~ continuando ~
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O carro para e ele manda o tal sujeito do volante ver se está tudo bem.
- Chegamos, aqui vai ser melhor para você, tem até banheiro no seu quarto, vamos sair com calma e continue quieto, está certo?!
- Onde estamos?
- Chiiiiiiiiu quietinho, você está amordaçado, lembra?
- Tudo bem.
- Pode trazer o principezinho - Ouço, e ele educadamente me ajuda a sair do carro, me ajuda a andar, me orienta sobre uns degraus e logo ouço uma porta fechando. Fico ali em pé sem saber se já posso falar.
Em poucos minutos, ouço a porta abrindo, meu capuz é tirado e vejo um quarto pequeno e simples, com uma cama e posso ver um banheiro. Mas posso, principalmente, vê-lo e aos seus olhos que me olham como se esperasse minha aprovação.
- Obrigado, bem melhor mesmo.
- É, eu também achei, agora você vai falar com seu pai, está bem?!
Balanço a cabeça nervoso, e ele solta minhas mãos e me entrega um celular.
- Pode ligar - Ele diz e ligo o número da minha casa
- Quem é? Quero falar com meu filho. - Escuto a voz dele
- Pai, sou eu.
- Filho. - E ouço sua voz nervosa. - Filho, desculpa, não te protegi direito, filho, me desculpa, ele machucaram você? Meu filho, como você está?
- Pai, estou bem, de verdade, por favor não foi sua culpa, não fique assim, pai.
Ele tira o celular, educadamente de minha mão e o coloca alguma coisa na frente do celular que não vi direito mas entendi que era para disfarçar a voz e fala com o pai.
- Muito bem, já falou com ele, vou ligar amanhã lhe dando as coordenadas para entrega do dinheiro e nenhuma graça, doutor, ou seu filho morre, isso está claro?! - E ele pisca para mim, como se estivéssemos enganando o pai.
- Me deixe falar com ele - O pai diz
- Já falou, CALA A BOCA, MOLEQUE. - Ele diz alto olhando para mim e não entendo quando ele me cutuca com força e digo "aii", ele põe o celular perto de minha boca e bate a mão na própria mão como se fosse um tapa e ouço meu pai gritando.
- Não o machuque, não faça isso, eu pago o que quiser, já falei. Pare!!!!!!
Ele demora um pouco para falar ao telefone e ouço meu pai chamando-o.
- Seu filho é muito mal educado, precisou de um corretivo... Bom, doutor, ligo amanhã.
- Espera, eu lhe suplico. - Ainda ouço meu pai dizer antes dele desligar o celular
- Você está se divertindo não é?! - Digo triste imaginando o sofrimento do pai.
- Só um pouquinho, mas conheço jeitos melhores de me divertir - Ele diz chegando perto e me afasto assustado. - Você está certo, está mesmo na hora de deixar você sozinho um pouco.
- Fica, quer dizer vai, você é só um marginal mesmo - Começo a chorar, descontroladamente, nervoso.
Jamais imaginei ver meu pai, sempre tão seguro e certo de suas decisões, alterado daquela forma, suplicando qualquer coisa que fosse. Ele me abraça e posso sentir seus braços me apertando, o cheiro bom de sua pele, vou me acalmando e ele diz:
- Sou bandido, sequestrador, e um monte de outras coisas, você pensava que eu era o que entrando na frente daquela arma? Seu príncipe encantado que ia te tirar daquela vidinha de merda?
E foi como se ele cuspisse na minha cara, falando assim com deboche dos meus sonhos mais secretos, fazendo pouco do meu corpo protegendo o dele daquela bala.
- Minha vida não era uma merda, mas com certeza a sua é, saia daqui!
Ele me olha quase com pena, posso perceber claramente.
- Você nem sabe o quanto é infeliz meu príncipe.
- E pare de me chamar assim, você vai apodrecer na cadeia.
- Pode até ser - Ele diz calmamente - Mas vai ser porque tive coragem de lutar minhas lutas, viver meus amores, nunca fui obrigado a me deitar com cadelinha nenhuma que não quis, nunca fui obrigado a ser o que os outros queriam que eu fosse, você é só um marionete na mão de seus pais, o grande herdeiro, o magnífico. Quantos idiomas mesmo você fala? 5,6,10? - E ele começa a falar de forma mais enérgica - Sabe dizer "não"??? "Não quero!!!! Quero viver minha vida", em um único idioma? Você é só um principezinho infantil, patético. Vivendo um conto de fadas surreal. Daqui a poucos meses se forma em duas faculdades e ainda vai estar sonhando com um cavaleiro em seu cavalo branco...
