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Por volta das 19h da noite, estavam todos jantando na sala com exceção de Pillar que alegou estar indisposta, quando Ariel recebeu uma ligação de sua irmã, dizendo que tinha levado sua mãe para o hospital e que ela não estava bem. Ariel entrou em desespero, pois sua mãe já havia tido duas paradas cardíacas e foi levantando da mesa. Fred se ofereceu para ir junto com ele. Samantha iria junto também. Os dois foram saindo na frente, quando Rogério segurou o braço do ruivo antes que ele saísse. Ariel se assustou com o toque.
- Ariel, se precisar de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, você por favor me ligue, ou peça pra Samantha ou o Fred me ligarem. - disse o mais velho com ar de triste.
-Obrigado Rogério! E me desculpe por sair assim tão de repente, mas sou muito preocupado com a minha mãe.
- Não precisa se desculpar. Ficaremos aqui rezando por ela. Vai dar tudo certo. - disse Rogério sorrindo e abraçando o ruivo.
-Muito obrigado. Darei notícias, prometo. - e saiu indo em direção do seu carro.
Rogério seguiu ele e se despediu da filha e do sobrinho e entrou, fechando a porta. Estava chateado pelo ruivo, mas tranquilo sabendo que ele não estava sozinho.
Os três seguiram para o hospital onde Laura estava internada. Ariel morava à quarenta minutos da capital. Chegaram lá e o ruivo já foi recebido por sua irmã. Ela explicou pra ele que sua mãe estava com falta de ar e pressão baixa. Quando chegou no hospital, teve outra parada cardíaca, tendo que ser operada às pressas. Ariel só conseguia chorar. Fred e Samantha sentaram com ele no sofá da sala de espera, aguardando notícias.
Uma e meia da manhã, Ariel, Samantha e Paula estavam apagados. Fred não conseguiu dormir nada. Estava tão preocupado com Laura e seus amigos e ao mesmo tempo revivendo tudo o que havia acontecido um ano atrás com ele. Independentemente do que acontecesse, ficaria ao lado de Ariel, assim como ele fez. Tomou outro café, olhou no celular e nada da hora passar. Foi pra fora fumar um cigarro e voltou. Sentou e pegou uma revista pra distrair quando um médico se aproximou deles com um olhar triste. Fred quando olhou para o médico, sentiu uma tristeza profunda. Acordou Ariel e Paula. O médico olhou para os dois e confirmou a triste notícia. Laura não aguentou a cirurgia e teve insuficiência respiratória, vindo à óbito. Ariel chorava e ao mesmo tempo se queixava dizendo que ela estava perfeitamente bem quando ele saiu de manhã. Começou a se culpar dizendo que não devia ter saído. Fred o abraçou junto com Paula e Samantha. O médico deixou eles por um momento. Ariel estava arrasado. Fred levou ele pra fora, onde os dois fumaram. Quando o ruivo estava um pouco mais calmo, Fred disse que ele estaria ali pra qualquer coisa que ele precisasse. Ariel abraçou forte o amigo. Os dois ficaram abraçados por um longo tempo e voltaram pra sala de espera. Ariel abraçou a irmã com carinho, colocando seu cabeça no ombro dela. Paula era 15 anos mais velha que Ariel. Disse para o ruivo que ela cuidaria da parte burocrática da situação e pediu pra Samantha levar seu irmão pra casa. Antes de saírem, Fred disse a ela que ficaria ali junto e ajudaria em qualquer coisa e que avisaria seu tio também para ajudar.
Samantha chegou com o ruivo até a casa dele e entraram. Disse pra ele que se ele quisesse, poderia ir com a irmã pra sua casa, e Ariel achou a ideia ótima. Não queria ficar ali por enquanto. Samantha ligou para Paula, onde avisou que levaria Ariel pra sua casa e a convidou para ir também, mas ela disse que ficaria na sua casa com o marido e seu filho, mas agradeceu por tirar Ariel dali. Samantha pediu para falar com Fred, onde avisou o primo que levaria o amigo pra casa. Fred achou a ideia ótima, dizendo pra prima que iria avisar Rogério. Desligaram e Samantha pegou o carro de Ariel e dirigiu até sua casa. Fred ligou para o tio avisando sobre o ocorrido e que Ariel estava indo pra lá com Samantha. Rogério disse que iria esperar eles chegaram e depois iria até o hospital. Fred desligou a ligação e ligou para Humberto. O moreno ficou chocado com a notícia tão repentina e disse que iria se trocar pra ir até lá.
