[7h23]
Parecia que a cada dia que passava o clima ficava mais frio e nenhum pouco formidável. Os galos cantando todo final de madrugada ainda era ainda pior do que o frio congelante da fazenda, sem contar os cachorrinhos que ficam latindo em plena manhazinha. Minha cabeça doía muito naquela ocasião e não conseguia achar forças pra levantar, nem mesmo pra tomar um comprimido sagrado, chamado Dorflex, que, cá entre nós, é um anjinho em forma de pílula. Eduardo ainda estava dormindo do meu lado na cama, fazendo um barulhinho de respiração que aos meus ouvidos não causavam muita irritação, mas numa manhã fria em que minha cabeça está latejando, fica difícil se concentrar em voltar a dormir. Ainda tinha alguns minutos antes de começar a fazer as atividades do dia-a-dia e não queria desperdiçar nenhum segundo. Me virei de frente para o Eduardo e fiquei o observando por vários momentos. Tinha uma cicatriz, bem apagada porém grande, e os pensamentos hipotéticos me vieram a mente, do tipo: "não estou surpreso" ou "seja lá o que você fez, com certeza mereceu". Não por odiá-lo, mas por causa das primeiras impressões, Elas acabam por tomar conta da nossa vida, mesmo que algo de muito bom tenha occorido, sempre nos lembraremos do primeior contato. Apesar de ter sido uma pessoa supre atenciosa comigo, eu sabia que estava apenas fazendo o trabalho que lhe foi dado, e, talvez, só seja algo de momento.
[8h04]
Seus olhos foram abrindo lenta e calmamente quando acordou, seu olhar veio diretamente na minha direção. Ele deu um sorrisinho de lado e novamente passou a mão na minha testa.
– Cê tá quentinho ainda – disse ele com sua voz rouquinha de sono e luz da janela iluminando seu rosto
– É só uma dor de cabeça – respondi
– Mas se você passar mal de novo vou me meter em encrenca
– Não vou desmaiar, seu bocó!
– Ei, essa é minha! – brincou – Bem, já que é assim, vamo simbora!
Levantamos e, dessa vez, deu tempo suficiente pra encher a barriga a ponto de não provocar minha hipotensão novamente. Acredito que será um dia mais interessante do que parir uma vaca, apesar daquela experiencia ter sido bem unica, não posso dizer que me agradou completamente, isso se for somar com a experiencia horrorosa de desmaiar na frente de todo mundo que estava na sala ontem, aí que ferrou mesmo! Dessa vez, Letícia não iria ser minha companhia nas atividades omo em outros tempos, parece que ela revesa com o Eduardo (o que na verdade não é uma reclamação mas sim uma observação) e, faz muitas outras coisas pelo rancho. A vó Elizabete, como sempre, muito ocupada mas sempre preocupada com a minha estadia. Preciso dizer que as férias na fazenda não são como férias no resorte, e não sentia dificuldade alguma com isso. É meio que uma tradição, não sentia um peso de não estar em casa jogando videogame e assistir as porcarias de sempre. Amigos? Bem, não são muitos os que se preocupam comigo, então, é meio que como estar em casa, quando estou com a Vó Bete.
Eduardo pegou a charrete e ficou me chamando o tempo todo. A culpa não é minha se ele é pontual oras.
– Cê tem que ser mais rápido! – disse bravo
– Tá bravinho?! – provoquei
– Não, só odeio atraso – ele tentou demonstrar raiva mas meu deboche não deixou
– Tabom chefe!
– Vai te lascar!
Ele achou que aquela charrete era a coisa mais incrível do universo, isso porque pintou umas figuras estranhas ao redor do "veículo" e finalmente deu um banho decente nos cavalinhos, que, aliás, estávam brilhantes que nem o sol. Impressionante. A velocidade que corríamos era de no máximo uns 4 km/h e a cara dele era de quem estava numa Ferrari andando na estrada. Alternava entre olhar pra mim e dar risada e olhar aquela estrada barrosa da fazenda. As paisagens foram mudando das que eu tinha visto no dia anterior e de repente a charrete parou em frente a uma casa, muito bonita por sinal. Descemos e eu fiz questão ficar com cara de dúvida até ele se pronunicar sobre aquela "estranhice".
– Vem, entra – disse ele, já abrindo a porta.
– Ok, vou fingir que isso não está esquisito...
– É minha casa bocó – respondeu
Subi as escadinhas da frente entrei, ainda meio receoso mas curioso.
– Não sabia que tinha uma casa...