Eu nem percebi quando taquei a mão em sua cara, que mesmo por cima do capuz estalou, ele simplesmente devolve o tapa segurando meu braço para que eu não caísse. Levei tanto susto!!!!!!!!!!!! Primeira vez que apanhei na vida!!!!!!!!
Perco até a respiração, ele bate de novo, mais leve agora, eu volto a respirar e simplesmente fico estático olhando aquele sujeito, completamente certo, dolorosamente certo, vergonhosamente certo e desabo na cama chorando como uma criança. Quando olho novamente, estou sozinho no quarto.
Algumas horas depois a porta se abre, mas não é ele, é o tal negro, que deixa um marmitex na cama com um garfinho de plástico e um copo de água mineral.
- Vossa alteza precisa de alguma coisa? - Ele diz zombando
- Não me enche. - Respondo pegando o marmitex, nem sabia como abrir aquilo e furei com o dedo em cima.
Ele ri, dizendo:
- Nunca viu isso não é? Não se preocupe, o papai já vai pagar seu resgate, em breve seus cachorrinhos vão poder alimentá-lo na boquinha - E sai rindo trancando a porta.
Como ele sabe que chamo meus seguranças de cachorros bravos? Que os chamo de minha matilha. Como sabem tanto de mim?
A noite chega e ele não volta ao quarto. Sinto sua falta, quase morro quando entendo isso, mas sinto sua falta. Falta de seus olhos ternos, de sua ajuda para urinar, segurando meu pau com carinho, balançando para mim, da comida na boca, os golinhos de água dados com cuidado.
"Daqui a pouco vou pedir que me leve de volta para o outro lugar, que me amarre outra vez", penso aborrecido comigo. Vou ao banheiro e vejo que tem um chuveiro, volto e bato na porta. Ouço a voz do negro do outro lado:
- Que foi?
- Quero uma toalha!
- Só isso?! Não quer shampoo também? Talquinho para a bundinha não?
- Pode me dar uma toalha ou não?
- Vou ver, alteza real.
Dali a pouco ouço:
- Se afaste da porta - Que se abre e ele me joga uma tolha de banho.
Entro no banheiro e fico muito tempo me lavando. A água me acalma, não tem sabonete, mas não tem importância, só queria aquela água morna e sento no chão com a água caindo em minha cabeça, abraço minhas pernas até que sinto a água sendo fechada. Vejo o negro me olhando e não gosto do que vejo em seus olhos. Levanto depressa, me encolho todo e ele vem para cima de mim.
- Como nosso principezinho é gostoso, pôrra nem imaginei isso tudo, que corpo lindo.
- Sai de perto de mim - Digo apavorado.
- Pode deixar não vou ficar perto não, vou ficar em cima - E dá uma risada horrível, posso ver sua mão a centímetros do meu corpo. - Por isso o Beija flor está tão bonzinho, aquele filho da puta! Bem que eu estava estranhando, sabia que ele curtia, morou com um homem a vida toda, mas não sacava o que estava rolando aqui.
- Não sacava o que? - Escuto da porta do banheiro, era Beija flor. - Pode sair, saia daqui cara - Ele diz alto.
- Mas olha que gostosura cara, a gente podia brincar um pouquinho com ele - O negro começa a dizer e vejo a arma sendo tirada da sua cintura e acabar encostada na cabeça do negro
- Mandei sair daqui, entendeu seu pôrra????!!!!!! - Beija flor grita, o negro saí assustado. - E fecha essa porta! - Ouço.
Ele vem chegando perto e me encolho mais, e ele simplesmente liga o chuveiro, pega meu braço e me leva para debaixo da água.
- Esquenta seu corpo um pouco - Ele diz, fico olhando para ele que dali a pouco desliga a água e me passa a toalha, mas não sai do banheiro.
- Você não vai sair?
- Não, nem vou abrir o chuveiro de novo, então se seque antes que esfrie.
Faço isso e vejo que ele não tira seus olhos de mim e quando olho ele está de pau duro. Seu cacete quase furava sua calça, ele vê que notei, enfia a mão na calça e acerta seu pau colocando-o no meio.
- É tem coisas que não dá para evitar... - Ele diz me mandando sair do banheiro, vejo cobertas na cama.
- Como sabem tanto de mim? - Pergunto começando a me vestir, olhando as cobertas e agradeço.