Samantha chegou com Ariel em sua casa, onde o ruivo foi recebido por Rogério, Pillar, Dante e Henrique. Subiu até o quarto da amiga e deitou na cama. Estava com uma dor de cabeça enorme e precisava dormir um pouco. Rogerio avisou Samantha que iria até o hospital e pediu que ligasse caso precisasse. Chegou lá praticamente junto com Humberto. Cumprimentou o filho e entraram no hospital procurando Fred. O loiro estava sentado no banco junto à amiga que estava ligando para o marido para avisar o que tinha acontecido quando notou dois homens entrando. Olhou Rogério e viu que seu tio estava com os olhos vermelhos. Olhou para o primo e, se o momento permitisse, ele estava mais lindo do que nunca. Seus cabelos sempre tão arrumados estavam bagunçado e sua barba meio amassada. Estava usando uma regata que era um pijama. O loiro reconheceu de imediato, pois foi ele quem deu aquele pijama para Humberto quando se mudou para seu apartamento. Estava de calça jeans e tênis. A combinação de roupas fez o loiro sorrir. Humberto praticamente vestiu o que viu na frente. Levantou e abraçou o primo e depois seu tio. Rogério e Humberto abraçaram Paula e ficaram sentados ali.
Por volta das 6h da manhã, os protocolos estavam sendo realizados e toda a parte burocrática estava sendo feita. Paula disse que não faria o velório, pois era um pedido de sua mãe, além de sua família ser bem pequena. Fred pediu para o tio e o primo deixarem eles conversarem a sós. Rogério e Humberto foram tomar um café.
-Amore, sei que esse tipo de pergunta é clichê, mas como você está? - perguntou o loiro colocando a mão no ombro de Paula.
-Eu estou aliviada, Fred. De verdade, minha mãe estava sofrendo muito. Fazia tempo que ela não estava boa e eu não quis avisar meu irmão, porque ele ficava tão excessivamente preocupado que deixava a minha mãe pior. - disse Paula dando os ombros.
-Mas como assim, Paula? O Ari morava com sua mãe. Ele tinha que saber. Tem noção do quanto ele deve estar se sentindo culpado por ter saído de casa ontem? - disse o loiro cruzando os braços e erguendo uma sobrancelha.
-Eu sei, Fred. Meu irmão era muito preocupado com a minha mãe, mas foi ela mesmo quem me pediu para não contar nada a ele. Eu fiquei dividida. Dona Laura sempre foi um doce com ele, mas comigo ela era diferente. Não estou dizendo que não gostava de mim, mas por eu ser mais velha, ela poupava meu irmão de muita coisa. Eu fiquei sem saber o que fazer. E a respeito do velório, ela sempre deixou claro que não queria. Avisou pra nossa família toda sobre isso. Sempre disse que não queria que se um dia morresse, a imagem dele num caixão fosse a última imagem dela. - disse Paula olhando pra baixo.
Fred respirou fundo.
-Paula, eu não culpo você por nada, até porque nessas horas nós fazemos o que está ao nosso alcance. E quanto ao pedido de sua mãe, eu entendo. No velório dos meus pais, eu não fui. Não queria olhar pra eles pela última vez num caixão e sim ter a lembrança do último café da manhã que eu tive com os dois. - disse Fred com lágrimas nos olhos e abraçando Paula.
-Obrigado, Fred. De coração. É tudo muito difícil de processar, e por mais fria que eu pareça diante do que aconteceu, eu …
-Está sofrendo, e muito. - cortou Fred. - Cada um tem o seu jeito de sentir a dor, amiga. Então não precisa se explicar.
Paula sorriu.
-Eu vou ligar pra minha tia e avisar ela e meu tio. Pode ficar à vontade se quiser sair, eu vou ficar bem!
- Tá bem. Vou fumar um cigarro e volto logo.
Fred foi andando até a saída procurando seu cigarro na bolsa. Quando saiu, viu seu primo e seu tio sentados. Fred acendeu um cigarro e respirou fundo. De novo pensou em quão rápido as coisas acontecem. Seria forte para poder ajudar seu amigo. Perdido em pensamentos nem notou que Humberto tinha se aproximado.
-Você está bem? - perguntou o moreno.
‐Eu estou triste, mas aliviado por ter conversado com a Paula. - sorriu.
-Que bom! E que ironia, né? Um ano atrás era o Ariel que estava na sua situação.
-Pois é. Precisamos todos ser fortes pra dar o apoio que ele merece.
