[21h22, Eduardo]
— Eu já pedi desculpas, Felipe — disse Carlos
— Não quero desculpas — respondeu enquanto me entregava o saco de gelo pra apoiar no rosto — Quero que me diga que merda você tem na cabeça?
— Que merda eu tenho? — disse Carlos se levantando da cadeira irritado — Uma pessoa que eu nunca vi aparece na minha casa, invadindo meu quarto, que se recusa a ir embora e você espera que eu não reaja? Vai se foder, Felipe!
— Você sabe muito bem que eu não tô falando disso! — Felipe me deixou de lado e se levantou também — Eu tenho certeza que você é muito mais esperto que isso! Podia ter perguntado quem era, o que queria, sei lá! Qualquer merda!
Podem achar que eu sou muito fracote por não me defender mas eu literalmente tinha levado uma baita de uma porrada, não consegui fazer muita coisa em relação àquela situação. Só observei e esperei o momento certo pra falar alguma coisa.
— Felipe, ELE ESTAVA INVADINDO MEU QUARTO! — Carlos retrucou ainda mais irritado que antes — Eu não vou perguntar pra um ladrão o que ele quer no meu quarto, eu simplesmente TENTO DEFENDER MINHA CASA, SIMPLES!
— Vai se lascar! — Felipe saiu do quarto muito entristecido e me deixou sozinho no quarto com aquele bruto. Mas já não tinha mais receio dele, afinal, eu achava que ele estava até certo em se defender daquele jeito.
Ele parecia muito triste também e eu meio que me senti culpado por ter causado tudo aquilo, talvez até uma quebra de amizade. Carlos se sentou na cadeira da mesa do computador e ficou parado ali, pensando em alguma coisa e eu jogado na cama morrendo de dor e de culpa.
Me levantei, meio manco e fui até o lado dele, devagar pra não irritar a fera mais ainda. Tirei o gelo do meu rosto e estendi a mão com a compressa e ofereci pra ele.
— Não, para, eu tô bem — ele respondeu com um gesto negativo de mãos — Você precisa ficar ali, parado
— Pega logo, você parece que tá mais caído que eu — respondi
— Não, cara, fica de boa ali na cama antes que você piore, e se você piorar eu morro de vez hoje
Não insisti muito porque eu sabia que ele não estava sentindo dor física, estava sentindo uma dor interna. Sentei-me novamente e procurei deixá-lo mais tranquilo em relação ao que estava passando.
— Ei, relaxa, ele não vai ficar puto pra sempre — eu disse
— Mas vai parar de falar comigo por um bom tempo — respondeu passando a mão no rosto agoniado, incomodado, chateado...
— Claro, você bateu, praticamente espancou o namorado dele — falar na terceira pessoa foi a coisa mais estranha que fiz até hoje
— Mas me diz: como eu ia saber? — perguntou perplexo — Ah, não chama ele de namorado, isso ainda é estranho pra mim, falou?
— Pronto, agora deu! Vou chamar ele de que então? Super pessoa amada da minha vida?
Ele deu risada
— Não, só tô dizendo que é meio estranho pra mim ainda...
— Hmmm entendo...
— Eu juro que eu não bateria em você se eu soubesse que era você, juro!
— Eu tenho certeza disso, mas você não me deixou falar nada, nem meu nome eu consegui explicar
— Desculpa, eu admito que fui muito babaca, mas pra ser sincero eu estava morrendo de medo de ser um ladrão
Sorri meio que não acreditando no que ele estava me dizendo
— Cara, eu te entendo completamente, quer dizer, quem é que pergunta a um ladrão o que ele quer, tipo, nada a ver!
— Sim mano, eu te juro que eu nunca faria o que eu fiz se realmente soubesse que você é o namorado do meu melhor amigo, nunca! — disse — Tabom, chamar você de namorado do meu melhor amigo é ainda pior do que ouvir você chamando meu melhor amigo de namorado!
— Que?! — perguntei muito confuso e acabamos dando risada juntos.
Felipe provavelmente estava buscando fôlego pra voltar e resolver a situação ou acabou se embebedando pra esquecer do que tinha ocorrido. O mais engraçado de tudo, era que a festa rolava enquanto tudo aquilo acontecia. Só queria que ele voltasse e se acalmasse de verdade.
— Eu vou atrás dele — Carlos disse — Você fica aí, deitado, parado, sem causar problemas!
— Quem sou eu pra recusar uma cama fofa? — respondi — Mas Carlos! Tenta falar devagar, não fica bravo com o Felipe não, ele se entristece muito fácil — recomendei depois de lembrar da noite em que fiquei pistola com Felipe e ele ficou muito triste. Experiências nos deixam mais preparados pra próximo merda que acontece na vida.
