— Guarda a arma, rapaz! — eu só quero conversar com meus amigos.
O Pedro constatou que era o Nordestino, devido a descrição que Jessie fizera dele anteriormente. Sabia que o cara estava blefando, era óbvio que veio com o propósito de eliminar os dois comparsas.
— Então baixa a sua primeiro e solta a moça que a gente conversa.
— Garoto, eu sou policial e já podia ter acertado você. Larga isso e vem pra cá!
Suavemente Jessie deslizou a mão por dentro de sua saia e alcançou um punhal preso em sua cinta liga. Enquanto o homem se ocupava em tentar convencer o Pedro a baixar a guarda, ela o surpreendeu golpeando o braço esticado que empunhava a pistola. A lâmina aguda penetrou o antebraço de baixo para cima atravessando a carne do homem. Com a mesma rapidez do movimento e, com requinte de crueldade, ela torceu o punhal arrancando um urro de dor do seu opressor. Involuntariamente ele deixou cair a arma ao sentir o dano causado em seu braço. De dominada Jessie passou a dominante e continuou atacando desferindo uma cotovelada nas partes baixas do Nordestino e conseguiu escapar dele antes que sofresse um revide. Pedro também foi ágil e correu em direção ao cara que agachou tentando recuperar o revólver, o rapaz o chutou violentamente no rosto.
— Não se mexe, cara! — falou Pedro com firmeza em tom de ameaça e apontando a pistola para a cabeça do Tenório que tombou no piso ficando em posição de inferioridade.
Jessie pegou a arma do chão, apontou para ele com frieza e disse:
— Poderia devolver o meu punhal, por favor?
O Nordestino conteve sua raiva, esperaria uma oportunidade para contra-atacar. Disse que precisava de um médico, pois ela cortou alguma artéria importante.
— Vamos conversar primeiro e resolver nossos negócios pendentes, a sua consulta fica pra depois.
Com um urro e expressão de muita dor ele tirou a lâmina do seu braço. Pediu um pano para estancar o sangue abundante. Jessie mandou ele continuar sentado e lhe jogou um pano de prato, porém antes limpou seu punhal com o tecido.
Após o Nordestino enrolar o pano no ferimento, ela mandou que ele sentasse encostado no outro pé da mesa e o prendeu passando voltas de fita em seu tronco, apesar dos queixumes do homem por conta do ferimento.
— Seja forte! — gracejou a moça.
O sujeito bruto espumava de ódio, mas sob a mira da arma do Pedro ele não tinha alternativa a não ser obedecer. Ela também imobilizou suas pernas.
Os dois homens dominados começaram com um joguinho de isentar-se da ideia de tirá-la da jogada. O Tenório disse que a ideia foi do Maciel, por ganância e receio de deixar uma testemunha que sabia muito sobre ele.
— Isso não é verdade — falou o Maciel se dirigindo à Jessie — a quanto tempo a gente aplica os golpes sem violência? — Você sabe que eu não sou um assassino, fui iludido e traído por esse cara.
A garota ouvia enquanto calculava quanto de dinheiro ela e o Pedro retiraram dos dois fundos falsos, algo em torno de oitenta mil reais em notas de dólar, euro e real. Colocou tudo em uma sacolinha plástica.
O Maciel continuou tentando sensibilizá-la, disse que jamais a mataria, reiterou que a deixou viva depois que bateu na árvore e pediu perdão por ter ajudado o Nordestino a dopá-la… Ele parou de falar e olhou assustado para Jessie caminhando em sua direção. Novamente ela empunhava aquela faca terrível.
— Pedir-me perdão pelo seu erro não me sensibiliza em nada e não reduz a sua sentença — disse a garota com uma ira demoníaca no olhar.
Com um movimento firme ela passou a lâmina afiada na garganta do concierge a cortando profundamente. Com os olhos esbugalhados pelo espanto e pavor, ele emitiu seu último som que se assemelhava a uma pessoa se engasgando.
O Pedro a olhou perplexo, não acreditava no que estava vendo. Ela por sua vez, deu de ombros e disse:
— Foi mal… Peguei meio pesado, né? Mas foi rápido e sem sofrimento. — Que ele descanse em paz!
O Pedro só balançou a cabeça negativamente e disse:
— Meu Deus do céu, você é muito doida.
O Nordestino, um homem bruto e frio que parecia zombar da morte, demonstrou medo pela primeira vez. Jessie se dirigiu a ele o testando.
— Agora o assunto é entre nós dois — vai querer com ou sem emoção?
Ele gritou quando viu a lâmina próxima ao seu pescoço.
— ESPERA, ESPERA!!! — Eu te dou o dinheiro que pegamos, um milhão de dólares.
— Me diz onde a grana está que pensarei em um acordo.
— Está em um local seguro em São Paulo, mas só eu poderei pegar.
— Então não temos um acordo — a garota falou em tom definitivo e ergueu o braço para esfaqueá-lo.
— ESPERA!!! Eu digo onde está e como você pode pegar — ela se deteve.
— Última chance, pois já cansei desse seu jogo. — Faremos assim: você fala como pegamos a grana que o meu amigo partirá no primeiro voo pra São Paulo. Nós dois ficaremos aqui. Quando ele ligar dizendo que está com os dólares, eu solto você. — São os meus termos, se temos um acordo comece a falar rápido.
