Negócio Arriscado 10 – Caça ou Caçadora?

Um conto erótico de Kamila Teles
Categoria: Heterossexual
Contém 2387 palavras
Data: 27/10/2019 15:15:03

Saí da Masmorra assim que começou a clarear o dia daquela segunda-feira. Cheguei em casa por volta das seis e meia, fedida com todos os odores possíveis e cheia de dores. Praticamente adormeci em pé enquanto tentava abrir a porta… entrei cambaleante e coloquei o armamento sob o travesseiro. O Pedro estava dormindo, presumi que ele havia me esperado por boa parte da noite. Deitei de roupa e tudo e cai no sono. Acho que o Pedro falou comigo, mas eu só queria morrer em paz e apaguei por completo, pois a noite não havia sido nada fácil. A minha transa com o travesti gigante e o outro cara peso-pesado foi madrugada adentro e conclui a negociação da arma, com o Salomé, só depois das três da manhã. Paguei os três mil pela pistola e dois carregadores cheios. O travesti gigante me deu um terceiro carregador de presente, também cheio. Segurou em minha mão quando peguei o bagulho e disse:

— Isso é um brinde pra patricinha gostosinha voltar. Posso arrumar umas paradas “federal” com esse seu corpinho. Pensa nisso e me procura, você só tem a ganhar.

Eu não sabia se ficava lisonjeada ou mais apavorada, a realidade daquele submundo era pesado demais pra mim e, além disso, Salomé não era do tipo que aceitava uma recusa, então dei a entender que voltaria. Também aceitei seu convite e recomendação para jogar um pouco de poker até raiar o dia, pois a rua poderia ser perigosa pra mim naquele momento, devido aos caras que ficaram zangados comigo durante o 21 ainda estarem circulando pelos arredores.

Acordei meio-dia com o som das badaladas do sino da igreja. Ainda estava morrendo de sono, mas uma conversinha e sorrisinhos que vinham do corredor ao lado de minha janela acendeu o meu sinal de alerta. Olhei pela fresta da veneziana e vi uma piriguete com os peitinhos eriçados por debaixo de uma blusinha fina de alcinha, praticamente ela se esfregava no peito do Pedro enquanto rebolava sua bunda com um shortinho que deixava as bochechas de fora. Ela morava no final do corredor com a mãe vadia que se deitava com o cara do açougue e o do mercadinho para ter comida grátis em casa, e também o senhorio em troca do aluguel.

Fiquei possessa e fiz besteira, há momentos em que não consigo me controlar; peguei a arma e abri a janela, apontei para a testa da menina enquanto urrava:

— Sai fora projeto de piranha, se você se jogar em cima do meu homem mais uma vez, vou estourar essa sua cabeça de merda.

A garota tremeu na base e quase desabou, se afastou com as mãos erguidas e os olhos arregalados até chegar e entrar em seu muquifo. Olhei para o Pedro e sussurrei:

— Tá maluco cara, se te pegam enroscado com essa piriguete você vai em cana, ela tem 14 anos.

— O que você está falando? Eu cruzei com ela na saída do mercadinho e só estava me contando um filme que assistiu ontem.

— Ah tá! O cinquenta tons de cinza, né?

Ele entrou e eu fiquei mais calma, dei a arma pra ele. Conversamos a respeito da noite, inventei que tive que esperar a boa vontade do chefe do pedaço, um travesti, e que joguei um pouco de cartas esperando o dia raiar para vir embora, pois aquele pedaço não é seguro de madrugada. Achei melhor ocultar o lance de sexo brutal, depois falei pra ele já ir se preparando porque em dois ou três dias partiríamos em busca dos traidores.

Na última hora da quinta-feira, partimos em um ônibus rumo ao Sul; Itajaí e Camboriú seriam os locais mais prováveis para encontrarmos o canalha do Maciel, praticamente tudo que ele possuía de bens materiais e também afetivos, sua mãe, a ex-companheira e o filho, por exemplo, estavam na cidade ou nos arredores. Mesmo com as raras conversas que tivemos à nível não profissional, ficou evidente que a garota ainda era especial para ele, o filho mais ainda. Era quase certo que tivesse retornado à região para ficar próximo a eles.

