Nosso Amor, Meu Destino (Kim) - Cap. 7

Um conto erótico de GuiiDuque
Categoria: Homossexual
Contém 5276 palavras
Data: 30/10/2019 01:39:31

~ continuando ~

-

Terça-feira, 12 de junho de 2007.

Higor me esperava no portão de casa com uma carinha de criança que fez arte e eu já saí de casa rindo disso. Nos abraçamos e começamos a andar em direção a escola quando ele me segura.

H: Espera. Tenho outro planos pra hoje. Vamos pra minha casa.

K: E matar aula, Higor? Acho melhor não...

H: Por favor, Kim! Vai? Tenho uma surpresa pra você.

K: Ai... você sempre me chantageia com essa coisa de surpresa. Não pode ser depois da aula?

H: Não. Temos que aproveitar que pela manhã minha mãe não está em casa.

Pensei um pouco, mas acabei concordando. Higor andava tão feliz que eu até esperava o momento que fosse começar a dar pulinhos. Chegamos em sua casa e ele me guiou até o quarto, onde me deu um beijo gostoso e me pôs sentado na cama enquanto buscava algo em seu armário. Logo depois se sentou ao meu lado com uma caixinha de veludo preta nas mãos. Várias bobagens passaram pela minha cabeça como “Meu Deus! Ele vai me pedir em casamento? Mas eu ainda sou novo demais.”, e outras coisas tão mirabolantes quanto. Higor me entregou a caixinha, que eu peguei com receio e abri devagar. Sorri emocionado, e também um pouco aliviado por não encontrar uma aliança, mas sim um cordão prateado fininho, que trazia pendurado um pingente em forma de coração. Não era um coração plano, mas sim maciço, formado por vários fios prateados que se entrelaçavam. Simplesmente lindo.

H: Feliz dia dos namorados.

K: Higor... é lindo! Mas... eu não tenho nada pra te dar, afinal nós não somos... bem... namorados.

H: É, eu imaginei que você fosse dizer isso. Primeiro, não se preocupe por não ter nada pra mim, você é o meu presente todos os dias. E segundo, eu já tenho tudo planejado.

Dizendo isso ele pegou o cordão e pediu que eu me virasse para colocá-lo em mim. Depois me beijou calmamente, olhando dentro dos meus olhos.

H: Kim, quer namorar comigo?

Nem preciso dizer que eu não cabia em mim de tanta felicidade, não é? O abracei com força, repetindo que sim o máximo de tempo que consegui, até que ele me interrompesse.

H: Agora eu tenho um presente de dia dos namorados pra você.

K: Mas eu pensei que o cordão...

H: O cordão é meu presente de pedido de namoro. Quero te dar uma coisa muito mais importante agora. Me espera aqui.

E dizendo isso, saiu do quarto. Ele levou tanto tempo pra voltar que eu já estava até considerando dormir ali na cama dele, onde estava deitado. Ouvi a porta abrindo e fechando e virei o rosto em sua direção, me deparando com algo que eu nunca poderia imaginar.

Higor se encontrava parado ali no meio do quarto, apenas de cueca, uma das mãos apertada num gesto de nervosismo, a outra segurando um tubinho e uma camisinha, e o principal, uma fitinha vermelha amarrada em seu pescoço, fazendo um laço. A cor da fita era quase a mesma do tom de suas bochechas. Acho que era a primeira vez que o via tão corado.

H: Desculpe por ter demorado. Não conseguia achar nenhum laço de fita nas coisas da minha mãe. Mas... bom... aqui está seu presente.

K: Higor, eu nem sei o que dizer. Mas, você sabe que eu acho que ainda não estou...

H: Pronto? Sei disso. E eu não quero de forma alguma te apressar, você tem o seu tempo e eu respeito muito isso. Mas presta atenção no que eu estou te dando de presente...

Ele disse parecendo tomar coragem e subindo na cama, engatinhando devagar até mim, me fazendo deitar novamente e beijando meu pescoço com calma, e então minha boca.

H: Eu estou ME dando de presente pra você...