Humberto ficou alguns segundos olhando para Fred. Notou que ele estava com olheiras.
-Você parece cansado. Não quer ir embora?
-Eu estou sem carro. Viemos com o carro do Ari.
-Vai com o meu carro e eu vou embora com o meu pai depois.
-Eu prefiro ficar até resolver tudo, mas obrigado. - disse o loiro bocejando. Olhou para seu tio que permanecia sentado.
-Tio, tudo bem? - perguntou Fred fazendo Rogério olhar pra ele.
-Tudo, Fred. Mas preocupado com o Ariel. Precisava ver ele quando ele chegou em casa. Parecia você. Acho que essa situação toda me trouxe lembranças tristes. - disse Rogério suspirando.
-Eu te entendo tio. Pensei a mesma coisa.
- Não quer ir pra minha casa ficar com ele?
-Eu prefiro ficar aqui com a Paula, tio. Lá ele está com a Samantha, o Dan e o Rique. Aposto que está em boas mãos.
-Tem razão. Eu vou buscar um café? Vocês querem?
-Eu quero, pai. - disse Humberto sentando no chão.
-Também quero um. - pediu Fred sentando no chão ao lado do primo.
Vou buscar e já volto.
Humberto olhou para Fred, que estava fumando.
-Levei um susto quando você me ligou. Achei que tivesse acontecido alguma coisa com você. - disse o mais velho segurando a mão do primo.
Fred fechou os olhos quando sentiu o toque da mão de Humberto na sua. Não conseguiu dizer mais nada, apenas jogou longe o cigarro e deitou no colo de Humberto, que começou a acariciar seus cabelos em seguida.
-É meio fora de hora, mas eu não sei o que será da minha vida se um dia eu perder você. - disse o moreno, olhando pra cima. - E de novo quero pedir desculpas por tudo.
Fred não conseguia falar nada, apenas se agarrou mais ao corpo de Humberto, como querendo dizer que estava ali.
Ficaram os dois assim por alguns momentos. Rogério estava voltando quando parou na porta e viu a cena na sua frente. Por mais que seu sobrinho estava sofrendo com tudo o que estava acontecendo entre ele e seu filho, Rogério rezava para que aqueles dois um dia ficassem juntos. Era nítido que eles eram a alma gêmea um do outro.
Eram quatro horas da tarde quando Rogério, Humberto e Fred foram embora. Fred combinou com Paula para que ela fosse no dia seguinte até a casa de seu tio para ver Ariel. Ela agradeceu novamente o loiro e os outros dois pela ajuda. Chegando na casa de Rogério, Ariel ainda dormia. Samantha estava com ele no quarto e Dante e Henrique foram para a empresa cobrirem a falta de Rogério e Humberto. Fred e Humberto subiram até o quarto de Samantha e Rogério foi até o seu quarto onde encontrou Pillar se arrumando. Tirou a camiseta ficando só com a calça moletom que estava e deitou na cama, exausto.
-Achei que você fosse ficar por lá. Precisava demorar tanto assim? - disse ela enquanto escovava os cabelos.
Rogério não respondeu.
-Já vou deixar você avisado de que eu não quero aquele menino aqui. Minha casa virou um hotel e eu não estou sabendo? Ele que vá pra casa do Frederico.
Samantha estava passando pelo quarto da mãe indo beber água quando a ouviu.
-Eu não quero ele aqui, Rogério. Está me ouvindo?
- Como você pode ser tão… lixo desse jeito, mãe? Qual é a porra do seu problema? - gritou Samantha entrando no quarto.
-Ótimo que você está aqui. Quando ele acordar, faça o favor de levar ele pra casa do seu primo. Já disse e repito que não quero ele aqui.
-Ele não vai sair dessa casa, Pillar! - gritou Rogério levantando da cama. - Essa casa também é minha e ele não sai daqui, você tá me entendendo? Saía você, mas ele nao vai ser removido desta casa!
- Que belo marido você é, Rogério. Um dia depois do nosso aniversário e você me trata desse jeito?
Rogério olhou com fogo nos olhos para a esposa.
- Não se faça de idiota! Eu tentei a todo custo ficar bem com você ontem, e você me dando patada o tempo inteiro. Eu estou cansado, não dormi nada. Tenha piedade do Ariel. Ele perdeu a mãe dele assim, do nada. Igual seu sobrinho há um ano atrás, lembra? E mesmo assim você continua tendo a mesma atitude. - Rogério respirou fundo.
Pillar virou e prendeu o cabelo, pegando sua bolsa.
