Na manhã seguinte ao nosso sexo público na praia, acordei na casa de veraneio com o Edgar beijando o meu rosto. Ele disse que ia fazer umas comprinhas no mercado e voltaria logo para tomarmos café.
— Tô morrendo de sono, vou dormir mais um pouquinho.
Ele me chamou de dorminhoca, deu um tapinha em minha bunda nua sob o lençol e se foi. Voltei a dormir.
Não sei quanto tempo havia passado quando fui acordada pelo som da campainha. Assustada, virei para o lado à procura do homem, mas lembrei de imediato que não estava comigo na cama. Imaginei que fosse ele do lado de fora e que havia esquecido de levar as chaves.
Peguei a camisa usada por ele no dia anterior, era a roupa mais próxima da cama. Cobri parcialmente meu corpo e fui rapidão em direção à sala após ouvir o segundo toque da campainha. Realmente ele havia esquecido a chave, ela estava alojada na fechadura pelo lado de dentro.
— Só um segundo, amor — falei bocejando e cambaleando de sono enquanto abria a porta.
Gelei ao dar de cara com a mulher gigante: Luana, a patroa. Fulminou-me com um olhar de assombro como se tivera visto um fantasma. A minha expressão deveria ser a mesma, ao deparar-me com aquele monstro. Fiquei apavorada.
A esposa e, também patroa, ficou possessa e seus pensamentos fluíram a milhão ao sentir-se duplamente traída e humilhada: “os dois fdp deveriam rir zombando de mim toda vez que lhes dava as costas.“ Pensou.
Ela veio na expectativa de que a outra fosse uma prostituta qualquer. Estava até pensando em dar-lhe algum dinheiro para sumir de vez da vida deles depois de intimidá-la. No entanto, a dor da dupla traição converteu-se em um ódio descomunal. Com uma expressão demoníaca ela vociferou:
— É vocêêê a vadia?! — tira essa camisa sua vagabunda!
A mulher me deu um tapão no rosto com sua mão enorme e braço pesado que me fez cair metros pra trás. Aterrizei sobre uma das cadeiras que se espatifou. Fiquei estatelada no chão.
— Depois que eu acabar de arrebentar essa sua cara de putinha vadia, marido nenhum vai te querer como amante.
Fiquei aterrorizada, aquele monstrengo desengonçado partiu em minha direção com passos pesados parecendo um tiranossauro. Veio pra cima de mim proferindo as piores ofensas. Eu me afastei rastejando de costas, estava zonza com a bofetada e a queda que levei. Ela chegou me acuando, feroz como um bicho, fiquei estirada no piso entre suas pernas e por debaixo dos seus 150 quilos.
Tentava me defender dos seu tapas e murros, mas não aguentaria por muito tempo, meus braços não eram páreo para aquela selvageria. Ela segurou um dos meus braços e com a outra mão apertou o meu pescoço. Mordendo os lábios e cuspindo ameaças ela demonstrava todo o seu ódio. Sua cara de maníaca deixou-me assombrada, aquela mulher parecia estar possuída. Eu não conseguia mais respirar, tateei à procura de algo para poder bater naquele bicho. Minha mão tocou em um pedaço de madeira da cadeira quebrada. Senti uma farpa da ponta lascada entrar em meu dedo. Segurei mais para cima como se empunhasse uma faca e reuni toda a força que me restava para desferir um golpe movimentando o braço em forma de arco para tentar acertar a cara daquela vaca gorda.
A madeira pontiaguda penetrou abaixo do seu maxilar. A mulher deu um urro abafado olhando pra mim com os olhos incrédulos e arregalados. Sua expressão era de terror, como de alguém que sabia que foi ferida gravemente.