Fiquei estático, sem saber o que dizer ou fazer, apenas sentindo os beijos que Higor espalhava por meu pescoço e suas mãos, que já puxavam a barra da camisa para cima. Sentei, permitindo que ele retirasse minha camisa, para depois segurar seu rosto com ambas as mãos. Ele parecia muito envergonhado com a situação, mas mesmo assim correspondeu ao meu olhar.

K: Higor... Isso que você tá dizendo... Tem certeza que é isso que você quer?

H: Absoluta. Eu não sou virgem, Kim, mas queria que você fosse cuidadoso comigo, gatinho.

Respirei fundo, engolindo seco, e então o beijei, tentando passar toda uma confiança que eu mesmo não tinha, mas que pareceu encorajá-lo. Higor empurrou mais uma vez meus ombros em direção à cama, voltando a me beijar. Eu já estava acostumado com aquele tipo de contato, então me permiti tocá-lo, explorando cada pedaço de sua pele exposta, enquanto seus beijos desciam por meu peito, onde dava mordidinhas e lambidas.

Perdido em meio às sensações, só me dei conta de que estava completamente nu quando senti os lábios de Higor tocarem minha virilha. Tentei fechar as pernas, envergonhado, mas ele não permitiu. Tudo que pude fazer foi gemer ao sentir sua mão me tocar intimamente, massageando, a principio de leve, para depois aumentar a velocidade. E quando eu achava que não podia ficar melhor, sinto sua boca em mim, a maciez dos seus lábios, o calor e umidade de sua língua. Eu já não tinha mais controle sobre meu corpo. Mordia os lábios e segurava em seus ombros com força, deixando sua pele avermelhada, a boca sempre aberta em busca do ar que parecia não ser suficiente. Apesar de querer sentir mais daquilo, em um breve momento de consciência me lembrei de Higor, tocando seus cabelos e pedindo que ele parasse.

K: Eu também quero te tocar...

Ele me sorriu e se levantou, retirando a única peça de roupa que cobria sua corpo, voltando a se sentar em seguida. Higor fez menção de tirar a fita de seu pescoço, mas eu o impedi, ele estava tão lindo daquele jeito, usando nada além de uma fitinha vermelha. Admirei seu corpo com cuidado e estendi a mão para tocá-lo devagar, um pouco sem jeito. Acho que para me encorajar, ele também passou a me tocar, como que me dando instruções, que eu tentava seguir o melhor possível. Em algum tempo toda a minha insegurança e medo de que ele não estivesse gostando se foi, pois ele parou de me tocar, para poder apoiar seu corpo com os dois braços na cama. Ele não tirava os olhos de mim, mesmo que estes estivessem semicerrados. Procurei sua boca com a minha de forma febril e impaciente, eu queria experimentar mais. Devagar fui me deitando na cama, de bruços, sentindo seus olhos atentos sobre mim. Deixei que minha língua deslizasse por seu corpo, distribuindo alguns beijos antes de tomá-lo em minha boca. Meus movimentos eram um pouco desengonçados, mas eu tentava fazer da mesma forma que ele fizera em mim. Me agradava o fato de seus gemidos terem aumentado e de ele já quase não conseguir mais manter os olhos abertos.

Higor me interrompeu, da mesma forma que eu fizera, me puxando para que sentasse a sua frente e me beijando mais uma vez. Riu por eu não querer tirar minhas mãos dele enquanto ele tentava alcançar a camisinha e o tubo jogados do outro lado do colchão. Observei seus dedos compridos rasgarem a embalagem e segurarem a camisinha. Ele a levantou na altura do rosto e deu uma picadinha pra mim, me fazendo rir. Higor a colocou em mim com facilidade, enquanto beijava meus ombros e depois alcançou o tubinho. Segurou minha mão direita e despejou uma boa quantidade do gel em meus dedos, jogando o tubinho para o lado e se deitando.

Se acomodou, abrindo as pernas e me chamou para perto. Voltei a ficar nervoso, mas ele me acalmou, segurando meu pulso e conduzindo minha mão enquanto falava comigo, me instruindo. Em pouco tempo meus dedos se moviam dentro dele e eu não conseguia desviar os olhos de sua expressão arrebatada e muito levemente dolorida. Dizendo já não aguentar mais, Higor se virou, apoiando mãos e joelhos no colchão e me pedindo para fazê-lo seu. É impossível descrever o que senti quando me pressionei contra sua entrada, sentindo-a ceder um pouco, me dando passagem. Tomado por aquela sensação, me empurrei com um pouco mais de força, ouvindo seu grito de dor, que me assustou, mas ele me segurou, impedindo que me afastasse.