– Achou que eu morasse na rua?
– Não, digo, achei que morasse com a vó Bete
– No começo eu dormia lá, depois comecei a trabalhar lá e cá estou - explicou
– Como conseguiu comprar isso, parece ser bem caro – sei que fui intrometido, mas quem sou eu para não ser eu.
– Não disse que tinha comprado, disse que estou aqui...
– A vó Bete te deu essa casa?!
– Bingo!
– Tá brincando, você deve ter puxado muito o saco dela
– Na verdade, ela que queria me ver longe de lá por um tempo...acontece que esse tempo não acaba nunca...
– Ta bom, eu já entendi...mas porque me trouxe aqui?
– Ahn...sei lá... só queria compartilhar isso com você... – senti que estava um pouco envergonhado e me aproximei dele.
– Ei, na verdade, essa casa é bem melhor do que você merecia seu folgado! – brinquei
– Ah é? Então deixa só eu te mostrar uma coisa! – segurou minha mão e foi me levando para o fundo da casa
Como se não bastasse aquele dia frio e ensolarado, a vida queria que eu morresse de inveja: o garoto tinha a própria piscina no rancho, sim, uma piscina no meio do mato. Além disso, tinha a própria hurrasqueira e uma pequena e charmosa jacuzzi no canto.
– Ok, agora não me resta dúvidas, você é um puxa saco!
Ele deu risada e percebi que tinha alguma coisa estranha pois não soltava a minha mão, sem nem dar tempo de pensar, eu já estava sendo jogado na piscina.
– Não! – gritei feito uma criança – Eu juro que eu te mato! – Permaneci alguns minutinhos ali dentro da piscina enquanto ele fazia alguma coisa dentro de casa. Não vou dizer que não estava receoso ainda, pois era o segundo dia em que estávamos juntos, não dá pra dizer que confio completamente nele, mas também algo em mim dizia que aquele moleque babacão do primeiro dia jamais me traria em sua casa para conheer um pouco mais de sua vida.
Sai me tremendo todo da piscina. Era com certeza o dia mais frio que presenciei em toda minha vida e a brilhante ideia que a vida teve foi me jogar na piscina justamente hoje. Muito legal... Fui entrando pra ver o que Eduardo estava fazendo e para a minha surpresa, só estava sentado na cadeira olhando pra com cara de riso.
– Acho que alguém está morrendo de frio – falou quando se levantou e me cobriu com uma toalha e secava me eu rosto quase roxo de tão firo que estava.
– Você é um vacilão sabia – disse enquanto ele passava a mão no meu rosto pra secar
– Que tal você ficar quietinho enquanto eu pego uma roupa pra você? – era de se admirar o deboche na cara dele toda vez que eu o provocava, parecia um mestre do sarcasmo e ao mesmo tempo uma pessoa que estava querendo se aproximar de mim. Eu o segui até seu quarto, ainda tremendo de frio e meio confuso sobre o que estava acontecendo..
– A gente... – comecei mas ele parou e colocou o dedo na minha boca e levantou as sobrancelhas - Ouquiiw – disse com o som abafado pela sua mão
– O que? – tirou as mãos dos meus lábios
– Eu disse ok!
A porta do quarto era de madeira maciça e os detalhes eram os mais "fazendisticos" do mundo, tipo, quadro de cavalos nas paisagens bucólicas, rios, cabeça de animal pendurado e uma lareira bem estilo americano mesmo! Ele abriu o guarda roupas e eu sentei na cama que julgava ser dele mesmo.
– Essa é sua cama? – perguntei e ele continuou em silêncio, concentrado em sua função super difícil de pegar uma roupa qualquer do armário – Eeei, tô falando com você...
– Ahn...ah sim, o que disse? – perguntou todo confuso, me segurei pra não rir da cara de assustado dele mas falhei miseravelmente e ele sorriu de volta e se aproximou de mim, tirando a toalha do meu corpo – Tá rindo do que, seu bobão...
– Dessa sua cara de abestado
– Eu sou abestado? Agora cê vai ver o abestado! – ele me empurrou na cama e começou a fazer cócegas na minha barriga, interminaveis movimentos que me faziam perder o fôlego de tanto rir – Cê vai me chamar de abestado de novo? – disse rindo, ainda em cima de mim
– Não, juro de dedinho! – falei desesperado, com medo de receber mais um ataque de cócegas fulminantes
– Acho bom!
Voltou a pegar as roupas e jogou em cima da cama.