-Faça o que vocês quiserem. Se eu voltar pra casa e ver o Ariel aqui, quem vai sair sou eu! - disse Pillar saindo do quarto.
Rogério sentou na cama e respirou cansado. Samantha estava do lado dele.
-Pai, eu vou acordar ele e falar pro o Fred levá-lo pro apartamento dele. Lá ele vai ficar mais tranquilo.
-Sá, eu não vou deixar tirar o Ariel daqui. Esse menino precisa de toda a atenção no momento. Sua mãe não manda em nada. E quer saber, ela que vá embora. Não vai fazer falta nenhuma.
-Eu sei. Mas a mãe não vai aceitar sair tão na boa quanto você acha. Conheço ela e você também. E admita, ele ficando com o Fred vai ser bem melhor pra todo mundo.
Rogério respirou fundo. Sua filha tinha razão.
Samantha saiu do quarto do pai e foi até o seu, onde olhou para o primo.
- Eu ouvi tudo, more. E também acho que é melhor. Pelo menos lá vai ser a MINHA casa.
Samantha deu os ombros.
- Por que essas coisas não acontecem com a minha mãe? - disse Samantha ganhando um olhar feio de Humberto. - Brincadeiras à parte, eu vou com você pra lá e vou passar os dias com vocês, pode ser?
- Não precisa nem pedir. - disse o loiro sorrindo.
Ariel acordou pouco tempo depois onde desceu para comer. Ficaram mais um tempo, onde foi com Fred e Samantha para o apartamento do loiro. Humberto foi junto e Rogério ficou, dizendo que iria pra lá mais tarde. Chegando na cobertura, os quatro entraram. Fred colocou a mala de Ariel no sofá da sala e foi para a cozinha fazer um café. Ariel deitou no sofá junto com Samantha. Humberto pegou a mala de Ariel e foi para o corredor. Chegou na porta do seu quarto e tentou abrir, mas ela estava trancada. Foi até a cozinha.
- Fred, por que meu quarto tá trancado?
Fred gelou. Não lembrava disso. Fazia tanto tempo que tinha trancado aquela porta…
-Frederico?
-A minha ajudante trancou ele e perdeu a chave.
- Como assim perdeu a chave? E por que ela trancou a porta? - disse colocando as mãos na cintura.
-Eu não sei. Mas preciso chamar um chaveiro. Não tenho nenhuma cópia daquela fechadura. - disse o loiro suspirando. - O Ari vai ficar lá, então tenho que resolver isso logo.
Humberto não engoliu aquela história de jeito nenhum. Mas não era uma coisa que queria resolver naquela hora.
Estavam sentados no sofá quando Alessandra ligou para Humberto e pediu que o marido fosse pra casa, pois não estava se sentindo bem. Humberto estava tão à vontade na companhia do primo que tinha até esquecido que era casado se não fosse aquela ligação. Deu um beijo em Samantha, um abraço e um beijo em Ariel, lhe desejando forças e que voltaria ali amanhã. Seguiu para a porta com Fred atrás. Apertou o botão do elevador.
-Humberto, muito obrigado pela ajuda, de verdade. Nem tenho como te agradecer. - falou o loiro cruzando os braços.
Humberto abraçou o primo.
-Não tem que me agradecer, meu loiro. Me ligue por favor se precisar de qualquer coisa. E vamos voltar a conversar sobre a porta do meu quarto viu?! Vai pro seu escritório amanhã? Podemos almoçar juntos.
-Não, eu vou ficar aqui com ele, pelo menos os dois primeiros dias. Mas quando eu for pra lá eu te aviso.
-Eu te amo. Nunca se esqueça disso, tá? disse Humberto se soltando de Fred e abrindo a porta do elevador. O loiro acenou um tchau quando o primo entrou. Voltou para dentro e sentou no sofá. Ficaram os três conversando.
-Fred, eu nunca vi uma pessoa ter tanta habilidade pra se esquivar de perguntas como você! - sorriu Ariel. Seu primeiro sorriso do dia.
-Ai more, nem eu sei como faço. Mas o Beto não acreditou. Conhecendo ele do jeito que eu conheço, ele vai querer conversar sobre isso depois.
- Eu falo que vocês dois foram feitos um pro outro. - disse Samantha, fazendo eles rirem.