H: Tudo bem, gatinho. Só vai mais devagar.

Fui com mais calma dessa vez, controlando minha enorme vontade, e quando me dei conta já estava completamente dentro de Higor, do meu namorado. A emoção do momento foi rapidamente substituída por um enorme prazer quando ele se moveu, levando seus quadris para frente e voltando. Ele me chamou, pedindo que eu o acompanhasse, e em pouco tempo já nos movíamos em sintonia. Era a sensação mais viciante que eu já experienciára até aquele dia, a respiração saindo em ofegos, o coração batendo forte, nossos corpos unidos. Mas eu ainda sentia falta de algo.

K: Higor... quero que você me abrace.

Ter de sair de dentro dele para mudarmos de posição foi decepcionante. No entanto, poder entrar de novo em seu corpo, dessa vez olhando em seus olhos e tendo seus braços ao redor do meu pescoço compensava tudo. Foi graças àquela posição que tive a incrível visão de Higor em meio ao orgasmo, me apertando contra si e me fazendo sentir o que parecia ser uma enorme explosão de prazer segundos depois.

Caí deitado em seu peito e ficamos abraçados por um tempo, regulando nossas respirações. Apoiei meu queixo em seu peito, olhando para seu sorriso e acompanhei o movimento de seus lábios quando ele disse, quase sem voz, que me amava. Respondi que também o amava, enquanto puxava uma das pontas da fitinha desfazendo o laço. Fomos tomar um banho, juntos dessa vez, e ficamos abraçados, trocando pequenos carinhos enquanto a água quente escorria por nossos corpos. Depois de vestidos, fomos até a cozinha, fazendo a maior bagunça enquanto arrumávamos dois enormes sanduíches que comemos assistindo televisão. Acabei pegando no sono, e Higor me acordou um tempo depois, dizendo que tínhamos que ir. Tomamos um sorvete antes de ele me deixar em casa e nos despedimos sem a menor vontade de nos separarmos.

K: Obrigado, Higor. Foi o melhor presente que já ganhei na vida.

H: Digo o mesmo, Kim. E você pode usar esse presente sempre que quiser, viu?

Ri da carinha de malandro que ele fazia e demos um último abraço antes de eu entrar em casa.

As semanas que se seguiram foram maravilhosas. Higor passou a ir até o portão de casa a noite, pra me dar um beijinho de boa noite. Fazíamos isso o mais escondidos que conseguíamos, já que minha rua era pouco movimentada e mal iluminada. Também faltávamos a aula de vez em quando. As vezes só o primeiro tempo, para podermos namorar um pouquinho, outras vezes o dia inteiro, para “usar meu presente” mais vezes.

Enquanto isso melhorava, minha mãe fazia questão de mostrar que já sabia de tudo. Toda noite, quando entrava em casa depois de dar um beijo em Higor, ela estava lá a minha espera, ou com cara de nojo, ou com algum comentário ácido na ponta da língua. Eu apenas ignorava até o dia que ela pôs em jogo uma coisa muito importante pra mim.

M: Você pensa que eu não sei da pouca vergonha que está acontecendo aqui, debaixo do meu nariz. Como seu primo te largou você resolveu correr atrás de outro, estragar a vida de mais alguém.

K: Você não faz ideia do que está dizendo, mãe. Mas não se preocupe, o colégio acaba esse ano. Depois disso só a faculdade e eu vou embora daqui.

M: Faculdade? Você vai é arrumar um emprego pra por dinheiro dentro dessa casa.

K: Você ficou doida? É claro que eu vou fazer faculdade. Quero um futuro pra mim.

M: Você não tem futuro nenhum. A única coisa que sabe fazer é prejudicar a vida dos outros!

K: Não me importa o que você acha. Vou falar com o pai e ele vai pagar minhas inscrições. Quando eu for aprovado, você não vai poder fazer nada.

