~ continuando ~
De uma coisa eu não tinha como duvidar: Rapha não poderia estar mais sério sobre nós. Lembro do dia que ele me chamou para ir a um bar com os amigos dele, todos já conhecidos meus. Era muito comum eles se reunirem nos fins de semana, então eu estava achando tudo normal. Isso até nós entrarmos no bar, onde todos já se encontravam e nos olhavam, ou melhor, olhavam para Rapha, com olhares divertidos, enquanto se cutucavam entre eles e riam. André era o único sério ali, o que não era comum, e aquilo disparou um alarme na minha cabeça, tinha alguma coisa errada. Foi quando nos aproximamos que eu consegui ouvir o que eles tanto diziam pro Rapha.
“E ai, Rapha? Cadê a escolhida?”, “Onde tá a felizarda?”, foram algumas das frases que eu ouvi. Minha vontade naquele segundo foi de virar as costas e sair dali o mais rápido possível, e era o que eu teria feito, se Rapha não tivesse segurado meu pulso naquele momento e me feito ir com ele até a mesa. Ele chegou sorrindo para os amigos, como se nada estivesse acontecendo.
R: Pessoal, esse aqui é o Kim.
Todos voltaram a rir (menos André).
X: Qual é, Rapha? A gente já conhece o seu primo! Estamos aqui pra conhecer a sua namorada!
R: Vocês não entenderam. Esse é o Kim, meu namorado.
O silêncio que se instalou na mesa foi constrangedor. Tudo o que eu queria era que um buraco se abrisse sobre mim e que a terra me engolisse. Tudo bem que aquelas pessoas diante de nós fossem amigos a quem Rapha considerava demais, mas precisava jogar a bomba assim de uma vez? Rapha aproveitou o silêncio para puxar uma cadeira pra mim e me ajudar a sentar e depois se sentar ao meu lado. E então dois amigos dele se levantaram, um deles acompanhado pela namorada, e saíram da mesa. Dava pra ver que um deles não fazia a menor idéia do que fazer e por isso saiu, mas o outro, o da namorada, olhou para nós, mais precisamente para mim, com ódio e eu pude ouvir seus pensamentos me condenando por ter feito do amigo dele gay.
Eu pude ler a decepção claramente no rosto de Rapha, ele estava abalado, e muito, mas mesmo assim ficou ali, quieto, segurando a minha mão com força por baixo da mesa. Minha vontade já era de chorar, mas naquela hora não dava pra correr pra debaixo do edredom e esperar a tempestade passar, então me mantive ali com toda a força de vontade que consegui reunir. Mais algum tempo de silêncio constrangedor depois e as perguntas começaram a surgir, como ele tinha descoberto, há quanto tempo estávamos juntos, alguns dos garotos até perguntavam como era ficar com outro cara. Rapha ria e respondia a tudo com muita calma. Me aproximei de André e perguntei em voz baixa.
K: Você sabia disso?
A: Claro.
K: E por que não impediu ele?
A: Ele queria isso, Kim. E deu tudo certo... quer dizer, foi melhor do que eu esperava...
Passei o resto do tempo meio quieto e encolhido, sem graça com toda aquela situação, mas feliz por Rapha, que parecia aliviado por ter amigos que o aceitavam e entendiam que ele ainda era o mesmo de sempre.
Algum tempo depois um dos amigos de Rapha veio nos procurar e pedir desculpas por ter saído daquela forma. Não preciso nem dizer que Rapha ficou muito feliz, foi emocionante.
A meta seguinte de Rapha foram os pais dele. E ai já foi muito mais complicado. Minha tia já sabia há muito tempo. Muito antes de eu ir morar com ele, antes até de ele mudar de cidade. Claro que ela ficou abalada, mas aceitou. O pai de Rapha ficou muito decepcionado, e eles tiveram de conversar muito e mesmo assim demorou muito tempo até ele se conformar com o fato. Na verdade, até hoje ele procura ter o mínimo de intimidade comigo. Ele até já me disse uma vez que não se sentia a vontade sabendo que eu era o homem com quem o filho dele se deitava. Quanto a isso não há nada o que se possa fazer. Eu só posso aceitar e respeitar. E é o que venho fazendo.