O restante da noite foi tranquilo. Fred ligou para Michelle avisando o que tinha acontecido e dizendo que não iria para o escritório, mas que trabalharia em casa. Pediu para ela enviar tudo o que seria urgente por e-mail. Mais tarde Rogério chegou, trazendo pizzas, junto com Dante. Thiago, Beatriz e Henrique chegaram depois. Ariel agradeceu todos pelo carinho. Comeram, conversaram e depois foram embora, ficando Dante e Rogério, que não conseguia disfarçar sua preocupação pelo ruivo e sua má vontade de ir pra sua casa. Por insistência do filho, se despediu de todos e foram pra casa. Fred, Ariel e Samantha foram para a cama do loiro, onde ficaram conversando até dormirem.
A terça-feira amanheceu chuvosa. Ariel acordou se sentindo um pouco melhor e ligou para sua irmã. Fred estava sentado na mesa trabalhando e Samantha estava no sofá conversando com o primo. Almoçaram e depois saíram um pouco, pois Fred queria tirar Ariel um pouco de dentro do apartamento.
Humberto estava almoçando com Rogério e conversando sobre o que tinha acontecido. Rogério confessou ao filho que estava querendo fazer mais por Ariel, pois estava preocupado. Humberto via a preocupação do pai como um carinho, pois ele sempre foi muito protetor. Aliás, o jeito protetor que Humberto tinha e que fazia Fred se sentir tão seguro era de Rogério.
A semana passou e no domingo Fred recebeu Paula com Marcelo em sua casa para um almoço. Ariel adorou passar o dia com sua irmã, cunhado e sobrinhos. Disse que na próxima semana iria até a casa de sua mãe para eles resolverem tudo o que precisassem.
Quinze dias depois, a rotina de todos tinha voltado ao normal. Ariel voltou pra casa, onde resolveu com sua irmã alugar o imóvel, dividindo o aluguel com ela. Por mais que queria alugar um apartamento, Fred insistia pra que ele ficasse mais um tempo ali até achar alguma coisa com mais calma. Três ou quatro vezes nesse meio tempo, Fred, Samantha e Ariel saíram na companhia de Alessandra e Humberto. Fred estava um pouco mais comedido com relação a sua constante desconfiança em relação a Alessandra, pois via que Humberto estava feliz, então isso bastava. Uma coisa que deixava Humberto puto da vida era que Fred não aceitava de jeito nenhum ser o padrinho de seu filho, alegando que ele mesmo não seria um bom padrinho. Insistiu para que ele fosse padrinho junto com Ariel, mas Fred teve que recusar de vez numa conversa que os dois tiveram num almoço.
O ruivo finalmente achou um apartamento pra ele próximo ao prédio que Fred morava. Teve toda a ajuda de seus amigos para organizar tudo. Estava feliz por finalmente voltar para São Paulo. Seu coração estava em paz em relação à sua mãe. Fechou seu escritório na cidade em que morava e voltou de vez a trabalhar com o amigo, ficando inclusive na mesma sala que o loiro. Ele e Fred ficaram mais próximos do que já eram.
Frederico estava feliz por ter Ariel do seu lado novamente. Amava o amigo e os dois juntos tinham ideias incríveis, o que fez com que o loiro mudasse o nome de sua grife, agora de Ariel também, tornando-se sócios. Fred dividia sua vida profissional entre a moda e o mundo dos executivos. Começou a desempenhar um papel importante na empresa, mas sem que atrapalhasse sua verdadeira carreira.
Humberto e Fred estavam bem. Passaram a almoçar toda terça-feira e uma sexta a cada quinze dias o moreno dormia no apartamento do primo, onde cozinhavam, conversavam, ouviam música ou só ficavam deitados conversando até pegarem no sono. Algumas vezes saiam com a turma toda ou se juntavam todos no apartamento Fred.
Na casa de Rogério, o clima ia de mau a pior, pois Dante não parava mais em casa por estar namorando, e Samantha intercalava suas dormidas na casa do primo e do amigo que ela tanto amava e que agora estava bem perto. Seu namoro com Henrique se tornou oficial na família. Pillar não saía do clube e Rogério começou a se sentir sozinho. Numa sexta feira, estava saindo para o almoço e indo chamar Thiago para ir junto, mas ele estava em reunião com Humberto. Pensou em chamar seu filho e seu sobrinho, mas eles tinham saído. Entrou na sala de Fred para convidar o sobrinho e seu amigo , mas encontrou somente Ariel em sua mesa.
- Oi Ari! - disse Rogério da porta.
O ruivo estava no notebook quando ouviu a porta abrir.
- Oi querido. Entre! - disse virando a cadeira.
- Não quero incomodar. Já almoçou?