M: Ah, não? Pois então vai ter que se virar pra encontrar um lugar pra morar, porque aqui você não põe mais os pés. Se não vai fazer algo decente na vida, não vai ficar debaixo do mesmo teto que eu. E nem adianta correr pro seu pai. Você sabe que ele não te quer! Aquela mulherzinha está grávida. Pra que é que ele vai querer um demônio feito você dentro da casa dele?

Me pegou de surpresa ela estar jogando aquilo na minha cara. Eu sabia que era verdade. Já conversara com meu pai sobre morar com ele, e ele enrolou bastante, tentando achar outras soluções até dizer que me acolheria. Mas aí eu já não queria mais. Não sei porque, mais preferia morar com minha mãe daquele jeito do que com ele. Ao menos ela notava que eu existia, mesmo que não achasse isso uma boa coisa. Engoli o choro e fui para o meu quarto, sem ter como argumentar.

Dias depois recebi um telefonema da minha tia. Ela sempre me ligava para saber como andavam as coisas, e dessa vez parecia sentir que algo não estava bem. Contei tudo sobre a ultima discussão com minha mãe e ela não se mostrou nem um pouco surpresa.

T: Eu já imaginava que isso pudesse acontecer, Kim. Sua mãe não está bem da cabeça, você sabe.

K: E o que eu faço agora, tia? Não quero arrumar um emprego qualquer, não quero afundar minha vida do jeito que ela deseja.

T: Não tem ninguém aí que possa te ajudar, querido?

K: Eu já pensei nos meus amigos, tia... Mas não acho justo pedir para eles me bancarem. Também não quero viver dependendo de favores.

T: Kim... porque você não vem pra cá? Termina o colégio, arruma suas malas e vem. Tenho um quarto pra você aqui e nem adianta dizer que vai ser um peso, porque não vai. Eu te amo como um filho e quero que você tenha toda a oportunidade do mundo.

K: Não sei, tia... Eu preciso pensar sobre isso. Tem tanta coisa em jogo.

T: Você ainda tem um tempo pra pensar, Kim. Me avisa se resolver vir. Eu estarei esperando por você.

No dia seguinte eu não conseguia pensar em outra coisa, a não ser naquela conversa. Deixar minha cidade, minha casa, minha mãe... nada disso era problema. Mas me doía tanto pensar em deixar Higor. Agora que as coisas estavam tão bem entre nós e ainda tinham tanto pra melhorar. Apesar dele estar sentado na mesa logo ao lado da minha, e eu sabia que me olhava preocupado, não conseguia parar de relembrar todos os momentos que passáramos juntos. Como eu ia ficar sem seu sorriso, sem seus abraços acolhedores e seus beijos carinhosos? Eu não ia aguentar perder alguém tão importante pela segunda vez. Sim, porque eu ainda não tinha esquecido Rapha e já me conformara que nunca esqueceria. Eu sonhava com ele quase todas as noites, na maioria das vezes Higor também estava no sonho. Também tinha o fato de que Rapha morava na mesma cidade que minha tia e eu eventualmente o encontraria. Será que eu queria mesmo aquele reencontro? E se eu perdesse Higor e ao mesmo tempo descobrisse que Rapha nunca me amou de verdade e que vivia muito bem sua vida sem nem ao menos pensar em mim? Perder as duas pessoas que eu mais amava de uma vez era simplesmente doloroso demais para se pensar.

H: Kim... a aula acabou. Vamos embora?

K: Ahn? Como assim? E o recreio?

H: Eu te chamei, mas como você não me ouvia, fiquei aqui com você. Vem, vamos pra minha casa.

Eu estava tão perdido que deixei que Higor passasse um braço por meus ombros e me guiasse durante todo o caminho. Ele me levou direto para seu quarto, me sentou em sua cama, retirou minha camisa e meus sapatos e fez o mesmo em si. Então ele se sentou, me dando um beijinho na bochecha e acariciando meu braço.

H: O que aconteceu, gatinho? Você esteve tão distraído o dia todo... Me conta o que houve?

Soltei todo o ar de meus pulmões e reuni coragem para falar. Contei tudo. No final, ele estava com uma cara tão abobalhada e pensativa quanto a minha.