Uma lembrança especial do começo de namoro com Rapha que eu tenho é de um dia bem comum. Eu tinha estudado durante a manhã, voltado para casa, feito o almoço e passado o resto do dia vendo TV e esperando ansiosamente que meu namorado voltasse pra casa. Por isso, quando ouvi as chaves girando na porta, não deu um segundo e eu já estava lá, pulando sobre Rapha no momento em que ele apareceu. Eu o abracei e fiquei assim por um tempo, enquanto ele se recuperava do susto e depois começava a rir, para então corresponder meu abraço e me fazer levantar o rosto para me dar um beijo.
R: Que recepção boa! Vou querer todo dia!
K: Você demorou pra chegar...
R: Fui comprar nosso jantar.
Ele respondeu levantando uma sacola que eu mal olhei, pois ainda estava abraçado a ele. Coloquei o rosto na curva de seu pescoço, sentindo seu cheiro, eu não estava com a menor vontade de falar, só de ficar agarrado a ele o máximo que eu pudesse.
K: Não quero comida.
R: Mas eu trouxe lasanha.
Aquilo fez com que eu me mexesse um pouco para poder olhar o pacote com mais atenção. Realmente, o cheiro estava ótimo.
R: Por mais que eu adore ter você assim pertinho, se você não me soltar eu não vou poder fechar a porta e nem colocar a lasanha no forno, meu amor.
K: Tá bom...
Soltei-o sem a menor vontade e deixei que ele me pegasse pela mão e me levasse para a cozinha depois de deixar suas coisas sobre a mesa da sala.
K: O que tem na outra sacola, Rapha?
R: Vinho.
Fiz uma careta de desagrado.
K: Você sabe que eu não gosto de vinho...
R: Você não gosta de vinho seco. Eu trouxe um vinho suave, é docinho, você vai gostar dele com a lasanha.
Ele se aproximou e me deu um beijinho, enquanto desabotoava os botões de sua camisa branca. Aproveitei para correr as mãos por seu peito, mas ele riu e se afastou.
R: Coloca a mesa pra mim, amor? Vou tomar um banho rápido. Quando eu voltar, abro a garrafa de vinho.
Um pouco emburrado por ele estar se esquivando de todas as minhas investidas, fui arrumar a mesa. Tudo o que eu queria naquele momento era ficar com ele, e ele ficava pensando no jantar? Coloquei a toalha, pratos, talheres e guardanapos, e depois me sentei, apoiando a cabeça nas mãos, inconformado. Eu estava tão preso nos meus pensamentos de como meus planos para aquela noite estavam indo por água abaixo que nem notei quando ele voltou e se aproximou de mim por trás, dando um beijo em meu pescoço.
R: Que carinha é essa, Kim?
Ele parecia genuinamente não saber o que estava se passando, e eu acabei me sentindo mal por estar agindo daquela forma quando vi sua expressão levemente preocupada.
K: É só fome...
R: Então vamos resolver logo esse problema.
Ele foi até a cozinha, retirou a lasanha do forno e trouxe para a mesa. Realmente estava com uma cara ótima, ver o queijo borbulhando abriu um pouco meu apetite. Depois ele trouxe a garrafa de vinho e duas taças, nos servindo para então se sentar.
R: Prova o vinho.
Um pouco desconfiado, coloquei um pouquinho do líquido na boca. Realmente era doce, se não fosse pelo leve toque do álcool no final, poderia-se até dizer que era um suco de uva. Eu sabia que Rapha gostava bastante de vinho e que ele apenas estava tomando aquele para que eu o acompanhasse. Me passou o pensamento de que eu não podia querer nada mais do que ele na vida e eu acabei sorrindo. Rapha, que já estava servindo a lasanha, sorriu de volta.