Ainda sobre o dia do golpe

Depois de furar o bloqueio policial e de ter sido alvejado por um tiro, Maciel considerou que parar e se entregar não seria a melhor alternativa, dirigiu loucamente o Audi a mais de 200 por hora por vários quilômetros. Era uma situação inédita em sua vida, apesar de que era um ladrão golpista, todavia, nunca estivera em situações extremas com tiros e perseguição. Ele pecou pela inexperiência: perdeu o controle do carro em uma curva, rodou na pista e terminou fora dela batendo em uma árvore. Não sofreu ferimentos graves graças ao Airbag. Saiu do veículo e olhou para Jessie desacordada e presa ao cinto de segurança no banco traseiro. O plano estabelecido pelo Rocha (o Nordestino) era acabar com a vida da garota de programa empurrando o Audi, com ela dentro, para o fundo de uma lagoa. O parceiro não queria deixar rastros que levassem até eles. Maciel pensou: "E quem garante que ele não fará o mesmo comigo?"

Seus pensamentos foram interrompidos pelo som de sirenes ao longe. Abandonou o local e iniciou uma caminhada difícil pela mata. Contou com a sorte para chegar a uma região urbana e conseguir um táxi. Ele não poderia procurar ajuda hospitalar, procurou um médico conhecido. Contava com a discrição do doutor para cuidar do seu ferimento em troca de algum dinheiro.

Horas mais tarde, suas numerosas tentativas de contato via celular com o Rocha foram em vão, o comparsa era o mais experiente do trio, já havia destruído o celular pré pago usado somente naquela ocasião.

O Maciel estava temeroso, eles matariam sua parceira depois de arrancarem tudo o que ela sabia, a seguir viriam atrás dele. Juntou suas coisas para sair de circulação, já havia dado aquela jogada como perdida, sonhou alto e se deixou enganar pelo comparsa recém-conhecido. E ainda envolveu-se com uma elite abastada e poderosa que não hesitava em mandar matar quem atrapalhasse os seus negócios. Evidente que eles estariam em sua captura, então, teria que desaparecer de imediato para não ser o próximo a ser silenciado.

"Onde estaria o Rocha? Claro que ele inventou aquele nome, mas como ele soube do carro com o dinheiro? Quem era ele? Como ele soube a meu respeito?" Os pensamentos e perguntas enchiam a cabeça do concierge e ele não tinha resposta para nenhuma delas.

***

Depois de viajarmos a noite inteira, chegamos a Joinville. Falei para o Pedro que precisava passar em um lugar antes de irmos para Camboriú. Pedimos para o motorista parar o ônibus assim que saímos da zona urbana da cidade, caminharíamos dois quilômetros até uma casa onde morei. Aquela parada não programada do busão também serviria para que possíveis perseguidores perdessem o nosso rastro.

Jessie mantinha essa estratégia como um hábito já há alguns anos, o Pedro só há alguns meses. Ela se sentia mais segura e confiante estando ao lado do seu novo parceiro, no entanto, se questionava: "Até onde ele seria capaz de comprometer-se comigo?".

Durante a caminhada:

— A gente precisa conseguir uma moto pra se locomover… também pra fugir, se for preciso — disse o Pedro.

— Era pra ser surpresa, mas vou contar agora mesmo. Tenho um carro enterrado aqui perto e é pra lá que estamos indo.

— Enterrado?

— É modo de dizer, está escondido.

Chegamos na casa do meu antigo senhorio, eu morei em um quarto e cozinha nos fundos antes de ir para Campinas. Agradeci o homem e o retribuí por ter guardado o meu Santana.

Passamos um tempinho dando uma geral no carro que ficou parado por meses. Enfim colocamos aquele bichão, fabricado a mais de vinte anos, para rodar novamente. Fomos às compras, precisava de um material específico que usaria contra os canalhas traidores quando os encontrassem.