H: Fica aqui comigo, Kim. Mora aqui. A gente faz faculdade junto. Eu vou falar com minha mãe e...

K: Higor... eu não quero ser um problema para os seus pais. Imagina ganharem um filho grande? É muita responsabilidade aceitar um estranho dentro de casa, pagar por todas as suas contas...

H: Mas você não é um estranho. É meu namorado!

K: E você vai dizer isso pra eles? Acha que isso vai fazer com que eles me aceitem mais facilmente?

Ele se calou, pensando no que eu dissera, e logo entendeu que aquilo não seria possível. Esfregou o rosto com ambas as mãos, a cabeça abaixada.

H: Tem que ter um jeito...

K: Vamos esperar e ver no que dá? Quando estiver mais próximo do fim do ano voltamos a falar sobre isso...

Ele suspirou, resignado. Deitou na cama e me trouxe para seu peito, me abraçando com força. Ficamos daquela forma por muito tempo e tivemos sorte que sua mãe não entrou no quarto ao chegar do trabalho. Quando ele foi me levar em casa passamos por ela, que nos olhava desconfiada, mas foi muito gentil, como da outra vez. Quando nos despedimos, na frente do portão da minha casa, Higor tinha um olhar determinado, e me disse antes de ir.

H: Vamos dar um jeito nisso, Kim. Não se preocupe.

A possibilidade de eu ter que mudar de cidade ao mesmo tempo prejudicou e ajudou meu namoro com Higor. Prejudicou porque não foram poucas as vezes que ele veio até mim com ideias mirabolantes para que eu pudesse ficar, que acabavam em pequenas discussões. Mas ajudou bastante porque sempre que tínhamos uma dessas discussões, meia hora depois estávamos fazendo as pazes da melhor forma possível. E assim os meses foram passando até que chegamos em outubro, o mês que, hoje em dia, Higor e eu chamamos carinhosamente de “mês dos flagras”.

Logo no começo do mês, Higor veio com uma ideia que eu devia ter negado na hora.

H: Kim... eu queria conhecer a sua casa, seu quarto...

K: Você sabe que não dá, né Higor? Se minha mãe te pega lá... nem sei o que ela faz.

H: Vamos dar um jeitinho, vai Kim? Queria tanto conhecer seu quarto...

K: Ai, não faz essa carinha, Higor! Tá bom... domingo, na hora da missa você vai lá pra casa... mas não pode demorar, hein?

Então domingo, cerca de 10 minutos após minha mãe sair pra missa, lá estava ele, todo feliz, bisbilhotando cada cantinho do meu quarto. Ele era bem simples, tinha uma cama de solteiro, o criado mudo ao seu lado, um armário de madeira e uma estante, onde ficavam minha TV e meus livros.

K: Acho que você já viu tudo que tinha pra ver...

H: E o que é isso aqui?

Ele se abaixara para olhar sob minha cama e encontrara uma caixa de sapatos, onde eu guardava alguns recortes de jornal e fotos que eu gostava, e sobre ela havia um caderno, que ele pegou.

K: Não mexe nisso, Higor. Por favor!

Quando tentei retirar o caderno de suas mãos, ele o tirou de meu alcance e começou a correr pelo quarto para fugir de mim, chegando até a pular sobre a minha cama. Quando ambos já estávamos muito cansados daquilo, sentamos na cama e ele me estendeu o caderno.

H: Não quer mesmo que eu veja?

K: Na verdade não... Mas não quero que fique desconfiado nem nada. Isso é tipo um diário. Eu escrevi aí todos os momentos especiais que consegui lembrar pelos quais já passei... com o Rapha.

Ele me olhou sério por um tempo, então abriu o caderno com cuidado, lendo algumas partes, folheando as páginas. Fechou-o com a mesma expressão no rosto, sem me olhar.

H: Você escreve muito bem, Kim. Senti como se estivesse dentro dessas lembranças.

K: E é só isso que elas são, lembranças que eu não trocaria de jeito nenhum pelo que nós temos hoje, Higor. Não fica assim vai? Ei... eu te amo.