R: No que você está pensando?
K: Que eu te amo.
Ele se inclinou pra me beijar, mas a posição em que estávamos na mesa dificultava o contato.
K: Vamos comer no sofá, Rapha?
R: Tudo bem. Pega as taças, que eu levo os pratos.
Coloquei as taças sobre a mesinha de centro e me sentei o mais próximo dele possível, roubando beijos durante todo o jantar. Rapha ria e achava engraçado a forma como eu dava uma garfada e beijava seu ombro, pescoço ou boca.
R: Você vai me deixar todo sujo de lasanha.
K: Assim é bom. Fica mais gostoso.
Retirei o prato de sua mão e coloquei sobre a mesinha, junto com o meu, e passei uma perna sobre ele, me sentando em seu colo, de frente para ele.
K: Chega de lasanha. Que tal comer outra coisa?
Primeiro, os olhos de Rapha se arregalaram, depois ele jogou a cabeça pra trás, apoiando-a no encosto do sofá e rindo com vontade, enquanto apertava minha cintura com as duas mãos.
R: Acho que alguém bebeu vinho demais.
K: Foram só duas tacinhas...
Dei de ombros e beijei sua boca para que ele não começasse a falar de novo. A medida que o tempo passava, parecia que fazer amor com Rapha ficava cada vez melhor. Nós nos conhecíamos cada vez mais, descobríamos o corpo um do outro e parecia que nos moldávamos um ao outro cada vez melhor. E todo aquele amor que eu sentia por ele se misturava cada vez mais a uma paixão indescritível, daquelas que tiram o nosso raciocínio lógico.
Algum tempo depois, deitados no sofá, eu ria de leve, sozinho, por estarmos na mesma posição que ficamos tantas vezes quando éramos menores ao assistir TV. Deitado sobre Rapha, entre suas pernas abertas e flexionadas, eu finalmente tinha conseguido suprimir parte daquela ansiedade que estava sentindo antes de Rapha chegar. Ele acariciou meus cabelos e fez menção de levantar, mas eu me abracei a seu tronco e não deixei que se mexesse.
R: Amor... deixa eu levantar?
Fiz que não com a cabeça.
R: Vou só buscar uma coisa que eu trouxe pra você...
Muito a contra gosto, rolei o corpo e caí deitado no cantinho do sofá, permitindo que ele saísse. Me arrumei de barriga para baixo e me apoiei nos braços para poder observar enquanto ele ia até sua mochila e tirava alguma coisa enrolada num saco plástico de lá. Ele voltou para o sofá e se abaixou perto de mim, parecendo um pouco sem jeito.
R: Eu sei que nós comemoramos nossos aniversários no dia em que demos o primeiro beijo... mas hoje faz exatamente 2 meses que eu te pedi em namoro. Eu sei que não foi o melhor momento pra te pedir isso, mas foi importante pra mim...
Então ele retirou uma caixa de bombons em forma de coração do saco e me entregou. Eu não fazia ideia do que fazer ou do que falar. Peguei a caixa, olhando-a com adoração, como se fosse o tesouro mais raro do mundo, e depois abracei Rapha, apertando-o contra mim com toda força que pude.
K: Te amo. Muito, muito, muito.
Rapha e eu já estávamos juntos há mais de seis meses e eu não podia estar mais feliz quanto a isso. Dormir e acordar com ele era simplesmente reconfortante. Não importava como tinham sido nossos dias ou o quão estressados nós estivéssemos, quando nos deitávamos e eu ajeitava a minha cabeça em sua barriga, sentindo seus dedos entrando por meus cabelos num carinho gostoso, tudo aquilo ficava pra depois. A gente raramente levava problema pra cama, aquele era um momento só nosso, pra gente se aproveitar, e não pra ficar discutindo problemas. Era só nessas horas que eu conseguia deixar minhas preocupações em relação a Higor ficarem em segundo plano. E, apesar de algumas vezes Rapha me perguntar porque eu estava desanimado daquela forma, aquela não era a situação ideal para eu citar o nome do meu ex-namorado.