Compramos os bagulhos em lojas diferentes, evitando assim, que o nosso “kit sequestro” chamasse uma atenção indesejada. Abraçadeiras de nylon para usar como algema, fita adesiva Cinza de PVC para tapar boca e prender o corpo, uma boa faca de caça estupidamente afiada, um punhal automático e luvas descartáveis.

Lá pelas nove da noite fomos à casa noturna onde a Paola, ex-companheira do Maciel, trabalhava meses atrás. Pelo cartaz em destaque na entrada ficou claro que ela ainda era uma das atrações principais em um show de stripper e erotismo. Naquele horário o movimento era fraco, então montamos guarda do outro lado da rua contando com a possibilidade do concierge aparecer. O plano B era seguir a Paola quando ela saísse, assim, chegaríamos em sua residência e ao seu filho. Segundo algumas conversas que tive com o Maciel, ele costumava pegar o garoto nos fins de semana para dar um passeio no shopping e o devolvia na casa da mãe horas depois.

A Paola chegou como passageira em um veículo e entrou no estacionamento em torno das 22h. Saiu minutos depois em companhia de um gordinho grisalho. Os dois adentraram a casa noturna e não demonstraram serem íntimos.

As horas passaram e o concierge não apareceu. Era quase duas da manhã quando a stripper saiu, dessa vez acompanhada de uma mulher, entraram no estacionamento e as duas saíram a seguir em um Pálio vermelho. Nós as seguimos até pararem defronte uma residência onde a Paola desceu. A mulher seguiu em frente e sumiu de vista. Nós demos por encerrada a noite de campana e fomos para um hotel dormir um pouco.

Na dia seguinte, sábado, retornamos à residência e vigiamos desde as nove da manhã. Durante o dia o menino apareceu duas vezes ao portão para olhar a rua, talvez na esperança de ver o pai, deduzi.

Era quase três da tarde quando o mesmo Pálio da noite anterior, com a mesma mulher ao volante, parou em frente ao portão. A Paola saiu do interior da casa com o menino e uma senhora, beijou a ambos, saiu caminhando portão afora e retribuiu os beijos jogados pelo filho antes de entrar no veículo. Nem sinal do Maciel, decidi seguir o carro.

Jessie não imaginava que de caçadora poderia virar caça, uma vez que Tenório (o Nordestino) também chegou em Itajaí naquele mesmo dia e estava bem próximo a ela. Ele veio seguindo informações obtidas em Campinas sobre o concierge. Visitou lugares em que ele poderia estar, segundo suas apurações. Horas depois de conversas e interrogatórios em Itajaí, o ex-policial não obteve êxito, ninguém o havia visto nos últimos meses. No entanto, conseguiu o endereço do filho do Maciel e da sua ex. Ele faria uma visita à família.

O ex-policial chegou ao local por volta das três da tarde e, no mesmo instante em que virou à esquerda entrando na rua da moradia, o Santana da Jessie acabara de sair do seu campo de visão ao virar também à esquerda em uma rua paralela cinquenta metros adiante.

O Nordestino parou defronte à casa e observou o movimento por cinco minutos, depois desceu e tocou a campainha. Foi o menino que abriu a porta da sala. Ao ver o homem no portão ele chamou pela avó. O Tenório perguntou para a senhora, que acabara de aparecer, se ele poderia falar com o Maciel, tinha um trabalho pra ele, mas o colega não atendia suas ligações. A mulher disse que ele não morava lá.

— A senhora sabe como eu posso encontrá-lo? — ou ele perderá uma vaga ótima.

A resposta da mulher foi negativa, ela ficou incomodada como se não quisesse falar do pai do menino. O ex-policial insistiu pedindo para falar com a filha, mantendo o celular na mão o tempo todo e registrando imagens da avó e neto sem que ambos percebessem.

— Ela não está no momento — falou a mulher desconfiada, incomodada e empurrando o menino para dentro. — Desculpe, não sabemos dele.