Consegui fazer com que ele sorrisse e me olhasse, e aproveitei esse momento para retirar o caderno de suas mãos, jogando-o em um canto qualquer e roubando um beijo de Higor. Aos pouquinhos fui me aproximando mais, beijando sua boca e seu pescoço, até que já estivesse sentado em seu colo, envolvido por seus braços. E, como quase sempre acontecia nesses momentos de maior privacidade, logo nós precisávamos de mais que apenas os beijos. Blusas e calças foram ao chão e nós nos acomodamos em minha pequena cama, cujo tamanho apenas ajudava naquela situação, pois separar nossos corpos não era uma opção viável. Em algum tempo, como muitas vezes acontecia, chegamos novamente a satisfação apenas com o movimento de nossos corpos, a sensação da pele se tocando, os abraços e os toques cada vez mais precisos. Estávamos abraçados, Higor com a cabeça em meu peito, quando ele me olhou e sorriu.

H: Promete que um dia vai escrever sobre a gente?

K: Nossa, Higor... Não sei, faz tanto tempo que não escrevo.

H: Não precisa ser agora. Um dia... Quando você tiver vontade. Promete?

K: Tudo bem... Eu prometo.

Toda mãe tem aquele tal de sexto sentido. Até a minha, que não fazia nada bem seu papel de mãe, o possuía. Acho que foi por isso que, poucos minutos depois, ela estava batendo na porta do meu quarto, mandando que eu abrisse naquele momento. Tomamos um susto, e eu teria rido de Higor caindo da cama se não fosse uma situação tão complicada. Ele me olhou do chão, incrivelmente calmo, e comentou.

H: Então é hoje que vou conhecer minha sogrinha.

K: Higor! Não brinca. Se veste antes que ela dê um jeito de entrar aqui?

Pedi ouvindo que ela se afastava da porta. Corremos atrás de nossas roupas, mas não conseguíamos achar a camisa de Higor em lugar nenhum. Desisti de procurar e fui até meu armário, no intuito de pegar uma das minhas para que ele vestisse, quando escuto a chave girar e minha mãe entra no quarto. Eu não fazia ideia de que ela tinha uma cópia da chave do meu quarto. Tentei me acalmar e agir o mais naturalmente possível.

K: Mãe... esse é o Higor.

H: Oi. É um prazer conhecê-la.

M: Você faz ideia do que está fazendo com a sua vida, garoto? Saia já daqui e vá até a igreja pedir perdão por se deixar envolver por um demônio como esses. Dê um jeito nisso antes que seja tarde demais.

H: Desculpe, senhora, mas eu não vejo nenhum demônio aqui. Apenas um garoto lindo, muito bem educado e...

M: Fora da minha casa... FORA DAQUI!

Puxei Higor pela mão e corremos até o portão, onde tirei minha camisa assim que paramos e entreguei para ele. Ouvimos um barulho enorme vindo do meu quarto.

H: É melhor você não entrar agora.

K: Não se preocupe comigo. Eu sei como lidar com isso... Vai pra casa antes que ela venha aqui.

H: Posso te ligar mais tarde?

K: Melhor não... Nos vemos na escola amanhã.

Ele foi, a contra gosto e eu voltei para o meu quarto, onde encontrei minha mãe parada, ofegante, ao lado de minha estante, que ela conseguira derrubar no chão, quebrando minha TV e amassando alguns dos meus livros. Deixei que ela gritasse comigo, amaldiçoando o dia em que nasci, como sempre fazia. Ao menos eu não tinha que me preocupar que ela fosse tentar me bater de novo depois da ameaça que eu fizera de revidar. Quando me cansei de tudo aquilo, virei as costas e fui até o banheiro, me enfiando embaixo da água quente e ficando lá por bastante tempo. Ela ainda gritou na porta do banheiro por um tempo, mas acabou desistindo.

Logo na semana seguinte, Higor e eu matamos aula para ficarmos juntos. Eu estava entre suas pernas, deitado em seu peito. Sentia a cabeça pesada, os olhos querendo fechar, o corpo amolecido. Estava quase me deixando levar pelo sono, quando Higor me abraçou, ajeitando-me numa posição mais confortável e acariciou meus cabelos, beijando minha testa.