Teve um dia que eu estava deitado no sofá depois do almoço, barriga pra baixo, cabeça encostada nos braços cruzados, como eu sempre fico quando quero pensar melhor sobre alguma coisa. Nós já tínhamos almoçado e Rapha estava terminando de guardar a louça. Eu sentia tanto a falta de Higor que chegava a doer. Ele era, afinal de contas, o melhor amigo que eu já tivera e eu sentia falta das conversas e da intimidade que nós compartilháramos. Não que eu não pudesse conversar sobre qualquer coisa com Rapha, eu podia e eu o fazia, mas a presença de Higor na minha vida era insubstituível. Não era porque eu Rapha tínhamos começado um relacionamento que meus sentimentos por Higor tinham sumido, eles ainda estavam lá, tão fortes quanto e ficariam lá pra sempre.
R: Um beijo pelos seus pensamentos.
Rapha brincou, beijando meu ombro e me fazendo sorrir.
K: Hum... eu estou pensando em tantas coisas...
R: Nós temos a noite toda. Pode me falar sobre quantas coisas você quiser.
Ele me fez sentar de frente para ele e olhá-lo, o que foi difícil, pois eu estava com vergonha de dizer pra ele que estava pensando em outro homem.
R: O que é que tem te deixado com essa cara, hein? Você anda meio desanimado. Me fala. Quem sabe eu não posso ajudar?
K: Eu não quero que você entenda errado, Rapha...
R: Bom, isso nós só vamos saber quando você me contar o que está te preocupando.
Respirei fundo, sabendo que ele não ia desistir. Eu já tinha notado que ele vinha me observando muito enquanto eu estava envolvido pelos meus pensamentos e que estava preocupado. E eu sabia que agora que ele finalmente decidira conversar comigo sobre o assunto, não tinha como ele deixar de lado.
K: Eu... sinto falta do Higor...
Rapha piscou e me olhou por um tempo, processando a informação. Sua expressão se fechando um pouco.
R: Você tá assim por causa dele?
K: Tá vendo, você já está tirando conclusões erradas.
R: Não estou tirando conclusão nenhuma.
K: Tá sim.
R: Então porque você não me explica direito?
K: Rapha... você sabe que Higor não foi só meu namorado... sabe que ele era um amigo muito especial pra mim, e eu sinto falta da companhia dele. Eu sinto falta das conversas e das brincadeiras bobas que garotos da nossa idade fazem. Desculpa se isso te deixa chateado...
Rapha me abraçou e me deu um beijo.
R: Eu entendi. Não vou mentir e dizer que eu não fico com ciúmes... Eu sempre senti ciúmes da forma como vocês dois se davam bem, mas eu entendo que você sinta falta daquilo...
K: Eu não quero que você pense que o que eu tinha com ele era melhor do que a gente tem. Eu não trocaria isso aqui por nada, ouviu?
Ele sorriu pra mim, parecendo um pouco mais aliviado.
R: Obrigado, meu amor. Mas... já que você está com tanta saudade, porque não liga pra ele?
K: Não... ele não vai gostar.
R: Bobagem. Quem é que não gosta de ouvir a sua voz?
Ele brincou enquanto beijava meu pescoço e eu acabei rindo.
K: Nem todo mundo é apaixonado por mim, sabia?
R: Sorte a minha.
K: Não sei o que eu fiz pra merecer você... sério mesmo.
R: Você nasceu. E me olhou com esses olhos lindos quando estava no meu colo e não chorou.
Ele falou, todo bobo, como todas as vezes que contava pra alguém que ele era o único além dos meus pais que podia me pegar no colo. Eu sempre achei bobagem, mas o orgulho que ele tinha disso era tão lindo que eu não me atrevia a dizer nada.
R: Acho que eu me apaixonei por você da primeira vez que te vi. Você estava destinado a vir pra mim...