O Tenório agradeceu a atenção e foi embora. Ele já sabia onde a Paola trabalhava durante a noite, iria até a casa noturna mais tarde e teria uma conversa com a ex sobre onde estava o pai do seu filho. Com sua arte de persuadir, através de ameaça ou violência, o profissional tinha certeza de que a stripper diria caso soubesse. "E será melhor para ela que saiba", pensou com maldade.

Eu e o Pedro seguimos o carro com as duas mulheres até o Balneário Camboriú, elas entraram em um dos melhores motéis da região.

— Será que as duas são namoradas? — questionou Pedro Miguel.

— Não, elas vão trabalhar; só não sei se em quartos separados ou no mesmo, tipo duas com um cara ou um swing — isso vai demorar umas duas horas e eu estou morrendo de vontade de fazer xixi, melhor irmos embora — concluiu Jessie.

Deixamos a garota de lado por um tempo, iríamos procurar uma lanchonete para comer e também ir ao banheiro.

— De noite a gente volta na casa noturna, temos que grudar na mãe e no filho dia e noite, pois cedo ou tarde o escroto irá procurar por eles — disse a jovem.

21h40, os dois jovens estavam a meia hora montando campana do lado de fora da casa de shows..

— Me beija! — ela ordenou.

Pedro ficou confuso, mas não perdeu tempo quando a jovem tomou a iniciativa colocando sua boca na dele. Ela acariciou seus cabelos, mas a intenção foi manter seu campo de visão na surpresa que avistara… O concierge, ele apareceu mais cedo do que ela esperava, o reconheceu quando surgiu caminhando pela calçada. "É o cara com certeza", pensou. Apesar da mudança na aparência: escureceu e fez permanente nos cabelos, incluiu bigode e cavanhaque no seu novo visual, mas o tipo físico e as passadas eram as mesmas. Quando ele passou pelo casal que simulava um namoro, Jessie cessou o beijo e murmurou:

— Fica ligado, é ele — e fez um sinal com a cabeça em direção ao cara que acabara de passar.

O casal foi atrás e deu um bote no sujeito, Pedro colou de um lado e ela do outro. O Maciel tentou fugir, mas foi duramente seguro pelos dois, Pedro mostrou a pistola que segurava por sob a camisa, do outro lado a jovem o abraçou pela cintura com um braço e fez carinho na região do seu ventre com o outro, era só para sentir se ele estava armado.

— Perdeu baby, não faz bobagem e vem com a gente! — ordenou a Jessie.

Continua…

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Foto de perfil de KamilaTelesKamilaTelesContos: 174Seguidores: 111Seguindo: 0Mensagem É prazeroso ter você aqui, a sua presença é o mais importante e será sempre muito bem-vinda. Meu nome é Kamila, e para os mais próximos apenas Mila, 26 anos. Sobrevivi a uma relação complicada e vivo cada dia como se fosse o último e sem ficar pensando no futuro, apesar de ter alguns sonhos. Mais de duas décadas de emoções com recordações boas e ruins vividas em períodos de ebulição em quase sua totalidade, visto que pessoas passaram por minha vida causando estragos e tiveram papéis marcantes como antagonistas: meu pai e meu padrasto, por exemplo. Travei com eles batalhas de paixão e de ódio onde não houve vencedores e nem vencidos. Fiz coisas que hoje eu não faria e arrependo-me de algumas delas. Trago em minhas lembranças, primeiramente os momentos de curtição, já os dissabores serviram como aprendizado e de maneira alguma considero-me uma vítima, pois desde cedo tinha a consciência de que não era um anjo e entrei no jogo porque quis e já conhecendo as regras. Algumas outras pessoas estiveram envolvidas em minha vida nos últimos anos, e tiveram um maior ou menor grau de relevância ensinando-me as artimanhas de uma relação a dois e a portar-me como uma dama, contudo, sem exigirem que perdesse o meu lado moleca e a minha irreverência. Então gente, é isso aí, vivi anos agitados da puberdade até agora, não lembro de nenhum período de calmaria que possa ser considerado como significativo. Bola pra frente que ainda há muito que viver.

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