H: Você anda tão cansado esses últimos tempos, gatinho...

K: Não tenho conseguido dormir direito, Higor.

H: Eu já percebi. Toda vez que você dorme tem um sono inquieto. Quer falar alguma coisa sobre isso?

K: Não... eu estou bem. Com um pouquinho de fome...

H: Hum... acho que não tem nada de bom aqui pra comermos. Vamos dar uma olhada?

Me espreguicei, cheio de sono, e levantei devagar, vestindo minha calça. Higor ficou me observando, com os braços atrás da cabeça e um sorriso no rosto. Quando me abaixei, para puxar a calça ele assobiou, rindo quando eu atirei sua calça em sua cara. Ele também se vestiu e fomos até a cozinha assim, pés descalços e peito nu. Realmente não tinha nada pra comer, nem pão. Achei algumas linguiças, uma latinha de milho, peguei cebola e tomate e comecei a picá-los, preparando um recheio para um bolo salgado. Era fácil e rápido de fazer. Depois de bater a massa, estava colocando tudo no tabuleiro, para levar ao forno, quando Higor me abraça por trás, cheirando meu pescoço. A combinação de seus beijos subindo por meu ombro e o carinho que suas mãos espalmadas faziam em minha barriga me causava arrepios. Inclinei a cabeça, apoiando-a no ombro de Higor e gemendo baixinho quando ele mordeu meu pescoço.

H: Vamos colocar logo esse bolo no forno e voltar pro quarto?

Adorei a ideia, e ainda com Higor abraçado a mim, dei meia volta e meu coração quase saiu pela boca quando vi a mãe dele parada na porta da cozinha, com uma expressão indecifrável. Com o susto, acabei deixando o tabuleiro cair no chão, espalhando toda a massa e chamando a atenção de Higor, ele parou de beijar meu pescoço e me soltou ao ver sua mãe.

H: Mãe?

MH: Higor. O que é que está acontecendo aqui?

Ele suspirou, nervoso, gaguejando um pouco na hora de se explicar.

MH: Vamos conversar na sala. Kim, vá para casa.

H: Não. Ele fica.

MH: Eu quero conversar com você, Higor. Kim pode vir outro dia se tiver algo para dizer. Agora pegue as suas coisas e vá, por favor.

K: Sim, senhora.

Olhei para Higor, tentando passar alguma confiança e saí da cozinha. Fui até seu quarto, colocando o resto de minha roupa, e quando voltei ele e sua mãe estavam sentados na sala. Dei uma última olhada em meu namorado, ele parecia tão perdido quanto eu me sentia. Queria poder dar um abraço nele, mas acabei apenas respirando fundo e saindo. Esperei que Higor me ligasse até que não aguentei mais e caí no sono. No dia seguinte ele não foi a aula, nem no outro. Eu começava a ficar realmente preocupado, então resolvi arriscar e ir até sua casa. Quem atendeu a porta foi sua mãe, que pareceu surpresa em me ver ali, não entendi bem o porque, já que eu era namorado dele. Ela pediu que eu esperasse e foi chamá-lo. Higor também pareceu surpreso em me ver, e eu já não estava entendendo mais nada. Ele saiu e encostou a porta, me puxando para um abraço rápido.

H: O que você tá fazendo aqui, Kim?

K: Como assim o que eu estou fazendo aqui? Higor, você falta a escola dois dias depois de sua mãe nos pegar juntos, e acha que eu vou esperar pacientemente você me dar notícias? Já vi que foi um erro vir até aqui.

H: Espera! Desculpa... eu não quero que você vá... é só que...

PH: Quem é, Higor?

H: É só que meu pai está em casa.

Ele sussurrou antes que um homem bastante alto abrisse a porta. Fiquei boquiaberto, eu estava de frente para o que Higor seria dali aproximadamente 35 anos. Um pouco mais alto, bastante conservado, os mesmos cachos negros e olhos azuis. Só percebi que o estava olhando abobalhado quando Higor chamou minha atenção.

H: Kim, esse é o meu pai. Pai, esse... é o meu namorado.