K: Você realmente acredita nessas coisas de destino, Rapha?
R: Claro. De que outro jeito você explicaria o fato da gente estar aqui, juntos, depois de tanta coisa?
Pensei um pouco, não achando nenhuma resposta que não fosse parecer insensível. Acabei dando de ombros e sorrindo pra ele. Se era ao destino que ele queria atribuir o nosso amor, eu aceitava. O importante era que a gente estava junto, e não como tínhamos chegado ali.
H: Alô.
K: Higor...
Me senti um pouco sem fôlego por ouvir a voz dele depois de tanto tempo e também pelo medo de que ele não quisesse falar comigo. Higor ficou em silêncio durante um tempo, até que respondeu.
H: Oi, Kim.
K: Oi... Nossa, como é bom ouvir a sua voz. Eu estava... estou... com saudades.
Mais uma vez ele ficou quieto por um tempo e depois deu uma risada baixa.
H: Eu também estou com saudades, Kim. Nunca imaginei que seria tão difícil ficar longe de você.
K: Eu sempre soube que seria uma tortura.
H: É, mas eu precisava desse tempo pro pensar em algumas coisas e decidir o que eu queria da minha vida.
K: E você decidiu?
H: Bom, por enquanto o que eu sei é que estou gostando muito da faculdade e quero me dedicar a ela.
K: Que bom. Mas... e eu? Você pensou sobre mim? Sobre a gente?
H: Muito. Você se lembra que uma vez eu te disse que eu queria que você fosse feliz, não importava com quem?
K: Aham.
H: Eu ainda penso assim, Kim. É verdade que eu fiquei chateado quando você me contou... quem é que gosta de perder a pessoa que ama pra outro? Mas eu andei conversando com os gêmeos e a Gabi me contou que vocês se falam de vez em quando e que você parece tão feliz. Ela também me disse que você sempre pergunta por mim...
K: É... ela sempre diz que você tá bem. Tá mesmo?
H: Tô sim.
Ficamos calados, sem saber o que mais dizer. Eu não queria impor nada a ele, mas também não queria deixar a oportunidade passar de acertarmos as coisas. Mas quando abri a boca para começar, ele se adiantou.
H: Olha, Kim, eu preciso dar uma saída... Me liga amanhã. Pode ser?
Respondi sorrindo feito bobo.
K: Claro! Eu ligo, sim!
H: Então até amanhã.
K: Até. E Higor? Obrigado por me dar uma chance.
H: Eu não estou te dando chance nenhuma, Kim. É só que... eu não conseguiria passar muito mais tempo longe de você. Eu quero estar por perto pra quando você precisar.
K: Obrigado. Eu te amo, Higor.
H: Eu também te amo. Beijo.
K: Beijo!
Desliguei o telefone sem saber se ria ou chorava. Finalmente, depois de meses, eu me sentia totalmente despreocupado e feliz. Rapha ainda estava no trabalho, então eu ligue para Gabi e contei sobre minha conversa com Higor, passamos muito tempo conversando, até que eu tive que desligar para prepara o jantar.
G: Eu estou feliz por você, meu amigo. De verdade.
K: Você não acha mesmo que é egoísmo da minha parte querer ele por perto, Gabi?
G: Olha, Kim, essa história de vocês é complicada. Se eu não fosse amiga do Higor e não soubesse o quanto ele sente a sua falta, eu até poderia pensar que sim. Mas eu estou te dizendo, ele fica doido de não saber notícias suas, se você tá bem, se tá feliz. Eu sei que vai ser melhor pra vocês dois se mantiverem contato um com o outro.
K: Ai, Gabi, só você mesmo pra dizer tudo o que eu quero ouvir.
G: Achei que esse fosse o Rapha.
Ela riu.
K: O Rapha fala tudo o que eu quero ouvir e mais um pouco.
G: Safado!
K: Eu não estava falando desse tipo de coisa, Gabi! Você tem a mente muito suja.