-Não. O Gabriel e a Michelle foram almoçar e o Fred saiu para resolver umas coisas. Faremos umas fotos na segunda e ele quer deixar tudo pronto. Ainda não comi nada, mas estou com fome.
-Entendi. Eu ainda não almocei também. Gostaria de ir comigo?
-Claro! - sorriu o ruivo desligando o notebook.
-Ótimo. Vamos então?
Ariel pegou sua bolsa e acompanhou Rogério. Foram num restaurante japonês, indicação do ruivo. Chegaram lá e sentaram na mesa.
-Amo comida japonesa, e você?
-Se eu disser que nunca comi, você acredita?
-E por que não me disse? Comida japonesa não é uma culinária que agrada à todos os paladares. Quer ir pra outro lugar?
-De jeito nenhum, vamos ficar. Uma hora ou outra eu teria que experimentar. - sorriu.
- Você vai adorar, pode confiar em mim. - disse o ruivo sorrindo.
Rogério quando ouviu "restaurante japonês" no caminho ficou apreensivo, mas Ariel falou tão bem do lugar que ele nem lembrou que nunca tinha comido aquele tipo de comida. Estava tão inconscientemente encantado pelo ruivo, que iria pra qualquer lugar que ele quisesse.
-É hora da verdade! - disse Ariel fazendo uma careta divertida.
Rogério olhou para o bem decorado prato na sua frente e pegou um sashimi. Colocou na boca e a princípio estranhou a textura, mas logo em seguida achou delicioso.
- Meu Deus, é uma delícia. - disse Rogério animado. - Como é que eu não tinha comido isso antes?!
-Viu? Eu sabia que ia gostar. Tenho que tirar uma foto disso. Seu primeiro sashimi! - disse o ruivo batendo palmas e rindo.
Ariel pegou a bolsa e tirou o celular. Pediu pra Rogério fazer uma pose, onde ele segurava um sashimi entre os palitinhos com a boca aberta e fazendo uma careta. Tirou a foto e mandou para Fred e Samantha com a legenda "Meu primeiro Shashimi." Logo em seguida os dois responderam e Fred mandou um áudio parabenizando o tio. Os dois riram.
Durante o almoço, Rogério confessou algumas coisas para o ruivo.
-Tô adorando almoçar com você. Sempre te achei divertido e agora eu sei por que a Samantha e o Fred gostam tanto de você. - Ariel sorriu sem graça e não sabia muito o que responder. -Sabe, ando me sentindo sozinho em casa. O Dante namorando, a Sá namorando também e dormindo direto na sua casa e na do Fred. Minha esposa me deixando maluco…
Ariel ouvia com atenção enquanto comia.
- Não quero me intrometer na sua vida, mas como você, um homem incrível, maravilhosamente amável e super paizão conseguiu ficar tanto tempo casado com ela? - perguntou o ruivo. Eu vejo como ela trata o Fred. Parece que tem raiva dele.
Rogério sorriu quando ouviu "paizão". Sentia tanta confiança e carinho nas palavras de Ariel. Sentia tanta falta daquilo... tomou um gole de coca cola.
-Nem eu sei te dizer isso. Me casei perdidamente apaixonado por ela, sabe. Conheci ela numa viagem para a Austrália. Nos casamos, ela engravidou duas vezes e perdeu os bebês antes do Humberto nascer. E depois vieram a Sá e o Dan, mas ela só tinha olhos pro Beto. Tanto que até hoje ela negligencia o Dante e vive em pé de guerra com a Samantha. Quanto ao Fred, ela sempre foi assim com ele desde criança. Ela nunca suportou o amor dos dois, que eram do jeito que são hoje desde pequenos. Mas mesmo com isso tudo, eu acreditei no nosso amor. Mas infelizmente o meu amor é o que tem sustentado nosso casamento.
-Puxa… eu nem sei o que dizer. - disse Ariel segurando o rosto com uma das mãos.
- Não precisa dizer nada. Só de você me escutar e eu ter alguém pra poder desabafar já é o suficiente. Costumava conversar esse tipo de coisa com o Fred, mas depois de tudo que aconteceu, o trabalho dele e ele assumindo um cargo na empresa, nossos momentos ficaram escassos.
-Eu sei. Agora que eu estou trabalhando com ele todos os dias que eu consigo ver como ele não para um segundo. Mas é bom pra ele pôr a cabeça no lugar. Quase quatro meses depois do casamento do Beto e ele ainda não superou. Falo isso porque eu conheço ele. Pode se esconder de qualquer um, menos de mim.