- Essa noite deve esfriar - Ele diz como se não tivesse me ouvido - E você não tem agasalho, se sentir frio durante o dia, use o cobertor.
- Obrigado, acho que ele ia... - E não consigo terminar. Tremo tanto que nem consigo subir o fecho
- É, também acho - Ele diz me ajudando e subindo o fecho para mim - E acho melhor evitar outros banhos - Ele continua - Logo estará em casa, faça isso lá - Começa a sair do quarto.
- Espera - Digo e ele se vira me olhando. - Você é gay? - Pergunto.
- Não, na verdade não perco meu tempo com essas bobagens, sou homem e gosto de tudo que me agrada, tudo que me dá prazer. Se for outro homem, por mim tudo bem. E nisso ele tem razão, você é mesmo uma delicia. Gay é você que se esconde atrás dessa falsa aparência de hétero e vê filminho pornô gay escondido.
- Não os vejo escondido - Digo e devo ter ficado vermelho, pois ele diz:
- Ainda consegue ficar mais gostoso com essa carinha. - E vem se aproximando, se encosta em mim relando seu pau duro no meu, me vira rapidamente se encocha na minha bunda se esfregando nela, pega no meu peito, apertando e sua mão desce até meu pau completamente duro agora. - Viu? - Ele diz apertando ele mais um pouco - Você é gay, não eu - Ele diz pertinho da minha orelha, me arrepiando todo.
- Eu nunca fiquei com um homem - Digo como se isso o desmentisse.
- Vê como eu tenho razão?! Que merda de vida!!!!!! - E ainda segurando meu pau, ele abre meu fecho ainda me encochando, fica brincando com ele e começo a me esfregar em seu pau duro. De repente, ele simplesmente para, arruma o pau dentro da calça de novo e sai do quarto.
Me enrolo no cobertor e deito, mas não durmo logo. Naquela noite eu gozei no banheiro, lembrando de seu pau duro e quentinho.
Acordo com alguém mexendo nos meus cabelos.
- Bom dia meu príncipe, tem suco e pão com manteiga, quer?!
Tiro a coberta e fico olhando para ele que me olha alguns segundos e brinca:
- Pega logo ou pulo nessa cama.
Olho e vejo seu pau duro de novo, nem preciso olhar para saber que o meu está do mesmo jeito. Quando tento me aproximar, ele deixa o suco de latinha, um pão em cima da cama e se afasta dizendo:
- O que aconteceu ontem não vai se repetir, então, se comporte.
- Sonhei com você - Digo sem nenhum constrangimento -, a noite toda.
- Eu também sonhei com você, com sua bundinha deliciosa, mas eu já estou acostumado a não ter o que quero.
- Não precisa ser assim... - Digo e me sinto uma puta oferecida, barata.
- Você é mesmo uma gracinha, sabia?! Muito tempo não via um homem tão... Eu ia dizer bonito, mas não é só isso, você é bonito sim, na verdade é lindo, mas é outra coisa, tem uma tristeza nos olhos que não vejo nem nas crianças famintas na favela em que nasci, e tem um corpo lindo. Você malha, não é?!
- Malho, tenho um personal. Também nunca tinha visto olhos tão lindos como os seus.
- Não acredito que goste dos meus olhos, será a primeira pessoa, bom será a segunda, na verdade - Ele diz, incrédulo.
- Por quê? Eles são lindos, azul escuro, como nunca vi e quando você sorri ele brilha um tom azul clarinho.
Ele se aproxima e encaro seus olhos.
- Meus inimigos dizem que eles assustam, muito pouca gente me encara assim e você me mostrou um problema grave - Ele diz, já bem perto de mim.
- Qual?!
- Você pode me identificar por eles. A policia vai adorar saber disso.
- Então eu não conto para eles - Digo sem parar de encará-lo.
- Vou ter que pensar sobre isso. Agora fique quietinho e não faça nenhuma bobagem, do tipo tomar outro banho.
- Você vai sair? Vai me deixar com ele?! Não faça isso por favor - Digo assustado - Leva ele. Eu te dou minha palavra, eu fico quieto, não tento fugir e pode me amarrar, mas leva ele.
- Chiiiiiiiiiiiiu, calma, eu disse que ninguém toca em você, não disse?! Você pode não acreditar, mas algumas pessoas tem mesmo medo de mim, e eles tem razão para isso. - Ele começa a sair e volta. - Me explique uma coisa, que pensei essa noite. Você paga prostitutas para transar, porque não rapazes de programa?
- São modelos.