Acho que tremi visivelmente sob o olhar que seu pai me lançou, mas dessa vez não por estar impressionado pela semelhança, mas sim por medo. Ele me avaliou de cima à baixo, com uma expressão nada agradável.

PH: Vamos entrar... Kim.

H: Pai, você tem certeza?

PH: Eu disse pra entrar.

Ele não precisou repetir. Assim que virou as costas e entrou em casa, nós o seguimos. Higor segurou minha mão por alguns segundos, dando um aperto fraco. Para piorar a situação, não fomos rápidos o bastante para soltar nossas mãos antes que o pai dele se virasse e ele nos pegou daquele jeito. Nos sentamos e eu me senti dentro de um filme quando o pai de Higor começou a me interrogar como se eu fosse o novo namorado de sua filha adolescente. Perguntou quantos anos eu tinha, perguntou sobre minha família, sobre o que eu pretendia fazer ano que vem, quando o colégio tivesse acabado. Procurei ser o mais sincero possível e não me mostrar tão nervoso como estava por causa da cara nada satisfeita do pai dele. No fim, ele suspirou e abaixou a cabeça. Higor agarrou a minha mão, pousada no sofá entre nós e esperamos para ouvir o que ele tinha a dizer.

PH: Eu não vou dizer que concordo, Higor, muito menos que estou satisfeito, mas se não há nada que eu possa fazer pra mudar isso, eu aceito. Ele me parece um bom garoto. Mas que eu nunca mais fique sabendo que vocês estiveram matando aula aqui em minha casa. Vocês tem permissão para ficar aqui depois das aulas. Estamos entendidos?

Ambos respondemos que sim, então ele se levantou, parecendo ainda estar muito contrariado, e foi para seu quarto. A mãe de Higor parecia aliviada e, depois de perguntar se queríamos comer algo, seguiu seu marido. Eu e Higor fomos para o quarto dele, entramos calados e ele trancou a porta. Assim que estávamos seguros ali, nos abraçamos com força, rindo nervosos e de felicidade. Era tão bom estarmos ali sem ser escondidos, com a autorização dos donos da casa. Nos beijamos durante muito tempo e ficamos o resto da tarde deitados em sua cama. Ele me contou tudo que acontecera naqueles dois dias. Sua mãe disse que já estava desconfiada desde a primeira vez que nos encontramos, mas até que aceitou bem. O problema foi quando ela resolveu contar tudo ao seu pai. Higor disse que no começo ele ficou furioso, e foi por isso que ele não foi a aula da primeira vez, passou o dia todo no quarto, esperando sei pai se manifestar. O segundo dia de aula que perdeu foi porque ele o chamou pra conversar, fez aquelas perguntas básicas, se ele estava certo daquilo, se não tinha jeito de ele gostar de mulher. No fim ele acabou aceitando, mesmo que a contra gosto. E lá estávamos nós, finalmente juntos, mas sem precisar nos esconder, e aquilo era ótimo.

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~ oii, gentem. obrigado pelos comentários e continuem comentando. situações complicadas tanto para o Kim quanto para Higor, e também para ambos juntos hahah. até amanhãaa ~

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Comentários

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UFA. QUE SUSTO! PENSEI QUE FOSSE PIOR. MUITO BOA A REAÇÃO DOS PAIS DE HIGOR MESMO AINDA CARREGADA DE PRECONCEITO. MAS O PIOR É ESSA QUE SE DIZ MÃE DO KIM. E MESMO O SEU PAI. UMA BATALHA FOI VENCIDA. MAS A GUERRA AINDA NÃO. FALTA A MÃE DEMÔNIA E RESOLVER DE UMA VEZ POR TODAS A SITUAÇÃO COM RAPHAEL. DAI SIM ESSES DOIS PODEM SER FELIZES. TORÇO POR ELES. HIGOR ESTÁ SEND MESMO UM FOFO. REALMENTE DEVE ESTAR GOSTANDO DE KIM. MAS KIM AINDA TEM O RAPHAEL NA CABEÇA E NO CORAÇÃO. CREIO QUE QUEM VAI SOFRER OU SOBRAR NESSA HISTÓRIA É O POBRE DO HIGOR. O QUE NÃO É JUSTO. MAS VEREMOS...

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