G: Sempre, querido.
K: Deixa eu ir lá. Vou preparar alguma coisa para o jantar.
G: Kim: a esposa perfeita! hahaha
K: Você só fala besteira, garota?
G: Na maioria das vezes... Agora vai logo que eu não quero escutar Rapha reclamando comigo que eu te prendo no telefone e você não tem tempo pra mimar ele.
K: Ele nunca diria uma coisa dessas. Só ia ficar me olhando emburrando, esperando eu desligar. Beijos, Gabi. Manda um abraço pro Dani!
G: Pode deixar. Beijos, Kim.
Quando Rapha chegou em casa aquela noite, eu não podia estar mais feliz. Nós jantamos e eu contei a ele tudo o que tinha acontecido. Meu namorado meu deu um sorriso verdadeiro e disse que estava feliz por mim. Depois ele me chamou para pegar a ultima sessão do cinema e eu passei as duas horas do filme abraçado com ele, sem realmente prestar atenção no que acontecia na tela, enquanto eu pensava no quanto eu tinha sorte de tê-lo comigo.
Depois daquele dia, eu passei a ligar para Higor quase toda semana e, aos poucos, ele começou a me ligar também. As conversar foram deixando de ser preenchidas por silêncios constrangedores e nós começamos a falar sobre como tinham sido os nossos dias e coisas sem importância. O que importava não era o assunto, mas o tempo que tínhamos juntos.
Uma vez, o telefone tocou enquanto eu estava no banheiro, e quando saí, Rapha tinha atendido. Ouvi ele cumprimentar Higor e perguntar como ele estava. Eles trocaram algumas palavras até que Rapha me viu e avisou a Higor que eu tinha chegado, passando o telefone para mim. Passei os braços ao redor de seu pescoço e o beijei, esperando que ele conseguisse sentir tudo o que eu estava sentido. Sussurrei que o amava e depois fui atender o telefone. Higor também estava bastante surpreso por Rapha ter sido tão simpático com ele, mas depois ele acabou chegando à conclusão de que, assim como ele, Rapha só queria o melhor para mim.
Mais para o fim do ano, durante um feriado prolongado, eu decidi fazer uma pequena festa, sem motivo especial em casa. Higor foi, acompanhado de Gabriela e Daniel, e nós passamos muito tempo abraçados na porta, sem dizer nada, apenas matando as saudades um do outro. André e mais um casal de amigos de Rapha vieram também e nós comemos fondue, bebemos vinho e conversamos durante toda a noite.
Os gêmeos resolveram dormir na casa de parentes e somente Higor acabou ficando. Eu preparei meu antigo quarto para ele e, antes de ir dormir, passei lá para desejar boa noite e o encontrei de pé, olhando para minha cortiça, que estava cheia de fotos nossas. Me aproximei devagar e o abracei por trás, apoiando o queixo no ombro dele.
K: No que você tá pensando?
H: No dia que tiramos essa foto aqui.
Ele apontou uma das primeiras fotos que tiramos com os gêmeos, no shopping,
H: Nessa época eu nem imaginava que tanta coisa ia acontecer entre a gente, mas eu já tinha essa vontade de ficar sempre contigo, mesmo que fosse como amigo. Acho que eu não posso me queixar, meu desejo se realizou. Eu fiquei com medo de acabarmos não nos falando mais. Não sei se eu teria tido coragem de te procurar se você não tivesse me ligado.
K: Foi o Rapha que me incentivou a te ligar.
H: Sério?
Ele virou de frente, me olhando curioso e eu tive que rir. Até pra mim aquilo soava estranho.
K: É. Ele notou que eu andava um pouco pra baixo, e quando eu contei que era porque estava com saudades, ele me disse pra ligar.
H: Acho que eu tenho que agradecer a ele, então.
Sorri pra ele e voltei a abraçá-lo com força. Quando nos separamos, Rapha estava parado na porta, encostado no batente. Ele sorriu de leve para mim.
