiu minha boca, era doce e alcoólica. Gelado mas bom, como se tivesse acabado de beber algo gelado. Sua língua era dura, tentando controlar o beijo, seu corpo prensava o meu e senti algo endurecendo na minha coxa. Meu deus. Era quente mesmo por cima da roupa, ele apertou meu ombro e me forçou para baixo. Senti seus pêlos em meu rosto, tinha um cheiro de sabonete como se tivesse acabado de tomar um banho. Ele forçou o pau na minha boca e eu abri, estava muito excitado. Era grosso, e tentava me engasgar com aquilo o tempo todo, tinha um sabor levemente salgado mas bom, senti ele se afastando e sua mão percorrendo minha costa, uma mão adentrou pela minha cueca tocando minha bunda, travei instintivamente e me afastei.

— Não.

Caralho eu não ia transar num banheiro, abri a porta sem olhar para trás e sai sem me despedir, eu nem vi quem era o desgraçado, mas ainda sentia aquele gosto de morango na boca.

Continua...

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Comentários

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CARAMBA, SE ENTRE 25 E 30 ANOS É MOLEQUE QUAL SUA IDADE ENTÃO??? RSSSSSSSSSSSSSSSSSS PARECE INTERESSANTE, CONTINUE...UMA PENA QUE SAIU CORRENDO DO BANHEIRO E NEM SOIBE QUEM TE BEIJOU A FORÇA. PERDEU UMA GRANDE CHANCE. QUEM SABE TENHA SIDO FERNANDO, OU O BARMAN. RSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS AQUI ANSIOSO POR SABER QUEM SERIA.

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