– Me diz que você não vai me fazer usar sua cueca – disse com uma leve risada
– Bom, se quiser andar por aí com três pernas ninguém vai dizer nada...não na sua frente... – respondeu com uma pitada do seu bom deboche
– Ridículo! – levantei-me e tirei a blusa, na frente dele mesmo, não estava mais sentido o receio de antes mas um leve conforto. Sinto que uma amizade de aflorava entre nós naquele dia e a marca das primeiras impressões estavam só existindo, não podendo ser sentidas. Me sequei com a toalha e vesti a blusa que era um pouco maior que o meu tamanho. O cheiro era bem característico, tão gostosinho de sentir. Tirei a bermuda de operário de fazenda encharcada e olhei pra ele naquele momento. Achei que estava óbvio que não queria que ele me visse nu ali mas ele continuou me olhando.
– Você pode colocar pra secar, por favor? – perguntei e ele parecia que tinha acordado de um tranque. Estendeu a mão e pegou minha blusa e minha bermuda e saiu pra estender. Tirei a cueca e vesti a que ele tinha me dado. O curioso, era que eu tinha tirado a bermuda de operário de fazenda pra colocar outra bermuda de operário de fazenda haha Coisas da vida de pessoas que vivem trabalhando com animais...
Ele voltou e eu já estava trocado e deitado na cama, olhando pro teto.
– Tá olhando o que? – perguntou ele da porta.
– Na verdado estou só vendo se sua cama é melhor que a minha...
– Pode apostar que é, pessoas incríveis merecem camas incríveis...
– Hmm verdade, porque, afinal, você é uma pessoa INCRIVELMENTE bobona!
– E você é incrivelmente bocó!
Demos risada um do outro e ele se deitou do meu lado também. Os dois bobões olhando para o teto. Eu conseguia sentir o quão cansado Eduardo estava, a imagem que ele conseguia me passar era de lazer mas eu sabia o quanto ele trabalhava todos os dias pra não ser mandado embora do rancho. Dias e noites, tendo que cuidar de cada setor daquela fazenda, servindo todo mundo que chega, sem ter contato que seja por mais de três segundos ou uma conversa que não seja a monótona frase "posso ajudar em alguma coisa". Era como uma ironia da vida: as pessoas que precisam ser sevidas são as que mais são escolhidas para servir, enquanto quem tem saúde e disposição, tem que ficar num jogo de ser servido só por causa da sua grana. Os olhinhos dele estava tão cansado que eu comecei a ter um pouco de pena.
– Fe, eu vou lá e em algumas eu volto – disse ele quando se levantou da cama e foi em direção às botas no canto do quarto. Era tão cedo ainda, tão frio e tão deprimente ter que vê-lo sair naquela circunstância.
– Não vai não – falei me sentando na cama dele – Vamo ficar aqui viajando na maionese, eu falo pra vó Bete que passei mal e você cuidou de mim
– Faria isso por mim? – perguntou ele todo alegre
– Claro que eu faria, somos 'friends', não somos?
– Frênz? – indagou todo confuso, tipo aquelas tias quando tenta cantar música antiga em inglês. Cai na risada.
– Quer dizer amigos – respondi
– Ah sim...puff...eu sabia, só tava tirando onda
– Ah, claro, com certeza – ironia era meu ponto forte.
– Bom, mesmo que fizessemos isso, não posso faltar, já fiz isso duas vezes essa semana antes de você chegar, se eu faltar hoje, não há neto no mundo que possa compensar o prejuízo que isso vai me custar, mas obrigado pela sua disposição – ele foi todo carinhoso recusando meu pedido que eu estava quase implorando pra ele faltar e ficar ali comigo.
– Então vou com você! –
– Não
– Ué por que?
– Porque você vai ficar aqui, me esperando e quando eu voltar viajaremos na maionese com toda sua energia, que, aliás, seria desintegrada se você fosse ordenhar vacas...
– Tá dizendo que sou fraco?
– Tô dizendo que quero você sem cansaço – ele me abraçou forte quando saiu e terminou – Obrigado por apareceu, sério mesmo
– Relaxa, vou ficar aqui fuçando suas coisas
Ele sorriu meio tímido quando acabou de me abraçar. Saiu pela porta e caiu fora com a charrete que era estilosa a seus olhos, porque pra mim, não tinha como achar um veículo daqueles estiloso em nenhum universo paralelo.
E aí, o que será que rola quando o Eduardo voltar? Em alguns instantes saberão!
Valeu pelo apoio galera, Kimi!