R: Já tá tarde. Vamos deitar?
K: Vamos.
Dei uma ultima olhada para Higor e levantei o rosto para beijar sua bochecha.
K: Boa noite.
H: Boa noite, Kim, Rapha.
R: Boa noite, Higor.
Fui com Rapha para o quarto e nós nos preparamos para dormir em silêncio. Esperei ele deitar primeiro e depois subi na cama e me aproximei devagar, até estar deitado ao seu lado, com a cabeça em seu ombro e um braço sobre seu peito.
K: Tá tudo bem, Rapha?
R: Você tá feliz?
K: Muito.
R: Então está tudo bem.
O que eu posso dizer? Eu tive sorte de encontrar duas pessoas que eu amei e amo verdadeiramente na minha vida. Mais sorte ainda eu tive por conseguir conciliar esses sentimentos e manter os dois perto de mim. A medida que o tempo passou, a intimidade voltou à minha relação com Higor e hoje em dia eu o considero meu melhor amigo. Vira e mexe ele está de namorado novo, eu já conheci alguns, apesar de não ter gostado muito de nenhum. Não posso negar que ainda sinto ciúmes, mas eu tento não me envolver muito na vida amorosa dele, afinal eu quero muito que ele seja feliz também, que ache alguém que o mereça.
Hoje em dia eu até me refiro a Rapha como meu marido. Por que não? Nós moramos juntos, estamos num relacionamento há mais de dois anos, temos uma rotina e até um filhotinho (a Naná). Essa rotina nem sempre é boa, como acontece em qualquer relacionamento, mas a gente se ama demais pra deixar que coisas bobas abalem a nossa relação. Ele é meu pilar, a pessoa que eu quero que seja a primeira que eu vou ver quando acordar e a ultima quando dormir todos os dias da minha vida.
E foi assim que, obra do destino ou não, o nosso amor se concretizou e nós o estamos vivendo da melhor maneira possível todos os dias de nossas vidas, enquanto nós existirmos.
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~ eai, povo. tudo em ordem? bom, é isto! não anunciei que o fim estava próximo pra dar uma impactada em vocês, ou até alguns imaginavam que estava para acabar. o verdadeiro amor sempre volta, não importa quantas serão as voltas que o destino faça todos vocês derem, ele sempre volta. o conto sempre foi sobre o Kim e o Rapha, Higor foi uma peça importante no conto, mas não fazia parte do ato final, este que acabaram de ler.
quero agradecer muito, muito mesmo, a todos que comentaram: Leitor fiel, V.M.S03, Geomateus, VALTERSÓ, MarCR7, celli86, Nickcu gostoso, Vitinho165, Martines, Lobo azul, Vitinho165, Pichelim :(, arrow, Daniell87, Dartanhâ, LeonS, Guto.R e Abduzeedo (acredito que eu não esqueci de ninguém, qualquer coisa me avisem); Saibam que este conto foi postado graças a vocês que comentaram, me incentivando e pedindo por mais. Eu gostaria que houvessem mais comentários, o site disponibiliza um contador de leituras e os números são bem altos, se estiverem corretos, é claro kkkk. enfim, obrigado de verdade a quem comentou, alguns só comentaram uma vez, outros foram mais assíduos e comentaram em todas as postagens e também temos os leitores fantasmas, obrigado por lerem!!!
estarei começando um novo conto amanhã, chamado "O Sequestro" um pouco mais movimentado, em questão de ação, cheeio de surpresas, glamour e luxuria, mas, deliciosamente excitante. assim que tiver o link dele, vou editar esta postagem e coloco o link aqui abaixo. fiquem atentos! quero muuuitos comentários por lá, hein?! vamos movimentar esse site, gente.
até mais <3 ~
O Sequestro: encurtador.com.br/adKP7 - tive que usar um encurtador de links porque o site não deixa eu divulgar outros contos... qualquer coisa cliquem no meu nome que irá aparecer o conto lá também. espero ver vocês por lá, hein?! :D