-E eu fico mais feliz por ele ter você por perto. Você é especial. - disse Rogério sorrindo meigo e olhando para Ariel.
O ruivo baixou os olhos envergonhado. Rogério notou.
-Mas chega de falar de mim. Me fale de você! Como conheceu o Fred?
-Nossa, isso tem anos e anos. Quer realmente saber?
-Você ficou aqui me ouvindo desabafar. Nada mais justo que eu te ouvir também! - disse Rogério piscando para o ruivo e tomando um gole de coca cola.
- Pois bem. Eu e ele nos conhecemos num curso de moda em Milão. Foi nosso primeiro curso internacional. Nos conhecemos no segundo dia que chegamos, na recepção do curso. Como éramos os dois brasileiros ali, já começamos a conversar. Nosso professor falava francês e inglês. Eu não sabia falar nada além do português, mas o Fred era bem fluente no inglês e arranhava o francês. Ele foi muito bacana comigo. Em três dias ficamos melhores amigos. O curso durou três meses e voltamos juntos pra São Paulo. Fui direto pra casa dele, ele me apresentou para o Gian Carlo e pra Desirée. Os dois me trataram tão bem… desde então, não nos desgrudamos mais, começamos a trabalhar juntos na nossa marca e tal. Conheci a Samantha numa balada que tinha ido com ele. Ela sempre grudada com o Fred. Adorei ela já a primeira vista. O Beto eu conheci um pouco depois. O Dante e o Rique eu conheci num aniversário do Fred.
Rogério ouvia com toda a atenção. Fazia caras e bocas conforme ouvia o que o ruivo falava.
- Que legal! Fico feliz. Vocês dois tem uma amizade linda!
-Eu amo o Fred. Eu e ele foi um encontro de almas. Ele sempre tão apaixonado pelo Beto…
-Ele já tinha dito alguma coisa pra você sobre isso?
- Como melhor amigo, claro que sim! - sorriu o ruivo. - Ele me contou depois que eu conheci o Beto. Desde então eu torcia pro dia que aqueles dois ficariam juntos, até seu filho se casar e engravidar a Alessandra. - disse sorrindo.
-Nem me fale, Ari. Isso anda me tirando o sono nos últimos meses.
- Eu imagino. Você como pai fica dividido na situação. Mas admiro muito por você, o Thiago e seu falecido irmão por sempre apoiarem o Fred. É tão difícil isso. - disse Ariel desviando o olhar , olhando a hora no celular.
-Rogério, não é melhor nós voltarmos?
Rogério nem tinha reparado na hora. Olhou no relógio em seu braço.
-Relaxa, o Fred não vai ficar chateado e eu sou meu próprio chefe. - sorriu. - E me conta sobre sua família. Conheci sua irmã e sei que você tem dois sobrinhos.
-Sim. A Paula é 15 anos mais velha que eu. Tenho dois sobrinhos lindos, meu cunhado, Marcelo. Basicamente foi sempre só nós mesmo. Minha mãe… Ela era tão maravilhosa sabe?! Me apoiou tanto em tudo o que eu quis fazer. - disse Ariel secando uma única lágrima que escorreu. - Mas eu sei que ela está num lugar melhor agora. - sorriu.
Rogério quando viu aquela lágrima no rosto de Ariel, sentiu uma vontade imensa de abraçá-lo, mas se conteve.
-Com certeza ela tinha muito orgulho de você! - disse Rogério sorrindo.
-Obrigado, querido.
-E você teve pai?
-Sim. Meu pai morreu tem uns três anos já. Ele era bem mais velho que minha mãe. Tinha um jeitão meio bruto, mas era o homem mais carinhoso que eu já conheci. Eu lembro que quando o Fred foi conhecer ele, ele achou que o Fred fosse um irmão meu perdido pela nossa semelhança. - sorriu.
-Realmente vocês dois se parecem demais. Se o Fred ficar ruivo, vão parecer gêmeos. - sorriu Rogério.
-E u já cantei essa bola pra ele. Ele vai ficar mais maravilhoso ainda.