[21h58, Felipe]
Minha cabeça estava girando, borbulhando de raiva e eu não conseguia parar de chorar. Aquele mar de gente não ajudava, a música alta só me deixava mais transtornado e o calor que subia naquele lugar me fazia extremamente agoniado. Quando desci do quarto do Carlos eu fui pra fora da casa e tomei alguns drinques, na esperança de afogar os sentimentos que estavam saltando da minha pele, ou melhor, pelo meus olhos. Foi então que lembrei do único que não tinha gente: o jardim atrás da casa.
Era um lugar meio que "secreto", ninguém sabia que existia, mas eu andei tanto naquela casa que era impossível não perceber sua existência. Ainda ouvia o som da música mas era com certeza mais calmo. Me encostei na árvore que tinha ali e chorei tanto, mas tanto, que cheguei a soluçar de tão desesperado que eu estava. Claro que esse efeito todo é por conta do álcool, não tinha um motivo tão avassalador assim pra eu estar me matando daquele jeito.
Acontece, que eu não conseguia, as lágrimas não paravam de cair. Os pensamentos que me cercavam eram a respeito do Eduardo, em como ver o rosto dele era bom, mas ao mesmo tempo era a pior coisa que eu podia esperar naquela noite. Eu não estava pronto pra vê-lo, não estava nem um pouco preparado pra vê-lo naquela situação, na verdade. Eu só queria voltar lá e dizer que estava feliz, contente porque ele voltou mas meu ódio era tão forte pelo Carlos que eu não consegui. Simplesmente não consegui.
Comecei a bater no tronco da árvore freneticamente, sem parar, afim de colocar pra fora minha raiva e frustração. Porém enquanto fazia isso, alguém me segurou pelos braços pra me impedir de destruir aquela merda daquela árvore.
— Hey, hey! Para! — Carlos me segurou e tentou me fazer parar de socar a árvore e eu não queria parar, eu precisava bater em algo, eu queria era bater nele. Foi o que eu passei a tentar fazer. Socá-lo. Muito forte. Ele se defendia e conseguiu me imobilizar. Ficou atrás de mim e segurou meu braço — Para Felipe, chega! Para de fazer isso!
— Me solta! — berrei
— Não! Eu não vou te soltar!
— Carlos, me solta, agora!
— Não! Se acalma primeiro e depois você está livre!
Tentei chutar a perna dele mas ele permanecia firme. Parei porque não queria machucá-lo de verdade. Não nas pernas.
— Tabom, vou me acalmar, tá vendo, parei
— Promete que não vai surtar?
— Prometo — respondi e quando ele me soltou dei um soco na cara dele e depois o empurrei no gramado — Seu filho da mãe!
Me agachei e subi em cima dele batendo no seu peito enquanto ele se defendia até cansar a mão. Era como se fosse tudo o que eu precisava, descontar em alguém real toda raiva que eu sentia. Quando parei, eu saí de cima dele e cai no chão do seu lado.
— Ok...ok...eu merecia isso — disse Carlos gemendo — ...tá melhor?
— Tô — eu respondi ofegante
— Posso pedir desculpas agora?
— Você pode tentar
— Ok — ele se sentou e olhou pra mim — Eu juro que não sabia que era o Eduardo e se soubesse, nunca teria espancado ele
— Continua
— E eu não quero que você fique puto comigo porque apesar de eu ter sido babaca eu meio que estava só reagindo a um possível ataque
— E....
— ...e que eu já tô me humilhando de mais! Você vai me perdoar ou não?
Me sentei e olhei nos olhos dele.
— Eu vou te perdoar porque eu sei como você é um tanso! — respondi e dei um tapa na cabeça dele — Mas o que eu vou fazer agora? Você acabou com o rosto do meu namorado! Eu te odeio
— É... isso eu não sei bem como te confortar... mas até que ele tá bonitinho ainda
— Vacilão!
— Vai lá, ele tá te esperando
— E você?
— Eu vou é ficar locão, cê tá doido! Vou parar por causa de você não!
Sorri e me levantei do gramado gelado pronto pra finalmente falar com o Eduardo. Só que direito agora.
— Lipe! — gritou antes de eu entrar — É...o quarto de hóspedes tá arrumado... é...se quiser ir pra lá...cê me entende
— Tá achando que eu sou o que, Carlos Eduardo?!
Nem passou pela minha cabeça o que o Carlos tinha suposto na mente dele mas agora que ele me lembrou, até que não era uma má ideia. Aff que isso! Ele tá machucado, que tipo de pessoa eu tô me tornando? Benza Deus!
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Só queria dizer pra vocês que este conto está chegando ao fim, mas não desanimem que ainda tem mais capítulos e mais emoções pela frente.
Bjosss
Kimi