Comecei aquela nova semana de trabalho recebendo boas notícias: a quitinete que o Edgar alugou pra mim ficou pronta e poderia mudar-me já na próxima segunda-feira, o patrão iria comigo para pegarmos as chaves. Eu nem havia visto a habitação, só sabia que ficava em Santo Amaro, um bairro da zona sul de São Paulo. Estava contentíssima em poder morar sozinha, ter privacidade e um banheiro só pra mim.
Também, naquela manhã, estava feliz por outro motivo: no sábado anterior, em meu encontro com o Augusto, quando lhe dei o “brinde”, ele me fez desejar que o tempo parasse naquela noite de transas deliciosas e repleta de troca de carícias. Como que ele conseguia ser tão gostoso? Fez-me trabalhar feliz na manhã seguinte, apesar de ser um domingo, e não foi apenas pela saideira matinal que energizou meu corpo e o meu coração, mas também pelo convite para irmos ao cinema no próximo sábado, haveria um filme ótimo estreando e ele gostaria de assistir só se fosse em minha companhia (palavras dele).
Amei o convite, não que eu seja doida por cinema, mas por ser um encontro não profissional. Não queria mais encontrá-lo apenas quando estivesse pagando por sexo e a minha companhia, eu o queria ao meu lado porque me divertia com seu papo sem compromisso. Até suas cantadas furadas eram engraçadas. E como homem e mulher… Ah! O lance ficava sério, uma vez que a química entre nós era muito louca. Seus abraços envolventes e seus beijos ardentes eram tudo de bom. Ainda tinha o adicional de levar-me às nuvens quando a sua boca deslizava em minha pele e devorava o meu sexo. O odor agradável dos nossos corpos quentes, suados e fundidos como se fossemos um só ser, era um tempero a mais para apimentar a nossa “batalha” de amor.
O cara mexeu mesmo comigo, a sensação de prazer a cada novo encontro era surpreendente, suas pegadas recheavam nossas transas de tesão. Enfim, transar com ele era a certeza de acordar na manhã seguinte com um sorriso de felicidade estampado no rosto e o desejo de reviver tudo o mais depressa possível.
A recíproca parecia ser verdadeira, já que o fofo repetia que a sua vontade era de estar em meus braços todos os dias e em todos os instantes, e que sentia minha falta quando não tinha a minha companhia.
***
Daisy não sabia que tinha um desafeto na loja, um outro entregador, Jaime, o seu nome, vulgo Jaiminho. Era empregado da loja há mais de dois anos e, em seu ponto de vista, levando em consideração o seu tempo de casa, ele é quem deveria atender os melhores clientes. O rapaz queixou-se com o Edgar dizendo que a Daisy estava escolhendo quem ela atenderia e, por coincidência, eram somente os que costumavam caprichar nas gorjetas.
Sua abordagem não foi muito bem aceita, todavia, e ele sentiu seu emprego ameaçado quando o patrão disse em tom autoritário para que o rapaz parasse de criar um clima ruim, pois as entregas e os clientes eram todos iguais.
A moça chegou naquele exato momento e o patrão mudou sua expressão de irritado para sorridente e solícito. Mandou o Jaiminho ir trabalhar e foi ter com a jovem. O rapaz afastou-se super incomodado com as gentilezas do patrão com a novata, sentiu que rolava algo entre eles. Pensou em adotar outra estratégia, já que percebeu que levaria a pior se batesse de frente com a protegida do patrão.
Mais tarde, o entregador pensou em um plano B: tentaria ganhar a preferência da patroa puxando-lhe o saco, já que era ela quem mandava de verdade. Ao mesmo tempo tentaria queimar o filme da menina com a patroa.
Jaiminho começou a se interessar pelo passado de Daisy procurando respostas para suas inúmeras dúvidas: por que uma garota tão jovem veio sozinha para São Paulo se não tinha nenhum parente na cidade? Por que não queria ser registrada? Tinha algo a esconder? Estava fugindo de alguém ou da polícia?
Após pesquisar na Internet sobre a cidade de origem da garota, ele ficou sabendo do caso de atropelamento do filho do prefeito. A notícia dizia que o rapaz saiu do coma e se recuperava rápido. Em outra matéria, de semanas anteriores, fizeram referência à garota motociclista, de 18 anos incompletos e que evadiu-se do local do acidente. Era neta de um funcionário muito ligado à família do prefeito e amiga de infância do filho Paulo (o acidentado). O prefeito havia comunicado à imprensa que o filho havia solicitado a retirado da queixa contra a garota, imediatamente após sair do coma. Disse que a perdoou, pois sabia que não fez por mal. Assim foi feito (final da notícia).
O que os jornais não noticiaram, pois nem sabiam, era que na verdade o Paulinho tomou aquela decisão orientado e convencido por seu pai, um homem poderoso e experiente, além de ser uma raposa velha na política. No entanto, em conversa reservada entre eles, o atropelado disse que não descansaria enquanto não encontrasse e desse um fim naquela puta vadia.
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Na segunda-feira o Edgar foi me buscar na pensão, falou para eu pegar todas as minhas coisas e entregar a vaga.
— Mas eu ainda preciso comprar “de um tudo” para a casa nova, nem roupa de cama eu tenho… muito menos a cama.
— Fica tranquila que eu te arrumo umas caixas de papelão.
— Haha, engraçadinho!
Ele disse para irmos até lá, para eu conhecer. Depois iríamos às compras.
Durante o percurso percebi que minha nova habitação era distante do trabalho, eu gastaria uma hora ou mais de ônibus, mas isso era o que menos importava.
A construção era de dois pavimentos: havia duas casas maiores no térreo com garagem para dois carros. No piso superior tinha quatro quitinetes. Anteriormente a construção era apenas um sobrado com duas casas, o comprador, amigo do Edgar, estava fazendo uma grande reforma. Apenas o meu AP e o do lado estavam prontos e alugados. Nos dois ao fundo faltavam detalhes de acabamento. Já as casas no térreo, ainda pareciam com um grande canteiro de obras.
Gostei da rua tranquila sem trânsito, na pensão eu acordava no meio da noite com barulho de ônibus e sirenes.
Paramos diante da primeira porta do corredor comprido. Ele levantou-me em seus braços como se eu fosse uma noiva em noite de núpcias.
— Feche os olhos! — disse ele. Só então abriu a porta e entrou comigo.
— Pode olhar agora!
Caraca! Fiquei maluca de felicidade, já tinha cama arrumadinha, sofazinho, mesa, cadeiras, fogão, geladeira, máquina de lavar roupas. Enfim, tinha de tudo e novinho.
— Gostou?
— Gostei?… Eu amei. — Você é louco, tudo isso deve ter custado uma fortuna.
— Você merece. — Depois vê se precisa de mais alguma coisa.
— Você já sabe do que eu preciso agora… é de uma pegada daquelas que você me dá quando me possui — falei sendo o mais agradecida que pude.
Dei-lhe um beijo ardente, depois comecei a me despir e caminhar em direção à cama. Deitei só de calcinha.
— Vem, amor! A minha calcinha de renda pretinha que você me deu está pronta para ser arrancada pelos seus dentes.
A cama nova no lar novo e minha entrega por agradecimento, fez o homem bater alguns recordes. Foi ele mesmo quem disse.
Estava feliz com o meu cantinho e saberia compensá-lo sexualmente, afinal de contas era somente isso que ele queria… E era somente o que eu tinha para dar.
Continua Amanhã.
Capítulo anterior: Entregas Especiais – Capítulo 4 - Motel
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