- Ah!!!!!!!! Me poupe! Putas, são putas que cobram, e cobram caro. Sai desse mundinho príncipe, olha para fora do seu castelo alteza.
- Para de me chamar assim - Digo bravo
- Então pare de agir com um. Você vive um conto de fadas, quando vai crescer e ver que não está dentro de um livro bonito, folheado a ouro?!
Ficamos nos olhando alguns segundos e ele pergunta:
- Então, vai me explicar?
- Elas agradam mais meu pai, na verdade, e aliviam um pouco - E pego em meu pau - Mas não consigo pedir um rapaz - E sinto que estou com o rosto queimando - Já quis muito, mas não consigo, ele diz que eles são só brinquedos, mas não é assim que sinto.
- Você é um tolo, um sonhador.
- É, devo ser mesmo, tolo, idiota, fora do mundo, um gay enrustido, infeliz...
- Nossa, isso é que é uma percepção real de si mesmo - Ele diz debochado.
- Vá a merda.
- Não quero, teria que viver sua vida e definitivamente prefiro a minha - E começa a sair novamente do quarto. - Por favor, não me deixe com ele - Peço realmente com medo.
- Fique tranquilo, alteza, seu súdito está aqui para protegê-lo - Ele faz uma reverência e sai.
Vou ao banheiro, tomo meu fraco café da manhã e muitas horas depois estou faminto, sentado na cama, quando a porta se abre e ele entra.
- Está com fome?
- Muita!!!
Ele senta na cama e começa a abrir o marmitex e vejo como se faz.
- Então é assim?! Eu furei o meu ontem - Digo rindo fazendo o gesto de enfiar o dedo.
- Nunca viu um?
- Não, como você sabe das modelos? Quer dizer putas, e elas são caras?
- É melhor que não saiba mais nada de mim, príncipe. Quero mesmo que volte para casa em segurança e algumas são sim, nunca lhe disseram quanto custam?
- Não, não sei quanto custa nada. Eu não conto nada que me contar, eu prometo.
Ele não responde e eu começo a comer, com calma, coloquei o copinho ao lado do marmitex, e tenho dificuldade com o garfinho, ele tira um garfo e uma faça do bolso e me oferece.
- Veja se assim fica melhor - ele diz.
Depois de alguns minutos me vendo comer, ouço:
- Berço é berço, você come como um príncipe, e olha que deve estar com fome!!!!! Tão educado, não mistura a comida, mais de uma vez procurou um guardanapo invisível, bebe a água em golinhos educados.
- Você está de sacanagem comigo?! Como se chama isso?
- Não, não estou e isso é cará, ou inhame, gostou?! Já tinha comido carne moída?
- Assim não, só assada, igual um bolo. Muito diferente essa comida.
- Que bom que está gostando - E pela sua voz parece que se divertia - E se acabou, preciso do garfo e da faca. - E ele os guarda novamente no bolso.
- Você não pode ficar um pouco aqui comigo?
- Não, não acho prudente, você pergunta demais e depois estou resolvendo seu resgate, em pouco tempo estará em casa. - Devo ter dado um suspiro desanimado. - Não acredito que prefere ficar aqui?! Nem temos um tapete vermelho, alteza! - Ele me ridiculariza.
- Porque fica me agredindo? Eu não lhe fiz nada, estou quieto e não te dou trabalho.
- Sabe que acho que é exatamente por isso?! Nunca tive tanta dificuldade em um sequestro.
- Você já fez muitos?
- Não quer meu endereço também? - Ele diz agressivo
- Eu posso te visitar? - E dou um sorriso, não consigo evitar.
Ele se levanta rápido e sai do quarto, ouço a porta sendo fechada com força, ele ficou puto? Não entendi por que... :D
Muitas horas sozinho e tenho tempo de pensar em minha fabulosa vida. Ele está certo, quando vejo algum telejornal, quase me pergunto de que planeta eles estão falando. Sempre ajudamos quando há algum desastre em qualquer lugar do mundo. Nossas empresas são sempre uma das primeiras a mandar alimentos, medicamentos, mamãe logo organiza uma campanha para recolhimento de roupas e cobertores, e pelo mundo todo. No último terremoto, mandamos um avião de remédios, mantimentos, cobertas, roupas até brinquedos para os desabrigados, mas nunca vi de perto nada disso, lembro de uma vez que alguém da Cruz Vermelha levou umas fotos para vermos, mamãe não me deixou vê-las.