Conversaram por mais um tempo, e se não fosse o celular de Rogério tocar, ficariam ali o resto do dia conversando. Voltaram pra empresa. Ariel agradeceu Rogério pela companhia e Rogério já quis combinar o próximo almoço. Entrou na sua sala e já deu de cara com alguns problemas pra resolver devido a uma reunião com os acionistas. Sentou em sua cadeira e virou para a janela. Estava se sentindo incrivelmente leve. Pegou o celular e olhou mais uma vez para a sua foto que o ruivo tinha tirado. Nem se lembrava quando foi a última vez que se divertiu tanto. Se não fosse seu maldito telefone tocar, estaria com ele até agora. Ele despertava o lado divertido e brincalhão que Rogério tinha perdido. Queria mais. Queria conversar mais, queria saber mais sobre aquele encanto de menino que ele estava aprendendo a admirar.
Na semana seguinte, almoçaram de novo. E de novo. Foram descobrindo gostos iguais. Amavam música clássica, teatro, cinema e dança. Rogério nem lembrava quando dançou pela última vez. Ariel dançava na escola. Os dois jantaram uma noite junto com Fred e Samantha. Samantha estava adorando conhecer o lado do pai que não sabia que existia. Fred estava adorando a amizade do amigo e do tio. Sentia seu tio mais leve.
Mais quinze dias se passaram e Fred estava deitado em sua cama. Por volta de 1h da manhã seu celular tocou. Reconheceu o toque personalizado de Humberto. Ele estava viajando a negócios em outro estado.
- Oi Beto.
"- Oi meu loiro. Tudo bem? Tô ligando pra saber como você está."
- Eu tô bem. Tô deitado. E você?
"-Te acordei?"
- Não. Ainda não tinha dormido.
"-Entendi. Liguei porque deu saudades."
Fred sorriu.
- Estou com saudades também. Nem lembro quando foi a última vez que nos vimos.
"-Foi na sua casa. Dormi aí. Deve ter quase um mês. Nossa correria tem atrapalhado. Ainda mais agora que o Ari tá morando perto de você. Vocês não se desgrudam mais."
- Pois é. Estou amando ele aqui mais perto. Mas não ando saindo tanto assim com ele. E te darei um beijo se você adivinhar com quem ele anda saindo… - disse o loiro sorrindo.
"-Espero que eu não erre. Quero muito ganhar esse beijo. Deixa eu ver… a Samantha?"
-Errou baby! Nosso amigo e o seu pai viraram melhores amigos, acredita?
"-Sério? Nossa, que inusitado. Quer dizer, meu pai tão quadradão e o Ari tão pra frente… nem me toquei. Mas você acha que eles estão, tipo… saindo mesmo?" - sorriu Humberto.
‐Não seja ridículo, Beto. O Ariel e seu pai descobriram uma amizade e gostos em comum, só isso. Um gay e um hétero não podem ser amigos?
"-Tem razão, desculpa. Acabei levando pro lado da besteira."
-Isso porque você é homem. Geralmente vocês fazem isso mesmo.
"-Mas você também é homem!"
-Mas fui abençoado com o dom da homossexualidade. Diria que tenho um super poder.
Humberto gargalhou.
"-É isso que me faz te amar cada dia mais, sabia?"
Fred respirou fundo. Que desgraçado filho de uma puta.
Silêncio.
- Como está a viagem?
"- Um saco. Tô cansado. Quero voltar logo pra casa. Ainda tem mais uma semana. E você? Muita correria?"
-Sim. Tenho um editorial pra fazer amanhã a tarde junto com o Ari. Não gosto de trabalhar com fotógrafos. Não entendem nada de roupa e ficam dando palpite. Eu fico nervoso. Ainda bem que o Ariel é mais calmo. E temos também aquela videoconferência com os acionistas sobre o nosso projeto. Estou cagando de medo. - sorriu o loiro.
"-Vai dar tudo certo, você vai ver."
-Tomara!
"-Quando eu voltar eu quero te ver. Pode ir me buscar no aeroporto? A gente pode almoçar juntos."
-Claro que sim.
"-Então tá bom, meu loiro. Vai descansar que amanhã nós temos aquela reunião às 9h. Durma bem. Eu te amo tá? Nunca se esqueça disso.
-Também te amo meu anjo. Bons sonhos.
E desligaram.
Sua relação com o primo estava boa, apesar de se verem pouco. Fred estava aprendendo aos poucos sufocar seu amor dentro de si pelo bem dos dois. Só não esperava que logo teria que lutar e ser forte por esse enorme sentimento que unia os dois.
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Boa noite queridos, como vão? O que estão achando do Ariel e do Rogério? Fico feliz pelos comentários de vocês sobre o que estão achando. A questão é que a estória gira mesmo em torno dos dois, com as tramas paralelas em conexão com eles, mas nos capítulos seguintes vocês verão mudanças. Um beijo, e até a próxima.