Ela encostou a lâmina no pescoço do homem, ele rapidamente disse que tinham um acordo. Revelou que o dinheiro estava em dois guarda-volumes no aeroporto de Guarulhos.
Depois de estarem munidos e informados de tudo que precisavam para retirar o dinheiro, Jessie e Pedro pegaram as chaves do Tenório. A contragosto ele disse onde estava seu carro. O casal fez uma reunião rápida fora da casa e o Pedro foi buscar o Corolla do homem. Na volta ele o estacionou no terreiro, próximo à entrada da sala. Minutos depois eles voltaram para a cozinha, ele com um balde plástico nas mãos, ela ainda empunhando a faca de caça. O ex-policial sentiu o cheiro de gasolina proveniente do balde.
— O que vocês vão fazer? — perguntou o homem temendo pelo pior.
— Um churrasco — respondeu Jessie com sua frieza incomum.
O rapaz começou a espalhar a gasolina pela casa, Tenório quase em desespero disse que a garota estava louca, eles tinham um acordo, ela e o rapaz seriam donos de uma pequena fortuna e ainda poderiam ganhar mais.
— Dentro do forro de uma das maletas tem um Pen drive que é nitroglicerina pura, contém gravações, fotos e vídeos que incriminam meu patrão por lavagem de dinheiro, suborno, pagamento de propinas, entre outros. Também contém som e imagens de políticos graúdos em atos de corrupção, recebendo propinas, formação de quadrilha e todas essas merdas que vemos hoje em dia. Vocês ganharão duas vezes mais vendendo o conteúdo para uma rede de TV, por exemplo.
— Eu acho que se fizermos isso, mesmo anonimamente, seríamos mortos antes do escândalo ser noticiado, ou você já teria feito, né? — Chega de papo, chegou sua hora.
Tenório gritou que ela dissera que não o mataria.
— Você não entendeu, o acordo era que eu te soltaria.
Ela cortou lentamente o pescoço dele que ainda conseguiu pronunciar: "PUTA VAGABUNDA" em tom de ódio antes de tombar a cabeça sem vida.
Jessie cortou e tirou a fita que prendiam seu corpo ao pé da mesa e a dos tornozelos.
— Pronto, querido, está solto.
Ela fez o mesmo com o concierge e sem demora começou a tirar suas roupas manchadas de sangue, não queria levar o DNA de suas vítimas consigo. Tirou primeiro a saia e a jaqueta. O Pedro retornou para a cozinha, ia perguntar se ela já havia acabado com a sua chacina particular. A cena macabra do pescoço cortado do Nordestino e dos dois cadáveres banhados em sangue, não foi o que mais chamou a atenção do rapaz, ele parou para admirar sua parceira. Apesar de tê-la visto nua N vezes e da transa que tiveram por quase uma noite toda, a visão dela naqueles trajes íntimos e sensuais era algo novo e fenomenal. A jovem atraente estava divinamente vestida apenas com o corpete, calcinha, meias ⅞, cinta liga e sapatos; todos pretos. Ela deu um sorriso malicioso ao vê-lo quase babando, se despiu do corpete e começou a retirar a meia a enrolando em direção aos pés. Os seios nus suspensos em seu corpo curvado era um convite ao prazer.
— Não é hora disso, a gente pode fazer depois — ele disse fazendo graça.
— Seu bobo, a gente até teria tempo para uma rapidinha, mas eu só estou me livrando das evidências que poderiam foder com a gente.
Só de calcinha e sapatos ela caminhou até a janela sobre a pia e puxou uma cortina, enrolou o tecido colorido em seu corpo na altura dos seios como se fosse uma saída de praia.
A dupla terminou de encharcar tudo com gasolina, inclusive os corpos e roupas. Incendiaram a casa, também o carro do Tenório e se evadiram do local.
Vários quilômetros adiante eles pararam na rodovia quando estavam sobre um rio. Jogaram na água os calçados usados na ação e as duas armas do Tenório e Maciel. Tiraram a fita isolante que alterava a placa do Santana e depois partiram rumo a São Paulo.
Uma hora antes, na reunião que o casal tivera na casa para decidir sobre o que fariam com o Nordestino, a Jessie havia convencido o Pedro de que eles nunca estariam seguros enquanto os dois inimigos estivessem vivos. Ele concordou, pois com o pouco contato que teve com ambos, percebeu o quanto eles eram bandidos, perigosos e dissimulados.
Naquela mesma noite um carro chegou ao Balneário Camboriú trazendo quatro capangas do empresário. Os caras já haviam obtido inúmeras informações sobre o concierge ao seguirem sua pista desde Campinas até Itajaí. Adentraram a casa noturna à procura da Stripper; questionaram alguns funcionários e chegaram até a dona do Pálio. Ela disse que há pouco mais de uma hora a colega havia saído da casa de show na companhia de um estranho que se apresentou como policial. O chefe daquele grupo de busca pediu que ela descrevesse o indivíduo. Na sequência um dos seguranças da casa também confirmou os detalhes da fisionomia e seu ponto de vista: “jeitão nordestino, cabra macho”. Concluiu dizendo que o homem entrou com a Paola em um Corolla cinza e foram em direção ao sul.
Um dos profissionais havia feito a lição de casa, disse que ao sul ficava Itapema, era onde o concierge havia morado com a mãe, dona Inês. Olhou a localização nas suas anotações e saíram no gás.
Continua…