- Isso não é necessário - Ainda posso ouvi-la dizendo. - Claro que podem contar conosco, estamos aqui para ajudar em tudo que pudermos, não é filho?!
Mas jamais soube o que é dor, miséria, sujeira, fome...
Naquele quarto fechado, não sabia se era dia ou noite, marcava as horas pelo alimento fornecido. Então, quando o negro entra muito depois, entendo que já é noite.
- Onde ele está? - Pergunto
- Ocupado, coma que tenho que levar os talheres. Você não sabe usar o garfinho, né? Ele falou, e mandou te trazer esses, então come logo que estou sem saco para você.
- O que eu lhe fiz?
- Você existe, seu pôrra! Você e sua laia, só existem para tornar esse mundo pior.
- Você é o bandido, não eu, e eu é que pioro o mundo?
- Cala essa sua boca e coma!
Começo a comer e ele se irrita quando separo alguma coisa. Não queria misturar a salada com o feijão e ele grita:
- Que foi, a comida não está de seu agrado?
Na verdade estava adorando a comida, e queria poder comer o feijão com as verduras. Estava gostando daquelas verduras cozidas, comemos quase sempre cruas, mas gostava especialmente do feijão. Na minha casa nunca era servido feijão, ainda mais aquele marronzinho, com uma carne parecendo linguiça e tinha uma pele, parecendo uma gordurinha que adorei, conhecia feijoada e mesmo assim somente quando recebíamos algum estrangeiro que queria conhecer esse prato.
Nossas refeições eram e continuam sendo, em sua maioria das vezes, uma salada variada e farta, e temos diversas variações de saladas, com queijo, com frutas, sementes, sempre temos muita salada crua; Algum grelhado, variando também, mas especialmente peixe, comemos muito salmão, suflês temos quase todos os dias, de todos os sabores, pois todos gostamos e alguma coisa assada que sempre varia, tudo orientado por uma nutricionista, que cuida para que tenhamos uma alimentação balanceada. Mas aquela comida era simplesmente ótima; E aquele negro encapuzado à minha frente me assustava, mas também me irritava a forma como me sentia intimidado por ele, e sem pensar em qualquer conseqüência respondi:
- Não, não está, não estou acostumado a comer lavagem como você - Foi a minha resposta, absolutamente desnecessária!
Ele fica puto e mete a mão no meu marmitex, jogando a comida para o alto, me pega pela blusa e sou jogado na parede, e antes que eu caia já sinto sua mão enorme no meu rosto, não tenho a menor reação e sinto o sangue escorrendo em meu nariz e apanho de novo. Vejo o negro voando e indo bater em uma parede, logo o Beija flor o pega e dá um murro nele e mais um, mais um, até que pára e apontando a arma para ele, e o manda sair do quarto.
- Se eu tiver que apontar essa merda para você de novo, vou usar - Ele diz quando o negro vai saindo e pelo jeito parecia assustado.
Ele vai até o banheiro, e posso vê-lo de costas, tira o capuz sempre de costas para mim e passa uma água no rosto, seca com o capuz e torna a colocá-lo e vem em minha direção. Estou caído no chão, sangrando e apavorado. Incrível como ele me deixava vulnerável, ou eu já estava vulnerável e em sua presença me sentia protegido. Bom, estou tentando contar uma história e não analisá-la, então...
Ele se aproxima e se ajoelha na minha frente estendendo seus braços e eu não choro, estava tão apavorado por aquela violência toda que mal conseguia pensar, só queria seus braços protetores e me aninhei neles. Podia sentir meu corpo tremendo, o sangue quente escorrendo do meu nariz, mas podia sentir principalmente o calor de seu corpo e ouvia sua voz tranquila, tão distante daquele coração acelerado que ouvia em seu peito.
- Tudo bem, calma, está tudo bem, meu príncipe - Ele diz me abraçando forte.
Depois de alguns minutos ele me levanta, me senta na cama e olha meu rosto. Minha boca sangra um pouco e meu nariz também.
- Eu já volto - Ele diz e sai do quarto.
Ouço gritos, mais sons de socos e ele volta com uma vassoura, pano e um pouco de gelo. Ele põe o gelo no pano, que usa a ponta para me limpar e me manda colocar o gelo no nariz e boca, e varre minha comida esparramada no chão. Posso ver sangue em sua mão direita, imagino como deve estar a cara do negro, vejo que a limpa na calça e diz:
- Fica com o gelo ai, vou sair e já volto.
- Ele vai voltar aqui, não sai não, por favor - Digo apavorado.