Com movimentos descontrolados ela tentou ficar em pé, mas caiu de joelhos parecendo sufocada. Eu tentei me afastar arrastando a bunda, já que não conseguia levantar, mas aquela coisa agarrou-me pela camisa e de forma desesperada tentava dizer-me algo. Ela segurou e arrancou a lasca de madeira em seu pescoço… Deus do céu! O sangue esguichou feito um spray. Fiquei com o corpo todo borrifado pelo líquido vermelho. Eu a empurrei com os dois pés jogando meu corpo para trás, temia que ela me golpeasse com a mesma madeira. A camisa rasgou ficando parte na mão dela e parte em meu corpo.
Consegui afastar-me engatinhando e a seguir assisti a cena mais macabra de minha vida: a mulher estrebuchando no chão feito um hipopótamo ferido. Levantou a mão em minha direção como se pedisse ajuda. Eu continuei apenas assistindo, e sem compaixão. Seu braço tombou pesado e seu corpo agitou convulsivamente alguns segundos… E ficou completamente inanimado em seguida.
Continuei imóvel totalmente atordoada. Um silêncio fúnebre tomou conta da casa enquanto pensamentos diversos martelavam a minha cabeça. “Preciso fugir antes que o homem retorne — pensei —, mas como fugiria sem dinheiro?”
Ouvi o barulho de chave girando em uma fechadura e o som da porta da cozinha sendo aberta. Por um instante imaginei que eu era uma personagem de um filme de terror: portas rangendo, música de suspense e um ser maligno vindo pra cima de mim.
O ser que surgiu foi o Edgar. Fiquei apavorada esperando por sua reação. O homem quase surtou ao ver a mulher tombada ao chão em meio a uma poça de sangue e com um buraco no pescoço. Ele colocou as mão na cabeça em desespero.
— Meu Deus! — o que é isso?
Eu estava sentada no piso, encostada na parede, pelada e ensanguentada. Atônita pensava o que aconteceria comigo a seguir.
Ele olhou para mim talvez ainda não acreditando naquela cena macabra.
— Eu sei o que você está pensando, mas eu só me defendi, esta louca tentou me matar — falei aos prantos —. Deixa eu ir embora antes de chamar a polícia, por favor!
O patrão e amante respirou fundo. Permaneceu imóvel sem dizer nada. Os pensamentos fluíam em velocidade absurda na mente do homem: pensou que perderia para sempre aquela menina que tanto bem tinha feito à sua vida e ao seu coração. Também não descartou a possibilidade de não acreditarem no real acontecimento e o julgarem cúmplice. Além disso, considerou o fato do seu casamento ser em comunhão parcial de bens; a casa e as aplicações bancárias que eram da mulher, além de 90% da loja, ficariam para a tia dela, sua única herdeira. A participação do Edgar na sociedade da loja era de apenas 10% e seria tudo a que ele teria direito, além do seu carro e uma pequena aplicação conjunta.
Por outro lado, se o corpo da Luana sumisse, ele teria tempo para fazer um bom pé de meia antes que a mulher fosse considerada morta e os bens entregues à tia pelo Ministério Público.
Abracei minhas pernas ficando de cabeça baixa e chorando falei que passaria o resto da minha vida na cadeia.
— Eu não vou chamar a polícia — ele falou com calma.
Eu levantei a cabeça esboçando um sorriso involuntário, sequei as lágrimas e perguntei:
— Não? — e o que você vai fazer?
— Só eu não, nós é que vamos fazer — ele disse.
E explicou seu plano: “vamos ter que tirar o corpo daqui e sem sermos vistos; enterrar em algum lugar onde ninguém ache. Depois vamos limpar este lugar muito bem limpo. Quando chegar a segunda-feira e ela não tiver retornado da casa da tia, eu começo a dar telefonemas a procurando como se não soubesse de nada. Só depois avisarei a polícia sobre o desaparecimento.
A campainha tocou. Daisy ficou em pé com um pulo e quase gritou de medo. Se mexia igual a uma barata tonta sem saber para onde ia.
— Ai meu Deus! — tô fodida.
Continua Amanhã.
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