- Só se ele quiser morrer - Ele diz e pela primeira vez sinto medo ouvindo sua voz.
O negro não entrou e ele volta um tempo depois, com uma caixinha do McDonald's e uma coca geladinha.
- Obrigado - Disse vendo o Big Mac.
- Você gosta?! Isso é horrível, cara - Ele diz me vendo colocar mostarda e o catchup que vieram nos sachês.
- É bom, eu gosto - Digo de boca cheia, ele passa o dedo pegando um pouquinho de mostarda que escorria em meu queixo, sobe um pouco o capuz e lambe o dedo. - Quer? - Ofereço.
- Isso é horrível, mas da coca eu gosto.
Ofereço o copo e ele chupa o canudinho, pega o pano e limpa meu nariz que volta a sangrar.
- Desculpe por isso, ele não entra mais, se precisar atraso sua comida, está bem?! Foi só no rosto, ou ele bateu em algum lugar do seu corpo?
- Só no rosto, e bati as costas na parede. - Digo mordendo o sanduíche.
Ele me vira, levanta minha blusa e passa sua mão nelas.
- Vai doer um pouquinho, mas não quebrou nada
- Obrigado - Digo usando o guardanapo que veio junto e ouço sua risada.
- Vamos guardar uns para o almoço amanhã - Ele brinca. - Posso trazer uma toalha, e colocamos na pontinha da cama.
- Não amola - Digo dando uma goladinha na coca e oferecendo para ele que bebe e me devolve o copo. - Vi que é bom de briga, mas ele é muito maior que você. Ele não pode te pegar desprevenido? - Pergunto preocupado.
- Está preocupado comigo ou com você?
- Daqui a pouco vou para casa, você continua por ai com ele.
- Com ele não - E me assusto com sua voz e ele vê que fiquei arrepiado. - Vê como posso assustar?!
- Obrigado pelo lanche, podemos conversar?
- Sobre o quê? - Ele pergunta se sentando na cama e encostando na parede
- Se eu quiser um rapaz de programa, como funciona? Igual com as garotas? No meu catálogo só tem garotas.
- Teremos que providenciar um novo catálogo, então.
- Quem? Você?!
- Quem for o responsável - Ele diz depois de uns segundos
Ficamos em silêncio um pouco, claro que entendi que ele tinha alguma coisa a ver com os catálogos, mas não disse nada.
- Você já transou com os dois, pelo que entendi, qual sexo é melhor? Ou é igual?
- Claro que não, com um homem é muito melhor - E ele ri - Não tem nada igual sexo entre homens. Mulher é bom, mas se quer mesmo uma trepada de verdade, tem que ser com um homem. Conheci um cara uma vez que foi uma loucura - E ele começa a contar e me divirto com ele contando das peripécias de um tal baiano.
Uma hora ele simplesmente para e fica me olhando rindo, me divertindo com seu caso.
- E ele caiu da lancha? - Pergunto curioso.
Ele fica me olhando sem responder por algum tempo.
- Que foi, esqueceu? - Pergunto.
- Não, ele não caiu da lancha, aquele louco se agarrou no meu pau, e quase caiamos os dois - Mas percebo que ele não ria mais.
- Algum problema?
- Teremos sim se continuar esquecendo que você é meu refém, rapaz.
- Melhorou, já deixei de ser sua alteza - Digo encostando na parede e esticando as pernas. - Vou precisar conhecer a Bahia - Digo rindo lembrando do tal sujeito fabuloso.
Ele dá uma gargalhada.
- Você acredita que aquela gostosura tinha uma irmã deliciosa também?! - Ele diz e nessa hora o negro chega na porta e o chama.
- Problema cara, vem cá - Ele sai rapidamente, trancando a porta.
Não o vi o resto da noite.
"- Que pena" - Pensei, tomara que não seja nada grave e começo a rir. "Você é louco, daqui a pouco estará torcendo por ele. Será que é a policia por perto? Eu posso gritar, alguém pode me ouvir e avisar a policia", penso, me enrolo no cobertor e deito, quieto. Pensei nele durante um bom tempo, em como seria sua vida, e acabei dormindo.
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~ oiii, gente! gostei de ver que veio um pessoal do outro conto pra cá, obrigado viu?! obrigado aos novos leitores que comentaram também, bem-vindos; pessoal da saudosa época do Orkut, tenho alguns bons contos salvos aqui, verei o que posso fazer para posta-los e relembrar àquela época. comenteeemmm!!! té amanhã <3 ~